título: aplicativo de namoro
data de publicação: 28/11/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #aplicativo
personagens: mário e milena
TRANSCRIÇÃO
Déia Freitas: Oi, gente… A história de hoje é a história do Mário e da Milena, quem me escreve é o Mário. [risos] Vamos ver o que vocês acham aí.
[trilha]O Mário conheceu a Milena num aplicativo de namoro, eles começaram a conversar. Conversaram por quatro meses sem se conhecer pessoalmente, até que resolveram marcar um jantar. — Não acho que comer é a primeira coisa que a gente deve marcar, sei lá, um café eu acho melhor do que um jantar, mas eles marcaram um jantar num restaurante conhecido. Eu sempre fico nervosa com essa coisa de primeiro encontro, o que falar, o que conversar. Acho muito complicado. — O Mário também tem uma certa dificuldade, então ele resolveu marcar no restaurante que ele já conhecia, que ele já conhecia inclusive os pratos para pedir uma comida mais familiar assim, que ele já tivesse a manhã para comer.
E aí resolveu levar a Milena numa cantina italiana para comer um macarrão. E aí ele marcou na porta da cantina lá, quando ele chegou, passou ali uns 15 minutos ele recebeu uma mensagem assim: “Mário, estive aí e não acredito que você me convidou para uma cantina italiana. Fui embora. Beijo, Milena”. [risos] — Oi? [risos] Assim, já estava meio óbvio que o Mario deveria esquecer a Milena, né? Porque ele marcou, ela foi, ela podia até esperar ele lá e falar: “ah, não quero entrar aí, vamos tomar um café.” Sei lá, qualquer coisa, mas ela mandou mensagem escrota. Eu achei escrota. Sei lá, né, Mario? — Já tava aí a dica… Mas o Mário achou que talvez Milena tivesse razão de ter ido embora, porque era uma cantina meio simples e tal — Ai, Mário… —
E aí o Mário respondeu a mensagem pedindo desculpas e falando que ela podia escolher um outro lugar, onde ela estava, que ele podia passar pra pegar e tal, e e ela falou: “não, hoje eu já perdi a vontade, a gente marca um outro dia”. — Eu fico até meio na dúvida se ela foi ou se, de repente, ela olhou só pelo Google Maps. Se lá, enfim, deu cano no Mario. — E nisso, antes de marcar esse encontro, eles já conversavam há quatro meses e depois deste ano desse cano eles conversaram mais um mês até marcar o próximo local, que seria um local que a Milena escolheu. A Milena escolheu a Casa das Rosas, sabe ali na Paulista? Ele nunca tinha entrado na Casa das Rosas e pra ele não ficar tão nervoso, uns dias antes ele foi lá ver como era só pra saber o que esperava ele, se o lugar era muito chique se não era… Pra se preparar. — Pra vocês terem uma ideia do quanto Mário tímido, até um pouco seguro. —
Chegou o dia, Mário foi bem mais cedo caso a Milena chegasse e resolvesse ir embora ele já estava lá, e ele estava lá sentado esperando, quando ele ouve uma voz falando: “oi, Mário”, que ele vira, [som de guitarra] a surpresa… Era uma outra voz, um outro rosto, uma outra moça… E ela virou pra ele e falou: “Eu sou a Milena”. E o Mário assustou, porque assim, eles conversavam muito por mensagens pelo WhatsApp, a maioria por mensagens de texto, mas ela mandava alguns de áudio, eles fizeram um Facetime uma vez, mas só para falar “oi” e não era a mesma moça do aplicativo, era uma outra moça. — Aí, assim, a gente poderia imaginar que Milena, sei lá, estaria toda sem jeito, mas ela estava muito… Mário falou até arrogante, meio nervosa assim… Tipo “eu sou a Milena”. —
E aí ele meio sem jeito falou: “Mas você não é a pessoa que eu conversava” e ela já respondeu meio grossa e falou: “sou eu sim, é que eu coloquei a minha irmã para falar com você, para fazer o Facetime e mandar as mensagens de áudio, porque eu não queria ser reconhecida”. E, assim, ela não era uma pessoa famosa, era uma pessoa comum… E ele achou tudo muito estranho, sabe? Esquisito? Ele não estava nem se sentindo bem mais ali, e ela muito na defensiva. Uma situação assim bem estranha. Aí ele ficou quieto, ele devia ter falado: “olha, então me desculpa, eu acabei me interessando pela sua irmã”, mas ele não falou nada, ficou quieto e ela ficou ali do lado dele, puxou conversa e eles começaram a conversar.
