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título: vovó querida
data de publicação: 23/07/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #vovoquerida
personagens:  dona hermínia e seu francisco

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão e, olha, [risos] vou dizer que esse é com certeza um dos Picolés que eu mais gosto. [risos] Assim, podia ser um Amor nas Redes, mas é um Picolé, mas é uma história que… Uma das histórias que eu mais gosto. — Eu recebi esse e-mail lá no meio dos e-mails e coloquei na nossa fila aí de roteiro e mal via a hora de chegar. [risos] — Então vamos lá, gente, eu vou contar pra vocês hoje a história da Dona Hermínia, quem me escreve é a Marina, sua neta. E então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

A Dona Hermínia ela tem noventa anos, é uma senhora lúcida, uma senhora muito divertida, cadeirante e, que por causa do diabetes, ela não enxerga mais. E assim, só que ela nunca quis morar com as filhas, nunca quis, nem com a mãe da Marina, nem com as outras filhas, nunca quis. Então ela tem a casa dela, ela tem uma cuidadora e a vida foi seguindo. Ela casada com o Seu Marco Aurélio, Seu Marco Aurélio faleceu, não faz tanto tempo, então, né? Foi uma coisa mais recente e ela seguiu a vida, né? Dona Hermínia ali firme e forte, felizona. E, por ela ser cadeirante, não enxergar mais, ela precisa da cuidadora 100% do tempo, né? Ali com ela, e aí quando a cuidadora tá de folga as filhas revezam tal, e assim vai. Até que um dia, a Dona Hermínia… — Tem esse detalhe… — Ela não faz as compras mais, ela não faz nada dessas coisas, quem faz são as filhas e as filhas estão sempre lá com ela, então nunca falta nada. — Nada. —

Aí um dia Dona Hermínia falou pra cuidadora ir até o mercado comprar um doce lá pra ela. — E ela nem pode comer doce, diabética… — E aí a cuidadora falou: “Não, mas a senhora não pode comer doce, né?”, falou: “Olha, eu tô falando pra você ir no mercado comprar um doce pra mim”, e ela insistiu tanto que a cuidadora teve que ir, ela praticamente expulsou a cuidadora da casa. Só que a cuidadora, assim que saiu, ela ligou pra uma das filhas e falou: “Olha, a sua mãe falou pra eu ir no mercado comprar doce pra ela e não me quis lá de jeito nenhum, que eu ficasse em casa, de jeito nenhum, e eu tô preocupada porque eu não sei…” — Porque, até então, Dona Hermínia lúcida, ok? — Primeira coisa que a cuidadora pensou, falou: “Gente, sei lá, tá perdendo a lucidez, será? Porque, né? Como que me pede pra sair assim e ficar sozinha”, e as filhas elas moram perto da mãe, a mãe nunca quis morar com as filhas, mas as filhas ficaram ali morando ao redor e tal, pra estar sempre alguém lá com ela. E aí uma das filhas falou: “Olha, vai no mercado, sei lá, faz o que ela pediu, que eu não tô entendendo o quê que tá acontecendo, que eu vou pra lá”. 

E todo mundo tem ali a chave da casa da Dona Hermínia, né? E aí a filha dela foi pra lá, chegou, quando ela abriu a porta, a cena era inacreditável… — Eu não imaginei, você não imaginou, a cuidadora não imaginou e a filha dela não imaginou. — Dona Hermínia estava nua, [efeito sonoro de “voltando a fita” e repete a mesma frase] Dona Hermínia estava nua, [trilha sonora animada] Dona Hermínia estava transando com o vizinho [risos] de setenta e dois anos. [gargalhando] Gente… A filha da Dona Hermínia chegou e pegou os dois idosinhos nus transando. Detalhe: Ela estava transando com um idoso de setenta e poucos anos, o Seu Francisco, que mal conseguia se locomover, tinha uma bengala e andava muito devagarinho; e os dois estavam no sofá nus, transando. A filha dela começou a gritar, [efeito sonoro de mulher gritando] porque até então o quê que ela pensou?” Dona Hermínia tá sendo abusada”, né? “Minha mãe tá sendo abusada”, começou a gritar, o velhinho com muita dificuldade pegou as calças dele ali e foi andando devagarinho com a bengala e saindo da casa.

E aí quando ela foi socorrer a mãe, né? Tipo “Mãe, o quê que tá acontecendo? Você tá bem?”, a Dona Hermínia começou a xingar essa filha de tudo quanto é nome [gargalhando], “Por que você me atrapalhou? O quê que você tá fazendo aqui? Ninguém te chamou aqui… Que isso, que aquilo…” e, olha, foi um show, ela ficou muito brava, Dona Hermínia, muito brava. — Mas tipo, muito brava mesmo… — E aí a filha da Dona Hermínia assim, sem… Em choque, em choque… Saiu lá da casa e foi na casa do vizinho, Seu Francisco. Seu Francisco também assim, setenta e poucos anos e, assim, anda bem devagarinho, com bengala, debilitado, não é um véinho assim… — A Dona Hermínia por mais que ela tenha diabetes, né? E não enxergue, e seja cadeirante agora, ela é bem mais ativa assim, né? E ele não, é um véinho mais debilitado. —

