título: pesca
data de publicação: 10/12/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #pesca
personagens: selma, henrique e irmão de henrique
TRANSCRIÇÃO
Déia Freitas: Gente, eu volteeeeei. [risos] A história que eu vou contar agora pra vocês é a história da Selma e do Henrique que se passa em São Paulo e a Selma quem me escreveu o e-mail.
[trilha]A Selma e o Henrique se conheceram numa festa, era a festa de uma amiga dela e o Henrique estava lá com um outro amigo, que era amigo de um amigo, e assim eles se conheceram, começaram a conversar, ficaram, depois ficaram mais algumas vezes e aí virou um namoro sério, namoro sério evoluiu para um noivado e um casamento. O processo todo durou cinco anos, então até que eles se casaram, eles ficaram juntos ali cinco anos e aí se casaram, mudaram de bairro, financiaram um apartamento. — Aquele combo básico feliz de todo casal começando aí e dando duro e tal. — E foi tudo muito bom nos primeiros dois anos de casamento assim, foi tudo ótimo. Aí a Selma engravidou, foi uma coisa que foi planejada, então os dois queriam, era um bebê esperado. — E também mais uma vez todo aquele combo de comprar coisinha, fazer pré-natal, juntar os amigos ali, é… Não teve chá de revelação, [risos] ainda bem. —
A gravidez da Selma foi tranquila, nenhum problema maior assim, e chegamos na data do parto. — Eu resumi muito até aqui porque assim a Selma me pediu, são partes da vida dela que são mais dolorosas então ela prefere não expor, não falar tanto, então é uma resumida que dá pra gente entender a história e… E é isso. — Então chegamos ali na data do parto, o Henrique estava com ela, né? A Selma teve o nenê, o nenê veio pro colo dela, tudo bonitinho, depois foi lá pra ala da maternidade, voltou, deu a primeira mamada, depois voltou lá pra ala da maternidade. Quando veio de novo ele já estava meio esquisito o bebezinho… — Não vou nem entrar muito em pormenor — Mas o nenê teve uma complicação lá e teve uma espécie de morte súbita, e o nenê morreu, ele durou um dia e o bebezinho da Selma e do Henrique faleceu.
Então assim, de uma coisa que ele seria muito, muito, muito feliz, passou a ser o pior dia da vida deles. A Selma ainda no hospital, o Henrique correndo atrás de coisa como caixão de bebê, sabe? — Esse tipo de coisa punk. — A Selma ficou tão fora de si que ela não conseguiu ir no velório, e aí enterraram o bebezinho. — É duro, né? —Ela foi pra casa, o Henrique e a mãe dela e a irmã dela estavam juntos, foram buscar a Selma, a Selma foi pra casa. A irmã dela tinha pensado em desmontar as coisas do quarto do bebê, mas a Selma disse que não, que ela que queria fazer isso. — E é muito importante isso, a gente respeitar o que as pessoas querem no luto. Então se, de repente, a Selma falasse “Não, tira tudo daquele quarto porque eu não vou aguentar ver”, tudo bem, vão lá e tira tudo, agora ela disse que não, então aquele processo de tirar as coisinhas do quarto, de de viver aquela dor, faz parte do luto, né? É uma etapa importante do luto e então a gente tem que respeitar, então as coisas tem que ser feitas do jeito que as pessoas precisam que elas sejam feitas. —
Todo mundo respeitou, deixou ali a portinha do quarto fechada, Selma voltou pra casa, não entrou no quarto. Ela chegou em casa era, sei lá, umas dez horas da manhã, a irmã e a mãe foram embora e ela ficou ali com o Henrique. O Henrique, apesar assim de ser um casal moderno, essas coisas, ele tinha um grupo lá de amigos que eles gostavam de sair pra pescar. — Pescar parece coisa meio de idoso, né? “Ah, saiu pra pescar”, mas o Henrique, um casal jovem, ele ia com os amigos pescar — E, assim, a Selma tinha acabado de perder o neném, ele também, mas pra mulher é sempre um pouco mais difícil, ela estava ainda com a barriga de grávida, ela estava em pleno puerpério… — Que é uma fase muito complicada pra mulher. —
E aí ela sentada na mesa da cozinha assim, tomando um copo d’água, olhando para o nada ela escuta o Henrique lá na sala mandando uma mensagem no WhatsApp assim: “Gente, já tô liberado, partiu pesca?” — Sério, eu tô sem palavras. — A Selma pensou que, de repente, ela tivesse ouvido errado, né? Porque não foi nenhuma mensagem assim tipo “Ah, galera, tô com a cabeça ruim, quem sabe se a gente sair pra pescar…” — Já ia ser meio puxado, porque a Selma ia ficar sozinha ali naquela casa com aquele quarto de bebê, né? Mas seria uma outra vibe. Agora, tipo, “Já tô liberado, partiu pesca”, é osso, né? Você acabou de enterrar seu filho, mas tudo bem, também pode ser um jeito que o cara achou de encarar essa dor, que o cara tá aí fingindo que nada aconteceu pra aguentar essa dor, pra lidar aí do jeito que ele precisa lidar, de repente, ele até precisa desse espaço longe da Selma pra poder lidar com a dor dele, mas eu tô contando a história do ponto de vista da Selma, que foi a pessoa que pariu, amamentou, perdeu o filho junto com o Henrique, lógico, e que ficou sozinha ali naquela casa. — Porque o marido resolveu ir para uma pescaria em alto mar de doze dias.
