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título: memória
data de publicação: 05/10/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #memoria
personagens: arthur e anderson

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Gente, cheguei pro Picolé de Limão de número trinta. É a história do Arthur e do Anderson [risos] e, meu Deus do céu, olha, [risos] complicado. Então vamos lá, história trinta do Picolé de Limão.


[trilha]


O Arthur e o Anderson estavam juntos há três anos e, assim, nesse período algumas brigas, ficaram um tempinho longe, separados, depois voltaram, mas nada de grave, tudo indo muito bem. Aí eles resolveram morar juntos, depois de uns dois anos juntos, eles resolveram dividir um apartamento e também tudo perfeito, tudo ótimo. — Quem me escreve é o Arthur. — E, assim, gente, o Arthur ele não tinha muito horário para chegar em casa, ele é gerente de uma loja de calçados de shopping. — Eu já fui gerente de loja e, gente, não tem horário, é uma coisa assim, tem dia que você sai do shopping meia-noite, chega dez da manhã e sai meia-noite, é trabalho precarizado do gerente de loja e dos vendedores também. —


Então ele não tinha muito horário, era uma coisa assim meio louca, então o Anderson já estava acostumado com essa rotina do Arthur não ter horário. E um belo dia [risos] o Arthur estava lá na loja que ele trabalhava, era uma rede de lojas, e o sistema de vendas da loja caiu. E aí tinha que vir o técnico, não sei o quê, e ele precisava lançar umas coisas lá, uma lista de produtos que você faz pelo sistema, né? Então não estava dando para lançar lá na loja que ele estava, e o que ele fez? É uma rede de lojas, ele falou: “Bom, eu vou lá na outra loja que é perto da minha casa e vou lá lançar esses produtos, lá na outra loja, sem problema”. E aí como era perto da casa dele e era um dia de calor, ele estava meio suado, ele falou: “Bom…” — Ele achando que o Anderson estava trabalhando — “Vou tomar um banho super rápido e vou para outra loja.” —

Nisso que ele está chegando ali em casa, que ele pôs a chave na porta ele ouviu um barulho, e era barulho de gemidão, falou: “Gente, deve ser no vizinho, né?” e foi entrando, que ele entrou na sala, pegou o Anderson ali numa posição… — Que Napoleão perdeu a guerra [risos] — E um cara atrás dele engatado. E assim o choque foi tão grande, tão grande, que na hora o Arthur quase teve um derrame, um negócio, ele falou que a vista dele escureceu mesmo, que ele achou que ele fosse desmaiar porque ele jamais, jamais imaginaria, jamais pensaria em algo assim. E aí ele começou a gritar, e gritar e chamar o Anderson de maldito, de traidor, disso e aquilo, o Arthur nem sabe como, o cara que estava com ele foi pegando as roupas ali e saiu fora, foi embora. 


E aí é que vem o negócio, [rindo muito] o Anderson pelado ali começou a olhar para o Arthur e falar: “Quem é você? O quê que você tá fazendo no meu apartamento?” [risos] Ai meu Deus, e falando que não lembrava, não sabia quem ele era, falando para o Arthur “Sai do meu apartamento agora, sai do meu apartamento agora”, e aí como o Arthur não saiu, e o Arthur jogando coisa, quebrando coisa, aquela, né? Alguém do condomínio chamou a polícia e aí alguém gritou lá “eu chamei a polícia”, o Anderson vestiu a roupa e foi embora, saiu, sem nada, sem chave, sem nada. E aí a polícia veio e o Arthur desceu foi lá falar, falou: “Ó, peguei meu namorado aí no flagra”, policial só perguntou para ele se havia tido violência, se alguém queria fazer boletim, ele falou: “Não, não teve violência, eu quebrei algumas coisas dentro da minha casa, mas eu mesmo quebrei, se o senhor quiser pode subir para ver”, eles subiram para averiguar e não teve B.O., não teve nada.


E aí [risos] o Anderson sumiu por duas semanas, duas semanas, desapareceu. E nisso, o Arthur fez post em tudo quanto é rede, chamando de traidor, contando o que aconteceu, e aí as pessoas marcavam o Anderson e ele sumiu, sumiu de rede social, sumiu de tudo. Até hoje o Arthur não sabe onde ele passou essas duas semanas, depois de duas semanas ele voltou e o Arthur já tinha avisado lá na portaria que não era para deixar ele subir. E aí o porteiro interfonou, ele deixou o cara subir, não subiu direto, mas o Arthur deixou o Anderson subir. E aí o Anderson falou para ele assim, que agora depois de duas semanas, que a memória dele estava voltando, [risos] que não lembrava de nada, que ele não lembrava quem ele era, que ele tinha ficado internado num lugar, mas não fala onde que ele ficou internado, nada. 


E aí que ele tinha voltado, eles brigaram de novo, lógico que o Arthur não acreditou nisso, né? E na hora da briga o Anderson falou que ia pegar as coisas dele e tal, e só saía se o Arthur desse para ele os cento e oitenta reais de um boleto lá que ele pagou. [risos] — Então quer dizer, disso eu nem lembrava, né? — E aí passou, gente, passou, eles se separaram de vez, rolou essa treta toda. Aí agora na quarentena o Arthur tá sozinho, tá na casa dele fazendo a quarentena, eis que começa a chegar um monte de mensagem do Anderson se dizendo arrependido, dizendo que na época ele teve esse lapso de memória, mas nunca mais ele teve [risos] e que ele sente muita falta, que ele queria depois da quarentena sentar com o Arthur para conversar. 

E o Arthur tá balançado, mas o Arthur queria que ele falasse a verdade porque, inclusive, para alguns amigos em comum, o Anderson falou a verdade que nunca teve nada de lapso de memória, que ele não sabia o que falar, mas para o Arthur, o Anderson não fala a verdade. Então assim, ele diz que ele se sente ainda balançado pelo Anderson, e que se o Anderson falasse a verdade ele até que voltaria, mas, gente, será? O que vocês acham? Porque o cara insiste no lance de que ele perdeu a memória, que ele achava que ele não tinha namorado, por isso que ele estava com outro cara no apartamento, que ele achava que o apartamento era só dele e [risos] não sei, o quê que vocês acham? Ele dá uma chance, ele fala que já sabe que alguns amigos contaram para ele que não existiu nada de perda de memória? E aí? Eu não sei, gente, eu, essa coisa de voltar com ex, não sei se dá certo, não, ainda mais nessas condições, mas, sei lá, todo mundo merece uma segunda chance. 

Será? O que vocês acham? Que conselhos vocês têm aí para o Arthur? [risos] E, gente, o lapso de memória não existiu, né? Ele falou para vários amigos que foi uma coisa que ele inventou porque na hora ele não sabia o que falar, e daí agora ele vai sustentar isso até o fim, quer dizer, ele vai continuar enganando aí pelo menos nessa parte o Arthur, né? Então deixem aí seus recados lá no nosso grupo do Telegram, é só procurar lá na busca por Não Inviabilize. Um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.