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título: diva
data de publicação: 29/09/2025
quadro: luz acesa
hashtag: #diva
personagens: camille, dona diva e renata

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]


Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para um Luz Acesa. E hoje vou contar para vocês a história da Camille. — Já adianto que essa história tem aí relatos de violência doméstica, violência contra mulher, então fiquem atentos. — Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

A Camille foi criada aí por sua mãe Renata e sua avó Dona Diva. Dona Diva sempre foi uma senhora muito para frente do seu tempo, assim, ela teve a Renata e o pai da Renata era um homem péssimo e ela decidiu que não ia mais tolerar nada daquele homem, pegou a Renata, mudou de estado… Depois Renata arrumou um cara péssimo… — Veja como é um histórico, né? – E engravidou de Camille. E Dona Diva falou: “Você não precisa de homem nenhum para criar a sua filha, pode mandar ele embora que a gente vai criar a Camille juntas” e assim foi… Dona Diva criou Camille, Renata sempre trabalhando muito fora e Camille sempre com sua vó. 

Só que quando Camille tinha 15 anos, Dona Diva passou mal e faleceu… Nossa, foi um baque para Renata e para Camille, assim, elas perderam o chão, assim… Dona Diva era tudo na vida delas e foi muito difícil pra assimilar essa perda e tocar a vida sem Dona Diva. — Mas é aquilo que eu falo, o luto também é uma coisa que a gente tem que viver um dia de cada vez e aquela dor se não passa totalmente, com o tempo, sim, ela ameniza e vai ficando ali uma saudade. — Nem Renata e nem Camille nunca tinham presenciado nada sobrenatural em relação a absolutamente nada, muito menos em relação à Dona Diva. Camille com 18 anos começou a trabalhar para ajudar ali Renata nas contas, só as duas agora e, com 22 anos, ela conseguiu uma bolsa para entrar numa faculdade. 

E assim que ela entrou na faculdade, ela conheceu um professor. — E aqui vocês podem me criticar, porque vocês sempre me criticam, mas eu sou contra grandes diferenças de idade. Eu acho que quando a pessoa é muito nova, ela não tem as ferramentas emocionais suficientes para lidar com certas coisas de relacionamento que uma pessoa de 40 já tem. Então, a pessoa mais nova, mesmo que você fale: “Ah, é uma novinha que está tirando dinheiro do cara”, em relação à experiência de vida, ela tem muito menos experiência. Ou o rapazinho de 18 anos com uma mulher de 40, 45 anos, ele tem muito menos experiência… Eu acho isso injusto. Na outra ponta é a mesma coisa, você pega lá um idoso, uma idosa de 70 anos e vai namorar um cara de 30, uma menina de 30… Aí o idoso já está numa desvantagem maior, entendeu? Parece que as pontas ali, quanto mais longe, mais complicado fica o relacionamento. Eu acho, tá? — 

Camille me disse que acha que o que fez ela se apaixonar por esse professor foi justamente ela nunca ter tido um pai, enfim, uma figura paterna… E ele é um predador, né? Vamos falar aqui… Um professor que tem uma figura de autoridade numa sala de aula e que dá em cima de alunas novinhas, ele é um predador. Essa é a palavra. Então, esse professor de quarenta e poucos anos começou a dar em cima de Camille e Camille ficou interessada. Um dia esse professor passou um bilhete sorrateiro para Camille marcando um encontro. Camille ficou muito feliz e, chegado o dia do encontro, ela estava se arrumando ali no quarto dela, então vestindo uma roupa que ela achou que seria legal, que o professor ia achar ela bonita e, pela primeira vez, Camille viu Dona Diva. Camille estava na frente do espelho se arrumando e, atrás dela, ela viu pelo espelho Dona Diva com um semblante muito preocupado. — Ela conhecia a avó, sabia que aquela cara que a vó estava era uma cara de preocupação. —

Camille interpretou como se a avó estivesse abençoando aquele relacionamento. — Apesar da cara da vó estar uma cara de muita preocupação. — Camille foi para esse encontro, passou esta noite com o professor, voltou para casa e, no dia seguinte, este professor pediu Camille em namoro, mas explicou para ela que por conta dela ser aluna e ele professor, eles não poderiam assumir esse relacionamento. — Depois de muito tempo, Camille descobriu que ele tinha, sei lá, umas quatro, cinco assim, né? Mas a Camille sendo a mais novinha delas, então que ele seriam exclusivos, seria um namoro, porém um namoro escondido. — Acontece que a partir desse pedido de namoro, Camille começou a sonhar com Dona Diva. No sonho, Dona Diva estava num lugar, assim, que era tipo um pasto, um campo aberto, assim, poucas árvores, mas muita grama e Dona Diva ia andando e ela tinha uma pá na mão. 

