título: câncer de ovário
data de publicação: 17/07/2025
quadro: alarme
hashtag: #ovario
personagens: anne
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Atenção, Alarme. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais uma história do nosso quadro Alarme. — O quadro onde, além de contar histórias, a gente presta um serviço à comunidade. — E hoje eu não estou sozinha, meu publiii. — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje é a ABBVIE. A ABBVIE é referência global em saúde e inovação, com forte atuação nas áreas de oncologia, hematologia, imunologia, neurociência e oftalmologia, ampliando horizontes e transformando os padrões de cuidado na saúde. — Incluindo o câncer de ovário, que é o tema da história de hoje. — Para isso, a ABVI lançou a campanha “Toda Mulher Precisa Saber”, uma iniciativa para a conscientização sobre o câncer de ovário, uma doença que pode ser silenciosa e de difícil diagnóstico, onde os sinais e sintomas podem ser ignorados ou confundidos por serem inespecíficos, levando assim a uma demora na busca pelo atendimento adequado e especializado.
E é aí que entra um ponto muito importante: Ouvir o seu corpo faz toda a diferença. Sintomas persistentes não devem ser ignorados. Se algo está diferente, não espere, procure um médico. O câncer de ovário é o terceiro tipo mais comum de câncer ginecológico no Brasil, onde seis a cada dez pacientes no país são diagnosticadas em estágios avançados da doença. — Segundo estimativas do Inca. — São mais de 7 mil casos por ano. Os sintomas de câncer de ovário podem ser sutis e facilmente associados a outras condições, podendo ser também bem silencioso e agressivo, o que exige atenção e conhecimento. O avanço da oncologia traz tratamentos mais personalizados, porque nem todo câncer de ovário é igual. Cada caso pode ter características diferentes e isso influencia na forma mais adequada de tratar, inclusive pra quem tem história familiar de câncer, a informação trazida pelos testes genéticos pode ser fundamental aí para orientar decisões médicas de forma mais precisa.
Toda mulher precisa saber que deve procurar orientação médica especializada caso identifique algum desconforto, sinal ou sintoma de câncer de ovário. Então, presta atenção, não minimize desconfortos abdominais, inchaços, dores pélvicas e dores nas relações sexuais. Ouça o seu corpo e procure já o seu médico. Saiba mais sobre a campanha Toda Mulher Precisa Saber no Instagram @AbbVie. — Eu vou deixar certinho aqui na descrição do episódio. — E no link que também está aqui na descrição do episódio. — Gente, isso é muito importante… Prestem atenção nessa história. — E hoje eu vou contar para vocês a história da Anne. Então, vamos lá, vamos de história.
[trilha]A Anne começou a trabalhar muito cedo, ali com 16, 17 anos, ela já estava trabalhando como recepcionista em uma empresa. — E era aquilo, né? Trabalhar de dia, estudar à noite para ajudar nas contas de casa. — Nessa empresa, Anne conheceu Danilo… Foram ali colegas de trabalho por mais ou menos uns dois anos e engataram um namoro. Anne tinha 19 anos e, em seis meses de namoro, ela se casou com Danilo. O sonho dela, de Anne, Sempre foi ter uma família. — Ela que era filha única, né? Perdeu o pai ainda bebezinha. — Então, assim, o sonho da Anne era ter a sua própria família e ali com o Danilo isso começava. Anne também tinha um sonho de ter aí três filhos e com Danilo agora era a hora de realizar isso, mas Anne, lá atrás, no comecinho da adolescência, ela tinha tido um cisto na mama. Em decorrência desse cisto, que ele podia ser aí hormônio dependente, a Anne não ia poder tomar anticoncepcional. Ela e Danilo usavam somente camisinha. — Então, vamos ter três filhos? Vamos, mas vamos planejar, né? — Numa falha de camisinha nasceu Danilo Júnior. — O Nilo. — [efeito sonoro de bebê chorando]
Logo em seguida nasceu Derek e dois anos depois nasceu a caçulinha, Camila. — Gente, e assim, uma vida maravilhosa… — O tempo foi passando, os filhos foram crescendo, super saudáveis e bem cuidados. Quando o Anne estava com 39 anos, a Camila, sua caçula, estava saindo ali do ensino médio e ia já prestar vestibular. E para a Camila não ficar sozinha nessa, lá foi a Anne prestar vestibular junto com a filha… E não é que a Anne passou? Anne passou em saúde pública na USP e o ano era 2014. 2014 na faculdade foi perfeito, mãe e filha estudando juntas, só que chegamos a 2015… Ali no comecinho de 2015, Anne percebeu um inchaço abdominal. Bem persistente, sabe? Não passava nunca. “Ah, sei lá, gases?”, mas não passava… A Anne pensou: “Ué, eu tô com todos os exames preventivos em dia, o que será?”.
