título: as rosas não falam…
data de publicação: 07/06/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #rosas
personagens: elaine e wilson
TRANSCRIÇÃO
Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei pra mais um Picolé de Limão e, olha, tô meio revoltada. Vamos ver aí o que vocês acham dessa história, mas já adianto que estou aqui numa revolta. É, eu vou contar pra vocês a história da Elaine e do Wilson, quem me escreve é a Elaine.
[trilha]A Elaine é uma professora de inglês, que atualmente não trabalha, ela conheceu o Wilson já tem três, quase quatro anos, eles namoraram um tempo e casaram. Por que que eles casaram rápido? Porque eles moravam em estados diferentes, eles se conheceram ali numas férias e se apaixonaram, e aí continuaram aí esse namoro no virtual por um tempo e resolveram se casar. Resolveram se casar e a Elaine mudou para o estado do Wilson, então o que ela teve que fazer? Ela teve que pedir exoneração pra poder mudar de estado ali e não dar abandono de emprego, ela deixou a família, os amigos, tal, e foi fazer uma vida nova com o Wilson, era isso que ela queria, foi isso que ela planejou e, quando chegasse lá no estado do Wilson, ela ia procurar trabalho de professora de inglês, que é o que ela faz. Só que aí chegou lá, o Wilson achou que seria legal se ela não trabalhasse, — Que ele dava conta, nã nã nã — que era tudo uma questão de adaptação, que isso que aquilo, e a Elaine topou.
A Elaine topou, né? Não trabalhar inicialmente, e foi levando a vida ali, conhecendo os amigos do Wilson tal, tendo mais contato com a família dele, e a casa que eles moram é uma casa alugada, então o quê que a Elaine trouxe lá do estado dela para a casa nova? Ela trouxe todas as roseiras dela, porque Elaine ela é uma… — Roseiranática, Rosanática — Ela é apaixonada por rosas, então ela tinha um jardim onde ela morava, o Wilson alugou essa casa com o quintal porque ele também queria quintal, ele gosta de dar churrasco, com uma parte pra ela colocar as roseiras. E foi o que ela fez, ela trouxe e assim, maior trampo pra trazer, pra elas não morrerem, pra dar tudo certo e ela fez um jardim. Então, assim, a terapia da Elaine era esse jardim, então ela amava ali as rosas, ela postava foto das rosas, nã nã nã, tudo lindo.
E o tempo foi passando, toda vez que ela ia procurar emprego, o Wilson falava: “Não, não precisa, tá tudo certo, nã nã nã”, e a coisa foi indo desse jeito e Wilson sempre gostando muito de fazer churrasco. Até que veio pandemia, eles ficaram um ano em casa, — Assim como eu — e agora na época de Natal a Elaine resolveu fazer uns quinze dias mais rigorosos, né? De quarentena, e ir de carro pra casa da mãe dela, pra ver a mãe dela depois de um ano. Deu tudo certo, foi feliz, ficou lá, só ela, a mãe dela, o pai dela e a irmã que ainda não é casada, não teve festinha. — Diz Elaine que não aglomerou. Muito bem, não pode mesmo. — E aí ela voltou. Quando ela voltou, gente, o Wilson tinha arrancado todas as rosas da Elaine, ele tinha… Não arrancou e colocou no vaso, ele arrancou e jogou no lixo e fez um cimentado pra aumentar a área da churrasqueira.
A Elaine quase infartou, ele tirou toda parte verde do quintal e botou piso, a hora que ela viu, ela passou mal real. — Real, passou mal, real. — Chorou, começou a gritar com ele, e aí ele acha que ele não fez nada demais, ele só arrancou umas roseiras, as coisas dela, tinha uma hortinha, tinha um monte de coisa assim, e que ela tá de frescura, que a churrasqueira pra receber os amigos ali quando acabar a pandemia, porque o Wilson é otimista e acha que ele fez uma melhoria e que ela tá reclamando à toa. Só que é uma coisa que a Elaine não consegue superar… — Eu no lugar dela, vocês já sabem, né? Já tinha já arrumado minhas coisinhas e vazado pra casa da minha mãe de volta. — Porque é muita falta de respeito, primeiro que ele fica embaçando que ela não pode trabalhar, ela já não tem o dinheiro dela, tudo depende dele, ela é uma professora de inglês, podia até dar aula online, tudo ele embaça, aí a única coisa que ela tem pra extravasar, pra ter um tempo dela, pra curtir era ali o jardim dela, as roseiras e estava tudo muito bem cuidado, tudo lindo e ele arrancou. Não é que ele tirou e colocou em vaso, sei lá, ia ser menos mal, ele arrancou tudo e fez um cimentado, botou piso e acha que ela não tem razão de reclamar.
