título: me leva
data de publicação: 06/10/2025
quadro: luz acesa
hashtag: #meleva
personagens: jeane e solange
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para um Luz Acesa. E hoje vou contar para vocês a história da Jeane. Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]A Jeane ela trabalha numa espécie de SAMU — mas não tem este nome — que só cuida de resgates e ocorrências médicas que precisa de ambulância em rodovias. Ela atende muitas ocorrências de feridos e algumas de mortos. Se eles chegam no local e a pessoa já faleceu, eles não conseguem reanimar, eles não podem remover aquele corpo. — Não é o SAMU, nem nenhum sistema de ambulâncias que resgata corpos, né? A gente sabe que esse trabalho é feito pelo Corpo de Bombeiros. Então, se o seu corpo está em algum lugar de risco, alguma coisa assim, somente quem retira corpos é o Corpo de Bombeiros. Se esse corpo não está em local de risco e tal, se chama ali um carro de cadáver, enfim… — A Jeane nesse trabalho já viu muita coisa, inclusive algumas pequenas coisas sobrenaturais.
Por exemplo, de chegar num lugar onde tinha, feridos e mortos — e geralmente junta gente em volta — e ela está ali, socorrendo, verificando, vendo se a pessoa está viva, está morta, tinham outros, não era só a equipe de socorro dela, tinham outras, ela foi fazer a verificação realmente de óbito de uma senhora que estava ali e, conforme ela olhou em volta, passou o olho rápido na multidão, a senhora estava com um vestido muito diferente assim a estampa, né? Ela viu essa senhora olhando o próprio corpo com o rosto tranquilo. Então, assim, algumas coisinhas sobrenaturais já tinham acontecido com a Jeane e não só com ela, como muitos socorristas isso acontece. Um dia, Jeane foi chamada para uma ocorrência de socorro de salvamento de madrugada… Eram três carros que tinham se envolvido numa batida com capotamento, enfim, tinham mortos, tinham, feridos, então além de bombeiro, polícia, enfim, vai o socorro… O socorro é o primeiro que é acionado ali na estrada, né?
Jeane chegou com a equipe dela e tinham dois mortos, um rapaz que estava nas ferragens ainda e que foi verificado ali o óbito dele, então só quem ia retirar aquele corpo era o Corpo de Bombeiros e tinha um outro rapaz que estava ali no acostamento e que algumas pessoas estavam tentando reanimar e a Jeane foi ali tentar fazer a ressuscitação deste cara. Conforme ela estava ali, saiu da boca da Jeane as palavras: “Não vamos levar”, que significa que o cara já tava ali em óbito. — Eles iam declarar ali o óbito do cara e acabou ali pra eles… Outras equipes estavam socorrendo já, ia ver se alguém tinha outra pessoa pra eles socorrerem e deixar aquele corpo ali. Quando ela falou: “Não vamos levar”, ela escutou uma voz masculina dizendo: “Me leva” e este rapaz ele tinha um trauma, um machucado muito grande na altura ali do fígado… — E eu tive que ir no Google ver onde fica o fígado, [risos] porque óbvio, ah, está dentro da gente, a gente sabe, mas onde? Na altura do fígado, onde está o fígado? Então eu verifiquei que o fígado está localizado do lado direito do abdómen, logo abaixo do diafragma e é protegido pelas costelas inferiores. Então, isso eu peguei do Google, tá? E a Jeane me explicou isso, entre outras coisas, mas é aquela coisa, quando não é da nossa área, a gente não… Não prestei muita atenção nessa parte que a gente estava conversando ali e depois eu fui olhar isso no Google. [risos] —
Bom, na região do fígado ali e tal, enfim, o cara estava morto, mas a Jeane escutou: “Me leva” e quando ela levantou a cabeça, era o rapaz. Ele tinha outros machucados pelo corpo e pela cabeça, estava ali abaixado falando com a Jeane… Jeane assustou, mas ao mesmo tempo ela falou: “Vamos declarar”, declarou e foi cuidar de outras pessoas, pensando que era mais uma coisa espiritual que ela tinha visto. — Não só ela, outros colegas também já tinham visto em resgates, em socorros que eles fazem. — Passou… Socorreu a pessoa, colocaram na ambulância e o trabalho da equipe dela naquele local acabou. O corpo ficou lá, que depois vem a polícia para ver se é crime, tem o bombeiro que vai retirar o corpo das ferragens, cada um tem o seu papel e a Jeane disse que isso é muito bem… É claro na cabeça de cada um o que cada um tem que fazer. Assim, você sabe que aquele lá não é o seu papel, você não vai tentar fazer, você não faz, enfim…