Em determinado ponto desse campo, ela começava a cavar essa terra, esse solo e Camille estava do lado dela assistindo aquilo, né? E quando ela cavava um pouco daquele buraco, você via o rosto da Camille. [efeito sonoro de tensão] Ela estava desenterrando a neta. Camille sempre acordava assustada e era sempre o mesmo sonho, Dona Diva, muito aflita, às vezes chorando, às vezes gritando, mas sempre desenterrando a neta. Como Camille tinha acabado de entrar na faculdade, ela não conhecia muitas pessoas e, passado ali dois meses desse relacionamento, onde ela saía duas vezes por mês mais ou menos com esse professor, mas segundo ele, era um namoro sério, né? Ela começou a fazer amizades ali, chega uma sexta—feira de final de aula ali, uma cervejada, coisa de estudante, né? Só que esse professor, ele queria proibir que Camille participasse dessas confraternizações com os alunos.

Camille meio rebelde: “não, eu vou” e, na volta, o professor mandou mensagem que ele ia buscar Camille… Buscou a Camille, levou a Camille pra casa dele e, nesse dia, ele deu um tapa [efeito sonoro de tapa] na cara de Camille, daqueles de realmente deixar marca, dela ter que passar base para disfarçar. Renata, trabalhando muito, só sabia que a filha tinha arranjado um namoradinho, mas Camille não contou pra ela. — Escondeu que era um professor e a idade do professor. — Só que agora, Renata, do nada, tinha passado a sonhar com a mãe e no sonho Dona Diva falava para ela aflita que em julho daquele ano a Renata ia enterrar a Camille. Ela falava: “Filha, cuida da Camille, senão em julho deste ano você vai enterrar a Camille” e a Renata acordava assustada, ela sonhou uma semana inteira com isso, mas até ela falou: “Eu não queria assustar a Camille, mas eu tive que falar com a Camille”.

A Camille falou: “Ah, bobagem, mãe”, só que a Camille já ficou com o coração apertado, por quê? Porque ela estava tendo aquele sonho onde Dona Diva a desenterrava. A reação da Camille ao tapa do professor ela ficou muito surpresa, incrédula e, na sequência do tapa, ele já começou a chorar e a pedir desculpas e a falar: “Olha o que você me fez fazer”, botando a culpa na Camille. — Porque isso também é um método, tá? — Aquele cenário gerou um conflito na Camille, porque, ao mesmo tempo que ela apanhou ali, ele estava chorando… Ele estava aparentemente fragilizado, “poxa, se eu não tivesse ido na cervejada, ele não tinha ficado assim”. — Então isso é método de violência, não é algo que o cara sentiu. — E ela praticamente esqueceu e seguiu esse namoro,  até que chegamos ao Dia dos Namorados… 

Provavelmente esse cara realmente tinha outras namoradas, porque no Dia dos Namorados ele marcou com a Camille meia—noite, um pouquinho antes da meia—noite de acabar o Dia dos Namorados e Camille achou que ele estava cheirando a perfume de outra mulher, né? E por que ela descobriu o perfume ali que ele estava de outra mulher? Porque ele marcou na casa dele e falou: “Olha, quando eu chegar que eu tenho compromissos e nã nã nã, assim que eu chegar, eu te ligo e você vem”, a Camille já tinha a chave do apartamento dele e ela foi antes. Então, quando ele chegou, por volta de onze e pouco, ela estava lá, não deu tempo dele tomar banho e se arrumar para enfim chamar a Camille para ir para lá. E aí eles começaram uma discussão e nessa briga ele deu mais alguns tapas na cara da Camille e ela caiu no chão e ele deu alguns chutes. 

