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título: carnaval
data de publicação: 17/09/2020
quadro: amor nas redes
hashtag: #carnaval
personagens: márcia e guilherme

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Amor nas Redes, sua história contada aqui. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Que saudade. Eu tô aqui para contar para vocês uma história de Carnaval, é a história da Márcia e do Guilherme, aqui de São Paulo mesmo. Então, vamos que vamos.

No carnaval de 2016, a Márcia com 24 anos trabalhava com telemarketing e foi demitida. E era uma empresa que estava com um monte de problemas financeiros, então ela ia ter que colocar na justiça para receber, e do dia para noite ela ficou sem nada, tipo, sem o vale-refeição, vale-transporte, sem nada, e o salário que ela ia receber também não recebeu. — Ela ia receber tudo na justiça. — Então ela se viu ali no Carnaval desempregada e tendo que pagar o condomínio e aluguel de uma kitnet no centro da cidade. E aí apertou, né? O que ela resolveu fazer? Ela resolveu fazer shot de gelatina com pinga, porque ela não tinha nem dinheiro para Vodka, e vender no carnaval.

E assim ela fez, como ela morava numa kitnet ali no centro, então ficava fácil dela subir toda hora pra kit dela para pegar os shots da geladeira. Então ela fez várias camadinhas assim, de copinho, sabe? Sabe esses copinhos de café de plástico, assim, pequenininho? Então, ela fazia nesses copinhos… — Eu achei uma ideia maravilhosa, né, eu adoro esse tipo de coisa — E aí ela, nossa, vendeu horrores e foi o que salvou assim. Ela ganhou muito dinheiro no carnaval vendendo shot de pinga na gelatina, e facilitou porque ela morando ali no centro, né, podia subir e buscar mais na geladeira e tal.

Ela fez isso quatro dias, e à noite quando ela chegava era a hora que ela fazia as gelatinas para sair meio-dia do outro dia vendendo. E deu muito certo, ela vendia nos bloquinhos, vendia barato, e foi fazendo um dinheiro. Conseguiu pagar dois meses de aluguel com condomínio e deu uma aliviada boa. E no último dia de Carnaval, ela estava lá vendendo, né, os shotzinhos dela, já no final, o último isopor. E ela viu, assim, de longe um cara olhando para ela, um cara que ela achou bacana assim, que ela achou bonito e ela começou a corresponder, só que ela olhava para o cara, o cara olhava para ela e nada do cara vir, né? Ela estava bem ali no centro onde tem aquela parte da 24 de Maio e tem o calçadão. 

E era só ele andar na direção dela, sei lá. Ela podia fazer a mesma coisa, né? E foi isso que ela pensou e falou: “Poxa, se o cara não vem até aqui, eu vou até ele”, aí ela foi até ele e ofereceu um shot para ele, mas também, né, perguntou se ele queria comprar porque ninguém tá dando shot [risos] de graça. — Eu achei ótimo que ela não deu o shot para ele, que ela fez ele comprar — E aí ele comprou dois shots e eles ficaram conversando. — E sabe quando já conversa com aquele climazinho, assim, de romancinho? — e nisso ele acabou beijando ela.

E aí eles ficaram um tempo ali se beijando, ela gostou muito e, pelo jeito, ele também gostou. E sabe quando você sente que é alguma coisa a mais? Porque tem cara que a gente beija, ou menina que a gente beija e tudo bem… E tem cara que a gente beija e fala “Uau”, né? E esse foi um cara “uau”. E ele pediu o telefone dela, anotou o telefone dela no celular, e aí ela tinha que terminar de vender o shots e ela acabou indo embora. Eles ficaram ali bem atrás do Teatro Municipal, e aí ela foi em sentido lá pra Praça da República para terminar de vender os shots e ele voltou lá com os amigos dele e foi para algum bloco, sei lá, e passou. Era já no último dia, né, na terça-feira e ela, nossa, ela jurava que ele fosse mandar uma mensagem para ela no dia mesmo e nada.

