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título: presentes
data de publicação: 29/03/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #presentes
personagens: ângela, marido e vizinha

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje eu não tô sozinha, quem tá comigo aqui é a Natura Musical e o podcast “Nos Encontramos na Música”. Hoje a Sarinha Oliveira, maravilhosa, recebe as lindas Linn da Quebrada e Bia Ferreira e, hoje a conversa tá muito boa, é sobre o poder da comunidade plural. Essa temporada de “Nos Encontramos na Música” encerra agora, foi uma honra participar e anunciar aí todos os episódios, foi uma delícia e espero ser chamada para os próximos. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

E hoje eu vou contar pra vocês a história da Ângela. A Ângela estava casada há doze anos e, assim, tinha um relacionamento super de boa com o marido, eles se davam super bem, não tinha assim lá um “Uau, romance”, né? Era mais aquela coisa do dia a dia mesmo, né? Que um vai acostumando com o outro, mas a vida deles era boa assim, Ângela considerava um relacionamento super ok. Aí um dia, o marido de Ângela chegou em casa com um perfume pra ela, um kit, que tinha perfume e hidratante, e a Ângela ficou super feliz, porque assim, não era comum ele dar presente pra ela assim, a não ser em datas especiais, o aniversário dela, Natal, Dia dos Namorados ele até dava, mas assim um presente aleatório não. E aí ela adorou esse kit, era super cheiroso tal, ela resolveu [trilha musical inicia] fazer um jantar ali especial pra comemorar o presente que ela ganhou, e ela passou o perfume, passou o creme, eles jantaram, foi bem legal assim o jantar, mas não rolou mais nada, [trilha musical termina/game over] ela pensou que fosse rolar um sexo ali, mas não rolou, ele dormiu. — Comeu pra caramba e dormiu. —

Aí no outro dia, ela ficou curiosa, né? Tipo, ” Por que você me deu um presente assim do nada, né?”, por pura curiosidade ela perguntou, aí ele falou: “Ah, é que a nossa vizinha tá vendendo”, ela falou: “Ah, que legal, ela tá vendendo, né?”, passou. Aí a Ângela saiu pra trabalhar, e aí ela estava lá no trabalho dela assim, tomando café, e aí ocorreu um pensamento assim, — Do nada assim, aleatório, na cabeça de Ângela — “Mas, que engraçado, né? Ele nunca conversa com a vizinha, ele nunca vê a vizinha, como que surgiu essa oportunidade dela vender um produto pra ele, sendo que eu tô ali em casa bem mais tempo que ele, ela nunca me ofereceu nada. Nunca nem vi nada, a gente tá no grupo ali…” — Que tem um grupo do bairro, do WhatsApp — “eu nunca vi anúncio, mas também não sou ativa no grupo, de repente, tinha”. 

Mas ela ficou encucada com isso do perfume… — Mas não encucada assim, “Ah, ele tá fazendo alguma coisa”, desconfiando dele, mas assim… — Curiosa ainda pra saber em que momento ocorreu essa conversa do marido dela como a vizinha e essa transação financeira. — Porque uma transação financeira, como que foi isso? — Ela ficou com isso na cabeça e aí passou o expediente dela, ela foi pra casa. E aí assim, na hora do jantar como quem não quer nada, mas assim sem nenhuma assim neura, nada, perguntou pra ele, falou: “Mas escuta, como que você encontrou a vizinha, né? Pra comprar um perfume e tal, né?”, e aí o marido dela já ficou super bravo, tipo, “Poxa, tô te dando um presente você ainda tá reclamando, né?”, isso despertou sim uma pulga atrás da orelha da Ângela, e aí ela falou: “Gente, a vizinha ela nunca nem fala “oi” pro meu marido, como que ela vendeu um perfume pra ele?”, e aí pronto, a cisma estava instalada ali na cabeça da Ângela. 