E aí ela voltou no ginecologista, que já acompanhava a Anne há anos e, na consulta, ele nem chegou a pedir exames, falou: “Anne, eu acho que isso sim, esse inchaço, deve ser só gases mesmo, viu? Eu acho que você também ganhou um pouco de peso, então deve ser gases também, um pouco de gordura. Época de fim de ano, todo mundo comeu bem, agora começo de 2015, né? A gente tá aí pegando essa conta”. Só passou ali um medicamento de antigases e vida que segue… Só que a Anne, ela conhecia o próprio corpo e ela sabia como era o inchaço dela de gases ou de ciclo menstrual e não parecia que era aquilo. Tava diferente, mas o médico falou ali que não era, né? Não precisava se preocupar, podia ser só gases… Só que a barriga da Anne continuava aumentando cada dia a mais. Com isso em mente, a Anne resolveu procurar um outro ginecologista, porque ela não estava conformada.
Ela tomava antigases e nada acontecia. O segundo ginecologista, a mesma coisa, falou: “Não, certeza, gases… Olha, sabe o que você tem que fazer? Caminhada”, mas ela já fazia caminhada. “Não, mas então intensifica mais. Faz assim, ó, mais intensa essa caminhada e toma esse outro antigases”. Como a Anne estudava na USP, ela resolveu passar então no hospital universitário da USP. “Não pode ser dois médicos falando que é a mesma coisa que são gases, mas esse inchaço só aumenta”, Anne já tinha ficado grávida três vezes, ela sabia o que era uma barriga de grávida, ela sabia o que era uma barriga de gases e não era isso… As calças nem fechavam mais na Anne. Lá no Hospital Universitário pediram um Raio—X e no exame realmente não mostrou nenhuma alteração. Durante o atendimento ali explicaram que parecia ser gases mesmo… Com o tempo aquele inchaço ia passar.
Só que esse “vai passar” não passava… Só que a cada dia, a barriga da Anne ficava maior. E a Anne começou a sentir um peso assim no baixo ventre, sabe? Ela começou a sentir falta de ar na hora que ela deitava. Na sequência, a Anne começou a ter dificuldade pra andar, acompanhada, assim, de um mega mal—estar… E ela tinha indisposição, ela não conseguia mais comer. Chegou um final de semana que o Danilo falou: “Amor, eu vou te levar no pronto—socorro. Não dá desse jeito, não dá, você tá mal, né?”. E aí a Anne falou: “Não, tá bom, então na segunda a gente vai no pronto—socorro”. Na segunda—feira, a Anne foi até o pronto—socorro e ela foi atendida por uma médica… — E a Anne, gente, ela já estava desesperada. — A Anne foi contando para a médica toda a saga, tudo que ela tinha passado, as três consultas que ela tinha feito com diferentes médicos, falou do inchaço, que não era normal, que ela conhecia o corpo dela, que ela tinha certeza que não eram gases e ela pediu, gente, pelo amor de Deus para que a médica pedisse algum exame de imagem, que investigasse mais.
