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título: passageira
data de publicação: 13/10/2020
quadro: luz acesa – especial halloween
hashtag: #passageira
personagens: rogério

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Boa noite, o nosso quadro de hoje é o quadro Luz Acesa, com a história do Rogério. O título é: A Passageira. 

[trilha]

Bom, o Rogério é um motorista de aplicativo, que trabalha a partir das 14 ali e vai até de madrugada. E ele faz muitas corridas, pega todo tipo de gente, tá acostumado com gente que gosta de conversar, com gente que não gosta de conversar, com gente educada, com gente mal educada, então assim, pouca coisa como o Rogério me disse espanta, pouca coisa ele fica espantado assim. Ele já viu praticamente de tudo, mas ele não esperava ver o que ele viu numa certa noite.

Bom, o Rogério aceitou ali no aplicativo uma corrida e era para pegar um cara no centro da cidade e ele estava próximo, ele foi até o local e lá tinha um casal, o cara abriu [efeito sonoro abrindo porta do carro] a porta, a moça entrou e o cara entrou depois, os dois entraram atrás. O cara estava com uma cara muito assim, de bravo, e a moça estava com uma cara assim meio triste, e como eles entraram pelo lado do Rogério, a moça entrou primeiro então ela ficou atrás ali do banco do passageiro e o cara ficou quase que no meio, mas mais pra trás do Rogério. E ele deu início a corrida, [efeito sonoro de carro sendo ligado] confirmou o endereço, o cara fez só que sim com a cabeça e não falou nada.

Não era o primeiro casal brigado que o Rogério já tinha levado numa corrida, então…. Ele notou ali que o cara estava muito sério e a moça estava muito triste e, assim, meio abatida, né? Meio esquisitona. E ele vez ou outra olhava ali pelo retrovisor, né, pra ver se alguém puxava alguma conversa, ninguém puxou conversa nenhuma, era uma corrida de quase meia hora, às vezes, ele escutava assim, a moça respirando mais forte, parecia que ela estava querendo chorar, mas ele não se meteu, não falou nada e foi uma corrida que aconteceu sem ninguém falar absolutamente nada.

Ele estava com o rádio desligado, porque ele sempre pergunta, né, se o passageiro quer que ligue o rádio, se não quer que ligue… E como o cara já entrou com aquela cara feia, ele nem perguntou nada e manteve o rádio ali desligado. Lá pela metade da corrida aquele silêncio foi dando uma paranoia assim no Rogério, ele falou que às vezes acontece isso de você no meio da corrida, dependendo da dinâmica ali você achar que poderá ser assaltado, então foi dando um pânico nele, ele foi pensando que talvez ele fosse assaltado pelo casal quando chegasse no destino porque era um clima muito estranho.

Então ele foi olhando, sei lá, pela rua pra ver se via alguma viatura para dar um ali no sinal de luz, né, sei lá, pensando em alguma coisa e, assim, às vezes ele olhava e ele não conseguia ver direito o cara, conseguia ver mais a moça e aí ele começou a pensar “Será que eles são um casal mesmo? Será que esse cara não tá fazendo mal pra ela?”, várias coisas passaram na cabeça do Rogério.

E, ao mesmo tempo ele não conseguia fazer nada, parece que tinha — palavras dele — alguma coisa segurando as mãos dele no volante pra ele seguir pra onde ele estava indo, então ele não conseguia nem falar, alguma coisa travou ele ali, ele não conseguia falar, não conseguia entender o que estava acontecendo também e continuou dirigindo, seguindo ali o mapinha que o celular estava dando. O Rogério muito angustiado pensando em assalto mesmo, era só o que vinha na cabeça dele, o que vinha na cabeça dele era assalto, só isso. E conforme ele ia se aproximando ali do destino, ele falou que ele foi sentindo assim um frio, aí ele pensou “Eu vou morrer, eu vou ser assaltado, eu vou tomar um tiro. O quê que eu faço? Mando eles descerem aqui agora?”, e não conseguia fazer nada, ele só conseguia pensar e dirigir.

Chegou no destino [efeito sonoro de freio de mão sendo puxado] a corrida do cara era em dinheiro, o que ele me disse que é um indício também pra você desconfiar que pode ser um assalto a corrida. O cara ele acendeu a luz dali de dentro do carro, né, o cara separou o dinheiro, entregou o dinheiro para ele, e assim, ele vendo a moça e o cara atrás, o cara falou: “Obrigado, boa noite” e desceu do carro por trás do Rogério mesmo, carro quatro portas, a moça, óbvio, desceria ali pelo outro lado. O cara saiu do carro, virou a esquina e foi embora e a moça permaneceu dentro do carro, e aí ele pensou “Agora pronto, brigaram eu vou ter que levar ela em algum lugar, a corrida finalizou aqui, me lasquei”. 

E como ela não desceu, o Rogério apagou a luz ali e falou pra ela: “Bom, você quer, vai colocar no aplicativo? Você quer que eu te leve em algum lugar? Eu vi que você brigou aí com seu namorado”, e a moça não falava nada e ele estava olhando pra frente, mexendo ali no aplicativo e ela não falava nada. E aí ele olhou pra trás, ele olhou pra trás e ela estava olhando tipo pro encosto do banco, ela não olhava pra ele e aí ele falou: “Moça, pra eu te ajudar, agora já é quase de madrugada, não vou te deixar aqui. Me fala onde você quer ir que eu te levo, eu não vou te cobrar nada”, e ela não falava nada pra ele. E o cara tinha entrado na casa lá em frente, né, onde ele estava estacionado e o cara estava ali do lado de fora da casa, mas dentro do quintal fumando, acho que fumando antes de entrar, né? O quê que o Rogério fez? O Rogério desceu do carro e falou: “Pô, aí também é palhaçada, vou falar pro cara vir aqui tirar a mina dele do meu carro porque eu tenho que ir embora, ela não fala nada”.