E a Ângela é uma pessoa muito assim, obstinada, então ela estava cismada ela falou: “Não, eu vou resolver isso”. — E a gente tá contando uma história pré-pandemia. — E aí a Ângela não tinha quase contato com essa vizinha também, quase nada, então ela sabia muito pouco também e a Ângela resolveu contratar um detetive. — Gente, parece coisa de filme, né? Mas ela resolveu contratar um detetive, e aí eu fiquei super curiosa pra saber como funciona isso, ela falou: “Então, se você entrar na internet e digitar “detetive particular” vai aparecer um monte, aí ela falou lá um site que ela entrou pra você checar referências também, né? E aí ela chegou até um cara que era detetive particular e ele falou como ele trabalhava, era ele e mais um cara de moto, falou quanto custava por dia, que ela teria que pagar por dia, o tempo que ele ficaria, pediu os horários, ela teve que preencher um super questionário, de tudo que o marido dela fazia e os horários. E aí depois que ela fechou isso, ela meio que se arrependeu e o detetive falou pra ela que era comum isso acontecer, tanto com homens quanto com mulheres, as pessoas fecharem o pacote, pagarem e se arrependerem, então o que ele fazia? Ele dava um prazo, “Tudo bem, você não quer que eu faça isso agora? Eu vou te dar trinta dias valendo isso que você me pagou, aí se você não quiser, você viu lá no nosso contrato, a gente não devolve o dinheiro e tal, mas se dentro desses trinta dias você resolver que você quer que eu apure isso, você me liga e a gente já começa”. 

E aí na primeira semana ela falou: “Ai, gente, perdi esse dinheiro, né? Mas não vou fazer”, mas aí na segunda semana quando o marido dela chegou com um óleo de banho pra ela de presente, [risos] ela falou: “Não é possível”, “Não é possível que ele tá me dando mais um presente”. — E assim, gente, ganhar presente é uma coisa legal, mas no contexto ali não fazia sentido, de onde que ele tirou esse óleo de banho? — Ele esteve com a vizinha de novo? Quando? Onde? — Se ele saía de casa pra trabalhar e voltava, e ela já estava lá, quando ele saía e quando voltava, que horas ele encontrou a vizinha pra poder pegar o óleo de banho? — Ela pegou o presente, agradeceu e ligou pro detetive e falou: “Pode fazer”. [trilha musical de detetive/espião] E aí o detetive começou, nos primeiros dois dias ele não deu, não deu nenhuma notícia, no terceiro dia ele falou que estava numa pista ali e que talvez tivesse alguma coisa pra passar pra ela, mas isso era tipo, gente, no meio da semana, tipo duas horas da tarde e ela falava: “Não é possível, então ele tá encontrando a vizinha no meio da semana?”

E aí ela ficou super apreensiva, mas aí o detetive não procurou por ela nos próximos três dias. No final ali, gente, tipo no oitavo, nono dia, o cara marcou um horário com ela, falou: “Olha, você pode vir até o escritório aqui que eu já tenho algumas coisas pra te passar”, e aí ela super nervosa pegou uma amiga dela lá do trabalho e foi pra saber o que estava acontecendo. Ele tinha umas fotos, tinha um relatório e mostrou pra ela o marido dela entrando e saindo do motel, mas sozinho no carro, só que na mesma hora que o carro dele entrou, um outro carro entrou também, e no mesmo horário que o carro dele saiu, um outro carro saiu também. Ele não tinha entrado no motel, né? Porque assim, se ela quisesse uma investigação mais profunda ela teria que fazer um novo pagamento, ele ia passar ali só as coisas que ele tinha encontrado, né? E aí o carro ele deu a placa, deu as fotos do carro de quem estava no carro de trás, né? Do carro do marido dela — E, gente, sabe quem era? —

Ela reconheceu o carro na hora, reconheceu a pessoa na hora, não era a vizinha, era o marido da vizinha. — Era o marido da vizinha. — Não tinha como ela não pensar que o marido dela estava tendo um caso com o marido da vizinha e dito e feito, ela foi falar com o marido dela, pegou ele tão surpresa que ele acabou confessando, a vizinha realmente vende os produtos aí de uma marca e era o marido dela que pegava os produtos e dava pra ele, e ele dava de presente pra ela. E aí ela descobriu esse caso do marido com o vizinho, o marido acabou contando pra ela que “Ah, isso nunca tinha acontecido”, e que ele estava confuso, nã nã nã, e eles se separaram. E… Tudo bem, ela separou e, assim, já era um casamento meio longo, então já tinha outras coisas desgastando, ela me disse, né? Só que o vizinho não separou, então o marido dela foi morar em outro lugar e ela continuou ali onde ela estava, e tinha a vizinha e o vizinho, o vizinho continuou casado, mas também não era um problema dela. 