E aí ela foi na casa do vizinho, gente, pra contar pra esposa do vizinho, porque o vizinho é casado. O vizinho, idosinho, casado. Aí foi lá, contou pra esposa do Seu Francisco e voltou pra dar uma bronca na mãe, a mãe puta, e aí passou. E aí, gente, a esposa… — A gente não sabe, né? A história da esposa do Seu Francisco com ele, né? — A esposa do Seu Francisco colocou ele num asilo. — Eu fiquei arrasada com essa parte, fiquei arrasada porque, né? — Mas a gente não sabe também, né? Como era a relação dos dois, e depois ela descobriu essa traição, ela colocou ele numa casa de repouso. O que para o Seu Francisco, em questão de mulheres assim, pode ter sido melhor, porque tem muito idosinho no asilo que manda a ver, viu? Idosinha, idosinho… E aí a Dona Hermínia ficou muito brava porque ela perdeu ali o ficante dela e, um detalhe… — Que a neta dela me contou, a Marina. — Eles são vizinhos há quarenta anos, e aí a questão que ficou foi assim: Eles começaram a transar depois que o Marco Aurélio… Seu Marco Aurélio, o esposo dela, faleceu? Ou eles tinham um caso? — Já antes… — Já que eles eram vizinhos há quarenta anos? E a Dona Hermínia não fala nada, não quer saber. 

Aí a Marina falou assim: “Déia, minha avó tá vacinada, tá firmona e minha avó tá a procura de um namorado. Ela quer um idosinho ali pela idade dela”. — Nem tanto idade dela, né? Uns setenta e pouco, porque aí com setenta e pouco ainda tá dando no coro. [risos] — Com noventa já é mais difícil, né? O cara dar no coro, então ela quer um de uns setenta e poucos. [risos] — Gente, não é maravilhoso? — Agora, um detalhe dessa história, eu recebi esse e-mail, o título era: “Minha avó pelada na sala”, o que a gente pensa com um título desse? Eu assim de cara pensei: “Nossa, sei lá, tinha alguma festa na casa…” — Sem abrir o e-mail, tá? Só lendo o título… — “E de repente a avó dela apareceu pelada”. — Coisas assim que me passaram na cabeça, sabe? Nunca me passou que era uma idosa ali de noventa anos sexualmente ativa, né? E isso é um problema nosso, né? De não ver os idosos ali, não ver essa coisa bacana que é o sexo na terceira idade, né? Então, ah, tudo bem, mancada do Seu Francisco tal e dela que conhece também a esposa do Seu Francisco há quarenta anos e tal… Mas gente, pintou uma química, né? — Não sei. [risos] —

Com noventa anos, sabe, você vai ainda… Não sei se você vai considerar isso, tipo, é o marido da minha vizinha, não sei… — Não tenho noventa anos, se eu chegar lá eu vou saber opinar. — Então assim, ela deve ter pensado: “Poxa, ele tá dando em cima de mim, eu tô querendo, vamos embora, sabe?” — É assim? Não sei. [risos] —Ai… Mas olha, gostei muito dessa história, só da parte do asilo que aí eu fiquei triste, porque né? Ele acabou ficando longe dela, né? E… Só que a Marina acha que não era assim amor, né? Era sexo só. [risos] Porque agora ela já tá a procura, né? Depois que ele foi pro asilo, ela já abriu concorrência aí, já tá… [risos] Já tá procurando um novo namorado. E, ai, gente, tomara que ela viva aí mais muitos anos e já tá vacinada, né? Já tá aí firmona. E Dona Hermínia é isso aí. 

[trilha]

Assinante 1: Oi, gente, tudo bem? Eu sou a Emily de Niterói, do Rio de Janeiro. E nossa, Dona Hermínia, que ícone, Dona Hermínia, eu te amo, eu espero que a senhora viva muitos anos mais muito feliz e que encontre muitos amores e muitos lances, porque a senhora merece, parece ser uma pessoa muito alto astral. E que a família consiga entender que a senhora não é limitada por idade, vamos… Vamos providenciar isso aí, um aplicativo de encontros pra senhorezinhos, de repente, tem um grupo aí na internet. Vai ser feliz, tá certa… Tem idade pra isso, não. E é revigorante ouvir uma história de uma pessoa que se empenha em ser feliz e viver as suas vontades independente da idade, independente de qualquer limitação e é muito bom ouvir histórias assim. Muito obrigada, Déia, por trazer isso pra gente. É isso, gente. 

Assinante 2: Oi, gente, meu nome é Aline, eu falo aqui do Pará. E eu tô rindo muito com a história da “Vovó Querida”, né? Da Dona Hermínia, e eu me coloco muito no lugar das filhas, né? Essa visão de que a gente não quer, quando os nossos pais são viúvos, a gente não quer ver eles com ninguém, mas acho a questão muito pessoal, né? E dos filhos. Eu me coloco muito no lugar delas, porque meu pai é viúvo, e se acontecesse isso na casa dele, eu ia surtar, acho que é normal. Apesar de saber que ele tem o direito de ter as escolhas deles, de ter o futuro, né? Desejo aí pra Dona Hermínia sucesso na busca e pras filhas muita paciência, porque a gente não quer ver eles com ninguém, tá, gente? Acho assim, a questão de só quem passa mesmo sabe. Então, pessoal, muito boa a história, gostei demais, beijão.

[trilha] 

Déia Freitas: É isso aí, tem que viver a vida mesmo. Então é isso, gente, um beijo.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.