Camille, muito assustada, agora ele já tinha começado a chor — o método dele era esse — ela abriu a porta, saiu correndo do apartamento. Era junho, estava frio, ele não foi atrás dela, ela saiu chorando e, de repente, ela encontrou um amigo dela de faculdade chamado “Rubinho” e o Rubinho viu Camille chorando ali e falou: “O que foi? O que aconteceu?”, ela contou… Foi a primeira vez que ela falou sobre isso e o Rubinho falou para ela: “Olha, você tem que denunciar… Esse professor é todo legalzão na faculdade, ninguém imagina uma coisa dessa, você tem que denunciar”. Camille, muito assustada, pediu carona ali para o Rubinho e ele deixou ela em casa e ela não sabia como lidar. — Gente, é isso que eu estou falando para vocês… 22 anos, sabe? Rubinho ali com 25, mas assim já um pouco mais esperto da vida, né? —

Ela não sabia realmente como lidar, ela não tinha coragem de contar para a mãe, já era, sei lá, meia—noite e pouco, Renata estava dormindo e ela entrou no quarto e Dona Diva estava sentada na cama dela. Camille não teve medo e ela correu e ela ela conseguiu deitar no colo da avó, eu perguntei: “Mas era como se ela fosse gente?”, a Camille falou: “Era”. A vó dela enquanto acariciava o cabelo dela, falou: “Olha, se você não sair desse relacionamento, eu vou te ajudar a fazer essa passagem, essa transição, porque não vai ser fácil pra você…”. Dona Diva já estava mais conformada com a morte da Camille, que ela ia ajudar a Camille a fazer essa transição. Camille demorou uns dias para voltar para a faculdade, mas voltou… E ele lá, sonso, como se nada tivesse acontecido, como se fosse o cara mais legalzão do mundo. E Rubinho — que agora a Camille estava com medo que tivesse contado para turma ali, sei lá, qualquer coisa — guardou aquilo pra ele, mas veio conversar com a Camille. 

Camille estava no pátio, o Rubinho veio vindo na direção dela e, de longe, ele viu Dona Diva de braço dado, ela pegou no braço do Rubinho e veio vindo junto e a Camille falou: “Andréia, foi uma coisa inacreditável, assim… Eu nem percebia que era o Rubinho falando, porque certamente a minha avó estava influenciando, porque ele falou comigo do jeito dela e com palavras que, sei lá, que ele não falaria”, então ela entendeu ali que a Dona Diva tava influenciando de alguma forma o Rubinho pra que ele falasse para ela as coisas que ela queria falar e o Rubinho insistia que ela tinha que denunciar, que ela tinha que ir lá na reitoria, que ela tinha que fazer boletim de ocorrência e Camille com muito medo… No final desse dia, este homem mandou mensagem pra Camille marcando de ter uma conversa pra pedir desculpas. 

— Não vá, nunca vá. Ah, você terminou seu relacionamento, seu namorado quer uma última conversa? Não tem que ter última conversa… Ele que vá fazer terapia, que converse com os amigos dele, com a família dele… Não é mais um problema seu. Mulher, não vá. Eu posso fazer aqui um ano inteiro de podcast só contando histórias de mulheres que eu vi na televisão, nas redes sociais, no rádio, enfim, em todos os meios de comunicação, que foram mortas porque depois de terminar aí com esses homens elas deram uma última chance assim para o cara falar o que ele queria. Não tem, não tem que falar nada… Não é mais um problema seu. Não tenha dó de abusador. —

E Camille deu essa oportunidade para o professor e falou que ela ia sim, para casa dele ter essa última conversa, mas na cabeça da Camille eles iam conversar, o cara ia pedir desculpas, mas ela já ia falar pra ele que não ia continuar com aquele relacionamento, que não dava mais certo, esse era o pensamento de Camille. Já o cara, ele queria fazer uma cena, pedir desculpas e continuar com o relacionamento. Quando Camille disse para ele no apartamento que ela não queria mais, este homem se transformou e ela estava no quarto dele, ele jogou a Camille em cima da cama e começou a apertar o pescoço dela, dela realmente começar a desfalecer, assim, perder os sentidos… A única coisa que ela conseguiu fazer foi bater a mão na parede, que era da cabeceira da cama ali… Que dava o quê? No apartamento do vizinho e ela começou a bater…