E nessa hora a médica percebeu, de alguma forma, que o mal—estar e a angústia da Anne mereciam uma atenção e, por precaução, a médica pediu um ultrassom. E foi esse exame que revelou a presença de um líquido por toda a cavidade abdominal da Anne. E aí a médica vendo ali esse líquido, falou: “Bom, a gente tem que investigar”. E aí pediu uma tomografia e alguns exames de sangue e foi então que na tomografia apareceu um monte de nódulo por todo o peritônio… — O que é o peritônio? É a membrana que reveste alguns órgãos internos, né? — Tinha nódulos no peritônio, no fígado, no baço, na bexiga e ali, a Anne percebeu que a conduta da médica mudou completamente… Porque assim, a médica estava numas de: “Ah, vamos investigar, vamos ver, mas nada grave”. Até o tom de voz da médica começou a mudar… E a médica falou: “Anne, eu vou te colocar em uma sala de repouso, a gente precisa conversar com a equipe de plantão e assim que a gente tiver uma resposta, a gente vem avisar vocês”. Ela estava com o Danilo ali, né?
O Danilo começou a ficar preocupado, porque, tipo, precisa de uma junta médica, né? Não tem ninguém pra dar uma resposta agora pra gente? Anne, nesse momento, estava com 40 anos. Ela passou o dia inteiro naquela sala de repouso esperando uma resposta e aí eles chamaram o Danilo… Quando o Danilo voltou, ele estava chocado. — Apavorado. — E aí ele disse pra Anne que os médicos tinham falado em câncer de ovário em estágio avançado já com metástases a distância e que o prognóstico não era bom. Danilo, arrasado, explicou que os médicos estavam em busca de uma equipe médica que aceitasse operar a Anne, mas que até aquele momento eles não tinham ainda uma definição. Danilo ali, nervoso, sensibilizado e sem entender, gente, muito bem os termos médicos, tentou repassar tudo que ele conseguiu saber para a Anne. — Eu só não entendi por que os médicos não falaram diretamente para a Anne com o Danilo junto, né? Mas eles chamaram o Danilo. —
A Anne precisaria ficar internada para fazer uma cirurgia de urgência e já começar a quimioterapia. Mas eles ainda estavam vendo o que ia fazer, o protocolo que eles iam seguir e, além de estar abalada com tudo que o Danilo estava contando, a Anne ainda tentava assimilar o fato de que naquele momento tão delicado, ela ainda está aguardando que alguém da equipe falasse: “olha, o que a gente vai fazer?”, Anne vendo o Danilo super assustado, sem informação, super vulnerável, ficou ali aguardando o que os médicos iam fazer. Se ia operar, se não ia operar, quando ia começar… Anne não teve tempo sequer de chorar… Ela não teve tempo de fazer nada, de voltar para casa, de conversar com os filhos. A Anne comunicou os filhos, um dos filhos foi para o hospital e a Anne estava certa de que ela faria o que fosse preciso. Ficou internada, no dia seguinte ela fez uma cirurgia que durou 10 horas, onde os médicos tentaram retirar toda a doença visível e fizeram ali um exame chamado “anatomopatológico”, para saber qual era o câncer primário.
Anne ficou uns 15 dias na UTI e mais uns 30 dias internada. — Isso lá em 2015. — A Anne começou a fazer quimioterapia quando ainda estava internada, poucos dias depois ali da cirurgia, quando meio que estabilizou um pouco e tal, tudo… Quando ela já estava no quarto, ela começou a pesquisar, porque a Anne se sentia muito ocupada. Ela pensava: “Como eu, uma mulher que teve três filhos, três partos normais e que se achava super esclarecida com relação à saúde, estudava saúde, ainda assim fui diagnosticada com câncer num estágio avançado… Como que eu não percebi antes?”. Só que zero culpa, né, gente? A Anne procurou três médicos antes e ninguém diagnosticou, ninguém avisou a Anne de nada, nem sequer uma possibilidade. E a Anne pensava mais: Como não existe uma campanha de conscientização sobre câncer de ovário, sintomas, nada?