O Mário com uma sensação estranha, mas sem jeito de falar: “Olha, não foi legal o que você fez”. — Não foi nada legal, né, Milena? — E ficaram conversando ali um tempo, deu ali, sei lá, uma hora, uma hora e pouco, ela virou pra ele e falou: “bom, agora a gente já se conheceu, eu precisei ir embora” — Desse jeito… — “Foi legal te conhecer, tchau”, e deu um beijo no rosto dele e foi embora. Ai o Mário ficou sem entender nada, foi pegar o carro dele para ir embora que estava no estacionamento mais perto do shopping… E no caminho ele recebeu uma mensagem que, assim, era totalmente diferente da Milena pessoalmente. A mensagem falava assim: “amor, adorei te conhecer, estou louca pra te ver mais tarde”. [som de erro no Windows]
E o “te ver mais tarde” é porque assim, eles trocaram alguns nudes… [risos] — Ô, Mário… — Sempre que ela falava isso de te ver mais tarde é porque ela mandava nude, mandava foto assim mais sensuais e tal, e ele respondia também com nudes. [risos] — Ai, meu Deus, vamos ver que rumo vai ter essa história. — Assim, até aqui a gente que está fora da história já percebeu que é uma roubada, né? Eu acho que todo mundo percebeu que acabou a história. Porque assim, gente, quando uma coisa é muito estranha, é porque realmente tem alguma coisa errada. Não vai insistir nisso… Se tá tudo muito estranho, é porque é muito estranho mesmo, não vai ficar bom de uma hora para outra… Dificilmente. Então ali naquela primeira coisa da cantina, o Mário já… Tá ali, tá com o aplicativo, já dá match com outra garota e esquece Milena. Mas não… Insistiu… —
E a impressão que o Mário tinha é assim, pessoalmente ela foi muito grossa, muito… Parecia que ela não queria estar lá, e por mensagem, ali online, ela era uma outra pessoa… Mas o Mário atribui toda a estranheza da situação a talvez uma eventual timidez aí de Milena… Talvez ela não soubesse ali como reagir na hora e ficou na defensiva, mas que eles tinham muita química online e por mensagens, então ele achou que no próximo encontro melhoraria. Lembrando que o rosto que ele viu no Facetime e a voz que ele escutou em algumas mensagens de áudio, não eram da pessoa que foi encontrar com ele. Então, assim, agora ele já tinha um outro rosto em mente que era esse rosto da Milena real. — É muito esquisito, você tá conversando com uma pessoa online e você conversa com uma pessoa por vídeo e chega na hora é uma pessoa completamente diferente, eu saio correndo. Sei lá, né? E o Mário aceitou, então assim… A coisa já tá caminhando já para a beirada e de um precipício, né, Mario? Vamos até a beirada e vamos voltar. —
E aí Mario e Milena ficarão mais alguns meses — Meses… — conversando só online de novo, ela sempre falando que queria beijar, que queria isso, que queria aquilo… E por que não beijou quando encontrou pessoalmente? Tudo muito estranho… Mas enfim, eles ficaram mais alguns meses e aí o Mário começou a dar uma pressionada, “e aí, quando é que a gente vai ver de novo?”, que isso, que aquilo, e a Milena só enrolando… E, no fundo assim, sempre que o Mário pensava na Milena, ele pensava naquele rosto, naquela foto que ele viu do perfil dela online, que provavelmente era um fake, mas enfim… Ele foi levando, foi levando.