Então a Selma ficou sem o Henrique por doze dias e, nesse tempo, ela deu uma pirada, ela estava ainda com muito leite, então tinha que tomar remédio para o peito não inflamar, pra secar o leite, um monte de coisa. Aí um dia ela dormiu dentro do berço da criança, deu uma pirada boa… — Natural, né? Que acontecesse isso… — E como o Henrique estava numa pescaria em alto mar, o celular não pegava, então ela passou esses doze dias sem falar com ele, sem conseguir falar com ele e ele também sem falar com ela. E aí ele voltou depois de doze dias, ótimo, Selma também estava um caco, a irmã precisou levar a Selma para o médico algumas vezes, passou no psiquiatra, fez ali duas sessões de terapia de emergência mesmo, e depois já marcou terapia duas vezes por semana.
Ela um caco e ele voltou da pescaria dele de doze dias muito bem. — Mais uma vez a gente volta a falar que as pessoas lidam diferente, de diferentes maneiras em relação à morte, né? Então eu não vou realmente julgar a maneira que o Henrique lida com isso. Vou dar um exemplo entre mim e minha prima, eu lido muito melhor com essa questão de morte, eu já perdi praticamente a minha família toda, a minha prima também, mas nós lidamos de maneira diferente. Pra mim é uma transição um pouco mais fácil do que pra minha prima Janaína que foi criada como minha irmã, quer dizer, nós somos muito próximas e lidamos de maneiras bem diferentes, né? Então, eu sou, por exemplo, capaz de fazer uma piada logo depois que uma pessoa que eu gostei muito morreu, isso não significa que eu não esteja devastada ou algo assim. Então eu não vou… Não é isso que a gente vai falar em relação ao Henrique, né? Se foi a maneira que ele achou pra superar, mas sim a falta de apoio dele naquele momento que a Selma precisava, né? Era uma hora que ali do casal, ele tinha que fazer uma concessão aqui e outra ali, pra achar uma maneira de encarar pelo menos essa primeira etapa do luto juntos, né? E em nenhum momento o Henrique deu essa abertura de falar, de repente “Selma, você precisa de mim”, né? Então é isso, é disso que a gente tá falando, não da maneira como o Henrique lidou com o luto dele que isto eu acho bem ok, mas essa falta de suporte realmente em relação à Selma. —
Aí o Henrique voltou super bem, bronzeado, como se tivesse tirado umas férias e a Selma estava daquele jeito, né? E aí o Henrique ficou até meio bravo com ela, tipo, “Como assim você tá desse jeito? Aconteceu, a gente tem que encarar de frente”, ele deu uma de coaching ali, né? — Tentou ser um coach, pra piorar as coisas. — A Selma foi lidando com aquilo, foi fazendo terapia, mas ficou na cabeça dela e, lógico, no coração, essa maneira como as coisas foram resolvidas na morte do bebê, então é uma coisa que, sei lá, se você não leva pra terapia, — De repente uma terapia de casal até, né? — fica difícil superar quando você tem um lado que tem um rancor no relacionamento, porque para o Henrique ali estava tudo bem, mas pra Selma não estava mais tudo bem, então aí essa questão foi virando um elefante branco ali no casamento deles.