Anne tinha pesquisado o termo que estava no exame dela: “Carcinoma epitelial seroso de alto grau, estágio 4”, uma forma agressiva e já avançada do câncer de ovário. As taxas de sobrevida eram muito baixas… A chance da Anne estar viva depois de cinco anos era menos de 20%. A Anne só pensava que aquilo não era possível, sabe? A Anne queria acompanhar os filhos, a Anne queria viver. Nessa busca por informação, a Anne encontrou realmente muitos relatos de mulheres compartilhando as suas trajetórias com o câncer e tal, mas quase todos os relatos falavam sobre câncer de mama, sobre câncer de ovário ela quase não encontrava nada e a Anne pensava: “Meu Deus, como eu não acho ninguém falando sobre isso? Ainda mais um tipo de câncer que é silencioso, agressivo e que falta informação”, então ela ficava angustiada com isso.
Foi então que, com o coração apertado, Anne digitou nas pesquisas: “Sobrevivi ao câncer de ovário” e, para sua surpresa, ela não encontrou nenhum resultado… Naquele momento, ainda ali internada, a Anne sentiu o impulso, assim, de mudar isso… A Anne queria gritar pra todo mundo que o câncer de ovário existia. Ela queria que outras mulheres soubessem, sabe? “Poxa, essa doença existe, tá aí, a gente tem que estar atenta”. Nessa hora, a Anne lembrou da sua filha, a Camila: “Eu não posso deixar essa falta de informação continuar. Nem pra Camila, nem pra qualquer, nenhuma outra mulher”. Nesse momento, a Anne resolveu criar uma página no Instagram chamada “Sobrevivi ao Câncer de Ovário”. Foi essa iniciativa que fez com que a Anne conseguisse colocar pra fora ali tudo que ela tava vivendo, assim, né? Porque foi tudo muito repentino, né, gente?
Essa iniciativa fez com que outras mulheres encontrassem a Anne e elas se conectassem como mulheres que também tinham câncer de ovário. A Anne recebe semanalmente, assim, de mulheres que estão recebendo o diagnóstico, ou algum familiar recebeu o diagnóstico, mensagens de agradecimento e pedido de informação. A Anne se tornou ali um canal de informação sobre o câncer de ovário… E a Anne ainda tem um banco de perucas, onde ela faz doações para pacientes do SUS. Com o tempo, a Anne percebeu que o diagnóstico e o tratamento do câncer de ovário são tão complexos e difíceis que os desafios enfrentados pelas mulheres são, assim, muito parecidos… E, independentemente de você estar no sistema público ou privado de saúde, é a mesma coisa. Em casos de alta complexidade, o atendimento acaba sendo direcionado para o sistema público mesmo. Todo mundo acaba indo para o SUS. Tamanha a exigência de estrutura e especialização que essa doença requer.
Anne começou o tratamento dela pelo SUS e ela faz esse tratamento há 10 anos… A Anne chegou em um momento da doença, em função das metástases, que ela teve que fazer uma radioterapia, que é uma radiocirurgia no reto, mas infelizmente, no SUS não tem ainda esse tipo de tecnologia. A Anne teve que se endividar para fazer essa cirurgia — essa radiocirurgia, né? — e a sorte dela é que a Camila, sua filha, trabalha num hospital que tem esse tipo de radioterapia específica, que é uma espécie de radioterapia paliativa, só com essa cirurgia ela conseguiu fazer cessar o sangramento que ela tinha. 90% de todo o tratamento que ela já fez ao longo desses 10 anos foram pelo SUS… As duas grandes cirurgias que a Anne fez também foram pelo SUS. A Anne se trata pelo ICESP, que é o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Esse instituto acolhe pacientes de alta complexidade do Brasil inteiro. — O meu tio foi tratado no ICESP. Eu tenho um grande, grande amigo que foi médico do ICESP por muitos anos e, assim, é um hospital de ponta, gente. —