Jeane socorreu a pessoa, levou a até o hospital e aí você preenche uma papelada, acabou ali, aquela ocorrência para você só fecha depois que aquela pessoa já está internada e você fez um relatório ali que você tem que passar pelos médicos do que tinha acontecido. Então ali acaba a ocorrência dela e depois tem o relatório que eles fazem para o trampo dela, mas acabou ali, você não tem mais contato com aquele paciente. — É tudo muito automático deles até… Depois que você passa aquela adrenalina e tal, que você deixa o paciente, tem essa parte burocrática que é quase automática, você volta pra ambulância, se tem outro resgate, você vai… Se tem que passar para pegar o material que você usou da ambulância, você passa lá para reabastecer, enfim, tem todos os trâmites ali do seu trampo… — Quando ela estava voltando, este cara estava do lado da ambulância. E agora já olhando para ela com uma cara meio brava…
Quando ela estava perto do corpo dele, ela escutou nitidamente a voz dele falando: “Me leva”, agora ele estava xingando, falando alguma coisa para ela, bravo, mas ela não conseguia mais ouvir o cara. Ela só via ele, sabia que ela estava falando com ela, porque ele olhava para ela, mas ela não conseguia mais ouvir esse cara, o que ele estava dizendo. E aí, assim que a Jeane entrou na ambulância, ela falou para o motorista: “Siqueira, puts de novo isso… Estou vendo um cara lá que a gente, tentou reanimar e tal, tá aqui, tá do lado na ambulância”. Siqueira, muito medroso, já falou: “Ai meu Deus, tá amarrado… De novo isso? Eu já pedi transferência. [risos] Não aguento mais isso, toda hora um”… Porque ele é motorista de várias ambulâncias, assim, a escala dele cai ali e ele vai, né? Todo dia tinha isso, ele nunca tinha visto, mas ele tinha medo, porque muitos ali ficavam abalados, assustados e ele assustado por tabela.
E aí ele começou a reclamar, a Jeane estava sentada do lado dele esperando o cara que tava terminando o relatório… — Então, sei lá, esperando o Paulo, eles são em três ali, né? — Ela sentou no meio, bem do lado do Siqueira, pra deixar um espaço pro Paulo sentar ali na frente na ambulância. Ela estava olhando para o Siqueira e atrás do Siqueira, no vidro, estava o cara… Todo machucado. E agora ele, sabe quando você fala muito que você está até meio babando, meio espumando? Ele estava meio babando, meio espumando, ela não escutava nada, mas ela via que ele estava olhando pra Jeane: “Ele tá olhando pra mim, ele tá falando coisa pra mim”. Como o Siqueira já estava assustado, ela não falou: “Siqueira ele está atrás de você no vidro”, “eu não vou prestar atenção, não vou prestar atenção”. Paulo veio, foram fazer outras ocorrências e ela não viu mais esse cara.
Seis horas da manhã, a Jeane terminou o turno dela, ela passou na padaria — uma padaria que ela passa sempre, todo mundo conhece ela… Ela comia na padaria, não levava pra comer em casa e, quando ela foi pedir as coisas, ela não conseguiu comer ali, ela estava muito enjoada. Então ela pediu o café com leite e o pão na chapa pra ela comer em casa e aquilo no caminho já foi enjoando… Ela estava se sentindo muito mal. E aí Jeane chegou, foi tomar banho e ali no chuveiro também ela se sentiu mal… Era um mal estar que não fazia sentido nenhum. Tomou banho e falou: “Bom, vou deitar, vou dormir” e teve muitos pesadelos, porque um ficou morto dentro do carro preso e esse foi tirado ali para tentar salvar e também morreu. Teve vários pesadelos com esse carro capotando, ela sentia muita dor nesse sonho e acordou algumas vezes ali… Duas da tarde ela acordou e já acordou mal, a Jeane falou: “Andréia, eu olhava no espelho e eu não conseguia ver direito, tava embaçado… Mas eu olhava normal, olhava no espelho meio embaçado, eu não conseguia me ver no espelho, mas também não via o rapaz comigo no espelho”.