Eles viveram assim dois anos — Um erro aí que eu acho que a Selma cometeu, ainda mais que ela estava fazendo terapia, foi a questão de nunca ter chamado o Henrique pra conversar sobre isso, ela nunca falou pra ele: “Olha, você me magoou quando você foi viajar”, independente do cara achar, do Henrique achar que foi certo ou não. — A Selma devia ter pontuado isso pra ele, pra também que o Henrique não achasse que estava tudo bem, porque na cabeça do Henrique estava tudo bem, ele foi viajar, lidou ali do jeito que ele tinha que lidar e a Selma ficou em casa se virando, então ela não pontuou absolutamente nada, ela foi guardando aquele rancor por dois anos.
E nesses dois anos o relacionamento ficou mais ou menos assim, eles ficavam juntos tal, mas pela parte da Selma tinha essa mágoa, né? Ela parou, por exemplo, coisas que ela gostava, ela parou de usar maquiagem que era um negócio que ela gostava muito e, pro Henrique, não fez diferença, ou pelo menos ele não falou nada sobre e ela também se ressentiu sobre isso, dele não falar nada sobre. — Mais uma vez ela podia ter falado: “Ou, você não reparou que nunca mais eu usei um batom?”, sei lá, né? Eu acho que também teve aí uma falha de comunicação no relacionamento, ou sei lá, se esse relacionamento deveria ter continuado já que a Selma estava tão magoada. — E depois de dois anos, um belo dia a Selma acordou e resolveu passar um batom. — Sabe quando você acorda assim melhorzinha? — E era assim, num domingo, que eles iam almoçar na casa lá da família do Henrique, né? Ia ter esses almoços de família, e ela resolveu dar uma arrumada… — Sabe quando você acorda bem? Fala: “Ah, vou dar uma ajeitada”. — Se arrumou e foi com o Henrique lá pra este almoço.
E nesse almoço todo mundo, “Ah, Selma, nossa, você tá melhor”, porque até então ela ia que era só por Deus [risos] para os almoços lá de família. E aí todo mundo deu aquela incentivada, né? “Nossa, você tá muito melhor, não sei o quê”, e o irmão do Henrique falou: “Nossa Selma, hoje você tá tão bonita”, mais um incentivo, né? Um elogio assim, não foi nada, não foi uma paquera, mas a Selma que estava super, super, super carente, deu um estalo nela ali e ela, sei lá, começou a ver o irmão do Henrique de maneira diferente, começou a olhar o cara tipo, “Nossa, né? Que bonito, ele tá mais bonito”, e o irmão do Henrique, casado, sem filhos, casado… Então ali, Selma casada com o Henrique, irmão do Henrique casado aí com uma outra moça.
E aí, gente, Selma deu uma pirada de começar a achar que estava gostando do irmão do Henrique, Selma voltou a se arrumar, Selma cortou o cabelo, Selma comprou produtos coreanos para o rosto… [risos] — Sabe? Selma deu um up aí. — Mas a questão, é que tudo isso não era pra ela mesma ou para o Henrique, era focando no irmão do Henrique, então meio que Selma transferiu ali aquela coisa que ela focava do bebê para o irmão do Henrique, virou meio que uma obsessãozinha de Selma no irmão do Henrique. — E, assim, ninguém é bobo, né? — Ela tentava ser discreta, mas o irmão do Henrique percebeu e, galera, irmão de Henrique começou a gostar da coisa, sabe? Do flertezinho com Selma? — Ai, gente, quê que vai dar essa história, hein? Eu devia começar a parar as histórias aqui, assim, nesse ponto, sempre assim no auge de quando vai dar uma virada e fazer enquetes pra saber o quê que vocês acham que vai acontecer, [risos] porque tem umas coisas que acontecem que a gente não imagina, né? E essa história vai para um rumo desse aí que eu tenho certeza que vocês não imaginam. —
Então, assim, irmão de Henrique começou a gostar do flerte com Selma, e Selma se animou… — Aqui cabe dizer que Selma estava pouco se lixando para o Henrique naquele momento, estava ainda com aquela vibe do ranço, do rancor e vingança e estava só focada no irmão de Henrique. — E conversa vai, conversa vem, aconteceu, galera, Selma e irmão de Henrique se envolveram romanticamente e ficaram juntos. E aí começou aquela coisa clandestina de ir pra motel e virou uma paixão daquela paixão que um sofre, o outro sofre… Porque os dois casados, um relacionamento que ninguém ia aceitar, né? Porque a família ali, como que o cara vai tá saindo com a mulher do irmão, né? — É, coisa louca… — Só que Selma agora, Selma estava pronta para lutar pelo amor, [risos] pelo que ela queria e o que ela queria era irmão de Henrique, ela não queria mais o Henrique, o Henrique podia pescar em alto mar agora a vida toda, irmão de Henrique que nem pescar sabia, que nem gostava de peixe, era isso que Selma queria: um cara que nem gostava de peixe. [risos]