Os médicos consideram o caso da Anne um caso de estudo, eles até levam o caso da Anne para simpósios ginecológicos, porque eles ainda se impressionam com o fato de um câncer tão agressivo ter sido controlado por tanto tempo. E ao longo dos anos, a Anne passou por todos os tratamentos disponíveis para o câncer de ovário. Em 2018, depois que a Anne fez a segunda cirurgia, um médico do ICESP falou que o comportamento do câncer que ela tinha levava o médico a acreditar que a Anne tinha alguma mutação genética. Só que no SUS, eles ainda não tinham o teste e o médico fez a sugestão, como aluna da USP, tentar conseguir o teste via Centro de Pesquisa Genoma da USP. — Já que era muito caro pra fazer esse teste genético na época, em 2018 ali, no particular. — A Anne então foi lá no genoma da USP, fez o teste, demorou mais de dois meses para chegar o resultado e a Anne descobriu que ela tinha uma mutação específica, que é uma mutação que coloca a Anne em um risco maior de vir a desenvolver câncer de mama e câncer de ovário. Isso só confirmou o histórico familiar da Anne… — A Anne teve uma tia paterna que teve câncer de mama e outra que teve câncer de ovário. —
E o geneticista que atendeu a Anne disse que os filhos da Anne têm 50% de chances de ter a mesma mutação que ela tem. A Camila, que é a filha mais nova da Anne, que hoje é nutricionista oncológica, inclusive por causa da mãe, resolveu fazer o teste… — Sabendo que ela tinha a possibilidade de ter a mutação, né? — Ela não possui essa mutação. E a Anne fala para todo mundo: “Se a pessoa tiver a possibilidade de fazer esse teste, que faça, porque isso coloca a mulher à frente do câncer. Se ela sabe que ela já tem essa predisposição, se sair alguma coisa no exame, ela pode se prevenir mais”. Hoje, basicamente, a Anne é acompanhada pelo oncologista do ICESP, por outro oncologista também de fora do ICESP, pela radio—oncologista e pelo médico paliativista, porque em todos esses anos de tratamento, o que a Anne sempre priorizou foi a sua qualidade de vida. — Gente, eu acho que todo mundo tem que acompanhar o Instagram da Anne e o pedido dela é que se a pessoa tem um histórico familiar representativo de câncer, que procure um médico para ver qual orientação ele pode te dar e que nesse caso seja feito o melhor cuidado possível. —
O que dá esperança para a Anne é perceber que aos poucos o cenário está mudando. Esse trabalho de formiguinha feito por ela, por ONGs — a Anne também é voluntária em algumas ONGs — e por outras pacientes que também falam sobre o câncer de ovário, tem gerado impacto. As mulheres estão trocando experiências, buscando informações, se fortalecendo… Algumas descobrem que tem uma mutação genética associada ao câncer, mas por estarem bem informadas e acompanhadas, podem nunca desenvolver a doença, porque elas estão à frente. E é isso que inspira a Anne, saber que em 2025 já se vê um novo cenário se formando… No começo, lá em 2015, a Anne se sentia sozinha, né? Ela estava ali internada num quarto escuro, parecia que não tinha nenhum caminho… E hoje a Anne percebe que não só o avanço da ciência, das medicações, das possibilidades de tratamento, mas o acesso à informação de qualidade coloca a mulher num papel de protagonismo e de ter aí a chance de se antecipar as situações, de saber sobre os fatores de risco.
Hoje a Anne sabe que se ela não se cuidar, em primeiro lugar, ela não consegue cuidar de mais ninguém. Anne também aprendeu a se deixar se cuidar, né? — Que é um papel muito difícil, acho que pra maioria das mulheres, né? Já que ela sempre foi a cuidadora de todo mundo, né? Da família toda. — Isso é um exercício diário, né? De deixar aí as vulnerabilidades expostas, de ter pessoas ali que vão chegar e que vão ficar com você e que vão te ajudar e saber também que outras pessoas vão se afastar, porque o câncer, ele realmente assusta, né? E as pessoas podem se afastar aí por medo ou por não saber o que falar. O Instagram da Anne é @sobrevivi_ao_cancer_de_ovario e ela construiu esse Instagram ao longo de 10 anos de muitas conversas e do fortalecimento de muitas mulheres. Hoje a Anne está com 50 anos, está terminando de escrever seu livro… Ao longo desses anos, ela já recebeu várias sentenças de meses de vida, mas ela continua aqui. Entretanto, o corpo da Anne começou a dar sinais mais claros e ela está mais sintomática.
