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título: churrasqueira
data de publicação: 21/12/2020
quadro: picolé de limão com passas – especial de natal 2020
hashtag: #churrasqueira
personagens: fabíola, josiane, roberto, dona neuza e família souza

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi gente… Voltei pra mais um Picolé de Limão com Passas, o nosso especial de Natal e, assim, pode ser que tenha barulho no fundo aí porque meu vizinho tá lixando, serrando, batendo não sei o quê, e não posso esperar o dia todo, então vamos que vamos, vamos de história. A história que eu vou contar pra vocês quem me mandou foi a Fabíola, e é a história do Natal da família Souza.

[trilha]

A Fabíola tem dois irmãos, a Josiane e o Roberto, e a mãe Dona Neuza que é viúva faz tempo já. O pai deles morreu quando eles ainda eram muito pequenos, e Dona Neuza tocou aí a vida sozinha e deu conta dos três e tudo perfeito, maravilhoso. As crianças foram crescendo, e no Natal, a família se juntava, né? E fazia churrasco, não tinha assim tanto a coisa da ceia, era mais um churrascão mesmo ali da galera. E conforme o Roberto foi crescendo, ele foi pegando o gosto, detalhe: as festas todas na casa da Dona Neuza, ele foi pegando o gosto de — Ali manipular o churrasco —ser o churrasqueiro do esquema, só que ele tem um tio que não aceita, que o tio é mais velho, então o tio queria ficar na churrasqueira, e aí o Roberto todo ano chateado porque ele queria fazer o churrasco de Natal, queria começar uma tradição que tinha sido do pai dele, e ele não pôde nem acompanhar, porque ele era pequeno. Só que o tio não deixava, o tio era o churrasqueiro e todo ano o Roberto ficava chateado. 

E além do Roberto, Dona Neuza tem a Fabíola que me escreve e a Josiane, e Josiane — Como eu — é uma pessoa vegana. — E a gente não curte o churrasco, porque, obviamente carne, carne, carne… Mas a gente pode comer o arroz, a gente pode comer o vinagrete, e se tiver uma grelhazinha separada pra gente, a gente pode colocar ali uma berinjela, uma cebola fica gostosa assim no alumínio, delícia, temperadinha… Ai, salivei. Então dá pra fazer bastante coisa, só que as pessoas são muito egoístas, né? Então, é separar um pedacinho da grelha pra não ter carne ali, contato com aquele pedacinho, mas as pessoas não querem saber, elas não querem separar um pedacinho da grelha da churrasqueira para o vegano. — Então Josiane também ficava muito chateada, porque ninguém tinha essa consideração por ela, sabe? De pegar um pimentãozinho ali, uma berinjelinha, uma abobrinha e colocar pra ela, não custa. — Sabe? Mas as pessoas nem no Natal, no espírito natalino, elas pensam na gente, aqui estou falando com propriedade como vegana que sou. —

Então era todo ano isso, todo ano o brigueiro da churrasqueira porque o tio não deixava ninguém perto da churrasqueira, parecia a polícia da churrasqueira ali, o segurança da churrasqueira. O Roberto chateado porque ele queria fazer o churrasco e a Josiane comendo ali o seu arroz com vinagrete porque ninguém separava um pedacinho da grelha sem carne ali, sem colocar carne naquele pedaço pra ela poder grelhar as coisinhas dela ali, todo ano era isso, e a Dona Neuza já de saco cheio. Chegamos ao Natal de dois mil e dezoito, Dona Neuza falou: “Esse Natal, olha, esse Natal vai ser diferente aqui em casa. Esse Natal o Roberto vai fazer o churrasco, a Josiane vai fazer o churrasco dela e o nosso tio lá vai fazer o churrasco dele”. Aí ficou todo mundo olhando, né? O pessoal ia chegando já precisava colocar ali o carvão na churrasqueira, eis que Dona Neuza entra com duas caixas. — Nas duas caixas, gente [risos] — Mais duas churrasqueiras. Sim, além da churrasqueira que tem no quintal que é de tijolo que era maior. Então tudo bem ficou para o tio, agora tem — Tinha — uma churrasqueira média para o Roberto e uma mini churrasqueira [risos] pra Josiane. E não é que deu certo, gente?

Naquele ano, dois mil e dezoito, rolou três churrasqueiras no churrasco e com, assim, o Roberto fez lá as coisas que ele queria que ele via tipo no MasterChef, [risos] o tiozão lá fez o churrasco tradicional e a Josiane grelhou as coisinhas dela e, reparem — Que isso acontece muito — muita gente querendo “Ai, me dá um pouco dessa abobrinha. Ai, que berinjela linda, posso pegar um pouco?”, ou seja, Josiane teve mais trabalho, porque muita gente queria comer as coisinhas dela, porque é isso que acontece, tá bom? No fundo todo mundo quer comer ali um legumezinho grelhado. [risos] E aí dois mil e dezenove foi igual e, gente, daqui pra frente… — Esse ano não vai ter porque estamos em pandemia. — Mas assim que todo mundo tiver vacinado todo churrasco de Natal tem três churrasqueiras na casa de Dona Neuza e ninguém briga. Todo mundo em paz, cada um come o churrasco que quer, do jeito que quer, seja um legume ou seja carne, e tudo bem. 

Melhor Natal em família, né? Harmonia é isso, né? Quando não dá ali pra vencer uma disputa todo mundo ganhou, pronto. Tem churrasqueira e Dona Neuza falou assim: “Mais alguém aí que quiser fazer churrasco me avisa que eu compro outra churrasqueira, vão ter dez churrasqueiras aqui, mas não vamos ter briga”, [risos] eu amei, gente, melhor história da harmonia de Natal. [risos] E essa é a história que a Fabíola me mandou. Um beijo e eu volto daqui a pouco.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.