E desse dia pra frente, ela não viu mais o rapaz, assim, mas ela não conseguia se ver direito no espelho parecia que o olho dela ficava embaçado quando ela olhava no espelho… E ela começou a passar muito mal. De ir em médico e médico não achar nada. Até que pediram os exames e descobriram que do nada ela estava com uma lesão no fígado… E a Jeane falou: “Andréia, não fazia sentido, nada, sabe assim? O que estava acontecendo comigo fisicamente”. A lesão mais grave que o cara teve foi aí, né? Ali no fígado. Jeane foi afastada, começou a fazer vários tratamentos de saúde, não melhorava… Com uns três meses que ela já estava falando: “Eu vou ficar melhor, eu vou voltar a trabalhar”, porque essa é a vida da Jeane, ela gosta de ser socorrista e é o que ela faz pra viver, o que ela gosta e ela estava mal porque ela estava afastada. E aí ela um dia acordou, não conseguia quase andar sozinha… Então, além dos medicamentos que ela estava tomando, do tratamento que ela estava fazendo, ninguém descobria muita coisa, mas por que dessa lesão do fígado? “E agora, como que a gente vai fazer?”, enfim, e os médicos também batendo cabeça ali.
Uma fisioterapeuta — porque ela precisou fazer fisioterapia, porque ela não estava conseguindo quase andar — virou para ela — vamos chamar de “Solange” —, Solange virou para ela depois de umas cinco sessões de fisioterapia e falou: “Jeane, no que você acredita?” e uma fisioterapeuta mais nova que ela, uma jovem, sei lá, recém formada, enfim, “como assim? Eu quero ficar boa para voltar a trabalhar”, e aí esta moça — Solange, fisioterapeuta novinha — falou para ela: “Pois tem um rapaz junto com você, grudado em você e você não vai melhorar nunca enquanto esse rapaz estiver com você. Ele está todo machucado, ele está todo roxo e eu consigo sentir até o cheiro dele, Jeane”. Solange contou pra Jeane, que quando ela começou a atender a Jeane, ela falou com outros fisioterapeutas que a Jeane era muito fedida… “Eu não consigo imaginar, parece que ela tá de banho tomado, mas ela está tão fedida” e ela ainda não via, mas a Solange tem mediunidade, só que ela é treinada, ela consegue fechar esse canal dela, porque se ela não fechar esse canal dela, ela não consegue trabalhar, não consegue andar na rua, mas às vezes escapa e ela começou a sentir esse cheiro e comentar com as outras pessoas ali daquela clínica, que a Jeane era muito fedida.
Só que as pessoas falaram pra ela: “Não, você está enganada, ela não é fedida, não”, e aí a Solange se tocou: “Então é espiritual”, e aí ela ela abriu esse canal dela, deixou ver, assim… E aí ela viu este homem todo machucado que estava junto com a Jeane e ele estava muito bravo. E a Solange contou achando que “poxa, ela não vai acreditar, vai mudar de clínica, vai dar queixa de mim aqui”, mas a Jeane começou a chorar e aí a Jeane contou para ela o que tinha acontecido desse resgate e a Solange falou: “Olha, com certeza você tem mediunidade, alguma coisa e você também precisa se cuidar, cuidar do seu lado espiritual, porque senão você não vai conseguir trabalhar no que você trabalha”. E aí a Jeane ficou meio inconformada, porque ela falou: “Por que tem gente que trabalha e nunca vê nada? Nunca acontece nada e que comigo vai acontecer?” e a Solange falou: “Eu também já pensei assim como você, mas até na minha área a gente vê muita coisa, né? Se você quiser eu posso te dar o endereço de um centro” e ela foi nesse terreiro e depois de um tempo conseguiu tirar esse rapaz.
