Skip to main content

título: chupão
data de publicação: 29/09/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #chupao
personagens: telma, vinícius e enfermeiro

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Bom, eu vou contar para vocês a história da Telma e do Vinícius. 

[trilha]

A Telma, ela estava casada com o Vinícius fazia já uns 4 anos e o Vinícius sofreu um acidente de carro. O acidente foi meio feio, ele precisou de uma cirurgia no quadril e ele foi operado e tudo, ia ficar internado um tempo, então ele ficou os primeiros dias na UTI, depois foi para o quarto, mas ainda precisava de muitos cuidados. Ele teve acho que é politraumatismo, uma coisa assim. Então, quer dizer, o cara estava semi-imobilizado na cama, e a Telma fazendo tudo por ele, ia todos os dias no hospital, não conseguia dormir lá porque eles, na época, tinham duas crianças pequenas, então ela não tinha como dormir lá. Mas ele estava num ótimo hospital, então, ela ia durante o dia, ficava bastante tempo com ele nã nã nã, e assim, aquela correria, né? Ela fazendo tudo sozinha.

E aí nos primeiros dias ele estava muito, assim, chateado, reclamava de tudo, queria ir embora, queria ir para casa. E aí depois ele começou a dar uma animada, ela falou: “Bom, ele já deve estar acostumando aqui com o ambiente hospitalar”, é um excelente hospital, tipo esses que parecem hotéis, sabe? E tinha tudo no quarto, era uma coisa assim, meio de luxo mesmo. E aí então ela estava tranquila, viu que ele estava mais animado, e os dias foram passando, porque assim ele não estava conseguindo no começo assim, por causa da pancada, mexer muito com os braços. Aí ele já começou a mexer com os braços de novo, ele pediu o celular dele, a Telma levou, e as coisas foram caminhando, então com o celular ele já conseguia falar com a família, falar com os amigos, então aí já dá uma animada, né? 

E aí agora, quando a Telma chegava lá para visitar o Vinícius, ele parece que tinha pressa dela ir embora, aí no começo ela falou: “Poxa, ele deve tá tentando me poupar, né, sabe que tem as crianças… Então agora que ele tá melhor, ele acha, sei lá… Eu venho aqui vejo ele um pouco e vou embora”, e aí ela entrou nesse ritmo de ir lá, ficava umas duas horinhas, ia embora e falava bastante com ele pelo celular, né? Falava no WhatsApp e assim ele ia evoluindo, fazia um pouco de fisioterapia lá. E o Vinícius, gente, ele tem uma característica: ele sempre deixava chupão no pescoço da Telma, então assim, era uma coisa constante que, às vezes, ela tinha que esconder, né, porque aquele puta chupão no pescoço — Eu acho chupão no pescoço uma coisa tão antiga, vocês não acham? Não se vê mais falar em chupão no pescoço, será que tem ainda? Me remete à uma coisa mais para adolescência, e olha que eu tenho quarenta e quatro anos, então faz bastante tempo, né? Não sei, acho chupão uma coisa meio vintage, né? [risos] — Bom, enfim, ele deixava chupão no pescoço da Telma e ela estava acostumada, tinha época que ela até gostava, né, às vezes estava lá se maquiando e via aquele roxinho no pescoço e achava até fofo. [risos] — Sei lá, enfim. —

Ela ficava menos tempo lá no hospital e ia num determinado horário, então digamos que ela ia assim, das três às cinco todo dia, e só das três às cinco. Aí ela começou achar estranho, porque ela chegava lá ele estava meio que querendo se arrumar, ele estava com o quadril operado, então quer dizer, ele não tinha mobilidade, assim, muita da cintura para baixo, né? Estava com o quadril operado. Mas ele estava arrumado, aí ele falava: “Ah, hoje eu fiz a barba”, quer dizer, não foi ele que fez a barba, né, foi uma enfermeira que fez a barba para ele. 

