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título: deprimido
data de publicação: 23/06/2025
quadro: picolé de limão
hashtag: #deprimido
personagens: indiara

TRANSCRIÇÃO

Atenção, estamos no YouTube. Sim, este mesmo episódio que você está ouvindo aqui agora você vai poder ouvir a partir das 10h00 no YouTube. Então avisa sua mamãe, sua vovó, sua titia ou coleguinha. Vai lá, segue a gente, curte alguns episódios, ativa o sininho e vem acompanhar a gente no YouTube. 

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão. E hoje eu vou contar para vocês a história da Indiara. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

Indiara cresceu numa família muito pobre, com oito irmãos ali, então desde muito cedo ela começou a trabalhar, a se virar, enfim, fazer ali as coisinhas dela e quando a Indiara terminou o ensino médio. Com 18 anos, ela saiu de casa e foi para uma capital tentar um trabalho melhor, tentar uma vida melhor. [efeito sonoro de ônibus dando partida] Foi morar ali com uma tia, depois conseguiu alugar um cantinho só para ela ainda, pequenininho. Trabalhou, conseguiu entrar numa faculdade, cursou essa faculdade. conseguiu alugar um apartamentinho maior, ainda ali de um quarto, mas estava com a vida sossegada, enfim, não tinha ainda conseguido comprar um imóvel, que sempre foi o sonho dela, mas estava ali batalhando, seguindo a vida dela com uma certa tranquilidade. Quando a Indiara estava no último ano de faculdade, ela entrou ali para a comissão de formatura. Seria uma formatura da faculdade inteira — dos cursos que estariam ali terminando, das turmas que estariam terminando —, nesse lance, ela conheceu um cara.

Ele era de outro curso e ele também estava na comissão de formatura, a Indiara já morava sozinha e esse cara morava numa república ali com outros estudantes. Eles foram se acertando, um gostando do outro… — A comissão tinha começado no começo do ano, a comissão de formatura, para realmente ver o que eles iam fazer e tal. — Isso era lá para maio, eles já estavam se gostando bastante, foi virando um namoro e quando foi lá para outubro, este cara já ficava mais na casa da Indiara — que morava sozinha — num apartamentinho conjugado ali de um quarto, né? Do que na república que ele morava. Aconteceu a formatura, foi muito legal, só que a república ali era toda uma galera que se formou, então eles iam devolver aquela casa. — E provavelmente outros estudantes, o dono da casa ia alugar para outros estudantes que estavam chegando, né? —

Este cara não tinha para onde ir, ele estudava e fazia um estágio e ele terminou esse estágio… Como ele já estava ficando ali pela casa da Indiara, ela falou: “Bom, não vou questionar nada”. O cara naturalmente se mudou para lá. — Não aconteceu uma conversa do tipo, “ah, vem morar aqui” ou “posso morar aí?”. — Aconteceu naturalmente. — Porque assim, ele não tinha tantas roupas, tantas coisas e a maioria das coisas já estava ali na casa da Indiara. — Nessa época, ela já trabalhava, ela nunca parou de trabalhar… Mesmo quando ela começou a cursar a faculdade, ela estudava à noite, trabalhava durante o dia e fazia o estágio, que ela tinha o estágio obrigatório para fazer, aos sábados. — Então, ela passava o sábado inteiro fazendo estágio. — Este cara estudava no período da manhã, quem bancava ali os custos dele era o pai, mas o pai já tinha dito que ia bancar até ele terminar a faculdade. — A gente não está falando aqui de um pai rico, tá? A gente está falando aqui de um pai da classe trabalhadora que bancava as coisas do filho o mínimo. —

Então ele estava ali na faculdade, ele pagava ali, sei lá, a vaga do rapaz naquela república e dava um dinheiro para ele comer. Era isso que o pai dava, era o básico do básico, porque o pai também da classe trabalhadora não podia dar tanto. A mãe deste cara já falecido e um irmão que já estava casado com dois filhos, trabalhando, levando a vida dele ali na cidade. Então essa era a configuração familiar desse cara. Então ele saiu direto… Ele teria a casa do pai dele para voltar? Provavelmente não, porque o pai já tinha uma madrasta, já tinha feito a vida, ele não se dava com essa madrasta… E a casa do irmão? O irmão já tinha filhos, tinha esposa, enfim, também não ia dar para ir para lá. Então ele tinha que arranjar um lugar e esse lugar que ele arranjou foi a casa da Indiara. Em dezembro, o cara já estava morando na casa da Indiara. Natal, Ano Novo, Indiara voltava para o seu estado onde ela nasceu. — A maioria dos irmãos também voltava para eles passarem ali em família. — Ela já tinha comprado essa passagem há muito tempo, porque o lugar é um lugar meio turístico, então muita gente vai pra lá pra passar as festas e as passagens ficam caras —

