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título: farofa
data de publicação: 01/03/2021
quadro: picolé de limão – especial férias 2021
hashtag: #farofa
personagens: chantal e família

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei para mais um Picolé de Limão do nosso especial de férias, e hoje eu não estou sozinha… Quem está comigo aqui é a Natura Musical e o podcast que Nos Encontramos na Música. A Sarinha conversou com Juçara Marçal e com o Rico Dalasam e foi muito legal, eles falaram sobre ancestralidade e a autoestima, e o papo tá bem bacana. Eu vou deixar o link aqui na descrição do episódio e eu acho importante a gente perguntar o papel da música na nossa vida. Qual a importância da música na sua vida? Então vamos pensar na música, mas também vamos de história.

A história de hoje é a história da Chantal, foi ela que escolheu o nome anônimo, ela é uma moça trans muito fofa, muito engraçada e é ela que vai contar a história de férias hoje pra gente.

[trilha]

A Chantal ela teve problemas em casa com o pai, com a mãe e com o irmão quando ela se assumiu uma mulher trans. E aí saiu de casa, aquela brigada depois a mãe dela chamou ela de volta e eles se acertaram, ficou tudo bem. E daí pra frente, assim, eles passaram a respeitar Chantal como ela era e eles ficaram mais unidos. Bem unidos mesmo. E todo ano eles iam para a praia, como outras histórias que eu contei aqui, mais uma história de praia. E aquela mesma função, aluga uma casa, cada um paga uma parte e vai. E dessa vez, eles foram em 15 pessoas, então muitos primos, pai e a mãe da Chantal, irmão da Chantal não foi porque ele precisava trabalhar, muitos primos, a tia da Chantal, que é a Tia Clarisse e o tio da Chantal, o tio Rogério. — E aqui a gente tem que fazer um parêntese aí para contar uma peculiaridade do pai da Chantal. —

O pai da Chantal é um senhor que não come sem farofa de jeito nenhum, de jeito nenhum mesmo. Então, se ela vai comer um pastel, ele bota farofa dentro do pastel. [risos] Se ele vai comer uma macarronada, ele bota um pouco de farofa. — Tudo ele põe farofa. — Tudo que é salgado ele põe farofa. Se deixar, ele come pão com farofa. [risos] E como a mãe da Chantal sabia que não podia faltar farofa, ela pegou dois potes grandes, sabe desses potes que é de plástico, mas que vendem assim nos armarinhos escrito “arroz” ou escrito “feijão”, escrito “trigo”, sabe? Então ela pegou dois desses assim, que eram mais ou menos de um quilo cada pote, escrito “feijão” e colocou farofa nos dois. Porque eles iam ficar um tempo lá na praia e não podia faltar farofa de jeito nenhum pro pai da Chantal. E tudo certo, mundo curtindo, uma pua vibe boa assim das férias, todo mundo na praia, churrasco… O básico.

Aí, gente, do nada dentro da casa, do nada, começou a sumir coisa. Então sumiu uma pulseira de um, um brinco de outro, dinheiro de dentro da carteira do pai da Chantal… Várias coisas. E a tia da Chantal, os primos e o tio Rogério, começaram a culpar a Chantal. — Que lógico, né? É a pessoa trans que é a ladra. Óbvio, né? Que ia ter aí um preconceito, transfobia. — E começaram a fazer a caveira da Chantal ali na praia de um jeito que Chantal veio embora. [efeito sono de carro ligando] Subiu a Serra, voltou para São Paulo e a família ficou lá, ela ficou arrasada aqui, e o irmão dela ficou muito bravo, porque o irmão dela tinha certeza que não tinha sido ela que tinha roubado. Ele quis até descer lá para brigar, mas não foi… E como eram os tios, a mãe da Chantal e o pai da Chantal falou: “não, a gente vai ficar aqui porque a gente já pagou, tudo bem”, mas ficou todo mundo chateado assim, da família da Chantal, né? — Pai, mãe e irmão, porque culparam a Chantal. — E beleza. Ela chegou ali no último dia, todo mundo fez as malas e todo mundo percebeu ali, uma pessoa da família muito preocupada.

Procura coisa daqui, procura coisa de lá e não acha… E aquela preocupação. Pais de Chantal voltaram para casa, deu ali uns três dias, a mãe da Chantal estava lavando as roupas dela e do marido, — Porque a Chantal já tinha subido com as coisas dela, já tinha lavado tudo. — Assim, desempacotando as coisas, o que usou, o que não usou… Quando ela foi tirar a farofa daquele pote de feijão… Porque, assim, na casa dela tem um pote de vidro pra pôr a farofa, então ela foi passar de um pote pro outro para ficar ali no pote da casa, que aquele de plástico ela só bom porque estava nas férias. No que ela foi passar, ela começou a ouvir um barulho no vidro, [efeito sonoro de coisas batendo no vidro] sabe quando passa alguma coisa metálica no vidro? “Ô, gente, mas o que tem aqui dentro?”.