E o Guilherme não procurou pela Márcia dia nenhum e ela não conseguia tirar esse cara da cabeça, então assim, ela sabia pouco dele, sabia que ele trabalhava numa empresa lá em Minas, numa empresa de coisa de papel, não sei o nome, tipo a Kalunga. Mas ela não conseguia nem lembrar a cidade, porque se fosse uma cidade pequena deve ter um lugar desse, né? Mas ela só gravou o “Minas”. Então, [risos] como que você vai procurar uma empresa que vende papelaria, essas coisas, em Minas inteiro. Um cara chamado Guilherme que você não sabe nem o sobrenome? Não tinha como.

E a Márcia ficou muito, muito chateada de não ter encontrado o Guilherme mais, assim, nem nas redes sociais porque ela deu aquela boa procurada, né, e não achou. Não achou ele em Facebook, Instagram, nada. Bom, um ano se passou aí, e nada da Márcia encontrar o Guilherme e ela procurou porque ela gostou dele. — Deu aquele click, sabe? — E ela nesse ano ficou com outros caras, tudo, mas nenhum sério e sempre pensando nesse Guilherme do carnaval. — Acho que, sei lá, acabou idealizando demais também porque ficou tão pouco com o cara, né? Mas enfim, foi paixão à primeira vista.

E chegou no Carnaval de 2017, o que ela pensou? Ela já não precisava vender gelatina com pinga no Carnaval, ela já tinha conseguido um emprego novo. — Eu venderia de novo, eu tenho esse espírito de: se deu dinheiro, por que não, né? — Mas ela não estava precisando então ela não fez, só que ela ficou por ali para ver se via, se encontrava com ele nos bloquinhos do Centro, mas é muita gente, né? Então em algumas horas do dia, ela ia lá para aquela parte atrás do Teatro Municipal para ver se ele, sei lá, se ele estava por lá e nada. E aí passou o Carnaval de 2017… Ela conheceu um cara no Carnaval de 2017, começou a namorar um cara no Carnaval 2017 e esse namoro foi “ok”, não era assim “ah, o amor da vida”.

Em outubro o namoradinho convidou a Márcia para ir numa viagem de casal para um lugar aí, desses místicos, sabe? Zen? Essas cidades místicas, Zen. E ela foi, eles foram de carro, né, e é o lugar aí “místico zen”, eu não vou falar o nome de cidade nenhuma porque [risos], aí eu não sei, eu não gosto desse tipo de viagem, então eu posso acabar falando mal de alguma cidade, então é melhor não citar nenhuma. Mas era em Minas, né, eles foram para Minas de carro, nessa cidade “mística zen” pra acampar. [risos] — Gente, eu odeio acampar, jamais iria, mas tudo bem. — Márcia foi com o namorado e o casal de amigos, cada um com a sua barraca acampar aí nessa cidade “mística zen”.

Só que era Minas, né? [efeito sonoro de radar] E o radar da Márcia alertou, qualquer papelaria no caminho ela ia parar. Ela inventou lá que ela estava colecionando post-it [risos], caneta colorida, qualquer coisa, e qualquer papelaria que ela visse, grande ou pequena, eles tinham que parar, e assim foi, né? Até chegar lá no camping foi assim. Eles foram parando… — E qualquer lugar que ela visse que, sei lá, vendesse caderno, ela parava. — Porque ela não tinha tirado o Guilherme da cabeça, apesar de estar namorando com esse outro cara, né? E aí chegou lá no camping, eles se instalaram e tal, e tinha uma programação que era assim, você podia fazer a tour, né, pela cidade para conhecer e tal, e você podia também fazer algumas coisas lá dentro do camping, tipo, sei lá, meditação, esse tipo de coisa.

