título: colomba pascal
data de publicação: 26/04/2021
quadro: picolé de limão – especial de páscoa 2021
hashtag: #colomba
personagens: solange e michelle
TRANSCRIÇÃO
Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei para mais um Picolé de Limão e hoje é o nosso último episódio do especial de Páscoa… [trilha sonora triste] E separei [risos] para hoje uma história de firma. Eu amo histórias de firma, por favor, me mandem mais histórias de firma. E hoje eu vou contar para vocês essa história da Solange e da Michelle, quem me escreve é a Solange.
[trilha]A Solange e a Michelle elas trabalhavam na época numa empresa de médio porte assim, a Solange trabalhando no RH e a Michele trabalhando na contabilidade. E Solange disse que Michele sempre foi, assim, uma moça muito recatada, religiosa, uma pessoa séria… Todo mundo confiava demais na Michelle, né? E aí um dia a Michelle chegou com a notícia. — Era mais ou menos ali um mês para a Páscoa — que a mãe dela ia fazer colomba pascal. Quem não conhece colomba, a delícia que é colomba, é na vibe ali do panetone, só que tem umas castanhas, tem um açúcar ali por cima… — Com café… Delícia. Já até salivei aqui. — E aí todo mundo ficou animado de comprar ali a colomba caseira, né? E Michelle acabou vendendo ali uma base de 60 colombas. — É colomba pra caramba. —
E ela combinou uma data para trazer, ia trazer no carro dela. — 60 colombas acho que é muito, né? Pra caber em um carro… Mas disse Michelle que caberia. — E aí todo mundo esperando, chegou a data… Todo mundo pagou antecipado, porque Michelle precisava comprar os materiais pra mãe dela e nã nã nã. E aí chegou na data, deu o horário da Michelle chegar na firma, cadê Michelle? E nada de Michelle, nada de Michelle… De repente o telefone toca era a Michelle, tipo, dez da manhã… Ela entrava às sete, vai… Dizendo que ela tinha sido assaltada e que tinham levado o carro dela com todas as colombas. — Tragédia. — Tragédia. Ninguém mais ia receber colomba porque o carro da Michelle tinha sido roubado. Beleza…
Naquele dia a Michele não foi trabalhar, era uma sexta feira. Passou o final de semana, na segunda ela chegou… E aí todo mundo querendo saber o que tinha acontecido, como ia ficar a questão das colombas. Michelle já chegou chorando, dizendo que não tinha como repor essas colombas, porque a mãe dela teria que fazer tudo de novo, primeiro que ela não ia conseguir prazo, segundo que ela não tinha dinheiro para fazer… E aí todo mundo foi ficando com pena, deixando pra lá e ele passou a Páscoa. Todo mundo ficou sem colomba. Acontece que, nessa vida, nada fica oculto, né? Alguém perguntou para Michelle sobre o carro. Por que o que aconteceu? Essa firma fica em um bairro X, e tem, digamos que, 150 funcionários… No sábado alguém viu a Michelle com o carro, e ela tinha falado na segunda-feira que ainda não tinham achado o carro e, se ela foi roubada na sexta-feira, como ela estava com o carro no sábado?
Mas aí sempre tem aquele povo que não acredita, né? Fala: “de repente você viu a Michelle na outra semana e está confundindo e tal”, né? E uma galera ficou desconfiada e outra ficou até meio ofendida, porque “nossa, Michelle é uma pessoa religiosa, a pessoa super de confiança, etc”. Mais um tempinho ali se passou, mais uma fofoquinha surgindo. Que não sei quem, filha de não sei quem, conhecia a mãe de Michele e mãe de Michelle não estava nem sabendo de colomba nenhuma, não tinha feito colomba nenhuma. Só que eram todas histórias assim que ninguém tinha a proximidade com Michele pra rebater, pra ir atrás… Entendeu? Então ficava só na base da fofoca. E assim ficou, gente.