Quando ela falou que ela ia passar Natal e Ano Novo com a família dela, ele falou: “Ah, eu gostaria de ir também” e ela falou: “Bom, então veja como é que você vai fazer, que voo que você vai comprar pra você ir comigo. Por mim, tudo bem, eu te apresento pra minha família, não tem nenhuma questão em relação a isso”. E aí ele ficou olhando pra cara dela, assim, meio, quase em choque, e falou: “Ué, mas eu não tenho dinheiro pra bancar uma passagem dessa”. E aí a Indiara teve que explicar pra ele o básico, que é: Você não tem dinheiro, você não vai. O famoso: Tá duro? Dorme. E aí ela falou: “A minha passagem já tá comprada praticamente há um ano. Não tenho o que fazer agora. Vou passar as festas com a minha família, você não tem Dinheiro pra comprar passagem, então faz as contas. Naturalmente você vai ficar aqui. É isso”. E aí, ele virou pra ela e falou: “Mas aí eu vou ficar aqui, eu vou comer o quê?”, “bom, aí depende de quanto dinheiro você tem. Se você tem um dinheiro, você compra um panetone, né? Arroz, feijão, tem aí. Você compra uma cartela de ovo, você compra uma lata de sardinha, sei lá”.

Indiara percebeu que ele ficou meio desesperado e ela ficou com dó e, antes dela viajar, ela comprou umas coisas prontas pra ceia dele. — Tipo, só pra ele botar no micro—ondas. — Foi e ele ficava mandando mensagem que ele tava triste, que ele tava mal porque ela tava longe… Tanto que ela ia ficar um mês com a família dela e ela antecipou a volta… — De tanto que esse cara estava triste. — Ela voltou e botou na conta ali do janeiro, férias, que ele estava o tempo todo em casa. — Porque ela voltou e ela tinha uns dias ainda antes dela voltar a trabalhar, né? — Que ela pegou ali um mês de férias, final do ano. Quando ela voltou a trabalhar, Indiara falou: “Então e agora, né?”, porque até então ela estava bancando. Conta de luz, enfim, as coisas… “Quais são os seus planos?”,  “Ah, eu vou ver, vou mandar aí uns currículos e tal, né?”. A frase dele final foi: “Vamos torcer”. Aqui a gente entra numa coisa que é o quê? A falta de renda. Se você não tem renda, você não pode falar: “Vamos torcer”, você tem que pegar o trabalho que aparece pela frente, para você não ficar nas custas de uma outra pessoa, seja lá sua mãe, ou seu pai, ou nas custas do seu irmão, ou da sua namorada, ou da sua esposa, enfim. 

Se você não é o herdeiro, se você não é uma pessoa que tem renda e bens que vão te manter, você precisa trabalhar no que dá até aparecer o que você quer. É assim que funciona e é assim que a Indiara também pensou. Ela falou pra ele: “Mas vamos torcer, não… E se não aparecer, né? Você precisa trabalhar em alguma coisa pra me ajudar aqui. Você come muito mais que eu, enfim, né? Complicado”. E aí ele ficou um pouco triste e não falou mais sobre aquilo… Janeiro passou, ele ficava em casa ali jogando videogame e não arrumou um trabalho. Fevereiro… “Ah, carnaval, né? Depois do carnaval, eu vou procurar, sim, um emprego, meu amor”. — O ano realmente começa depois do carnaval, vamos falar a verdade… — Carnaval passou, passou quaresma… [risos] Ou seja, mais 40 dias. Chegou Páscoa [risos] e este cara não arrumou um emprego. 