E eles decidiram fazer uma trilha, só que a Márcia não era chegada, — Eu também sou tipo Márcia, eu jamais iria na trilha — e ela falou: “ah, então vocês vão fazer a trilha”, que seria no outro dia cedo, “que eu vou ficar nessa programação zen aqui, vou dar uma meditada, depois vou lá fazer não sei o quê com pedra quente e vou ficar aqui suave”. E o cara foi, foram os três, né? O casal e o namorado dela, e ela ficou lá fazendo meditação e os caramba lá na cidade, lá no camping. O namorado da Márcia mais o casal saíram 6 horas da manhã para fazer trilha e voltaram quatro horas da tarde, assim, cansados, sujos de barro e ela já estava de saco cheio, já tinha feito tudo, toda a programação zen que tinha naquele lugar, não tinha mais nada para fazer. E eles chegaram cansados, querendo comer, tomar banho e tinha fila pra banho — porque camping, né? — e dormir.

E ela falou: “Ah, não, não tem como eu ficar dentro dessa barraca sem sono, com o namorado roncando do lado”, e aí ela saiu e foi dar uma volta no camping. Tinha uma parte onde tinham várias mesas assim dessas compridas, com banco para fazer a refeição, né? E ela sentou ali num banco e ficou olhando em volta, tinha um povo com violão… — Ai, gente, não dá para mim, eu já estaria surtando vendo se tinha passagem para voltar [no dia seguinte?], não dá, para mim não dá. — E ela ficou lá ouvindo, né, meio de longe o povo com violão num canto, um outro casal no outro e depois, quando deu umas onze horas da noite, ela voltou para barraca para dormir, e assim foi o primeiro dia chatérrimo, chatérrimo. 

E assim, o combinado com esse namoradinho, era que eles iam ficar numa pousada, inclusive, quem encontrou a pousada, quem fez o contato para saber quanto era e fazer reserva tudo, foi a própria Márcia. E aí no meio do caminho, né, três contra um, eles decidiram que eles iam acampar, eles iam levar a barraca só para, no caso de, sei lá, né? Acontecesse alguma coisa, mas no final a Márcia achou que eles já foram pra lá para acampar e, tipo, meio que deram uma enrolada nela porque ela queria ficar numa pousada.

E aí no primeiro dia foi assim, quando ela acordou no segundo dia, que ela queria saber se eles iam conhecer a cidade, passear, né? Ela já tinha pesquisado alguns lugares pra eles almoçarem e tal, o cara vira para ela e fala que eles iam fazer outra trilha. Oi? Sendo que ela já tinha falado para ele antes da viagem que ela não curte fazer trilha, que ela não gosta e tal, que ela fica cansada, que ela não tem condicionamento físico, e ele virou para ela e falou: “Olha, não, a gente vai fazer a trilha tal, só que essa trilha tal, a gente vai ter que dormir num outro camping para poder depois atravessar pra não sei onde”, uma cachoeira, essas coisas…

E ela falou: “Mas como assim? Então você vai levar a barra-… [risos], você vai levar a barraca?”, aí ele falou: “Não, você vai com a gente, né? Porque a gente tem que levar tudo”, ela falou: “Mas e o carro?”, ele falou: “Não, então, a gente dorme lá um dia, depois a gente faz todo o caminho [falando e rindo ao mesmo tempo] de volta, de novo pela trilha, o carro fica aqui no camping, não tem problema”. E assim, ela tinha opção de ir com eles e virar à noite, eles iam passar cinco dias lá — cinco dias — e dormir, sei lá onde que eles iam dormir com as barracas e depois ir para não sei onde.  Dormir lá e depois voltar a dormir de novo lá no meio do caminho, e depois voltar para esse camping. — Quer dizer, era só trilha, era uma viagem de trilhas. — Daí a Márcia ficou pê da vida e falou: “Olha, eu não vou, não foi isso que a gente combinou, você me falou que a gente ia fazer um monte de passeio e você só vai fazer trilha? Não vou.”

