título: colegas de casa
data de publicação: 14/01/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #colegas
personagens: cássio, amigo, noiva, mãe e pai de cássio
TRANSCRIÇÃO
Déia Freitas: Oi, gente, voltei. Pra contar mais uma história pra vocês, a história que eu vou contar agora é a história do Cássio, de São Paulo.
[trilha]O Cássio ele é um professor de inglês, ele dá aula em vários lugares, até em faculdade. E ele é um cara estabilizado, mora sozinho, num apartamento ali do lado do centro de São Paulo e a vida caminhava bem, tudo tranquilo, até um dia que um amigo dele pediu uma força, né? O amigo dele tinha acabado de se separar e não tinha pra onde ir e pediu pra ficar uns dias na casa do Cássio. O Cássio, lógico, acolheu o amigo, né? Ele tinha ali um quarto extra no apartamento dele que ele fez de escritório, que tinha um sofá cama e ele falou pro cara: “Olha, você pode ficar um tempo aqui, né? Até se organizar melhor, tranquilo, fica por aqui”. E o tempo foi passando e, assim, o cara tinha uma condição financeira boa também, tinha um emprego fixo, engenheiro, então se bobear ele ganhava até mais ali que o Cássio, então era só… — O Cássio pensou, né? — O tempo de se estabilizar e procurar um lugar pra alugar, alguma coisa assim, mas o cara foi ficando. — E visita já sabe como é, né? Passou de três dias ali [risos] já começa a incomodar, a realidade é essa, né? Então… —
E aí o cara usava tudo, usava pasta de dente, acabava não repunha, essas coisas, né? E assim eles ficaram por quase quatro meses, quatro meses com o cara usando tudo na casa e não colaborando com nada. — Aí eu também acho que faltou o Cássio chegar junto e falar: “Meu, já que você vai ficar aqui, você já tá a mais de mês, vamos dividir água, luz, vamos fazer a compra junto aí pra casa, né?”. Então faltou ele dar esse toque, mas ele, por outro lado, disse que não queria dar esse toque porque aí ia oficializar que os dois moravam juntos, que estavam dividindo as contas, e ele queria que o cara se sentisse como hóspede e que fosse embora logo, né? E o cara não foi… Mesmo sendo amigo dele assim, muito amigos, chega uma hora que atrapalha, né? — E fora isso, ainda tinha questão do Cássio ter perdido a privacidade que ele tinha com a noiva dele ali na casa, né? A noiva do Cássio não tinha mais tanta liberdade, não dava, por exemplo, pra ficar andando de qualquer jeito ali seminua pela casa com o amigo do Cássio ali. —
Então a vida foi ficando meio complicada, né? O Cássio já não tinha nem vontade de voltar pra casa porque sabia que ia voltar e encontrar uma bagunça, ou às vezes ele deixava uma comida pronta na geladeira pra ele levar no outro dia num trabalho que ele fosse ficar mais tempo, e aí o cara comia a comida dele. [risos] — Ai, que ódio. — E a coisa foi piorando… E, no começo, a noiva do Cássio também achou ruim, né? Que tinha um cara ali no apartamento e tal, a questão do amigo tá ali na casa gerou bastante conflito, mas com o tempo ela foi falando: “Ah, deixa ele aí, até ele se ajeitar”, aí as vezes que o Cássio estava mais bravo, ela falava: “Poxa, mas você tá sendo mesquinho, tá reclamando porque o cara comeu a sua comida”, e o Cássio foi achando aquilo estranho e que, de repente, ela passou de uma pessoa que era meio hostil com o amigo dele pra uma pessoa mais acolhedora do cara assim, então ele ficou com a pulga atrás da orelha.