E aí eles marcaram novamente um encontro, desta vez em um cinema. — Também não acho que pra segundo encontro cinema seja a melhor pedida, mas, né? Marcaram um cinema… — Mário chegou antes, resolveu comprar ali umas balinhas de goma, [risos], comprou os ingressos e ficou esperando por Milena, e ela ali por mensagem falando que estava indo, que estava no trânsito e que isso e aquilo… Quase uns 20 minutos antes de começar o filme, ela não chegava, parou de responder, aquele nervoso já do Mário… De repente apareceu um cara… E falou: “Olha, eu trabalho aqui no shopping, sou amigo da Milena, ela não estava conseguindo falar com você, ela está presa no trânsito ainda e não vai conseguir chegar”. Tipo, apareceu um cara lá para dar um recado pra ele que a Milena não ia conseguir chegar. — Surreal, né? —
O Mário ficou muito, muito nervoso e falou pro cara; “mas como assim? Meu telefone tá aqui, tá com sinal… E poxa, tô aqui com os ingressos e ela não vem, não sei o que” e o cara virou pra ele falou: “Olha, já acabou aqui o meu turno, se você quiser posso ver o filme com você”. [risos] “Assim, você não fica tão nervoso”, e o Mário falou para ele: “não, toma aqui, você quer os ingressos? Pode pegar.” E foi embora, deu os ingressos na mão do cara e foi embora muito nervoso. E aí o Mário resolveu bloquear a Milena em tudo… — Demorou, né, Mario? Demorou demais para bloquear. — E aí resolveu bloquear a Milena em tudo e bloqueou, excluiu a Milena da vida [musica triste], arrasado, chateado, enfim…
Aí uma semana depois que eu ele tinha bloqueado a Milena em tudo, ele recebeu uma mensagem, e era uma mensagem desse cara aí do cinema perguntando pra ele: “poxa, a Milena me falou que você bloqueou ela em tudo”, aí me deu o seu telefone para eu mandar um recado para você, que ela sente muito, que ela ficou chateada… E o Mário leu e não respondeu. Aí no dia seguinte o cara mandou de novo: “pô, cara, fala alguma coisa, perdoa a Milena e tal, ela é meio enrolada, mas ela é legal, não sei o que”. E nisso, eles começaram a conversar… Mário começou a falar tudo o que ele achava da Milena, que ele foi feito de trouxa, que isso, que aquilo… E eles ficaram conversando ali um tempo, e aí todo dia o cara fala: “E aí, você tá melhor?” e conversando e tal, ele falou: “poxa, de repente não consegui uma namorada, mas arrumei um amigo aí, sei lá”.
E o Mario começou a conversar com esse cara, inclusive perguntou pra esse cara quem era a Milena da foto e do Facetime, que não era a Milena que foi encontrar com ele, e aí o cara acabou falando para o Mário que era a irmã da Milena, e a Milena já tinha falado para ele que era a irmã, então ele só confirmou que ela usava o fake, mas que não era tão fake porque era a irmã dela e tal. E eles começaram a conversar assuntos do dia a dia, como se eles fossem amigos, mas eles não se conheciam tanto… — Quer dizer, não se conheciam nada, né, Mário? — Até que esse cara aí chamou o Mario pra jogar bola… — Gente, como que chegou até aí? Porque, assim, acho tudo muito bizarro. —
E aí o Mario falou: “ah, tá bom, vamos jogar bola”, e era lá em um time que o cara jogava toda sexta parece e ele convidou o Mário para jogar bola junto com ele. E eles marcaram então pra jogar bola…. O Mario chegou lá na quadra, tinha realmente, era um lugar com umas três quadras, um monte de gente jogando bola e o cara estava lá, e o cara falou: “puta, meu time desmarcou”, [risos] “meu time desmarcou, eu fiquei meio assim de falar pra você, mas eu vim só pra não te deixar na mão aí, não sei o que, vamos tomar cerveja.” — Esses lugares tem também… Tem lá os caras jogando bola e tem um barzinho também para tomar cerveja no local mesmo. — E eles começaram a tomar cerveja ali, tomaram bastante cerveja e ele falando da Milena, e sempre que ele se referia ele não falava mais da Milena, fala da irmã da Milena, porque ele queria ver se o cara ajeitava a irmã da na Milena pra ele, que isso que aquilo…
Conversaram muito, já meio bêbados, aí o cara falou pra ele assim: “bom, você não está em condição de dirigir, eu te dou uma carona e a gente passa na casa da irmã da Milena, que elas não moram na mesma casa e eu te apresento ela, pode ser?” [efeito sonoro de trombeta] O Mário ficou todo empolgado. Ai, ai… No caminho, o cara foi conversando com o Mário e tal, ele falando “mas eu estou meio bêbado, será que a irmã da Milena… Como vai ser? Ela não vai gostar, que não sei o que”, e o cara foi mudando o assunto, mudando o assunto e parou o carro em frente a uma padaria, falou: “bom, vou pegar uma água aqui pra mim, uma pra você que sei você tá muito bêbado, não sei o que”, entrou na padaria, pegou uma água e voltou… Quando ele voltou, [música de tensão] ele virou pro Mário e falou assim: “Então, Mário, tenho que te falar a real agora” [risos] e começou a falar… — Olha só o que ele falou para o Mario. —
