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título: mudança
data de publicação: 27/09/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #mudança
personagens: renata e andré

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei para mais um Picolé de Limão e, ai, meu Deus… Eu preciso ficar escolhendo nomes porque eu não sei que nome que eu já usei, se vai ser repetido, então vamos de Renata e André. 

[trilha]

A Renata e o André, eles se conheceram num barzinho. — Barzinho é tão coisa de idosa, né? Mas eu sou idosa — Então, eles se conheceram num barzinho, estava cada um com a sua turma, e aí ele mandou uma bebida para ela lá, ela aceitou… — Coisa que a gente não deve fazer hoje em dia, porque muita gente batiza os drinques, então, meninas, não aceitem bebidas de desconhecidos, tá bom? E aí ela aceitou a bebida do André e eles trocaram telefone, conversa vai, conversa vem, começaram a ficar e resolveram que eles iam namorar sério, e namorar sério mesmo. Só que tinha um detalhe: ela morando em São Paulo e ele morando em Santa Catarina. Então, namoro à distância é complicado, né?

Ele estava aqui de férias, a passeio, e o namoro deles engrenou. Só que ele voltou para Santa Catarina, então ela ia quando dava, ele vinha… Os dois podendo assim gastar um pouco, então eles se viam até com certa frequência. Só que tem uma hora que cansa, né? Não é só questão financeira, acaba cansando. E aí assim, ele lá super estabilizado, o André, lá em Santa Catarina. E a Renata aqui também estabilizada, mas assim, com emprego, pagava aluguel, tinha o carro dela que ela também pagava prestação, essas coisas, mas a vida não era ruim. Aí com um ano de namoro, o André convidou a Renata para morar com ele, detalhe: ela sempre ia e ela ficava na casa dele, dormia na casa dele, tudo tranquilo.

E aí, nossa, né, é como um casamento, você vai morar com a pessoa e você vai ter que mudar da sua casa para casa da pessoa. Então aí começou o perrengue, porque primeiro ela teria que pedir a conta e ela não queria pedir a conta, então ela conversou lá com o chefe dela e ele falou: “Olha, se você me der um tempo para preparar outra pessoa, para me organizar aqui, eu te mando embora”, então isso, era um problema que estava resolvido, ela ser demitida. Depois disso, ela tinha que devolver o apartamento e, para devolver o apartamento ela tinha que vender as coisas porque o apartamento do André já era todo mobiliado, então ela anunciou aí nesses sites, né, de venda de usados e vendeu tudo: geladeira, fogão, os móveis… Vendeu tudo. Só ficou com o computador dela para levar, de coisa mais importante e algumas panelas porque ela gosta de cozinhar e tal, então ela tinha umas panelas boas que ela não quis vender.

E aí roupa, sapato, essas coisas que ela levou também. Então, a questão era: como é que ela ia fazer? Ela ia de carro para lá, mas agora desempregada? E assim, ela estava indo para um lugar que não tinha tanto emprego, então… — Pensou nisso, Renata, antes? Não pensou, né? — Aí ela falou: “É melhor vender o carro do que ficar pagando parcela e mais para frente eu não consegui pagar, também já é uma dívida a menos”. E aí ela vendeu tudo e foi para lá, mandou as coisinhas dela num frete e foi pra lá de avião.

Chegando lá na casa do André — Assim, ela foi para morar com ele, né? Então… [risos] — Dois quartos lá e o outro quarto, o quarto de hóspedes, era o quarto que a mãe dele, quando ia para lá, ficava. Então o que a Renata pensou? “Bom, a gente vai dividir esse armário aqui do quarto e eu também posso usar aquele armário, né?” — O armário vazio do outro quarto — Ele não deixou a Renata usar, falou que era o armário que quando a mãe dele vinha, era o armário que a mãe dele usava, então não deixou ela [risos] usar o armário. E no armário do quarto, ele deixou tipo duas gavetas e uma partizinha de cabide para ela, e ela foi com tudo dela, ela foi para morar com ele. —

E aí ela não conseguia tirar as coisas da caixa, — Várias caixas, né? — aí ele falou: “Olha, empilha suas caixas” — assim, porque tinha a lavanderia e tinha um banheirinho de empregada que não era tão pequeno, que não tinha nada, aí ele falou: “Empilha essas caixas lá, dá um jeito, porque não dá para ficar aqui espalhado pela casa”. Então, pensa, ela tinha que escolher as roupas mais ou menos que ela ia usar, pendurar, e aí quando estava lavando ela tinha que ir lá na área de serviço, revirar as caixas para procurar alguma coisa que ela queria vestir, porque estava tudo lá encaixotado. 