E aí eles brigaram, a Márcia pegou as coisas dela e ficou ali no camping vendo se tinha um ônibus para outro lugar, para ver o que ela ia fazer, e o cara foi embora com o casal de amigos fazer trilha, largou ela lá sozinha no camping com a mochila dela. Isso era às 6 horas da manhã, né? E aí ela viu que teria um ônibus para ela ir para uma outra cidade, pra de lá esperar outro ônibus e voltar para São Paulo às 9 horas da noite. [risos] — Gente, é muito roubada, não dá, para viajar assim, não dá. —  E aí eram 6 horas da manhã ainda, ela falou: “Ah, bom, então eu faço aqui umas dinâmicas aí, umas coisas zen e depois eu vou almoçar na cidade”, e ela fez a programação dela até dar 9 horas para ela estar lá na rodoviariazinha da cidade, porque o ônibus só passava para pegar o povo e ir para outra cidade que era uma rodoviária maior, que ela ia pegar o ônibus para São Paulo — Olha o trampo. —

E foi assim que ela fez, ela foi pra cidade lá, passeou, quando deu o horário do ônibus ela pegou esse ônibus às 9 horas da noite e, quando foi meia-noite, ela chegou na rodoviária maior, que ela ia pegar o ônibus para São Paulo pra voltar de Minas pra cá. E assim, o ônibus só ia sair 4 horas da manhã, então da meia-noite até 4 horas da manhã, ela estava morta de cansada já, que em nenhum lugar ela descansou, né? E ela falou: “Puts, o que eu vou fazer aqui na rodoviária?”, aí foi lá comprar uma coxinha, uma Coca e tinha, gente, uma livraria na rodoviária… E a Márcia entrou na livraria para fazer hora, tá lá olhando um livro daqui, [trilha de tambor, tom de suspense] outro dali, dando uma folheada em um, em outro, quando ela olha para o caixa, quem é o caixa da livraria? Quem? — Gente, eu até parei aqui de tomar meu drink para contar isso com detalhes. —

O caixa da livraria era o Guilherme. [efeito sonoro de harpa] Quais as chances? Olha esse universo, como não era para conspirar todinho para chegar nesse momento, e depois de um dia de roubada, depois de conhecer esse cara, de ir para Minas e parar num camping e fazer massagem com pedra quente, e isso e aquilo, acabar na madrugada numa rodoviária de uma cidade de Minas, onde o Guilherme é o caixa? Gente, sério… A Márcia ficou parada, paralisada, olhando o Guilherme e achando assim “Não, é o cansaço, eu já tô cansada, chateada, não é ele, eu tô vendo coisa”, e aí tinha também aquela outra coisa, né? Ela viu o cara uma vez, ficou com cara uma vez e já tinha passado um ano e meio, quer dizer, ela podia, sei lá, achar que o cara era parecido com o Guilherme e não ser o Guilherme, né? Mas ela tinha certeza que era o Guilherme, ela tinha certeza.

E aí ela foi andando assim, rápido até o caixa da livraria e falou: “Guilherme”, até meio gritado, sabe? Aí ela continuou e falou: “Guilherme, sou eu, a Márcia, a que você conheceu no Carnaval, não desse ano, do ano passado em São Paulo. Eu te procurei tanto”, e o cara olhando pra cara dela e ela não parava de falar, assim, desembestou a falar, aí o cara virou para ela e falou: “Moça, meu nome é Paulo” [efeito sonoro de erro no Windows] — Eu senti o balde de água fria aqui na minha cabeça, pensa [risos], coitada da Márcia, acho que, ela já estava tão cansada, né? Que dó. — E aí ela olhou para a cara do cara, ela estava terminando de falar que ela era a moça que vendia shot de gelatina no Carnaval, e ela só terminou a frase, ele falou que era Paulo o nome dele e ela pediu desculpa e saiu da livraria. Arrasada.

