título: atacada
data de publicação: 11/06/2021
quadro: mico meu
hashtag: #atacada
personagens: jussara
TRANSCRIÇÃO
Déia Freitas: Oi. gente… Cheguei. [risos] Ai, e cheguei pra uma história que olha que felicidade, é um Mico Meu, mas não é meu, [risos] nem da minha prima, nem da minha família [risos] Então já ajuda, né? Alguém aí passando mico e eu dei muita risada e vamos lá. Antes eu dizia que eu não ia mudar os nomes no Mico Meu, mas eu acho que tenho que mudar, tem que manter a tradição, então se não for história minha ou da minha prima os nomes serão trocados. E eu resolvi usar um nome hoje que eu já usei numa história que eu contei lá no Twitter e eu não sei se alguém vai pegar a referência, a história de hoje quem me conta é a Jussara. Então vamos lá, vamos de história.
A Jussara é caixa de supermercado e ela entra seis horas da manhã no trabalho e ela entra muito cedo, seis horas da manhã… É cedo pra caramba. Então ela tem que sair da casa dela quatro e quinze. [efeito sonoro de galo cacarejando] E é um rolê que todo mundo aí que já trabalhou longe, que mora longe, já teve que fazer. — Eu aqui já tive que fazer, mas eu não precisava sair quatro e meia, eu saía seis e dez, minha prima já também passou anos saindo de casa quatro e quarenta, então, né? Só quem viveu sabe, o que é sair cedo, estar tudo escuro ainda, não ter gente na rua, você vai naquela… Você vai no medo, né? — E aí era assim que Jussara saía todo dia, então o quê que ela fazia? Ela já colocava o celular dela ali no silencioso escondido. — Por que, né? É aquela coisa, se passar dois caras de moto você já sabe, entrega tudo e perdeu. — E ela ia andando, ela tinha que andar tipo uns cinco quarteirões até o ponto de ônibus, e aí no ponto de ônibus mais aquela treta de ficar ali parada e você fica exposta, né? E todo dia era isso, não tinha o que fazer, precisa trabalhar, tem que ir.
E aí Jussara tá ali tensa, porque a gente nunca vai tranquila, né? Tá ali tensa andando pra ir no ponto de ônibus e, assim, você vai olhando pra tudo quanto é lado, e aí ela olhando, né? Andando e olhando, quando ela olha pra trás, mais ou menos, pensa assim, ela tá na ponta de um quarteirão, lá atrás dela na ponta do outro quarteirão numa certa distância, mas se a pessoa correr ela alcança, ela viu um cara que estava vindo e o cara estava vindo com pressa, ela falou: “Ferrou”, e aí ela começou a andar com pressa também e olhando pra trás pra ver o cara, e aí conforme que ela viu que o cara estava andando com pressa, ela viu que o cara estava com um negócio na mão, um negócio de metal que brilhava, ela falou: “Mano, o cara tá vindo correndo atrás de mim armado”, o quê que que a Jussara fez? Jussara começou a correr, ela tinha que correr cinco quarteirões até o ponto de ônibus, mas ali o que ela estava pensando? “Eu vou correndo e entro em qualquer lugar”. — Porque às vezes tem bar que abre mais cedo, padaria, né? — “E vou entrar”, só que não tinha nada aberto. — Nada aberto.
E aí a Jussara começou a correr, gente, ela começou a correr e esse cara começou a correr também atrás dela e ela via que o cara: “Por favor… Não sei que lá…”, o cara ia pegar ela, estava armado e ela correndo e o cara correndo, ela passou pelo ponto de ônibus, continuou correndo, Jussara correu uns dez quarteirões e esse cara correndo atrás dela, até que o cara desistiu. E aí ela, nossa, ela estava já esbaforida, estava mal e já tinha perdido o ônibus que ela tinha que pegar, ela estava num outro lugar assim, porque ela correu muito e aí ela teve que fazer um outro caminho, pegar outro ônibus, enfim. Chegou no trabalho, não chegou atrasada, mas chegou assim muito abalada, sabe? Porque poxa, essa hora da manhã o quê que o cara queria fazer com ela, né? E aí ela contando ali pras moças do caixa também, ainda no vestiário, deixando as coisas e tal e já chorando e pensando no dia seguinte. — Porque é isso que a gente pensa, né? No dia seguinte. — Como que vai ser no dia seguinte pra ela ir trabalhar de novo e, mano, de onde surgiu esse cara? Por que ele correu tanto tempo atrás dela assim? Não tinha uma viva alma na rua, ela estava muito abalada.