Só que tinha um detalhe que ele era o irmão de Henrique, né? E que era casada, que os dois eram casados, eles estavam ali traindo os seus respectivos parceiros, né? Esse romance de Selma e o irmão de Henrique durou assim clandestino quatro meses, aí Selma… — Porque mulher é sempre mais corajosa, nós somos, isso é fato. — Selma falou: “Irmão de Henrique, eu te amo, irmão de Henrique, você me ama?”, irmão de Henrique respondeu: “Sim, Selma, eu te amo”, então a Selma disse para o irmão de Henrique: “Então eu vou contar para o seu irmão, vou falar que a gente se apaixonou e que a gente quer ficar junto, e aí você conta pra sua esposa”, e aí o irmão de Henrique deu aquela tremida de base, mas uma vez que Selma contando e colocando tudo no ventilador, ia ser mais fácil pro irmão de Henrique contar ali pra esposa dele.
E foi isso que Selma fez, um dia Selma chamou Henrique e contou que ela estava apaixonada por outra pessoa, Henrique ficou muito surpreso e queria saber quem era. — Reparem que Henrique não ficou chateado, Henrique estava surpreso, intrigado, queria saber como aquilo tinha acontecido, e Selma pensou: “Perdida por um, perdida por mil. Vou falar mesmo, esse cara quando eu mais precisei dele ele estava pescando sei lá que peixe lá, então eu vou contar mesmo”, e aí a Selma falou: “Olha, se prepara que o que eu tenho pra te falar não é legal” [risos] — Ai, gente, desculpa rir, mas, né? — “Não é uma coisa bacana pra você o choque”, e ela falou: “Olha, eu me apaixonei pelo seu irmão e ele por mim e a gente tá junto”, Henrique arregalou o olho num choque, e ai, gente, a reação dele foi a reação que jamais ninguém poderia esperar, muito menos Selma.
Eles estavam na mesa da cozinha da casa deles, Henrique sentado de olho arregalado olhando pra Selma se debruçou na mesa, Selma achou que ele fosse chorar e aí o Henrique explodiu numa gargalhada. [som de gargalhadas] [risos da Déia] O Henrique começou a rir, mas rir assim, sabe coisa de gente em choque rindo? E ele ria, ria, ria, não conseguia parar de rir, sabe quando você ri de perder o ar? E a Selma completamente sem entender, foi até ficando meio com raiva, como assim ele estava rindo? Aí ele conseguiu dar uma acalmada… — E aí, gente, olha a história… — O Henrique parou de rir e contou pra Selma que, se a Selma já estava quatro meses com o irmão de Henrique, Henrique estava há um ano e meio com a esposa de irmão do Henrique, entendeu? Ele tinha um caso com a esposa do irmão… — Foi uma troca de casais ali sem ninguém saber. — Então Henrique já era um cretino traidor bem antes, e ele já tinha um caso e eles não sabiam como contar pra irmão de Henrique e Selma que eles estavam apaixonados e queriam ficar juntos. [risos]
Foi a cunhada, né? Lá a esposa do irmão de Henrique que deu uma força para o Henrique depois daquela questão da gravidez, eles se aproximaram e rolou esse caso e eles estavam juntos desde então. E a Selma agora estava com mais ódio porque, tudo bem que ela traiu, quatro meses ali estava traindo, mas ela já vinha sendo traída [risos] com a cunhada há mais tempo. E aí ela que ali não estava sabendo lidar porque para o Henrique foi assim: “Ufa, então você fica com meu irmão, eu fico com a mulher dele”. — Como se fosse, sei lá, vamos trocar aqui esse par de tênis… — E a Selma ficou com raiva, aí eles brigaram, quer dizer, a Selma brigou sozinha porque para o Henrique foi: “Nossa, foi muito bom”, e aí o Henrique já deve ter ligado lá pra que agora é ex-cunhada que era a nova mina dele e contado, falou: “Meu, você não vai acreditar, a Selma tá saindo com o meu irmão, tá resolvido”.