Ela acordava, ele estava dormindo, ela fazia uma garrafa térmica de café, comia um pão ali e saía. Indiara levava marmita… No final de semana, ela fazia, adiantava as comidas, só que agora, ela não podia deixar a marmita descongelada na geladeira, porque ele comia. Então, ela tinha que congelar porque ele não era capaz de tirar uma marmita congelada do freezer e botar no micro—ondas. — Então se ela deixasse na geladeira, ele automaticamente pensava que era para ele comer. — Ela tinha que deixar todas as marmitas no freezer e, no dia ali, ela deixava na noite anterior na geladeira, bem assim escondido. — Porque às vezes ele comia de madrugada a marmita dela. — Além de fazer a comida da marmita, ela tinha agora que fazer a comida para deixar para ele, porque ele não fazia comida. Ele acordava, se ele comesse um pão em cima da pia, ele deixava as casquinhas de pão na pia… Às vezes, ele esquecia de dar descarga. A toalha do banheiro, ela tinha a dela, ele tinha a dele  e, se ela não trocasse, ele deixava dele até ficar podre e começava a usar a dela… Então ela tinha que lavar. 

A roupa dele ele também usava até ficar podre… E aí se ela não lavava, ele passava a usar roupa podre do avesso. — Ou se não a andar só de cueca para ela casa. — Um dia a Indiara explodiu, falou um monte para ele e ele falou para ela: “Olha, eu não consigo fazer nada porque eu tô em depressão”. A Diara tomou um baque ali e falou: “Depressão? Mas você foi ao médico? Que diagnóstico é esse? Quem fechou esse laudo?”, “Não, eu sei que eu tô em depressão porque eu não consigo fazer nada”. “Bom, você tá em depressão? Então vamos começar a correr atrás disso, porque pessoa deprimida também toma remédio e trabalha. Ainda mais quando precisa se sustentar”. E aí ele ficou também meio em choque, porque acho que ele não esperou isso dela, né? E ela marcou alguns médicos, pagou pelas consultas, pagou pelos exames… Foram no psiquiatra, não gostaram, foram em outro. Ele passou a ir umas vezes e um dia a Indiara quis ir com ele pra entender e o psiquiatra meio que deu a entender, mas não com todas as palavras, que ele não estava deprimido. 

Que tipo que talvez ele não gostasse da vida que ele estava levando, que ele não gostava de trabalhar. Ninguém fechou um diagnóstico de depressão, ele foi medicado e não tomava o remédio e depois tomou o remédio e também não funcionou… — Enfim, o cara também não estava interessado em um tratamento caso ele estivesse em depressão. — Mas para todo mundo ele falava que estava deprimido e aí a Andiara falou para ele: “Olha, para mim está muito difícil, você passa o dia inteiro em casa, não lava uma louça, não bota roupa na máquina… É botar roupa na máquina, botar o sabão, o amaciante e ligar. Você não faz isso. Você joga videogame e fica na internet o dia inteiro. Você sai do quarto, você nem apaga a luz… Sou eu que pago por essa luz. Enfim, tá muito difícil pra mim, [e melhor se a gente quiser continuar junto, que você ache um outro lugar pra você morar”. 

E aí esse cara começou a chorar e falou que se ela botasse ele pra fora, que ele ia morar na rua. — Como que você aguenta essa culpa de botar uma pessoa pra fora e essa pessoa morar na rua? — E ela ficou mal aquela noite. — E assim, gente, apartamento, as paredes são meio finas. — A vizinha da Indiara, que vamos botar o nome “Dona Vanda, que eu amo, né? — Todo prédio tem que ter a Dona Vanda. — Indiara saiu, a vizinha saiu atrás. Por que a vizinha saiu atrás? Porque ela provavelmente escutou a briga, né? E falou: “Olha, praticamente todos os dias à tarde, quando você sai, ele recebe uma turma aqui, uns amigos… Eles botam música, eles fumam um cigarrinho que você sabe qual. Eles trazem cerveja, eles trazem as coisas”. Só que ela não achava a casa mais bagunçada do que ele deixava. — Tipo, pra receber pessoas em casa, eu acho que fica uma bagunça maior, né? — “Será que ele limpa a bagunça da galera pra eu não descobrir que vem gente aqui?”.

Eu acho que Dona Wanda exagerou falando que era todo dia, mas sim, pelo menos uma ou duas vezes na semana, ele fazia uma resenha na parte da tarde ali, enquanto a Indiara estava trabalhando. — Juntavam os amigos, provavelmente também ou que trabalhava em outros horários, ou também uma galera que estava sem emprego, para ficar junto ali, conversar, enfim. — Perguntou para a Dona Vanda: “Vem mulher?”, “Olha, dificilmente eu escuto voz de mulher, mas quando tem, tem outros homens junto, assim, e eles tão só mesmo dando risada, conversando, jogando videogame, essas coisas. Eu não escuto nada obsceno”. E aí ela falou pra Dona Vanda: “Olha, quando acontecer, a senhora pode me mandar uma mensagem?” e assim, Dona Wanda, que queria ver o circo pegar fogo, fez. Mandou uma mensagem e falou: “Ó, o pessoal chegou aqui”. Indiara pediu saída do serviço. — Lembrando que ela teria que compensar aquelas horas. Então pensa, você saiu do seu serviço, depois você tem que repor para ir lá ver o que o vagabundo do seu namorado está fazendo. —