E aí o quê que ela pensou, né? Ela deixou, foi tirando a bolsa ali e tal pra pôr no armariozinho dela do vestiário, falou: “Vou ligar pro meu marido”, — Porque era uma hora que o marido dela ainda estava dormindo, né? — “Vou ligar para o meu marido pra falar o que aconteceu e tal”, que ela pegou o celular gente, tinha umas dez ligações dele, umas dez, aí ela ficou mais nervosa ainda e não conseguia telefonar de tanto que ela tremia, aí uma das colegas pegou o telefone dela e discou pra ele, né? E aí ele atendeu. — E, gente, vocês não vão acreditar. — A Jussara, ela tinha saído com tanta pressa que que ela tinha esquecido a marmita [risos] em cima da mesa [risos] e o marido dela acordou, ele acordava mais tarde, mas ele acordou pra tomar água e viu, o que o coitado fez? Vestiu uma jaqueta e saiu de bermuda, chinelo, com a jaqueta assim, pôs a touca e com a marmita dela de metal na mão pra ver se alcançava ela, [risos] ela estava correndo do marido dela [risos] e o negócio de metal na mão dele era a marmita. [risos] — Ai, meu Deus do céu, ela estava correndo dele. —
E ele tentando, ele chamava, mas ela não ouvia de onde ela estava, né? E ele tentando, mas quanto mais ele corria pra tentar alcançar, mais ela corria dele. [risos] E aí depois dos dez quarteirões ele cansou e teve que voltar com a marmita dela pra casa. [risos] Gente, eu passando até mal, ai meu Deus, a vida do pobre é muito difícil, né? É muito difícil. Era o marido dela coitado, saiu todo de qualquer jeito pra tentar alcançar, pra entregar a marmitinha pra ela não passar fome e ela correndo. [risos] E ele no caminho enquanto ele tentava chegar perto dela, ele ia ligando só que o telefone dela fica no silencioso. — Porque você não dá uma brecha, né? — E aí é lógico que ela não ouviu, nem vibrou e mesmo se ela ouvisse ela não ia parar pra atender, né?
Então era o marido dela o tempo todo, correndo, falei: “Gente, já pensou se aparece alguém”, e ela fala: “Meu Deus, tem um maníaco correndo atrás de mim”, e aí alguém pega ele e sei lá. Gente, podia ter dado uma merda, né? Podia ter dado. Aí agora ele aprendeu também, se ela esquecer a marmita, paciência, [risos] porque nossa, ele correu mais perigo que ela ali, né? Numa dessas é linchado, e ela ia ficar de longe nem ia ver que era o próprio marido dela e que era uma marmita e não uma arma. [risos] — Ai, gente, eu amei essa história. —
Assinante 1: Oi, meu nome é Elizabeth e eu falo São Paulo. Jussara, que grande susto você passou, hein? Muito legal a parte do seu marido de tentar ajudar, mas não deu muito certo, mas é isso aí, né? Acho que toda mulher teria a mesma reação que você teve, né? A gente anda sempre apreensiva de madrugada, ainda mais ao mínimo sinal o que nos resta é correr, mas ficou a história aí pra contar e acredito que todo trabalhador tem uma história de marmita pra contar e que normalmente não acaba muito bem, então, se você tem alguma manda aí que a gente ri da história e das gostosas gargalhadas da Déia. Beijo.
Assinante 2: Aqui é o Dourado do Rio de Janeiro, e o que dizer de Jussara que mal conheço e já considero pacas? Jussara o seu mico é o meu mico, também uso óculos, também saio cedo para trabalhar e já passei muita vergonha com um simples papelão na rua, só que diferente de você eu não aguentaria correr isso tudo não, então Jussara faz o seguinte: Coloca um lembrete no celular, dá uma olhadinha de cinco em cinco minutos pra conferir se não esqueceu nada, porque senão não tem mais história pra contar e eu aposto que você tem mais mico, manda mais, foi muito boa a sua história. Um abraço.
Déia Freitas: Ai, então um beijo, gente.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Mico Meu é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]