Porque até então, ela estava um pouco chateada do namoradinho lá ter ido fazer trilhas, mas sabe quando você não era tão assim apaixonada? Então tudo bem, assim, ela já tinha resolvido que “Ah, terminou”, mas com isso de encontrar o Guilherme e não ser o Guilherme, ela desabou. Aí ela sentou lá na rodoviária e começou a chorar, — igual uma louca [risos] — daí ela chorando lá sem parar tipo “Ai, o que eu tô fazendo da minha vida? Tô aqui numa cidade que eu não conheço ninguém. Tô atrás de um cara que ficou comigo 2016, tipo, acorda para vida…”, chorando, quando ela ouve alguém falar: “Márcia?” [efeito sonoro de mágica], que ela olha, parecia o cara da livraria só que com cabelo mais curto e ela chorando assim de soluçar, sabe quando dá aquela descontrolada? [risos]

Aí o cara continuou olhando para ela e falou: “Sou eu, Guilherme”, aí, né? A pessoa já tá cansada, já fez um papelão na livraria, chorando, falou: “Não, agora tô, né, alucinando, sei lá, não tomei nada e tô vendo coisa já na minha frente”, e aí o cara sentou do lado dela e parecia que ela não estava entendendo, né? Sabe quando a pessoa continua chorando? E aí ele falou: “Sou eu, o Guilherme, sou eu mesmo, você falou com meu IRMÃO na livraria” [risos].

E agora, junto a versão da Márcia, nós temos a gloriosa versão Guilherme. O quê que aconteceu? Por que que o Guilherme não procurou a Márcia? [trilha de tambor, tom de suspense] O Guilherme cabeção, anotou o telefone da Márcia tipo no bloquinho de notas do celular — E assim, deixa eu ensinar pra vocês: quando você vai gravar o telefone de alguém e não tem como, assim, rapidinho, disca e chama, porque aí já fica registrado, sei lá, mas também depois do que aconteceu com ele pode ser que não ficasse registrado, não sei. — Ele acabou de beijar a Márcia ali, eles se despediram e ele anotou o telefone dela, ele virou a esquina, entrou no bloco, encontrou os amigos e tal, e ficou por ali, quando ele colocou a mão no bolso, cadê o celular?

Furtaram o celular dele, e o telefone como ele gravou em qualquer lugar, não ficou no chip, estava no aparelho que foi roubado. E aí ele perdeu completamente o telefone da Márcia, ele não lembrava nada, nem o número, nada… Se ele tivesse discado e chamado a Márcia, mesmo com o telefone furtado, a ligação ia estar lá no aparelho da Márcia na casa dela, porque ela saía para vender a gelatina com pinga e não levava o celular. — Porque não é boba, né? — Aí ia tá lá na casa dela, quer dizer, quando ela chegasse, ela ia ver que tinha uma ligação com DDD de Minas e ia sacar que era ele, e ia retornar ou ia adicionar o cara no WhatsApp, no Telegram, sei lá. 

Mas ele não fez isso, e aí ele foi furtado e ficou desesperado, tipo, ele nem estava preocupado com celular, ele tinha perdido o telefone dela, e no dia seguinte que ele ia voltar na quarta-feira para Minas, ele ficou em São Paulo ainda, rodando ali no centro para ver se achava a Márcia. — Ai, que bonitinho… — Guilherme voltou pra São Paulo em 2016 no Sete de Setembro, na esperança… [risos] — Eu não sei porque ele fez essa associação, tipo, ele achou que aqui em São Paulo Sete de Setembro… Não sei, se o povo tomava bebida alcoólica, não sei, não sei qual foi a associação — Ele veio tentando achar a Márcia no meio da multidão, alguém vendendo shot de pinga com gelatina no Sete de Setembro, quer dizer, todo feriado que tinha ele vinha para São Paulo para procurar a Márcia e não achava, porque ele também só tinha o nome Márcia.

No Carnaval de 2017, o Guilherme veio para cá e pensa: ela estava procurando por ele, ia de pontos em pontos procurando por ele e o Guilherme estava fazendo a mesma coisa, e eles não se encontraram. Vários momentos do dia do Carnaval, em todos os dias, ele ia ali pra trás do Teatro Municipal para ver se ele via, e ele estava procurando realmente uma moça que estava vendendo gelatina com pinga. Se ela tivesse vendendo em 2017, seria um ponto de referência a mais porque ele perguntava para todo mundo “Você viu alguém, uma moça aí, vendendo gelatina com cachaça e tal?”, ela seria um ponto de referência mais fácil para ele encontrar, né? Mas ela não estava vendendo, ela estava ali exclusivamente procurando por ele, e ele ali exclusivamente procurando por ela, e eles não se encontraram no Carnaval de 2017.