Aí as panelas, ela tirou duas panelas pra começar a cozinhar, ele não gostou das panelas, pediu para ela guardar as panelas de novo. [risos] — Ai, meu Deus do céu. Por que que, ai, gente, olha, é sério? Não consigo entender as pessoas que largam a vida toda assim pra seguir um amor. Eu não sei, pra mim não dá, mas enfim… —Então as panelas dela encaixotadas, roupas, sapato, tudo encaixotado. Era como se… Ela ganhou um espaçozinho como de pessoa que vai ficar um tempinho na casa do outro e vai embora, mas ele tinha chamado ela para morar, inclusive, compartilhou os links dos móveis dela que ela estava vendendo, pô, ela vendeu geladeira, vendeu tudo…

E ele não era assim quando ela ia para lá para ficar um tempo e voltar, né, para ficar de visita. Na geladeira dele, que agora seria a geladeira deles, né? Ele separou tipo uma prateleira da geladeira para Renata colocar as coisas dela. — Mas, gente, coisas dela? Como assim, né? — Aí ele falou: “Olha, aqui você pode pôr as suas coisas, porque aqui nessa parte tem umas coisas que eu não gosto que mexa”, quer dizer, tinha coisa na geladeira que ela não podia mexer — Ela não podia mexer nas coisas da geladeira. [risos]

Aí assim, né, ela não estava ainda procurando emprego porque ela tinha acabado de chegar, tipo, nem tinha arrumado as coisas ainda, ele já começou a pressionar ela pra arrumar um emprego “Não, porque você precisa arrumar um emprego, você precisa arrumar um emprego, porque eu não vou conseguir manter nós dois aqui”, e assim, que gasto que ele teria a mais? Uma ou outra coisa de comida? Aumenta um pouco a conta de luz? Sei lá. Não era uma coisa assim… Ele já pagava as contas da casa. E aí, gente, a vida da Renata virou um inferno, o cara chato, mala, mala, mala, não deixava ela fazer nada na casa, nada. Até a televisão, ele assistia televisão na sala, só tinha TV na sala, então se ele estivesse assistindo alguma coisa tinha que assistir o que ele quisesse.

Aí vai, digamos que ele foi, sei lá, para o computador, estava prestando atenção em outra coisa. Ela podia pôr no canal que ela quisesse, mas na hora de desligar a televisão ela tinha que deixar no canal X lá, que é o canal que ele assistia. Então, se ela esquecia, nossa, era uma briga porque ela desligou a televisão, porque ele gostava de ligar a televisão e já tá no canalzinho que ele gosta. — Gente, me poupa, né? Me poupa. Já tinha, sei lá, colocado laxante na comida desse cara, pelo amor de Deus. —

Aí deu dois meses que ela estava lá, ela não conseguia trabalho, né, porque não é fácil assim, mas ela estava ajudando. Ele falou: “Olha, vamos fazer assim então, eu vou começar a fazer as compras no seu cartão porque aí eu poupo meu limite, e no dia de pagar eu vou te pagando”, e sei lá, né, mas como ela estava morando lá, compartilhando todas as coisas, achou que não tivesse problema. E eles começaram a fazer as compras no cartão dela e ele pagava. Então assim, tu vai fazer uma compra lá do mês, deu quatrocentos e oitenta reais, ele dava a metade, mesmo que a maioria das coisas da compra fossem dele, então ele dava só a metade. E aí depois, ele começou a não dar a metade porque aí ele fazia uma conta assim ó: “a gente gastou isso de mercado, mas se a gente colocar a metade da luz, metade do condomínio, metade da TV a cabo, metade da internet, você ainda fica me devendo” — Gente, sério? —

Se ele, sei lá, tivesse combinado isso antes, mas ele falou: “Não, vem para cá, a gente se ajeita, te dou uma força, a gente vai morar junto e aí até você arrumar um emprego eu tô aqui, tá tudo aqui”, quer dizer, teve essa conversa e ele falou: “Vem, tranquila”, porque se ele tivesse falado: “Olha, você vem, mas cada centavo será dividido”, ela com o seguro desemprego, uma indenização que não era tão grande porque ela estava há pouco tempo na empresa, mas era um emprego sólido que ela largou também… — Quem que larga, gente, um emprego assim? Vai atrás de um cara numa cidade que não quase não tem emprego? Vacilou, né Renata? —

Aí assim, o cara ficou insuportável, insuportável, e o cartão não estava dando conta mais de pagar porque toda hora ele queria ir no mercado, e ele achava que “ah, ele paga as outras coisas, então ela tem que bancar o mercado sozinha”, pegava cerveja, pegava as coisas, e ela preocupada já, né? Então a coisa não estava funcionando, né? Pra piorar a situação, a mãe dele foi passar uns dias lá, então ela vinha também, vinha de longe, de outro estado e ficava lá. E aí ele saía para trabalhar e ela tinha que ficar com a mãe dele lá, e a mãe dele queria fazer faxina em tudo, só que ela é uma senhora já de idade, falava: “Ah, vamos limpar isso aqui, vamos limpar”, então ela tinha que limpar junto. Só que aí a velinha ficava lá sentada vendo TV e ela que tinha que fazer tudo, então quer dizer, a velinha começou a tratar ela como se ela fosse a empregada. 