E ela falou que foi, assim, ela começou a ir, aí ela tinha que ir tantas vezes, até duas vezes na semana nesse terreiro e, quando tirou, quando conseguiram tirar, foi assim, ó, um dia ela estava muito ruim, dois dias depois ela não estava ruim, tão ruim quanto ela estava e depois já estava boa, gente, boa… Refez exame, tudo, estava boa, estava apta a voltar ao trabalho. E aí eu fico pensando, como que o espiritual consegue afetar o corpo físico de outra pessoa? E o cara tinha acabado de morrer… Então, assim, ele já era experiente no mal? Em grudar nas pessoas? Porque ele acabou de morrer, não era pra ele estar meio perdidão? Por que eu já estava com ódio e já estava grudado e acabando com a vida da Jeane? E aí a Solange falou uma coisa pra ela enquanto elas tavam conversando ali, né? Porque ela continuou fazendo fisioterapia até ficar boa. Depois que tiraram o espírito lá, ela não precisou nem mais de fisioterapia, mas numa das vezes que ela conversou com a Solange, a Solange falou que algumas almas, alguns espíritos que morrem são espíritos mais antigos, assim… Mais fortes. — E podia ser isso, que o cara, sei lá… Se era uma pessoa boa, se era uma pessoa ruim… A Jeane não sabe nem o nome do cara, assim, sabe? Você declara o óbito ali e você não fica acompanhando, né? Você sabe do vivo ali, que você resgatou e tudo… —
Então essa é a história da Jeane e ela voltou, ela trabalha até hoje na mesma área e fez um trabalho nesse centro pra fechar o canal que ela tivesse lá, espiritual, mediúnico… — Que ela não quer ter contato com isso, gente… Então, é um direito dela também, se deu pra fazer então ela fez. — E esse cara ela lembra muito da voz dele, porque foi a única vez que ela conseguiu, depois ela não conseguia mais ouvir… Ela via, ela sabia que ele tava falando, que ele tava com raiva pela expressão dele, muito machucado e a Solange, você vê, sentia até o cheiro dele apodrecido… E ela só escutou o “me leva”. Acho que ele queria ser socorrido, né? De alguma forma será que ele culpou a Jeane? “Você me largou lá”? O que vocês acham?
[trilha]Assinante 1: Oi, gente, eu sou a Jessy Santos, sou daqui de Sorocaba. Todos nós somos médiuns, às vezes as pessoas acham que não, mas todas as pessoas são. Cada uma tem uma faculdade mediúnica. No caso da fisioterapeuta, a dela é uma mediunidade ostensiva, que ela precisou trabalhar essa mediunidade pra não interferir no cotidiano dela, no caso da Jeane, ela também tem a faculdade da visão mediúnica, só que como ela vê mais no ambiente de trabalho, talvez tenha virado uma coisa mais corriqueira. Como o espirito consegue interferir no físico da pessoa que foi o que aconteceu com a Jeane, é através da energia, que nós temos nos nossos campos, dos nossos corpos sutis que fala, né? Que a gente tem nosso corpo energético e o espirito ele é por energia, se é uma energia mais densa e ela esta vulnerável, então ela recebe essa carga energética, fazendo com que afete o corpo físico dela. É isso, gente, beijo…
Assinante 2: Olá, nãoinviabilizers, aqui quem fala é o Alexandre, jornalista e professor aqui na cidade de Ourinhos, no sudoeste do estado de São Paulo. Não acredito, é que eu sou ateu, não acredito em mundo espiritual, mas também respeito profundamente todas as religiões e respeito toda a sabedoria contida nas religiões, sobretudo as religiões de matriz africana. Como jornalista, chegando primeiro em cenas de acidentes, realmente ninguém está preparado para isso… É realmente uma violência muito grande, são realmente cenas muito chocantes, enfim… se existe um mundo espiritual, se existem pessoas que morrem violentamente e não conseguem perceber que morreram, disso eu não sei, só sei que, sim, quem trabalha nesse setor aí precisa realmente estar bastante em dia com a psique, porque é bastante violenta e bastante agressiva. É isso, forte abraço e até a próxima.
Déia Freitas: Essa é a história da Jeane, comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis. Um beijo e eu volto em breve.
[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]E, Solange, se você estiver ouvindo essa história, escreve para mim, porque a Jeane falou que você contou para ela de uma moça que também não conseguia andar e tinha uma velha junto com com ela… Eu queria muito saber dessa história.
