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título: mariângela
data de publicação: 20/10/2025
quadro: luz acesa
hashtag: #mariangela
personagens: mariângela e joseilton

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Luz Acesa. E hoje eu vou contar pra vocês a história da Mariângela. — A Mariângela ela é enfermeira chefe em um hospital, essa história é de quando ela começou, ela estava ainda novinha em um outro hospital que ela trabalhava. — Então, vamos lá, vamos de história.

[trilha]

Mariângela trabalhava num hospital na UTI e, quando ela começou, não tinha muito essa questão de cuidados paliativos. — Então, se a pessoa estava muito mal, ela ia ficar na UTI até a sua morte. — Mariângela chegou e, no turno dela, tinha um paciente já quase partindo chamado “Joseilton”. O Joseilton foi pro hospital que a Mariângela trabalhava — que tinha um pouco mais de recursos —, mas pra ficar ali na UTI e tava praticamente desenganado. Mariângela chegou no turno dela e Joseilton tava acordado e ele falava: “Eu não quero morrer, por favor, não me deixa morrer. Eu quero viver, eu quero ficar aqui” e Mariângela ali, né? “Não, fica tranquilo, Joseilton e nã nã nã”, você tenta dar um amenizada, porque você sabe que o cara vai morrer, né? Nessa altura do campeonato, as visitas já tinham sido liberadas pros familiares meio que se despedirem ali do Joseilton.

A família chegava chorando e o Joseilton ficava muito bravo, porque ele falava assim: “Vocês desistiram de mim, vocês querem que eu morra e eu não quero ninguém aqui que deseje a minha morte, então vocês podem ir embora”. Um médico — que a gente pode chamar de “Doutor Carlos” — chamou a família e falou: “Olha, em vez de vocês ficarem tentando consolar o Joseilton dizendo que ele tem que se conformar, que ele vai morrer, comece a falar pra ele: “Joseilton, quando você sair daqui, porque ele vai sair daqui, só não vai sair pra vida” — achei duvidosa essa abordagem do Doutor Carlos, mas tudo bem — e a família começou a falar isso pra ele… “Quando você sair daqui”… Mariângela ali achando aquilo muito bizarro, porque assim, acaba dando uma esperança pro Joseilton que, gente, não tinha… Ele não ia sair dali. Pelo menos não com vida. Os dias foram passando e, sempre que Mariângela chegava no turno, ela já esperava que o Joseilton não estivesse lá. — Era muito triste ver ele daquele jeito, né? Ele estava realmente no final, ali, ele já não estava se comunicando mais, mas ainda você percebia a agonia do Joseilton, né? —

E aí um dia ela chegou e realmente o Joseilton não estava mais naquele leito. Ela passou, trabalhou ali o turno dela e, quando ela foi trocar de turno, ela encontrou o enfermeiro que estava no turno quando Joseilton faleceu. — O nome desse enfermeiro era “Rogério” e o Rogério estava traumatizado. — Rogério falou pra Mariângela: “Mari, você não sabe como foi a morte do Joseilton… Ele já não estava mais falando e tal, não estava mais consciente, né? Mas quando foi a hora da morte dele, ele voltou a falar e a gritar: “eu não quero, não vou” e ele começou a se contorcer na cama. A gente tentou ali até ver o que dava pra fazer ainda pelo Joseilton, mas ele teve ali tipo um espasmo, assim, gritou e morreu… E ele ficou com uma cara muito de horror”. E aí tem o procedimento ali que o pessoal da enfermagem faz de cobrir, sei lá, meio que catalogar e tirar dali, né? Acabou o leito dele na UTI ali e ia ser substituído por outra pessoa.

“Quando ele passou pela porta da UTI ali, pra sair naquela maca, todas as cadeiras do corredor foram virando e caindo pelo chão…”. Você imagina assim: um corredor com umas 4, 5 cadeiras só, porque era assim, tipo quando um parente fica esperando ali pra dar o horário de você trocar de parente… Entra um pouquinho um, entra um pouquinho outro na UTI e tinham umas 5 cadeiras de plástico naquele corredor. Todo mundo ficou assustado ali e levaram o corpo dele pra área do necrotério ali daquele hospital. Mariângela ficou muito impressionada, mas, assim… “gente, besteira, né?”, enfim… Dali uns dias tinha um burburinho… De que algumas coisas estavam sendo quebradas, algumas coisas estavam andando de lugar… Tipo, você colocava um negócio aqui, um sei lá, um negócio com éter aqui, um negócio de limpar ferimento e alguma coisa derrubava aquilo. 