E a noiva do Cássio morava no mesmo prédio que ele, ela morava com a família dela ali no mesmo prédio, ele morava sozinho, então ela passava muito tempo na casa dele, ela tinha a chave e ele ficou cismado, ele ficou cabreiro. A mãe do Cássio trabalha fazendo esses bichinhos de crochê? — Que eu esqueci o nome agora — e ela vende na internet os bichinhos de crochê, tudo. Qual foi a ideia do Cássio? Pra mãe ir fazer os bichinhos de crochê lá na casa dele, [risos] porque assim, ele poderia ficar mais tranquilo de saber que a mãe dele estava por ali, tinha dia que ele trabalhava até onze da noite em faculdade, pra mãe dele ficar de olho nos dois. — Em vez do Cássio conversar com a noiva, tirar essa dúvida, sei lá, ele resolveu colocar a mãe dele de vigia ali na casa dele. [risos] — Só que a mãe dele não ia também todos os horários porque ela tinha a casa dela, né? Tinha o marido dela que é o pai do Cássio, então quando dava ela ia lá fazer os bichinhos na casa dele.
E aí ficou estabelecido assim, que quando ela tinha tempo pra fazer os bichinhos, como eles moravam ali tudo no mesmo bairro, ela faria os bichinhos só lá na casa dele, então, ah, terminou de dar janta para o pai do Cássio sete da noite pegava as coisas e o material dela e ia lá pra casa do Cássio fazer bichinho. E aí assim se passou ali mais uns dois meses, até que um dia a noiva do Cássio chamou o Cássio pra conversar e mandou a bomba, realmente a cisma do Cássio tinha fundamento, ela acabou se apaixonando aí pelo amigo do Cássio… — O cara que estava hospedado na casa dele — E ela queria romper tudo pra começar a namorar o cara. E aí foi aquele auê, né? O Cássio quis bater no cara, aquela confusão toda e a mãe do Cássio com muita pena do rapaz. — Mesmo sabendo que ele foi um fura olho do filho dela, resolveu que não dava mais pra ele ficar ali na casa do Cássio, né? — Resolveu levar o amigo do Cássio pra casa dela, mesmo com o Cássio gritando horrores, falando: “Mãe, você é louca, o cara roubou minha noiva, como que você vai levar ele pra sua casa?”, e ela levou.
Então o Cássio arrasado, não tinha cabeça pra nada, mal, mal, mal, e nem na casa da mãe dele ele podia ir, porque a mãe dele resolveu dar brigo para o cara. — Olha que doideira. — E agora o ex-amigo do Cássio começou realmente a namorar a ex-noiva do Cássio, então virou o casal ex, né? Ex-noiva e ex-amigo. E o cara morando ali na casa da mãe do Cássio agora. — E eu não entendo porque um cara com grana não se virou… Tem uns folgados assim, né? — E aí lá se vão, gente, uns sete meses, o Cássio ainda meio mal, meio se recuperando, né? Ele não ia na casa da mãe, a mãe que vinha na casa dele, o pai também ia na casa dele, ele não ia. Pra piorar o pai ficou muito amigo desse ex-amigo do Cássio e a coisa foi seguindo assim. Passados uns sete meses ali, quase oito, um dia o Cássio encontra a ex-noiva no elevador, e aí veio o baque, a ex-noiva do Cássio não estava mais com o ex-amigo do Cássio, eles tinham rompido e eles romperam porque o ex-amigo traíra já estava com outra mulher, que ela não sabia quem era, mas ela tinha descoberto várias coisas e não entrou em detalhes com o Cássio, óbvio, mas falou ali para o Cássio que não estava mais com aquele cara, até deu uma xingada no cara, mas também não fez menção de querer voltar com o Cássio.
