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título: hortifruti
data de publicação: 30/12/2020
quadro: picolé de limão
hashtag: #hortifruti
personagens: débora, marcos e reginaldo

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei pra mais um Picolé de Limão. Quero agradecer muito, muito, muito, o Dourado e a Beth que cuidam lá do nosso grupo do Telegram, porque sem eles, gente, eu não conseguiria. O grupo funciona lindamente, a gente só fala realmente sobre as histórias, não tem muita conversa paralela, não tem polêmicas, é sobre as histórias mesmo, e é muito gostoso de estar lá. Então se você tem a preocupação de “Ah, vou entrar no grupo, vão ficar postando um monte de coisa nada a ver”, pode entrar sem medo que a gente conversa sobre as histórias com as hashtags das histórias, então meu, é muito bom. Então entra lá e o mérito todo do grupo funcionar, isso é lindo, é da Beth e do Dourado. Então um beijo pra vocês dois e vamos de história. 

[trilha]

A história de hoje, — [suspiro] Ai, me desagrada, mas, né? Tem que contar. — a história da Débora, do Marcos e do Reginaldo. A Débora conheceu o Reginaldo, namoraram, tinham já planos de casamento quando a Débora engravidou, aí decidiram que eles iam se casar só depois que o bebê nascesse. E como é a vida da Débora? — Como era na época a vida da Débora… — Os pais da Débora moram no interior e ela estudando na capital, morando com o irmão, o irmão já formado, num bom emprego, então, quer dizer, o irmão praticamente sustentava a Débora, né? Ela estudava, trabalhava também, mas não ganhava tanto e o Marcos que é o irmão da Débora, um cara sensacional assim, um cara que ela podia contar, sabe? Com tudo, o cara que estava ali, inclusive, quando ela ficou grávida, ela ficou com medo de contar para os pais e ele foi junto e ele contou, e ele falou: “Não, se o cara lá não assumir, a gente é família, eu tô junto com a Débora, né?”.

E aí o tempo foi passando, a gravidez correu tudo bem, nasceu o menininho, o bebezinho nasceu, tudo lindo e eles iam retomar os planos ali de casamento, quando o Reginaldo começou com uma idiotice, mais conhecida como homofobia. O Marcos é um cara gay e, para o Reginaldo agora que ele tinha um filho homem, ele não queria a criança convivendo com um cara gay porque ia influenciar o filho dele. O filho dele, imagina, o filho dele poderia se tornar futuramente um gay, palavras de Reginaldo… — E gente, né? Olha o discurso desse homem, já não presta pra casar, né? — E a Débora — Ainda bem — lúcida, se tocou disso, tipo, eu não quero criar o meu filho do lado de um homofóbico, e aí eles começaram a ter muitas brigas por causa disso, né? Aí numa das brigas, esse cretino desse Reginaldo, porque assim, a Débora não contava essas coisas para o Marcos pra não magoar o Marcos, né? Esse cretino do Reginaldo foi lá e falou para o Marcos: “Olha, você tá atrapalhando o meu relacionamento com a Débora. Eu não quero o meu filho perto de você porque você…”, me falou várias coisas que eu não vou repetir aqui. 

O Marcos ficou arrasado, você vê como o cara é tão… sabe? Da paz, tão incrível, que ele falou: “Débora, eu vou entender se você quiser se afastar de mim”. — Olha, o ódio que me dá… — E aí a Débora lúcida, ainda bem, e falou: “Não, imagina, eu vou me afastar de você, o irmão que eu amo, né? A pessoa da minha vida, por causa desse cara? Não vou”. E aí rompeu, ainda bem, não chegou a casar. — Graças a Deus ficou grávida antes, não casou e rompeu com esse Reginaldo, esse cretino desse Reginaldo. E aí, né? Foi pra justiça, porque ele falou que com ela morando com o Marcos ele não ia pagar pensão, e aí eles foram para a justiça e o cara de pau teve a coragem de querer pedir a guarda usando como argumento o fato do irmão da Débora ser gay, gente. E a Débora falou que lá na audiência até o advogado que esse Reginaldo contratou estava constrangido, a sorte é que pegaram uma juíza brava e que deu um esfrega no Reginaldo, mas falou, falou, falou, falou e foi lindo, né? E aí falou que ele tinha que pagar pensão sim, que não ia ter guarda nenhuma e que o bebê era muito pequeno, quando ele quisesse ver o bebê ainda era só com supervisão, aquelas coisas. E aí foi decidido lá que ele tinha que pagar um X de pensão. —

E aí como ele infernizou tanto, tanto, tanto, que a Débora trocou o valor em dinheiro por ele pagar o convênio médico do bebê, então ela queria dar um bom convênio pra criança e aí ficou combinado que ele pagaria só o convênio. E o cara tem três hortifrutis, sabe? O cara não é pobre, tá super bem de vida e podia pagar mais alguma coisa, né? A criança tinha direito, mas a Débora falou: “Olha, pagando o convênio médico dele, tá ótimo” e assim foi feito. Mas a juíza fez um adendo lá que, tipo, se tivesse despesas extras ou alguma outra coisa, ele tinha que comparecer. E aí ficou tudo acertado assim, né? E eles foram levando a vida. Aí alguns anos se passaram e o menininho, o bebezinho cresceu e já ia entrar na escolinha, aí a Débora… Porque ele só pagava o convênio, gente, mais nada, se precisasse de um remédio ele não dava, e agora ele já estava casado com outra mulher esse Reginaldo, e ele pegava o filho de quinze em quinze dias pra ficar de final de semana e só. 