Uma das enfermeiras ali falou: “Olha, eu tô achando, eu não vejo nada, mas eu tô achando que é o Joseilton que tá aqui, porque algumas vezes eu escutei a voz dele”; Mariângela deu risada, falou: “Bobagem” e fazer a ronda dela na madrugada pra dar ali algum medicamento, fazer a ronda dela do trampo dela. Quando Mariângela sai de um quarto [efeito sonoro de tensão] no corredor, ela vê com os próprios olhos o Joseilton. Ele estava com aquela roupinha de hospital de quando ele morreu e ele estava muito bravo… E ele falava: “eu quero sair daqui, eu quero sair daqui, eu quero ir para minha casa”. E, nesse ponto, não ia mais nenhum parente lá, então não tinha como o Joseilton sair dali, né? Ele queria ir para a casa dele. Primeiro ela achou que fosse cansaço, tipo: “tô vendo o Joseilton, sei lá, né? De madrugada”, mas ela tinha que passar por ele para terminar ali de ver os quartos, né? De fazer a ronda dela. 

Quando ela foi chegando perto, ela percebeu que ela via ele e ele não via a Mariângela, mas ele falava: “eu quero sair daqui” e andava para lá e andava para cá e uma ou outra cadeira de plástico ia mexendo. Mariângela ficou apavorada, entrou num quarto ali de um paciente e percebeu que o paciente também estava agitado… Tinha um corredor e, no final do corredor era a UTI, naquele corredor tinha uns quartos que, assim, ou você vai entrar para a UTI ou você vai sair da UTI… Tinha um paciente muito agitado, Mariângela falou: “Vou pedir uma reavaliação, porque sei lá, e se ele precisa ir para a UTI agora? Não sei” e ele estava muito agitado, falando: “Tem um homem aqui no meu quarto, tem um homem aqui no meu. Toda hora vem um homem aqui no meu quarto”, “Bom, Joseilton está passeando pelos corredores”. 

Essa história se espalhou… O pessoal da limpeza, um enfermeiro ou outro, um médico ou outra, uma médica lá que quase teve um desmaio porque ela encontrou o Joseilton também no corredor e algumas pessoas viam o Joseilton por ali e ele gritava. Ele andava por ali, ele conseguia mexer as cadeiras, ele conseguia derrubar uma coisa ou outra. — Ele tinha muita raiva. — Até que uma enfermeira chefe — que a gente pode chamar aqui de “Margarete” — chamou um homem… Mariângela não sabe se ele era um padre ou se ele não era, as pessoas chamavam ele de “Capelão”. E era o Capelão Onofre. Ele chegou lá, começou a conversar naquele corredor… O que o Joseilton fazia? Ele entrava naqueles naqueles quartos do corredor e na outra ponta do corredor tinha uma tipo semi—intensivo lá, tinha uma área que não era a área que ele ficou na UTI, mas onde ele tinha ficado, que foi onde ele mais sofreu e teve medo, ele não entrava. E aí o Capelão começou a conversar com o Joseilton ali no corredor e ficou meio bravo, ficou conversando com ele.

Da janelinha da UTI, que ela estava do lado — ela sabia que era onde o Joseilton não entrava, né? Falou: “Aqui ele não vai entrar” — e ela via só o Capelão, agora ela não conseguia mais enxergar o Joseilton, e aí ela viu que o Capelão saiu… Ela falou: “Eu não vou atrás dele” mas um outro enfermeiro que estava lá foi atrás dele e falou que o Capelão foi conversando sozinho até a capela… E lá, o Capelão ficou cinco horas dentro da capela daquele hospital. Quando ele saiu de lá, ele falou: “O Joseilton foi embora”. A Mariaângela disse que essa foi a primeira experiência sobrenatural que ela teve, mas que ela teve outras, assim, até mais rápidas e do bem. Ela disse que um dia ela estava num quarto onde o paciente estava tentando ser reanimado e eles estavam um tempo ali já naquela reanimação, quando o médico falou: “vamos declarar, vamos declarar a hora do óbito”, só que um outro médico que estava ali parado falou: “não, vamos tentar mais um pouco”. 

Quando Mariângela olhou pra ele, porque assim, já estava todo mundo em consenso ali em declarar, ela viu, passando o olho até chegar nele do outro lado da cama ali, daquele paciente da maca, ela viu uma residente que era novinha lá tremendo muito e, quando ela olhou pra esse médico, que falou “não”, tinha um espírito com a mão no ombro dele e ele falou “não” e ele começou a fazer ali as manobras e tal pra tentar reanimar o paciente com aquele espírito segurando o ombro do cara o tempo todo, do médico o tempo todo. Até que depois de um tempo ali, o paciente voltou… E aí esse espírito tirou a mão do ombro do médico e sumiu… E só quem viu isso naquela sala foi a Mariaângela e a residente, que estava do outro lado, tremendo muito, assim… Era uma médica novinha, começando ali a residência e ela ficou muito tremendo… Depois, quando eles foram sair ali, porque aí era uma outra equipe que ia cuidar do paciente, levar ele pra UTI, enfim, X, ela pegou na mão da residente falou: “Fica calma, eu também vi”.