Então a Elaine acha que algo nela por ele se quebrou, só que, né? A maioria da família dele e ele fala que é bobagem, então ela tá na dúvida. — Eu, no seu lugar, Elaine, já teria largado esse homem faz tempo, me desculpa. Pra mim é motivo, gente. Nossa, se eu chego e arrancou minhas coisinhas, meu Deus do céu, não quero nem pensar, nem pensar… — O que a Elaine quer saber, né? Se vocês acham que é uma coisa contornável, ela tá muito… Ela chora agora todo dia porque ela olha as fotos das rosas que ela tinha, algumas ela que tinha feito os enxertos assim, então misturou e nasceu uma coisinha lá diferente, ela nunca mais vai ter isso. E aí um dia ela ficou nervosa lá, falou pra ele que era para ele pegar a picareta e cortar pelo menos um pedacinho do quintal pra ela fazer uma plantaçãozinha, né? Pra ela se distrair, ele falou que não, que ele fez uma melhoria, que ele não vai fazer, ele não tá nem aí. [suspiro]
Então ela quer saber se ela tá exagerando. Não acho que está exagerando, viu, Elaine? Acho que você foi até amena, eu, no seu lugar, olha… Eu tô nervosa só de pensar. E aí também ela falou que pra distrair, ela ia dar aula voluntária de inglês e ele não deixou, então o que esse cara que já tá te proibindo de fazer as coisas e tá estragando suas coisas, jogando essas coisas no lixo, sabe? Volta pra sua casa, volta pra sua família… Não dá pra mim, gente, não dá. — Eu nem queria dar nome pro Wilson, hein? — Foi Elaine que me obrigou, falou: “Ai, ai, Déia, por favor, põe o nome nele, senão as pessoas já vão começar, né? Achando ruim as coisas que ele fez”, Não é ruim, gente? — O cara arrancou todas as roseiras, toda a plantação, tudo que ela tinha, cimentou e jogou no lixo… Ela chorando e ele falando: “Você tá chorando por bobagem”, não aceito, não aceito.
Então, gente, sejam gentis com a Elaine, ela tá muito chateada com isso e com razão, eu estaria mais, estaria indignada e deixem mensagens de voz pra ela.
[trilha]Assinante 1: Oi, eu sou a Bárbara e eu sou de Porto Alegre. Elaine eu acho que tu deveria ver as rosas como uma metáfora, porque elas são como se fosse você, sabe? Isso é uma coisa muito importante pra ti, tu também dá muito cuidado pra elas e muito amor, e olha como ele tratou elas, ele simplesmente arrancou e jogou no lixo. É uma coisa que tu dedicou tempo, dedicou conhecimento e é muito importante pra ti, ninguém tem que te questionar e falar que não é importante. E eu acho que assim, tu tá entrando numa cilada e é bom tu ver, de repente, de tentar sair disso antes de que fique muito tarde, porque depois chega num ponto em que fica complicado de voltar a trabalhar e, poxa, você tá no lugar longe da sua família, com um cara que não te respeita e não respeita teus gostos. Se você for ver, ele tá só anulando as coisas que você gosta e você mesma. Então, se cuida e um abraço.
Assinante 2: Oi quem tá falando aqui é a Hannah do Rio de Janeiro. Elaine, corre, pelo amor de Deus, corre. Mas assim, corre, tipo, Forrest Gump, tá ligado? Esse cara, ele vai te aprisionar, ele tá querendo colocar você como se você fosse uma Rapunzel, sabe? Não quer deixar você trabalhar, não quer deixar você ter suas coisas, suas rosas que você tanto ama, é furada. Sai fora. Mas eu te aconselho uma coisa, antes de você sair correndo e pegar o primeiro ônibus, avião, o que seja pra voltar, você pega uma marreta e quebra aquela porra daquele piso todo e vai embora, porque esse cara é abusivo. Sai correndo, gata. Você não tá exagerando, ele é um babaca. Um beijo, gente.
Déia Freitas: Um beijo e eu volto amanhã.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]