E aí chegou a época escolar, ele já tinha um outro filho aí com a nova esposa, né? E ela falou: “Bom, como é que vai fazer? A gente vai dividir a escolinha, eu pago metade e você paga metade?”, ele falou: “Não, eu só pago o convênio, não vou pagar mais nada”. E aí o Marcos, que é o irmão da Débora, pra não ter briga e um cara que ganha bem, ele falou: “Eu pago a escola do meu sobrinho”. — Não se preocupa com isso que eu pago a escola do meu sobrinho”. E aí colocaram na escolinha e quem pagava a escolinha era o Marcos, inclusive, o Reginaldo ficou puto porque o Marcos pagava uma escolinha para o filho dele melhor do que ele mesmo pagava para o outro filho que ele teve lá com a nova esposa, então ele ficou no veneno. — Mas ele não podia fazer nada, ele não queria pagar, não é? — Quem pagava era o Marcos e, assim, era o Marcos, a Débora e o bebezinho na casa e tudo perfeito, tudo maravilhoso. 

Até que chegou agora a pandemia e o cara tem três hortifrutis e, gente, essas coisas de frutas, verduras, o cara tem sistema de delivery, atende pelo site, monta lá umas cestas de verduras… Gente, não caiu o faturamento. — Pra quem trabalha nessa área, quem é dono, não caiu, não adianta falar que caiu porque não caiu, que até melhorou. — E no caso dele, melhorou, era nítido que tinha melhorado, e aí ele falou que ele não ia mais pagar o convênio da criança, não ia dar mais nada… — Só que não é assim que funciona, né? — Aí eles brigaram lá por telefone e ele falou: “Tá bom então, eu vou pagar o valor do convênio em fruta e legume” — Gente, sério? Em fruta e legume… — E o cara com um carro — É… como que é o nome do carro que ela falou? — Captiva, um negócio assim, que é um carro que ela falou que é muito caro, que ele tem um carro desse, a mulher dele tem um carro desse que ele deu e que ele mora num puta apartamento assim, que vale muito, muito, muito. — E não quer pagar o convênio do filho, sabe? Com picuinha. —

E porque que a Débora acha que ele usou a desculpa da pandemia, porque agora que o menino tá maior, o menino não quer mais ir para casa do pai e o menino fala pra ele que: “Ah, você é meu pai, mas o tio Marcos também é meu pai”. — E, poxa, o tio Marcos também é pai dele sim… — E aí o Reginaldo fala para o menino: “Imagina, um gay não pode ser seu pai”, e a Débora e o Marcos já conversaram com o menino e explicaram o que é ser uma pessoa gay e o menino fala pro pai: “Ele é gay sim, eu tenho orgulho do meu tio, o meu tio é gay”. Então o Reginaldo tá puto. E aí a única maneira que ele tem de atingir de alguma forma a família é falar que não vai pagar o convênio… — E aí também já é desaforo, né? — Aí a advogada da Débora falou pra ela: “Ah, ele quer mandar fruta? Quer mandar legume? Pode aceitar, porque o que conta é o boleto do convênio pago, né?”.

E aí já tá nisso há quatro meses, porque agora ela tá vendo como é que ela vai fazer, se vai entrar na justiça, se vai pedir agora em dinheiro, porque a advogada dela falou que então é melhor não vincular isso mais ao convênio médico, pedir um montante em dinheiro, porque quem tá pagando o convênio do menino agora, seguiu pagando, é o Marcos e a Débora dividindo, e o Marcos paga sozinho a escola, o tio. E aí a advogada falou: “Guarda todos os comprovantes, porque esses atrasados que tá no acordo que ele tinha que pagar do convênio, ele vai ter que pagar. Ele pode dar um caminhão de frutas pra você, aceita, porque ele tem que pagar”. E aí tá nisso agora, tá um inferno e a Débora me escreveu porque ela queria contar uma história onde a pessoa teve uma escolha boa… — Porque ela fez a melhor escolha. — Ela ficou com o irmão dela, né? Ela não virou as costas para o irmão pra ficar com esse… Eu não sei nem, olha, eu não posso nem dizer o que eu quero dizer desse Reginaldo. 

Ela fez certinho, então, há esperanças, né? Que esse cara vai atormentar essa família sempre, vai, mas eles são umas pessoas de cabeça boa, eles estão ensinando bem o menininho, o menininho mesmo já não quer ir mais pra casa do pai, porque, né? — Quem quer conviver com esse lixo humano, né? Esse homofóbico. E é isso. É uma história difícil pra eu contar porque assim, eu tenho muito ódio de quem não paga pensão, de pai negligente, sabe? Eu acho o fim da picada, ainda mais assim, gente que tem dinheiro, e… A Débora fez a escolha certa, ela ficou com a família dela, ficou com o irmão dela que é um cara maravilhoso, um cara decente, né? Uma pessoa sensacional e do outro lado tem aí esse resto de carne que fala, que é o Reginaldo.

Então vamos torcer pra dar tudo certo aí na justiça, a advogada dela, pelo que ela me falou, é bem boa e, meu, tem que tirar tudo dele, pede tudo agora, pede comprovantes pra ver quanto ele ganha e pede a porcentagem pra criança. — Foda-se. — Não vem com essa de só pagar conveniozinho não, mesmo que o Marcos, o tio Marcos, tenha condição, não é justo, tem que pegar do cara. Então é isso, aqui fica todo o meu ódio para Reginaldo, não desejo nada de bom pra ele mesmo e todo meu amor aí pra Débora, Marcos e bebezinho. Beijinho.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.