Então o Cássio também ainda estava balançado por ela mesmo assim, mas ela não deu nenhuma abertura e ali o Cássio ficou sabendo que a ex-noiva dele, pelo menos, não estava mais com o cara. E o motivo era uma traição, então ele meio que se sentiu vingado, né? Tipo, “Ah, ela me traiu e agora ela foi traída também”. — Aqui a gente pode pensar que a história do Cássio estaria melhorando, que agora a noiva dele também tinha tomado um chifre e bala trocada não dói, isso e aquilo, agora vou refazer minha vida, a gente podia pensar assim, né? Mas… [risos] Parece que quando a coisa tá indo ladeira abaixo, enquanto não chegar lá embaixo e espatifar tudo não melhora, né? E o que o Cássio achou que fosse entrar aí uma época melhor agora que ele se sentiu um pouco vingado, a coisa piorou e piorou de uma maneira que ele jamais imaginou que pioraria. —
Umas duas semanas depois que ele encontrou a ex-noiva no elevador — Que ainda tinha esse bônus, né? De morar no mesmo prédio que a ex. — ele estava lá na casa dele, era um dia que ele chegava cedo das aulas que ele dava, e aí toca campainha. Um cara aos prantos entra na casa dele, quem era esse cara? [risos] Não era o ex-amigo, gente, era o pai do Cássio… — Vocês já adivinharam, né? Quem era a nova mulher do ex-amigo do Cássio… — Sim, a mãe do Cássio, a senhorinha que faz bichinho de crochê pra vender na internet estava catando o ex-amigo do Cássio, [risos] e o Cássio não conseguia acreditar naquilo, ele falou: “Meu, agora eu vou ter que dar uma surra nesse cara”, porque o pai dele estava aos prantos, arrasado, arrasado e ele não sabia o que fazer e o pai dele chorando, ele pegou o telefone e ligou pra mãe dele. A mãe dele foi super direta, ela falou: “Olha, Cássio, eu não quero me separar do seu pai, eu gosto do seu pai, mas eu também gostei aí de ter uma coisinha com o seu amigo. [risos] Fala para o seu pai esquecer isso e voltar pra casa, que ele já vai embora daqui, não vai mais morar aqui”, mas aí o Cássio perguntou pra ela e falou: “Mas e aí mãe? Você vai continuar vendo meu ex-amigo assim? — Aos berros, né? — E ela falou: “Olha, isso aí não interessa pra você, só manda o seu pai voltar pra casa.” [risos]
E, gente, não é que o pai do Cássio voltou? Voltou, perdoou como se nada tivesse acontecido, porque mais de trinta anos ali de casado, né? E o Cássio, o pior, é que o Cássio desconfia, a mãe dele não da abertura, pra falar nada, pra perguntar nada, mas o Cássio desconfia que ela ainda sai com o ex-amigo dele, então olha, gente, que situação. [risos] O cara foi fazer um favor pro amigo e deu no que deu, a amizade dele com o cara acabou, ele perdeu a noiva, quase ruiu o casamento da mãe dele e agora ele acha que a mãe dele continua tendo esse ex-amigo dele como amante, então o saldo foi bem negativo, né? Eu não consigo nem achar graça dessa história porque o Cássio foi tão bonzinho e olha no que deu, né? Coitado.
E o finalzão da história mesmo é que agora depois de quase dois anos que toda essa treta aconteceu, o Cássio voltou com a ex-noiva, ele perdoou, então assim, se ele perdoou quem somos nós, né? Pode falar nada. Mas é isso aí, é a saga do Cássio, [risos] hein, Cássio? Foi duro, hein? Foi um período duro aí na sua vida, espero que daqui pra frente o universo seja mais bacana com você e que você tenha feito a escolha certa agora, de retomar o noivado, que tudo dê certo aí pra você, parabéns. [risos] — Não sei o que falar, gente. [risos] — E é essa a história do Cássio, depois de, ainda bem, nenhum morto, mas vários feridos… — Acho que o ferido só mesmo o Cássio e o pai, né? Nenhum morto e dois feridos. — A história teve aí o final feliz que o Cássio queria. Então é isso, gente. Por favor sejam gentis aí com o Cássio nos comentários no grupo lá porque ele tá no grupo, né? Não pode comentar, mas lê tudo e é isso. Beijo.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]