E aí ele estava todo animado, mas estava esquisito, a Telma achou… Sabe aquela coisa de mulher mesmo, de achar que tem alguma coisa esquisita? E aquela internação… Quando achava que ele ia sair parece que “Ai, ele deu uma pioradinha, do nada assim”. E aí, não saía, não saía, e um dia ela falou: “Bom, eu vou começar a dar umas incertas nesse hospital”, porque o que ela desconfiou? Que outra pessoa tivesse indo visitar ele, outra mulher. E aí ela começou a aparecer em horários do nada assim, e ele não gostava, ele não gostava que ela aparecesse em outros horários, falava que: “Ah, é o horário da fisioterapia”, depois “Ai, é o horário que ele gosta de almoçar”, e assim, cada hora ele tinha uma desculpa.

E ela falou: “Não, ele tem alguém, não é possível”, porque estava muito diferente, não queria mais que ela chegasse perto, não beijava ela mais, e ele lá internado. Aí um belo dia, ela chegou e era o horário dele tomar banho, e assim, veio um enfermeiro para dar banho nele e ele já pediu para ela ir embora, “Não, eu não quero que você me veja tomar banho, não quero você me veja tomar banho”, e ela falou: “Gente, eu tô casada com esse homem faz tempo, já vi ele pelado mil vezes, o quê que, né? O que é essa frescura agora?”. E aí o enfermeiro foi meio duro com ela, e falou: “Olha, por favor, a senhora sai do quarto, ele não está querendo que a senhora acompanhe o banho, não sei que lá”, e falou: “Ah, tudo bem então” e saiu e foi embora meio aborrecida, um pouco chateada.

E aí voltou no outro dia, voltou dois, três dias. No quarto dia depois que aconteceu esse incidente, né, do banho, ela chegou e as enfermeiras estavam lá no quarto. E aí de novo ele foi ríspido com ela, ela falou: “Meu, não é possível, esse hospital é um hospital, assim, de primeira, eu não posso ser tratada desse jeito”, e aí ela deu uma engrossada com o enfermeiro e ele deu uma engrossada com ela de novo, e conforme ele falou e virou para olhar para o Vinícius — Gente, [risos] o enfermeiro estava com um chupão no pescoço — e assim, podia não ser nada, mas na hora acendeu uma luz, uma sirene na cabeça da Telma. E assim, além da sirene, a gente sabe que… — sei lá, um chifre [risos] — E ela falou: “Meu Deus do céu…”, porque assim, a atitude do enfermeiro não era cordial, era pessoal o negócio, sabe?

E aí ela ligou os pontos, ela falou: “Mas, mas, gente… o Vinícius e o enfermeiro? O cara que dá banho nele, que esquisito…”, assim, ela tinha os fatos, que era um cara tratando ela mal do nada, né? O enfermeiro do local que ela é cliente tratando ela muito mal, do nada. O marido dela estranho… — Esses são os fatos. — O marido dela estranho e não querendo que ela fosse ao hospital em determinados horários, e o chupão no pescoço do enfermeiro, então, assim… Esses eram os fatos. Mas na cabeça dela não fazia sentido, não podia ser, imagina, né? Imagina que podia ser. E aí ela falou: “Não, isso é coisa da minha cabeça”, e assim ele ia ter alta no dia seguinte, ela falou: “Bom, a gente vai sair daqui. Eu não vou mais ver esse enfermeiro, e tá tudo certo”.

No dia seguinte que ela foi buscar o Vinícius, o Vinícius não estava mais no hospital — Gente, ele não estava mais, ele tinha saído e, assim, ele ia precisar ainda de um tempo para conseguir ter mobilidade e tal, ele ia sair de lá numa cadeira de rodas… —Ela foi toda preparada para buscar o marido e ele não estava lá. Aí falaram para ela que ele já tinha ido de alta, e falou: “Ué, mas ele não chegou em casa, onde que ele estava?” e, gente, ele não deu sinal nesse dia. Aí ela pensou em chamar a polícia, mandou mensagem para ele, mas ela estava achando tudo estranho e aí, no dia seguinte, ele mandou um áudio para ela, um áudio que eu ouvi e ele dizia que tinha se apaixonado pelo enfermeiro e que estava na casa do enfermeiro.