Ela voltou para casa e quando ela chegou, realmente encontrou a galera ali na sala dela, videogame ligado e tal. Eles estavam tomando uma cerveja. — Estavam de boa ali. — Acontece que o cara falava que não estava trabalhando porque estava em depressão. E aí ela chegou, falou oi ali para o povo — ela não ia ser mal educada com ninguém — e chamou ele lá para o quarto. E aí falou: “Nossa, parabéns, hein? Você está tão deprimido que toda semana você junta a sua galera aí pra fazer uma resenha aqui em casa”. E aí ele ficou super sem graça, começou a chorar e falou que isso fazia parte da depressão dele. A Indiara voltou ali pra sala e falou: “Então, galera, não vai dar pra vocês ficarem aqui. Desculpa aí, vamos saindo, né?”. A partir desse dia, a Indiara falou pra ele: “Olha, você vai ter duas semanas pra você procurar um emprego. Não importa se é em telemarketing, não importa se é na sua área, não importa se é numa lanchonete… Não importa. Você tem duas semanas pra você conseguir um emprego. E as contas do outro mês, você já vai pagar metade”. 

E aí o cara que só chorava, né? Começou a chorar, falou que não ia dar conta, que ela tava praticamente ameaçando uma pessoa doente, em depressão. E ela falou: “Bom, você não vai fazer? Você não vai procurar um emprego? Então você pode pegar suas coisas e vai embora. Não importa pra mim se você vai morar na rua. Na minha casa, você não vai morar mais”. Ele chorou, deitou na cama, em vez de fazer a mala dele e dormiu. — O cara não saía de casa, como que ela ia botar ele pra fora? Ou ela tinha que chamar a polícia, ou ela tinha que ligar pra alguém. — Ela resolveu ligar para o pai e contar… “Olha, ele não trabalha, aente já está junto há mais de um ano”. Porque aquele ano já tinha passado Páscoa, já tinha passado tudo… Já estava, sei lá, em outubro de novo. “Ele já está morando comigo há quase um ano e ele não trabalha. Ele nunca me ajudou em uma louça, em uma conta, em nada e eu preciso que ele saia da minha casa. Ele não quer sair e eu vou chamar a polícia”. 

E aí o pai dele, um senhor da classe trabalhadora, teve que também sair do serviço pra ir lá na casa da Indiara, pegar as coisas do filho e tirar o filho da casa da Indiara. — Porque ele não saía, ele não se mexia. — Ele saiu sem olhar pra cara dela, sem falar nenhum, sei lá, “valeu aí”, sabe? Quando ele tava fechando a porta ali, ele falou: “É, você quer me ver na rua mesmo”, mas ele tava saindo com o pai dele, né, gente? Sai com seu pai. A Indiara ficou sabendo dele ainda por colegas de faculdade, né? Colegas em comum. Ele ficou duas semanas na casa do pai, o pai expulsou ele, porque ele também era muito bagunceiro, enfim, né? Ele realmente dormiu dois dias na rua e contou isso pra todo mundo e falou que a culpa era da Indiara. Até que um amigo dele botou ele dentro de casa, ele ficou mais três meses com esse cara querendo expulsar esse ex da Indiara de lá porque o cara realmente, gente… — Eu não entendo isso, a pessoa não trabalha mesmo, não trabalha, fala: “não vou trabalhar”. —

E aí ele arrumou uma outra namorada e foi morar com essa outra namorada… E engravidou esta outra namorada. Teve um bebê com essa outra namorada. [efeito sonoro de bebê chorando] Aí você pensa: “Bom, o cara já não trabalha, então ele que fica em casa cuidando do bebê, né?”. A moça que teve um bebê com ele também botou ele pra fora porque ele não queria cuidar do bebê. — Mesmo sem trabalho. — Pra mim é um bom arranjo… Se ela trabalha e ele fica em casa cuidando do bebê, tá resolvido. Mas ele não queria cuidar do bebê, ele queria jogar videogame, queria fazer as coisinhas dele. A moça preferiu ser mãe solo do que ter essse encostado junto. E ele sempre bate na tecla da depressão, que ele está deprimido, que ninguém entende ele… Hoje a Indiara perdeu contato, até os amigos também perderam, então ninguém sabe onde ele está. Parece que uma época ele foi fazer um mochilão — com que dinheiro? — pra fora do país, ninguém sabe se ele se ajeitou em outro país, mas enfim, não trabalha. 