Mas Anne está em paz, Anne sempre foi a protagonista da própria vida e ela nunca ficou paralisada pelo câncer, sabe? Nem por medo, nem por angústia e nunca teve a sua mão largada por Danilo, um cara que não mede esforços para dar o melhor e a melhor qualidade de vida para Anne. Casada há 30 anos, com filhos criados, né? O Nilo, que é o mais velho, tá com 30 anos, o Derek tá com 29 e Camilinha com 27. Atenção, se você sente algum inchaço abdominal, desconforto, peso na barriga, procure um médico, insista, insista por exames… Agora a gente vai ouvir essa maravilhosa d Anne falando e, na sequência. a gente vai ouvir a doutora Graziela Dalmolin.
[trilha]Anne Carrari: Oi, eu sou a Anne, eu tenho 50 anos e eu sou paciente de câncer de ovário metastático já há 10 anos. O meu único sintoma foi um inchaço abdominal persistente. Sempre fui muito cuidadosa com a minha saúde, fazia meus exames de rotina, só que eu não sabia que não existia nenhum exame de rastreamento eficaz para o câncer de ovário. Por isso esse grande desafio diagnóstico que o câncer de ovário representa… Não a toa ele é chamado de “câncer silencioso”. Aquele inchaço abdominal aumentava dia após dia e eu acabei sendo diagnosticada num pronto atendimento depois de fazer um ultrassom e detectarem uma CIT volumosa e, para investigar o porquê daquela CIT, eu fiz uma tomografia. Na tomografia já detectaram múltiplos tumores e eu já fiquei internada para fazer a minha primeira cirurgia cito redutora. Lembro que ainda internada, eu comecei a pesquisar sobre o câncer de ovário e o que eu achei foram taxas de sobrevida muito baixas e eu me sentia culpada, porque eu me perguntava como que eu pude ser diagnosticada com câncer já em estágio avançado…
Comecei a procurar outras mulheres que já tivessem tido o mesmo diagnóstico e instintivamente eu digitei “sobrevivi ao câncer de ovário” e eu não achei ninguém… Naquele momento, eu me senti como se eu estivesse em um quarto escuro, sozinha, parecia que aquilo só estava acontecendo comigo. E naquele momento eu entendi que eu precisava falar sobre esse câncer silencioso e assim nasceu o meu Instagram, exatamente com esse nome, “Sobrevivi ao Câncer de Ovário”, para que outras mulheres me encontrassem e elas me encontram… E hoje eu fico muito feliz, porque a cada mulher que eu ajudo de alguma maneira, seja respondendo a sua mensagem, seja enviando uma peruca, é como se eu voltasse lá em 2015, naquele momento que eu não encontrei ninguém, é como se eu me acolhesse de alguma forma também e eu entendi que eu precisava dar voz a essa causa.
Esse propósito que surgiu na minha vida é de alguma maneira algo que retroalimenta as minhas forças. Eu entendi que a informação é uma ferramenta poderosa para que a gente possa conscientizar e proteger as mulheres do câncer de ovário. E esse trabalho que eu faço hoje como voluntária em diversas ONGs e movimentos que lutam em prol dos direitos dos pacientes com câncer me apresentaram o meu propósito de vida. Mesmo quando às vezes eu acordo não me sentindo tão bem, eu sei que eu tenho alguém para responder, eu tenho alguma paciente para acolher e isso me dá forças pra continuar… Eu nunca vou ter um papel dizendo que eu estou curada, mas eu gosto de viver a minha cura todos os dias. E a cada mulher que eu consigo ajudar de alguma maneira, é como eu me curasse um pouco mais, é como se eu vivenciasse a minha cura. E eu sei que cada mulher que pode ouvir o meu relato hoje, vai ficar mais atenta aos sinais e aos sintomas do seu corpo e vai procurar um médico para investigar esses sinais e sintomas.