E aí largou as crianças, largou tudo, casamento, tudo, e foi morar com o enfermeiro. E o mundo dela caiu, né? Porque ela tinha feito altos sacrifícios, inclusive, reduzido a carga lá no trabalho dela para poder ficar com ele, enfim, fez várias coisas e do jeito que ele fez e tudo, foi assim, muito péssimo. E aí esse enfermeiro não deixava que ele visse os filhos porque falava que ele ainda não podia fazer esforço, e podia uma criança sentar no colo dele, prejudicar o trabalho do quadril, mas não era bem isso, né? O cara não queria mesmo que o Vinícius tivesse tanto contato com os filhos. E a coisa foi ficando insuportável, insuportável, ele queria o divórcio, ela no começo não queria dar, depois conversando com a família dela falou: “Bom, melhor dar, né? Dá o divórcio e tudo bem”, aí deu o divórcio. 

Ele ficou quase oito meses sem procurar as crianças, e quando ele procurou as crianças ele bateu lá na casa dela lá no apartamento e ele queria voltar. Sabe por que ele queria voltar? Porque o enfermeiro deu um golpe nele. Financeiro. Fez ele assinar um monte de coisa porque ele não conseguia andar ainda, não conseguia ir no banco, fez ele assinar um monte de coisa, procuração e rapelou… E a sorte dela que eles tinham separado, então ela tinha ficado com a parte dela, ficou com o apartamento, né? Eles tinham uma outra casa que ficou para ele, mas ficou para o enfermeiro. E agora o cara estava brigando na justiça para ver se conseguia as coisas que o enfermeiro pegou dele, de volta. Olha a cara de pau, e aí ele disse que ele queria voltar, que ele nunca tinha transado com o enfermeiro, mas porque ele não conseguia, né? Ele estava com quadril quebrado, que era só sexo oral, como se isso não fosse traição, né? Ele deu esse argumento, tipo, “Ah, eu não te traí, foi só sexo oral”. [risos] — Ô, meu pai, ajuda. — E é lógico que ela não quis voltar, né, óbvio que não voltou. 

E aí o cara tá até hoje aí atrás das coisas, e pelo menos ele voltou a ter contato com os filhos, porque agora não tinha mais o enfermeiro. Mas eu acho que a ideia do enfermeiro foi: separar ele bastante da família para poder ter acesso aos bens, né? E ele casado com ela em comunhão de bens, nunca que o enfermeiro ia conseguir tirar tudo que ele queria tirar. Então, o cara, internado aí conheceu o golpista enfermeiro e o cara era enfermeiro mesmo, enfermeiro formado, trabalha ainda nesse hospital chique, e é isso. E, gente, olha esse cara, tomou um golpe. Aí a Telma estava falando: “A rasteira que ele me deu… Porque ele fez tudo de um jeito muito canalha, né? Ele tomou duas vezes mais, então o mundo deu uma volta aí e agora ele mora sozinho, mora de aluguel e tá aí na justiça, brigando com o enfermeiro.”

Ela nem sabe direito as condições desse processo, se ele tem chance, se ele não tem chance… Ela não quer saber também, porque a parte dela, óbvio, ela pegou antes graças a Deus. E ela já está ótima, ela já casou de novo, então é ele que tá aí todo lascado ainda e até hoje precisa de tratamento no quadril, de tempos em tempos ele faz fisioterapia porque não ficou 100%, sabe? E aí ele ainda joga na cara dela, às vezes, que “Ah, você devia ter voltado comigo para me ajudar a me recuperar, eu fiquei com sequelas porque você não voltou comigo” — Me poupe né, Vinícius? —

Então, gente, a história de hoje foi essa. E amanhã eu volto com mais história. Um beijo e até amanhã.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.