Pois dentro do pote de farofa tinha os brincos, as pulseiras, tinha um cartão da própria mão da Chantal que ela nem tinha dado falta da bolsa dela… De todo mundo, tinha alguma coisa. Quem roubou, naquela família, colocou todas as coisas dentro do pote de farofa. — Acho que pensando assim: “no último dia eu pego esse pote de farofa, escondo e levo embora”. Só que mãe de Chantal, antes de tudo, guardou o pote de farofa. E quem era a pessoa preocupada na praia, desesperada? — E dentro daquele pote, tinha a coisa todo mundo, menos daquela pessoa, a pessoa que mais culpou a Chantal e que falou mal dela, falou que tinha sido ela que tinha furtado as coisas… Tio Rogério. [efeito sono de falha]. — Sim, Tio Rogério. —

Tinha coisa de todo mundo lá, menos o relógio do tio Rogério, — Que era a única coisa boa que ele tinha. E como ninguém pegou nada do tio Rogério? — Aí ali já a mãe da Chantal chamando todo mundo, não tinha parado para pensar nisso, né? Quem pensou nisso foi o irmão da Chantal, falou: “foi o tio Rogério. Foi o tio Rogério. Pode deixar que eu mesmo vou fazer ele explanar”. E aí pegou o telefone e [risos] falou que tinha achado as coisas e jogou um sete um, — Que, assim, eu não sei como o tio Rogério caiu. — Falou que ele tinha um amigo na polícia e que levantou as digitais das coisas roubadas e era tudo digital do Tio Rogério. E aí ele começou a chorar… Começou a chorar, que tinha sido ele porque ele tava jogando e ele estava com uma dívida de jogo, e aí ele pegou as coisas, porque… — Aí começa o papo de Deus, né? Porque Deus vai perdoar, porque Deus isso, porque Deus aquilo… —

Ele de todos, foi o que mais culpou a Chantal. E aí o irmão da Chantal fez um post no Facebook, [risos] desceu a lenha em Tio Rogério. Tornou público, né? Entre familiares e amigos que o Tio Rogério tinha furtado todo mundo na praia e tinha colocado a culpa na Chantal… Foi aquele brigueiro em família. [risos] Detalhe: Tio Rogério, inclusive, furtou coisas dos próprios filhos, né? Dos primos da Chantal. Ele pegou brinco, pegou pulseira da outra filha dele, pegou dinheiro do próprio filho, sabe? O cara estava realmente viciado em jogo e cheio de problemas, cheio de dívida, só que isso não tira a responsabilidade dele de ter apontado a Chantal como a pessoa que tinha furtado tudo, né? Isso tem uns anos, né? Chantal perdoou o tio, só que agora todo mundo vai pra praia e ele não vai. O castigo dele é eterno, porque a própria esposa dele lá, Tia Clarisse, não deixa ele ir de jeito nenhum. Então ele não vai pra praia mais, ele fica em casa sozinho. [risos] — Bem feito, Tio Rogério, mau caráter. —

Não acho suave, não, entendeu? Acho grave o negócio que ele fez, inclusive, apontando a Chantal como a culpada. E, assim, Chantal perdoou, mas eu não perdoo. Então essa é a história da Chantal… Beijo Chantal, você é maravilhosa.

Me sigam no insta… O nosso grupo no Telegram, se você quiser debater as histórias, é só jogar na busca do Telegram “Não inviabilize” que vem o grupo. Aí tem que entrar no grupo e tem robô lá, que vai querer saber se você é um humano de verdade. Então você tem que entrar e clicar, se você não clicar ali no botãozinho quando ele te pergunta se você é humano, ou robô te expulsa e não adianta reclamar comigo, porque é o robô.

Assinante 1: Chantal, mulher, que história, tô passada… Quero dar um abraço grande em você, no seu irmão que te apoiaram… E uma puxada de orelha em todo mundo que te acusou sem provas, que isso não se faz… Mas olha, pelo menos, a sua família deu uma punição pro Tio Rogério. Porque se fosse a minha família, acho que meu irmão jamais teria acreditado em mim. E, no fim das contas, teria ficado por isso mesmo, mesmo que os objetos tivessem sido encontrados. Então um beijo muito grande pra você e um aperto de mãe pra sua família, um abraço pro seu irmão. Beijo.

Assinante 2: Chantal, tô passada com essa história. Um abraço muito forte em você e no seu irmão. Eu daria um puxão de orelha em cada um de seus pais por eles terem ficado na casa, o tio e a tia lá já receberam a punição deles, mas esses membros da sua família aí, hein? Também mereciam um soquinho no estômago porque eles ficaram em silêncio, e o silêncio suportou a acusação dele contra você. Isso também foi errado. Mas olha, se fosse na minha família, eu acho que o meu irmão não me apoiaria e acabaria ficando por isso mesmo, então, dos males o menor.

Déia Freitas: Gente, um beijo, até mais. E não esquece de dar uma conferida no episódio de ontem aqui do Natura Musical com a Juçara Marçal e com o Rico Dalasam, tá bom? Um beijo e até a próxima.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.