Ter a Déia contando a minha história é um presente no meu legado de vida… Eu sou uma nãoinviabilizer e eu sei que a gente nunca esquece uma história que ela conta. A cada mulher que realmente a gente conseguir alcançar, eu sei que vai estar ajudando a salvar vidas e isso tem um significado imenso pra mim, assim como eu não quero que aconteça o que aconteceu comigo, não quero que aconteça com outras mulheres, por isso que a informação é tão importante. Se olhe, se cuide, se escute e saiba que você é a pessoa mais importante da sua vida. Informação é poder e toda mulher precisa saber. Então, se cuide, compartilhe com todas as mulheres da sua vida e um super beijo.
Graziela Dalmolin: Olá, eu sou a doutora Graziela Dalmolin, oncologista clínica, trabalho na Beneficência Portuguesa de São Paulo, especialista em câncer ginecológico, vice—presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos e diretora pela Oncologia Clínica da Sociedade Internacional de Câncer Ginecológico. O câncer de ovário ainda é uma doença pouco prevalente na população, cerca de 7 mil casos por ano, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer. Um dos principais motivos dele acontecer tem relação com alterações genéticas hereditárias, por isso é fundamental nós conhecermos o histórico familiar para sabermos se existe algum fator de risco associado. Outros fatores de risco associados são mulheres com endometriose profunda, mulheres que nunca engravidaram, nunca tiveram filhos… Esses são alguns dos principais fatores de risco. Essa é uma doença difícil de ser diagnosticada inicialmente, principalmente pelo fato de não termos exames para sua prevenção.
Ao contrário da mamografia para o câncer de mama, ao contrário do preventivo Papanicolau para o câncer do colo do útero, não temos até hoje nenhum exame que possa avaliar de uma forma precoce o diagnóstico do câncer de ovário. Nem ultrassom, nem ressonância, nem exames de sangue chamados “marcadores tumorais”. Vários testes e estudos foram feitos relacionados a isso, infelizmente todos negativos. O que levamos em consideração é principalmente a suspeita clínica e principalmente quando temos muitos casos na família relacionados com câncer de ovário, de mama, de peritônio, de pâncreas, de próstata e de melanoma, porque esses são os tumores que estão relacionados com síndromes genéticas hereditárias relacionados a esse câncer. A doença inicialmente não traz sintoma algum, somente quando a doença cresce no tamanho dentro do abdômen é que a mulher começa a sentir alguns sintomas que podem ser muito inespecíficos e podem estar relacionados com outras causas benignas, porque são dores pélvicas, dor abdominal, gases, constipação, alteração do hábito do intestino, aumento do volume do abdômen…
Geralmente por ter sintomas inespecíficos, a mulher muitas vezes demora para buscar um médico e também por muitas vezes o médico não pensa no câncer de ovário como principal hipótese diagnóstica, pensa em outros motivos de doenças mais comuns, o que acaba também retardando o diagnóstico dessa doença. Quanto aos tratamentos, vai depender, claro, da extensão da doença, que é avaliada através de exames de imagem. A paciente vai precisar de uma biópsia e, muitas vezes essa paciente vai fazer tratamento de cirurgia. O tratamento de cirurgia é muito importante ser realizado por um cirurgião especialista em câncer de ovário. Os principais tratamentos são cirurgias, muitas vezes a paciente pode precisar de tratamento com quimioterapia, geralmente nas fases mais avançadas… Muitas vezes fazemos também um tratamento de manutenção após o tratamento e nós temos agora a aprovação de novas drogas em desenvolvimento, que são novas classes de medicações que têm trazido resultados bastante interessantes já numa fase bem mais avançada da doença, num tratamento mais paliativo.
[trilha]Déia Freitas: Conheça a campanha Toda Mulher Precisa Saber, lançada pela ABBVIE, uma iniciativa para a conscientização sobre os sintomas do câncer de ovário, uma doença que pode ser silenciosa e de difícil diagnóstico. Essa campanha é um convite para você não minimizar ou normalizar alguns sintomas e sinais como desconforto abdominal, inchaço e dores pélvicas. Conheça mais e ouça os sinais do seu corpo. E, quando estiver com o seu médico, verbalize qualquer dor aí que você esteja sentindo. — Valeu, ABBVIE, pela parceria, um tema muito importante… A gente está atento. — Um beijo gente e eu volto em breve.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Alarme é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]