Ela não conseguia nem falar do tanto que ele apertava o pescoço dela. Camille não sabe como, de repente, ela escutou um barulho muito forte, ela desmaiou… E quando ela voltou, dentro ali daquele apartamento já estava o professor algemado, um casal que ela não sabe de onde veio e a Polícia Militar. Ela foi levada para o pronto—socorro, enfim, ela fez B.O. e esse professor acabou, sim, sendo responsabilizado por essa agressão e também foi demitido da faculdade… — Que era o mínimo, né? — Tinha um casal lá dentro do apartamento, né? Mas Camille não conseguiu conversar com ninguém naquele momento… A moça daquele casal estudava na mesma faculdade que Camille e conhecia Camille de vista, ela estava na casa do namorado, eles tinham acabado de deitar quando eles ouviram as batidas na parede e, do nada, dentro do apartamento deste cara, o Rômulo, apareceu no quarto deles, entrando pela porta do quarto, uma idosa gritando: “Chama a polícia, chama a polícia, chama a polícia”. 

Os dois viram a idosa pedindo para chamar a polícia, só que aí, enquanto o Rômulo estava no telefone chamando a polícia e falando que provavelmente estava acontecendo alguma coisa muito grave no apartamento do lado, a polícia te faz um monte de perguntas até mandar uma viatura… Ele foi interrompido de novo pela idosa e o que o Rômulo não conseguia entender? Ele é muito paranoico com segurança e, no apartamento dele, a entrada é uma fechadura eletrônica, que ele trava e que tem código, então, assim como aquela idosa estava dentro do apartamento dele? E o que a idosa estava falando agora para ele enquanto ele estava no telefone com a polícia, era para ele arrombar a porta.  Aquele barulho que a Camille escutou foi do Rômulo arrombando a porta do apartamento do cara… Quando ele arrombou a porta, ele entrou e a namorada dele entrou junto e aí o cara se assustou e largou a Camille. Ele ia matar a Camille. 

Tanto que ele foi indiciado por tentativa de homicídio. — Minto, de feminicídio. — E a Camille só ficou sabendo da parte dessa história porque a moça foi falar com ela depois na faculdade e contou essa história… De que uma idosa apareceu do nada lá dentro e eles, até então, estavam achando que ela era uma moradora… — E era Dona Diva. — Então, vejam quantas pessoas Dona Diva usou, o Rubinho, esse casal, pra salvar aí a Camille.  E aí a Camille me falou: “Andréia, só aí eu saquei que aquela primeira vez que ela apareceu pra mim, quando eu comecei o namoro com este homem, não era um sinal de aprovação e sim um sinal para que eu tomasse cuidado”. Dona Diva foi aí uma diva, né? Mas em relação a assombrações e a homens violentos acho que a gente tem que ficar só no “Deus me livre”. 

Dona Diva, a senhora foi aí um espírito de luz, né? Na vida sua neta. E depois disso a Camille nunca mais sonhou que a vó tava desenterrando ela. O que vocês acham? 

[trilha]


Assinante 1: Brígida, eu falo de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Dona Diva é um espírito sim, de luz… Já tem o merecimento, ela tem as condições de voltar para ajudar a família, não é todo mundo que morre que pode fazer isso e que bom que ela veio, que ela ajudou. Que história horrível pelo ponto de vista aí desse professor horroroso. Beijos e que todos fiquem bem.

Assinante 2: Oi, nãoinviabilizers, Raquel de São Paulo. Camille, considere essa intervenção como realmente um livramento e eu recomendo muito que você passe a ouvir um pouco melhor a sua intuição, porque muitos sinais foram dados pela sua avó, pela Dona Diva, e ela tentou te mostrar o que aconteceria se você continuasse nessa relação. Muito feliz que você conseguiu sair dessa situação, que você teve esse livramento, mas ouça melhor a sua intuição das próximas vezes. Um beijo.

[trilha]

Déia Freitas: Comentem lá nosso grupo do Telegram, sejam gentis. Um beijo e eu volto em breve. 


[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]