E aí agora na pandemia, a vizinha lá intensificou a venda de produtos, né? E ela acabou ficando mais próxima dessa vizinha e aí assim, ela tá muito próxima dessa vizinha, essa vizinha tipo idolatra o marido, só que ela sabe, — A Ângela sabe — que o ex-marido dela continua saindo com esse vizinho. E aí agora ela tá num puta dilema porque ela tá querendo contar pra vizinha que o marido dela, né? Da vizinha, sai com o ex-marido da Ângela. Eu sinceramente acho que não deve contar, não deve contar, a gente não conhece bem as pessoas, isso pode virar uma tragédia, sei lá, eu não contaria. Mesmo porque ela tá com uma proximidade agora com a vizinha, mas eu falei: “Mas vocês são o quê? Amigas? Viraram né: best friends forever?”, e ela falou que não, elas são assim, elas têm um afeto de vizinhas assim, uma pela outra, elas conversam bastante até, mas não tem assim tanta intimidade, falei: “Então por quê que você vai fazer isso?”, aí ela falou que ela tá preocupada com a vizinha, né? Que se de repente o marido dela sai com outros caras também, aí eu falei: “Sei lá, de repente inventa uma história aí e dá um toque pra ela usar camisinha”, acho que é o máximo, mas contar que o seu ex-marido tem um caso com o marido dela não sei gente, eu não faria. O quê que vocês acham? Que ela deve contar? Que a Ângela deve contar pra vizinha que agora é uma nova amiga dela, né? Ou não? A minha opinião é não. 

[trilha]

Assinante 1: Oi, eu sou a Gabi, eu sou de São Paulo. Ângela, eu acho melhor você não contar pra vizinha, eu acho que você vai se meter numa encrenca, porque assim, se a vizinha confia muito no marido dela, eu acho que vai sobrar pra você, eu sei que nessa situação a gente sempre quer tentar abrir os olhos da pessoa assim que a gente criou um afeto, mas nessa situação aí eu acho que você conhece ela muito pouco tempo e vai acabar sobrando pra você, e às vezes eu acho que ela pode até pensar que você só tá fazendo isso porque tá com rancor do seu ex-marido, né? Então, eu se fosse você, não me meteria nessa encrenca. Essa é a minha opinião, apesar que eu gostaria de saber, né? Mas eu acho melhor você não contar, pelo menos não agora. Um beijo, boa sorte. 

Assinante 2: Oi, aqui é Hannah do Rio de Janeiro e, assim, eu acho muito louco essa coisa de seguir o marido e tudo mais, mas isso fica pra uma outra opinião. A questão é se você deve contar ou não pra sua vizinha sobre o caso do marido dela, e eu te falo que, categoricamente, não, se ela fosse sua amiga de longa data… Às vezes seria uma situação super complicada, porque a gente não sabe como é que as pessoas vão lidar, e se elas vão acreditar na gente. Mas assim, eu acho que você deve refletir sobre o motivo pelo qual você tá pensando em contar, será que é só uma preocupação com a sua vizinha? Ou tem aí um pouquinho de um alívio da sua própria dor? Então, enfim, reflita. E se você ver que existe um pouquinho disso deixa pra lá e faz como a Déia falou, só dá um verde pra que ela comece a usar camisinha e se proteja, porque isso é que é perigoso. Um beijo. 

Déia Freitas: Então é isso, gente. Um beijo e eu volto, talvez, ainda hoje.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.