E aí a residente estava tremendo muito, e ela levou a moça ali pra tomar uma água e tal, e falou: “Nessa sua profissão você vai ver muita coisa, então você precisa se controlar, né?”, porque ela tremia muito… A Mariângela falou: “Andréia, eu tenho certeza, alguém do plano espiritual veio pra ajudar aquele médico a reanimar aquele paciente, não era a hora daquele paciente, né?” e, pra completar o combo de histórias da Mariângela, ela disse que um outro hospital que ela trabalhou, aí já voltado pra questão do câncer, tinha grupos de mulheres voluntárias, né? Geralmente mulheres da terceira idade, assim, com aqueles coletes rosas e tal e, entre essas mulheres, tinha uma senhora chamada “Dona Gracinha” e Dona Gracinha, nossa, assim, ajudou muito muitos pacientes ali daquele hospital que Mariaângela trabalhava… Até que Dona Gracinha morreu. Dona Gracinha morreu num domingo, ela teve um mal súbito. 

Então, pensa, ela foi voluntária no hospital até na sexta, ela morreu num domingo e, na segunda—feira, muitas pessoas foram no velório dela, no enterro, né? Na segunda—feira, quando essas pessoas, médico, enfermeiro, pessoal da limpeza, chegou pra trabalhar, Dona Gracinha estava lá… Quase todo mundo conseguia ver Dona Gracinha pelos corredores, ajudando os pacientes. E a Mariaângela disse que ela ficou um bom tempo no hospital, até que um dia ninguém mais viu, mas assim, as pessoas nem tinham medo, falavam: “Bom dia, Dona Gracinha”, “Boa tarde, Dona Gracinha” e alguns pacientes também viam: “Ah, Dona Gracinha tá aqui comigo”, “Dona Gracinha me ajudou”. Então, ela morreu… Não se sabe se ela não sabia que tinha morrido ou, mesmo morta, ela continuou trabalhando. Eu acho que, provavelmente ela não sabia que tinha morrido, né? Porque depois de um tempo ela sumiu. 

Então, todo mundo falava: “Ah, Dona Gracinha é um fantasma do bem” e ficava circulando pelo hospital, ajudando os pacientes, andando por ali com seu coletinho rosa. — Gente, não dá pra mim, por mais que seja do bem, sabe? Você vê um espírito na sua frente, olha… Por mim e não”. O que vocês acham? 

[trilha]

Assinante 1: Oi, nãoinviabilizers, aqui quem fala é o Fábio e estou falando de Lisboa. É muito comum no meio espírita a gente ver falando sobre pessoas que desencarnam, mas que não querem ir embora e que acabam ficando aqui na Terra… Muitas, na verdade, nem querem morrer e, por conta disso, não fazem a passagem. Então é necessário um trabalho muito forte, tanto do plano espiritual quanto do nosso lado mesmo, com muita oração, pra que essa pessoa encontre o caminho, pra que ela possa seguir, pra que ela não siga sofrendo. Eu imagino a sua situação, eu imagino o quão desesperador tenha sido pra você. Tenho amigos que são também da área da saúde, que trabalham na área da enfermagem e eles dizem que situações como essa são muito comuns e que já estão acostumados. Espero que o Joseilton tenha finalmente encontrado a luz. 

Assinante 2: Oi, gente, aqui quem fala é Gislane, eu moro no interior da Bahia. Muito bom saber que ela se acostumou, se adaptou a essas aparições no trabalho dela, porque realmente não dá pra ficar triste e se tremendo toda vez que vê alguma coisa. [riso] Mas eu fiquei muito impressionada com a história da senhora que ficou indo no hospital e todo mundo falando com ela, porque eu acho que eu não consigo ver nada disso… Eu sou meio descrente, não acredito, mas Deus me livre… E é impressionante que possa acontecer. Eu acho que eu nunca vi nada, né? Eu acho que já vi vultos e coisas assim, mas ver mesmo é surreal, né? Surreal. O mundo é uma maluquice. 

[trilha]

Déia Freitas: Eu amo história de hospital, se você tem uma história sobrenatural que envolva a área da saúde, manda pra mim: naoinviabilize@gmail.com. — Deus me livre. — Então é isso, gente, um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]