E quando ela falava: “Olha, hoje eu não vou fazer isso, eu tô procurando emprego aqui, tenho uma vaga aí para ver, não sei o quê”, ela falava tipo para o filho: “Ah, eu acho que vou embora, eu acho que eu não tô sendo bem-vinda aqui” — Sabe, drama? — E aí, gente, a coisa foi azedando, azedando, ela foi ficando com dívida… E ele não deixava, tinha coisa que ela queria comer, que ela pagou no cartão dela e ele não deixava falando que era coisa dele. Tinha prateleirinha dela lá, as roupas dela começaram a mofar nas caixas — Pensa, um pesadelo… — E isso durou um ano e três meses, ela aguentou um ano e três meses. E nesse meio tempo ela tinha até conseguido um emprego, mas também não era uma coisa muito boa, então aí também não ficou, não deu nada certo.

Aí depois desse um ano e três meses, ela falou: “Olha, eu acho que eu vou voltar para casa da minha mãe em São Paulo, que pelo menos lá, né, eu não tenho gasto”, porque o dinheiro dela já tinha ido e agora ele tinha começado a cobrar, porque ele teve que fazer compra, isso e aquilo. E aí ele chorou, gente, chorou e falou: “Não vai, eu te amo nã nã nã, fica, fica, fica, fica” e ela acabou ficando. Aí ficou mais um tempo, só que assim, foi ficando insustentável mesmo, porque até uma pasta de dente que ele comprava ele jogava na cara dela. Aí um dia ela se irritou e falou: “Eu vou embora, e foda-se, eu vou embora”, e aí, gente, vocês não sabem o que o cara fez, o cara falou: “Olha, você vai ter que me pagar esse tempo que você ficou aqui sem contribuir. — [risos] Ai, eu cortava todas as roupas dele do guarda-roupa, gente. Não tem como.

E aí, a briga foi essa, ele queria, queria, queria, receber. E ela falou: “Ué, tá bom então, eu te pago. Eu vou para casa da minha mãe e assim que eu conseguir um emprego eu te pago.” E aí ele queria que ela assinasse lá, tipo uma nota promissória, mas não é uma nota promissória, era um outro negócio lá, e ela falou: “Não, não vou assinar”. E o namoro azedou, né? Porque ela veio para cá, e aí ele só ficava cobrando. Aí agora que ela tá trabalhando, o cara fica postando nas redes sociais e fica ligando no novo trabalho dela para cobrar, é um constrangimento, né? Puta saco isso.

E aí ela não sabe o que ela pode fazer legalmente para, sei lá, para esse cara parar de cobrar ela, porque enquanto ela estava lá, ela pagou as coisas também. E aí quando ela quis ir embora. que o dinheiro dela acabou, ele que falou para ela ficar e ela ficou mais uns meses lá, e agora ele quer receber esses meses? Ô, gente, que cara mesquinho é esse? Só que o cara tá começando a atrapalhar a vida dela, fazendo post com indireta, mas todo mundo sabia que a ex-namorada dele é ela, e ligando na firma, liga lá pede para falar com ela e cobra. 

Então, né, eu sei que tem advogados, advogadas… Se vocês puderem dar alguma luz para ela do que ela pode fazer legalmente também, ou ela é obrigada a pagar isso? Acho que não, né? Não sei. Eu não pagaria, ela não assinou nada, mas ele falou que tem provas, que tem os comprovantezinhos do mercado. Ai, olha… E ele não era assim, gente, antes dela ir pra lá, ele não era assim. Mas eu falei para ela: “Como que era quando você chegava lá?”, ela falou: “Ah, quando a gente chegava lá, às vezes, eu já passava no mercado, já levava as coisas”, quer dizer, era uma outra vibe, né? Ela levava as coisas. Então quando ela se viu lá na casa com uma despesa fixa, o cara não queria. E assim, alguém pode falar “Mas de repente o cara ganhava pouco”, não, viu, gente? Não ganhava pouco, um puta de um carrão aí que parece uma astronave, — esqueci o nome do carro — mas é um carro bem grandão assim, desses novos, que eu acho cafona, mas é carro de rico. 

E, assim, o cara muito bem de vida, um puta apartamento e ela se lascando para pagar metade das coisas. Quer dizer, ele não deu um refresco para ela e agora tá cobrando. Então, se alguém puder dar uma dica para ela, puder ajudar, escreve lá no Telegram, coloca as coisinhas e eu vou passar tudo para ela porque ela não tá lá no grupo. Fiquei com ódio desse André aí. Nossa, detesto gente mesquinha. Amanhã eu volto com outra história, um beijo. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.