Rogério chegou no portão do cara e falou: “Mano, eu sou o cara que te trouxe, você pode por favor pedir para sua mina sair do meu carro que eu preciso ir embora”, o cara estava fumando e achou super estranho, né, e sabe, cara fechadão assim? E meu, você não vai ficar conversando com estranho ali de madrugada no portão, o cara fumando mesmo falou: “Eu não vim com ninguém, eu vim sozinho no seu carro. Que mina? Você tá louco?”. E já foi apagando o cigarro e entrando dentro da casa achando que, de repente, o Rogério fosse assaltar ele. E o Rogério ainda sem entender, sem acreditar, falou: “É brincadeira isso, o cara vem falar pra mim que não tem mina nenhuma, que palhaçada” e foi voltando para o carro já assim xingando, o Rogério voltou para o carro muito bravo, muito bravo e sem nem olhar pra trás, pra moça falou: “Olha, eu vou dirigir, vou parar no primeiro posto de gasolina que tiver e vou ligar para polícia. Eu não vou te deixar no meio da rua, vou te deixar num posto de gasolina – 24 horas, mas se você não descer do meu carro no posto, eu vou ligar pra polícia”. [efeito sonoro de carro sendo ligado] E saiu já andando com o carro, bravo.

O Rogério tinha deixado o passageiro numa casa de esquina e o cara deu a volta na esquina e entrou na casa, quando ele passou com o carro em frente que ele fez a curva pra subir a rua, ele viu, o cara tinha saído novamente estava ali de novo fumando lá fora e ele ainda pensou “O cara é muito cara de pau, tá me vendo aqui no carro com a namorada dele e não faz nada”, e ele seguiu com o carro e a moça atrás, e ele pensou até em falar alguma coisa pra moça, mas falou: “Não vou falar nada, vou chegar no posto de gasolina, vou pedir pra essa moça descer, se ela não descer eu chamo a polícia, é isso que eu vou fazer”. O que o Rogério não sabia é que ele não chegaria no posto de gasolina, de repente, a moça [efeito sonoro de barulho assustador, algo como um sussurro/gemido] começou a fazer um barulho atrás que o Rogério não sabe identificar bem, não era um grito, não era um gemido, parecia uma coisa que não saía da boca dela e ele virou pensando, o quê que Rogério pensou? “Meu Deus, essa moça tem problema”.

E quando ele virou [efeito sonoro assustador] o rosto dela estava totalmente seco, seco, ele falou que até aquele momento parecia uma pessoa normal e quando ele olhou pra trás, ele falou que estava seco, mas não era uma caveira, era como se a pele dela tivesse ressecada. E aí ele quase [efeito sonoro de carro passando em alta velocidade e carro freando] bateu o carro, estacionou. Ele estava no meio, assim, do nada, sabe quando tem casas e do outro lado da rua tem tipo um mato? E ele não conseguia entender o que estava acontecendo e a moça fazendo aquele barulho e aquele rosto seco e aí caiu a ficha do Rogério falou: “Isso não é gente”, e ele saiu do carro correndo pro mato, largou o carro aberto e tudo. E aí ele correu um pouco e falou: “Não, eu não posso deixar meu carro ali, eu não posso fazer isso”, e foi voltando devagar, com medo ainda e a moça dentro do carro.

E aí ele viu que vinha vindo [som de moto se aproximando e parando] tipo uma motinho fazendo barulhinho, o vigia. E aí ele fez sinal, o vigia parou, pensou que fosse algum problema no carro, ele falou: “Pelo amor de Deus, me ajuda a tirar essa moça do carro”, o vigia olhou dentro do carro e perguntou: “Que moça?” [efeito sonoro assustador], mas o Rogério estava vendo a moça no carro e ele começou a falar, e o vigia achou que ele tivesse usado drogas, né? E ele falava: “A moça, moça, moça”, aí o vigia foi acalmando, conversando com ele, ele estava meio ainda afastado do carro. E aí quando ele chegou no carro, a moça não estava mais, tinha desaparecido. 

E pra entrar nesse carro e ir embora? Porque ele pensou “A moça vai junto comigo”, só que não tinha quem chamar, não tinha o que fazer e ele foi indo, vigia escoltou ele um pedacinho ali do caminho, e o Rogério foi embora e não conseguiu dormir, não conseguiu explicar pra mulher dele o que era aquela moça, ele não sabe bem colocar em palavras o que ele viu, mas ele percebeu muito, muito depois, né, só no final, que não era uma pessoa. E no domingo eu peguei esse Uber, foi o Rogério que me contou a história, era um dia depois do que tinha acontecido e ele estava muito abalado e com medo ainda de trabalhar à noite.

E aí a única garantia que eu pude dar pra ele é que eu era de verdade, não era um fantasma, mas o cara ficou realmente muito perturbado. E o que será que era aquilo? O quê que vocês acham que era? Será que a moça estava junto com o cara e aí quando viu que o Rogério estava levando ela pra longe aí ela se manifestou, ficou brava? E agora? O Rogério me perguntou: “Será que eu vou ver isso de novo?”, eu respondi: “Não sei, não consigo nem te dizer o quê que é isso”. O quê que vocês acham que é isso? 

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta] 

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.