E aparentemente a moça lá casada com o irmão de Henrique curtiu também a ideia, achou ótimo que isso tivesse acontecido. — E, gente, o Henrique e esposa de irmão de Henrique se assumiram primeiro, perante família, Facebook e contaram, romantizaram tudo lá, tipo: “É… Nos conhecemos em casal X e agora mudamos pra XY”, sabe assim? Tipo, que agora a Selma estava com o irmão e ele estava com ela e estava tudo bem entre os quatro, quando não era bem assim, né? Porque também o irmão de Henrique estava sofrendo lá dor de corno de um ano e meio. [risos] Então agora a gente tinha dois novos casais: Henrique e ex-cunhada, que era a esposa do irmão de Henrique, felicíssimos, super bem, seguiram a vida, inclusive, ex-cunhada gostava de pescar em alto-mar, [risos] e aí eles postavam coisa lá pescando em alto-mar, coisa que Selma nunca gostou de fazer. Os dois na outra ponta, um casal que se formou rancoroso, que era irmão de Henrique e Selma, porque Selma agora não se conformava — Ela não gostava mais do Henrique. —
Isso foi um ponto bom, ela percebeu que ela não gostava mais de Henrique, mas ela estava inconformada de ter passado tanto tempo com o Henrique assim… — Aí a gente volta lá atrás que, realmente, ela devia… Talvez se ela tivesse pontuado todas aquelas mágoas, eles já tivessem terminado lá atrás. — Ela estava com esse rancor, irmão de Henrique puto por ser corno, né? — Enquanto era ele que traía, beleza, quando foi a esposa dele que ele descobriu que tinha um caso há um ano e meio, nossa, o cara virou, então o cara estava puto, mas mesmo assim mal e porcamente eles continuaram juntos, Selma e irmão de Henrique. Então aí tinha lá na outra ponta um casalzinho feliz que era Henrique e ex-cunhadinha e na ponta de cá Selma e irmão de Henrique que era assim, um poço de rancor, até aquela vibe da paixão deles foi meio que se dissipando, mas eles resolveram que eles iam ficar juntos. — Eu acho que aí, eu até falei isso pra Selma, que foi uma decisão meio que mais um desaforo mesmo, tipo, ah, se os dois já estão felizes juntos a gente vai ficar junto aqui também, enfim, ficaram juntos. —
E aí agora o Henrique tinha ido morar na casa da ex-cunhada e o irmão de Henrique tinha saído da casa da ex-cunhada e tinha ido morar com a Selma, né? Quer dizer, eles não tiveram nem um período de namoro, para o Henrique foi ótimo porque ele já estava namorando — Namorando, né? Entre aspas, “namorando” — a cunhada há um ano e meio, então aí eles foram morar juntos, eles já se conheciam muito bem, agora a Selma só estava há quatro meses com o irmão de Henrique. — E quando você vai morar junto, a coisa muda, acordar e dormir todo dia junto… — E aí Selma começou a ter ódio de irmão de Henrique [risos] e ódio de Henrique, só que ela não queria dar o braço a torcer de que o relacionamento dela não tinha dado certo e do Henrique tinha. — Enfim, né? Questões, terapia, terapia, terapia… — E, assim, a Selma foi levando, ficou ali daqueles quatro meses de amante e mais depois o tempo de morar junto mais um ano com o irmão de Henrique.