Só que o Guilherme também nunca esqueceu a Márcia, e falava dela pra família, falava dela para os amigos e todo mundo sabia que ele tinha essa paixão em São Paulo que ele ficou uma vez e não encontrava mais. E que quando ela achou que era ele na livraria, era o Paulo, irmão do Guilherme, que é muito parecido… E quando ela começou a falar, ela não deu tempo dele falar: “O Guilherme é meu irmão”, e aí ela saiu da livraria e ele pegou o celular e ligou para o irmão e falou: “Você não sabe quem apareceu aqui, quem tá sentada ali num banco da rodoviária chorando”, e em meia hora ele chegou, e aí ele foi até… — Ai, que bonitinho. — E aí esses dois não desgrudaram mais, né? Ela ia pegar o ônibus, não pegou. O Guilherme morava sozinho já e foi para casa dele e aí eles ficaram juntos lá, o Guilherme tinha comprado com o irmão essa livraria na rodoviária, tipo, arrendado.

Ela ficou na casa dele mais 8 dias, quando ela voltou, pediu as contas e se mudou para Minas Gerais. Então eles já, assim, tipo, eles ficaram uma vez, aí um ficou procurando o outro por um ano e meio, se encontraram e não desgrudaram mais. E ela largou tudo que ela tinha em São Paulo e foi morar com ele. Aí no Carnaval de 2018 eles vieram para São Paulo, passaram o Carnaval aqui para relembrar, né? O pouco que eles viveram porque era um pouco, mas tipo a saga, né? Foi uma saga isso, pra um achar o outro.

E aí em novembro de 2018, eles [falando com voz fofa] casaram. Não é lindo? E aí eles casaram lá em Minas, assim, é uma tradição, eles vêm passar o Carnaval sempre aqui e, segundo o casal, eles virão sempre pra passar aqui. O casal que me escreveu. Os dois me escreveram, eles me ouvem. E aí, eu achei tão lindo essa história de Carnaval, não tem nenhuma virada, né? Não vai acontecer nada mais, só espero que eles sejam muito, muito felizes, pelo tempo que for, entendeu? É muito linda a história, não é? Eu ia falar “felizes para sempre”, mas sempre é tanto tempo, né? Sejam felizes até quando tiver que ser feliz. —  Sem pressão. —

E, ai, eu achei uma história tão linda… E aí eu resolvi contar para vocês, então é isso, acabou essa historinha linda de Carnaval. Um beijo pra Márcia, pro Guilherme e quando vocês tiverem um filho ele pode se chamar “Carnalindo”. [risos]

Tem mais um fato: [inicia trilha de Carnaval, marchinha] lembra do namoradinho lá? Que largou a Márcia lá no camping? Ele e o casal amigo, eles se [falando e rindo ao mesmo tempo] perderam na trilha. Eu tô rindo porque eles foram encontrados, e não se machucaram, né? Se tivesse acontecido alguma coisa a mais eu não ia rir. Mas eles ficaram, tipo, o dia todo perdidos, teve que envolver [falando e rindo ao mesmo tempo] bombeiro, [risada longa] eles ficaram perdidos na mata. 

Ai, gente, sério, mereceram [risos]. Não aconteceu nada com eles, estão ótimos, né, mas ficaram perdidos na mata. Então enquanto a Márcia estava lá passeando pela cidade, depois foi pra rodoviária, e aí encontrou o Guilherme e estava toda felizinha, eles estavam, tipo, perdidos na [risos] mata. Bom, é o universo, né? Largaram a Márcia lá sozinha também… Enfim, era só para contar isso. Um beijo. 


[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Amor nas Redes é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.