Passou ali uns quatro meses, de repente, Michele sumiu. Solange já estava sabendo o que tinha acontecido, só que ela não podia comentar com ninguém. E aí pergunta daqui, p gunta dali, “cadê Michele?”, “Cadê Michele?” Solange não podendo contar nada. Na empresa só ficaram sabendo que ela foi desligada, né? Não sabia porqueê. E agora eu vou contar pra vocês porque ela foi desligada. Na empresa esse assunto não podia sair dali, mas agora a gente mudando tudo aqui eu posso contar para vocês… Michelle, — Ela era da contabilidade então ela tinha acesso ali ao financeiro também. — Não se sabe como, ela pegou vários cheques da empresa e depositou na conta dela. Vários cheques… — Vai, vou dar um valor aqui qualquer… — De 2 mil reais na conta da Michele. — Pensa, gente. — E aí depois, quando descobriram, porque ela fazia de uma maneira assim, que não era tão próximo um cheque do outro… Quando descobriram, óbvio, ela foi mandada embora, o dono da empresa não quis mandar embora por justa causa, o que Solange também não entendeu nada… E aí a história da colomba, depois de um tempo, também foi confirmada por uma ex cunhada de Michele, dizendo que a mãe dela nunca fez colomba nenhuma, que ela pegou esse dinheiro, que ela pegou o dinheiro dos cheques… — Para quê? — Porque Michelle, casada, — Casada… — e muito bem casada, dizia ela… Tinha um caso com o tesoureiro da igreja que ela frequentava. [risos]
E parece que o tesoureiro tinha dado um rombo na igreja e estava ameaçado, e a Michele fez aí essa coisa da colomba e dos cheques para poder proteger o amante dela na igreja. [risos] — A história só piora, né? É uma sujeira atrás da outra. — E aí Solange nunca mais soube de Michele, mas na firma também o pessoal desconfia dessa história da colomba e acha que Michelle saiu porque, sei lá, teve corte e mandaram embora, mas não foi, ela deu um rombo na empresa e ela depositava cheques na conta dela. Cheques da empresa… Que não é nem, assim, inteligente, né? — Sei lá. [risos] — E aí eu perguntei para Solange, falei: “mas e aí, depois que descobriram que ela tinha um amante que era tesoureiro da Igreja…” — Porque aí virou escândalo, né? — Aí diz que ela e o marido mudaram de igreja, mas que o marido perdoou e que eles estão juntos. Eles estão juntos, parece ela já está trabalhando e, tipo, saiu ilesa. — Impune…. Olha a impunidade aí, gente. [risos] —
E o pessoal ficou sem a colomba de páscoa ali, deliciosa, porque era tudo mentira. A mãe dela nunca fez nada. Aí, tá vendo? A pessoa que é religiosa, recatada e que estava ali na afirma, que todo mundo confiava… Até amante tinha na igreja. [risos] Ai, gente… E, assim, qualquer semelhança com qualquer coisa de cheques e depósitos, não tenho nada a ver com isso. Tá bom?
[trilha]Assinante 1: Oi, meu nome é [inaudível] Saldanha, sou ouvinte assíduo e antigo da Déia. Eu acho que situações como essa, eu, como advogado trabalhista, são muito comuns. As pessoas que não são punidas, inevitavelmente entendem que vale a pena ser desonesto e, que nesse caso, Michelle foi desonesta com os colegas, foi desonesta com os patrões e ela só recebeu o bônus, não recebeu o ônus. E, para mim, isso é muito preocupante e prejudicial. Porque se a CLT permite que seja demitido por justa causa, é porque ela deve ser demitida por justa causa. Não vamos incentivar esse tipo de postura, porque isso só gera mais impunidade.
Assinante 2: Olá, é A Nayra do Rio falando… Então, quer dizer que a Micheque… Quer dizer, a Michelle, passou a perna nas pessoas, roubou a própria empresa, tinha um caso com o Messias que, por sua vez, fez um rombo financeiro numa instituição poderosa… Olha, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência, e a prova de que religião não torna ninguém melhor.
Déia Freitas: Então, um beijo e eu volto amanhã com mais uma história.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]