Pra mim, o erro tá lá atrás, quando a Indiara já viu que o cara não tinha um real, como que você vai deixando o cara ficar morando na sua casa? “Ah, mas Andréia, nossa, você tá sendo elitista”, não, a gente tá falando tanto da Indiara quanto ele, quanto a família dele, quanto a família da Indiara, todo mundo da classe C. Você vai botar dentro da sua casa uma pessoa que não tem uma renda e que não trabalha e que não vai trabalhar. Você dá um prazo, dois, três, o cara não arranja um emprego e aí eu volto a falar para vocês: “Ah, mas eu tenho um sonho de trabalhar com X coisa”, se você é da classe trabalhadora e você ainda não alcançou esse sonho, como é que você vai se manter? Você vai trabalhar em outra coisa. A vida é isso. — Eu me formei em psicologia e não consegui atuar na área justamente porque eu não tinha dinheiro, porque eu tinha que trabalhar em outras coisas para me manter. Sempre trabalhei, desde os meus 15 anos eu trabalho. Sempre tive o meu dinheiro, em qualquer emprego, porque você tem que ter um serviço. —

Eu venho dessa realidade, que eu não consegui exercer a psicologia porque eu precisava comer, porque eu precisava pagar água, apagar luz, me manter. “Ah, mas num trabalho se for pra ganhar pouco”, então, e aí, o que você faz? É errado ganhar pouco? É errado, mas se você não acha outra coisa, o que você vai fazer? Pensa bem pra botar… E não é só namorado, não… Um amigo, uma amiga, um parente dentro da sua casa que não trabalha, pra tirar depois, ó… Ainda bem que ela chamou o pai do cara, mas e se o pai não vem? E se o cara fica violento? Então, gente, precisa ter um serviço… “Ah, eu tenho uma área específica que eu quero” e não era nem o caso desse cara, porque nem na área dele ele queria trabalhar. Ele falava que: “Ah, eu tô deprimido”, ninguém fechou um diagnóstico. O psiquiatra quase falou pra ela: “Ó, você aí não quer trabalhar”. Depressão? Se era, se não era, ninguém fechou um laudo, ninguém fechou nada. 

Mas “ah, tô deprimido, não vou trabalhar”, você vai viver como? O que vocês acham? 

[trilha]

Assinante 1: Oi, nãoinviabilizers, aqui é a Joyce de São Paulo. E, Indiara mulher, contudo, contudo, você ainda teve sorte que esse cara não alegou aí uma união estável entre vocês e ainda te pediu pensão, viu? Ainda bem que chamando o papaizinho dele, conseguiu dar um jeito dele sumir da sua vida. Só fico com pena pela moça que acabou engravidando e tendo que criar um filho sozinha desse embuste desocupado. E sobre depressão, isso é uma doença muito séria, que tem remédio, que tem tratamento… É inadmissível um folgado ficar usando uma doença tão séria como desculpa pro medo dele de trabalhar, né gente? É isso, Indiara. Força e um beijo.

Assinante 2: Oi, nãoinviabilizers, aqui é a Rayane de Goiana. A depressão desse rapaz se chama “carteira de trabalho”. É aquele meme assim que você fala: “Meu deus encontrei meu pior pesadelo” e aí é a carteira de trabalho jogada no chão. Indiara aguentou e aguentou muito… Te achei até firme, Indiara, tem gente que ainda banca o sonho do outro… Mas ele não sonhava, né? Ele vivia em função de esperar a vida passar. E isso é uma coisa que eu não entendo, assim… Quando a pessoa fica assim sem vontade mesmo de inventar nada, sei lá, “não tô trabalhando na minha área, mas vou mexer com isso aqui, talvez isso aqui dê certo”. É isso, vai tentando, não dá pra ficar parado, de jeito nenhum, ainda mais quando você é da classe C, sinceramente. Você precisa ter uma renda, não ter medo de trabalhar, a vida é assim, não tem problema nenhum… Então é isso, um beijo. 

[trilha]

Déia Freitas: Comentem lá, nosso grupo do Telegram. — Ainda bem que a Indiara saiu disso. — Um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]