Até que um dia o irmão de Henrique chega em casa e fala pra Selma assim: “Ah, vai ter um happy hour lá da minha empresa, eu queria te levar, vamos sair um pouco, arejar a cabeça, nã nã nã”, e a Selma falou: “Opa, de repente, né? Quem sabe agora a gente em outros ares, começa a dar certo”. Selma foi lá se arrumou toda bonita pra ir nesse happy hour, não sei o quê, e foram e era um bar assim, um bar chique aí e chegou lá no bar, cadê a turma do irmão de Henrique? Não tinha turma do irmão do Henrique, sabe o quê que tinha? O irmão de Henrique tinha contratado uma garota de programa, porque ele achou que o caminho para o relacionamento de Selma e ele dar certo seria um ménage. — É, gente, é porque assim que alguns caras resolvem a vida, vamos colocar uma outra mina com a gente na cama que tá tudo certo. —
E aí a Selma chegou nesse bar e aí essa moça do nada chegou junto e começou a dar em cima dela, o irmão de Henrique junto, ela olhando para a cara do irmão de Henrique e tipo: “Você não vai fazer nada? De onde surgiu essa moça me paquerando aqui na sua frente?”, e aí ela começou a sentir a vibe, né? — Você sente a vibe… — falou: “Epa, tem alguma coisa errada”, aí ela falou: “Mocinha, dá licença um pouco?”, e ela falou para o irmão de Henrique: “Ei, o que tá acontecendo? Quê que é isso?”, aí ele falou: “Ai, amor” — Olha as palavras de irmão de Henrique, as palavras, prestem atenção… — “Eu comprei ela pra você” — Eu comprei ela pra você, né? Primeiro encarando a outra moça ali que estava trabalhando, né? Uma trabalhadora do sexo como um objeto… — “Eu comprei ela pra você”, “Como assim você comprou ela pra mim, irmão de Henrique, você tá louco?”, aí já deu umas bolsada na cara do irmão de Henrique, sala cheia, Selma falou que foi o primeiro escândalo público que ela fez na vida e que foi uma delícia, que ela deu bolsada, que ela jogou copo e foi tirada do restaurante ali do barzinho chique. — [risos] E pensa o segurança — Mas nossa, falou que arrasou, que deu aquele show.
E aí ali ela percebeu que poxa, né? Desde que o neném tinha falecido, o neném dela, a vida dela tinha tomado um rumo que ela não queria, que ela foi num fluxo ruim ali e foi se deixando levar e foi indo e as coisas foram acontecendo e ela também se atropelou em várias coisas, e aí ela saiu daquele bar, estava toda arrumada, pegou um táxi e voltou pra casa. [som de carro] Ela tinha um daqueles seguros que quando você faz do carro, você ganha o seguro da casa não sei o quê, chamou lá o chaveiro, trocou a fechadura na mesma noite, quando o irmão de Henrique chegou… — Porque os caras são cara de pau, eles sempre voltam. — Ele já não conseguiu colocar a chave no portão. — Isso [risos] é ótimo, eu achei ótimo — E aí ela se livrou.
E, olha, que ótimo, ela se livrou da família toda porque ela não tinha mais contato com o Henrique e nem com o irmão. Agora o irmão de Henrique ia ter a vida toda contato com Henrique, ia ver a mulher lá com o Henrique a vida toda, então foi uma vingancinha pra ela também. — E é por isso que eu não dei um nome pra irmão de Henrique, porque irmão de Henrique não merece um nome nas nossas histórias — E agora Selma tá bem, continua na terapia, tá se cuidando, tá ótima, tá trabalhando, tá comendo verdura, [risos] tá saudável, tá bem e a vida seguiu. Ela já teve aí outros relacionamentos, tá super de boa com isso, não tem nenhum sentimento romântico mais por Henrique e irmão de Henrique, né? Só sente um desprezo pelos dois. [risos]
Uma coisa engraçada assim, uma curiosidade, é que os dois, o Henrique e irmão de Henrique, eles tinham uma [falando e rindo ao mesmo tempo] dupla sertaneja amadora assim, sabe? Que eles se encontravam de vez em quando com os amigos e cantavam, os dois eram uma dupla, então não sei, eu achei que isso deu uma pitada a mais, sabe? [risos] Como deve tá será essa relação? Porque agora o Henrique tá com a ex-cunhada, o cara tá lá, o irmão de Henrique, será que eles continuaram com a dupla? Será que eles cantam Marília Mendonça? [rindo muito] E é isso, a história de hoje foi essa, um beijo pra todo mundo e eu volto ainda hoje com outra história.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]