Ele falou para Mário que aquele perfil do aplicativo de relacionamento lá de namoro não era de Milena nenhuma, não existia Milena nenhuma. Tanto a que foi encontrar com ele, quanto a que fez o Facetime e que mandou mensagem de áudio, eram amigas dele que trabalhavam com ele na loja lá do shopping, a única verdade da história toda é que ele trabalhava no Shopping mesmo e que era ele que gostava do Mario, era ele que mandava mensagem pro Mário, era ele quem recebia os nudes do Mário [risos] e que pegava fotos aleatórias de nudes, de pornografia da internet e mandava para o Mário como se fosse da Milena. Olha a história… O Mário ficou completamente chocado. [efeito sonoro de desaprovação] Se o Mário fosse como eu fosse e assistisse Catfish da MTV ele ia saber que isso é muito possível de acontecer, mas ele nunca assistiu Catfish…
Então, ele jamais pensou que estivesse conversando com um cara e não com uma mina. E ele estava tão bêbado no carro do cara que, assim, ele queria dar um soco no cara, mas ele não tinha nem força… Ele só conseguiu abrir a porta do carro, sair e entrar na padaria, porque ele foi ficando até com um pouco de medo, né? — Vamos concordar que a história podia ter tido um fim bem péssimo… Ele meio bêbado e o cara levar ele para um terreno baldio, sei lá, matava ele porque ele não quis sair com ele, entendeu? Sei lá, essas coisas acontecem, gente. Então ele deu muita sorte. — Aí ele saiu do carro meio zonzo, [risos] tentando assimilar tudo aquilo que ele tinha escutado do cara. E o cara, ainda bem, não foi atrás dele, foi embora e ele acabou bloqueando o cara em tudo também. E não existia Milena nenhuma, ele ficou assim, contando o tempo que ele começou a conversar com ela e depois uns meses, quase um ano achando que estava conversando com uma moça e era um rapaz, era um cara.
E aí ele ficou muito arrasado e deletou todos os perfis de relacionamento, depois de um tempo ele conheceu a menina e começou a namorar. Conheceu numa festa da família dele… Ele queria que contasse essa história aí pra ficar um alerta, mas quem assiste Catfish sabe que isso rola, né? E é isso. Ele ficou muito mal, agora ele tá bem, tá namorando… Eu sempre penso em crimes, que poderia ter tido um final trágico isso, porque uma pessoa fazer um perfil falso e envolver outras pessoas… Tipo, ele envolveu duas amigas, e as amigas também se prestarem a esse papel… Porque eu jamais me prestaria esse papel. Então a gente não sabe até onde um cara desses tá disposto a ir, né? E ele ainda teve que pegar um táxi lá da padaria para a casa dele e, no dia seguinte, teve que voltar lá nas quadras de futebol lá para pegar o carro dele.
Ainda bem que o cara não voltou… Já pensou se o cara volta lá e põe fogo no carro dele? [risos] – Eu sempre penso em um pequeno crime, mas ele voltou e o carro dele estava lá intacto. — Então, no final a história nem é de Mario e Milena, porque Milena não existe. É de Mário e esse cara que eu nem vou dar nome, porque não merece, nós sabemos que aqui nas histórias as pessoas que são muito canalhas a gente não dá nome, e eu achei muita canalhice o que esse cara fez. Enganou o Mário… Que também se deixou enganar, né? Porque tinha várias pistas ali… Inclusive, quando ele estava lá no cinema, como que o cara, se fosse um cara aleatório só que foi dar um recado, como aquele cara sabia direitinho quem era ele e foi direto nele? Não ficou procurando… Então, sei lá, eu acho que ele teve vários indícios, o Mário, de que era uma roubada e não quis ver, quis acreditar no lúdico e[risos] — na fantasia — não rolou.
Acho que ele teve vários sinais… Mas o cara também foi canalha, enganou o Mário direitinho e vai saber quantas vezes ele já não fez isso, porque não me apareceu uma coisa que “ah, foi só dessa vez”, o cara deve manter esse perfil lá e fazer isso com outros caras, sei lá, pra pegar nudes… E é isso, gente, um beijo todo mundo e até logo.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]