título: bebê
data de publicação: 30/08/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #bebe
personagens: rosemary
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente, Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. E hoje, eu tô… — Como diria meu querido Gil do Vigor — eu tô indignada, história péssima. Hoje eu vou contar pra vocês a história da Rosemary, essa história tem muitos anos já, e a Rosemary agora tem quase a minha idade. — Eu tenho 45 pra quem não sabe. — Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]A Rosemary, na época ela era uma mocinha, uma mocinha que frequentava a igreja evangélica e na igreja ela conheceu a criatura, um cara aí… — Que eu não vou dar nome pra ele — e ela começou a namorar esse cara na igreja e na igreja da Rosemary, — Eu não sei se isso é em toda a igreja, ou só na igreja dela… — era assim, você começava a namorar alguém na igreja, tinha um ano pra casar. — Não tinha essa de namoro longo, não tinha essa de namorar sozinho, nada disso… — E a Rosemary muito assim, ingênua, né? — A palavra é essa mesmo: ingênua. — E aí essa criatura conseguiu convencer a Rosemary que Deus… — Tá? ok? — Deus falava com ele, e que Deus tinha dito pra ele que tudo bem, — Palavras dele tá — tudo bem se Rosemary se deitasse com ele. E ele fez toda ali uma cena, como se Deus estivesse falando com ele e Rosemary embarcou nessa aí, e transou com esse maldito. — Transou com esse maldito. — A partir do momento que ela transou com esse cara, eles já estavam namorando há quase seis meses ele teve a coragem de marcar uma reunião — Um encontro, sei lá — com o pastor da igreja pra falar que a Rosemary era uma impura, era uma infiel, era isso e aquilo e não podia mais estar na igreja. — O cara fez isso. —
Acontece que esse pastor e a família do pastor, a esposa do pastor, todo mundo conhecia a Rosemary há muito tempo e aí quando isso acontece o outro lado também é chamado, né? Pra escutar o que tinha acontecido. E aí Rosemary contou, contou a história de Deus, contou tudo e o pastor acreditou nela, o pastor acreditou nela e o pastor expulsou esse cara da igreja, mas esse cara morava ali no bairro, então, infelizmente, a Rosemary ia continuar vendo esse cara. Esse assunto foi mantido em sigilo, só que a partir desse dia, a Rosemary recebeu um castigo da igreja que era ficar no banco, você tinha que ficar lá sentada num banco lá… — Gente, é uma situação assim que não entra na minha cabeça, tá? Então também não vou ficar dando detalhe aqui da religião dos outros, porque… Quem me conhece sabe que eu não acredito em nenhuma religião, não sou fã, não sou chegada, então… Não vou ficar dando detalhes — então ela tinha que ficar no banco lá, enfim, x. Só que, gente, né? — Toda desgraça pouca é bobagem. — A Rosemary nessa, a primeira vez dela com o cara cretino, ela engravidou.
E aí a vida dela complicou demais, porque enquanto ela estava lá sentada no banco lá da igreja e tal, e que ninguém sabia que ela tinha feito, porque qualquer coisa podia te levar para o banco, então tudo bem, a galera achava ok a pessoa ficar no banco um tempo e depois tudo bem, mas agora a gravidez, era um outro nível na cabeça deles — Deixando bem claro aqui que isso na cabeça deles — de pecado. — Entre aspas. E aí a própria Rosemary resolveu sair da igreja, porque era muita pressão, né? Era muito julgamento. — E ela resolveu sair da igreja. — E aí, nossa, [efeito sonoro de mulher chorando] foi uma choradeira na casa dela, porque o pai e a mãe também evangélicos, mas aceitaram que a Rosemary ficasse na casa. — Porque, né? — Rolou até isso de “Ai, meu Deus, será que vão ter que expulsar?” — Umas coisas absurdas. — Mas não expulsaram e Rosemary teve o bebê. — Eu tô usando realmente o nome Rosemary, por causa do filme “Bebê de Rosemary”, por causa desse cretino, vocês vão entender o porquê. Inclusive a sugestão do nome também foi aprovada pelo filho da Rosemary. —
E aí a Rosemary teve esse bebê, bebezinho, “O Bebê de Rosemary”… — Por que eu dei esse nome? — Era uma época que não tinha ainda essa coisa de a pessoa ir presa por causa de pensão, nada, era mais fácil assim os homens não assumirem os filhos e todo mundo ali morava no mesmo bairro, né? A partir do nascimento do bebezinho, este cretino começou a espalhar no bairro que o bebê… — Que ele foi ver uma vez. Quando nasceu que ele foi ver… — Porque o pai da Rosemary deu uma prensa nele e fez ele colocar o nome na certidão, né? Aí esse cretino botou o nome na certidão do menininho e foi a única coisa que ele fez, porque ele gostava de espalhar que essa criança tinha o demônio no corpo, que isso, que aquilo. E depois que a criança nasceu, algumas pessoas da igreja, elas acolheram a Rosemary. — Assim, a Rosemary não voltou pra igreja, mas ela tinha um convívio assim… — Que era todo mundo mais ou menos no mesmo bairro, né? Então ela ganhou presentes ali para o bebezinho e tal. Nesse meio tempo da gravidez e tudo, esse cara tinha ido conversar com o pastor e conseguir um perdão ali pra voltar pra igreja. — E já que também a Rosemary tinha saído, o pastor resolveu aceitar esse cara de volta. —
Só que aí ele começou a espalhar isso aí do bebê ser fruto do demônio, de novo o pastor foi lá e falou com ele, falou que ele não devia falar isso, que nã nã nã, mas ele insistia nisso, e aí o pastor foi lá expulsou de novo da igreja. Nessa segunda vez que ele saiu da igreja, ele resolveu ir para o caminho torto de vez, então ele começou a beber… — Torto, né? Também de novo, de acordo com eles lá. — E começou a beber, mas não era assim “Ah, beber de cair”, ele bebia, passou a tomar uma cerveja e começou a fumar, só que esse cretino, ele não falava: “Aqui, olha, agora eu tô tomando uma cerveja aí de boa e estou fumando que eu quero”, ele falava que era por causa do bebê, ele falava que tudo que acontecia de ruim na vida dele era por causa do bebê. — Gente, imagina essa carga pra uma criança, né? Esse bebê foi crescendo, sem um pai, criado apenas pela Rosemary com apoio ali dos pais dela. —
A Rosemary, conforme a criança foi crescendo… Ela era muito novinha mesmo e ela não trabalhava, então aí ela teve que começar a trabalhar pra sustentar ali o bebezinho, porque não dava pra contar com aquele traste, né? Que agora ia para os bailes aí, ia pras baladas da época dele e tal lá, e sempre falando isso, que ele saiu da igreja, que ele começou a beber e a fumar por influência do bebê da Rosemary. — O Bebê de Rosemary. E aí, gente, muitos anos, né? —. A criança foi crescendo, esse bebê cresceu sem o pai e, quando ele tinha ali uns 10 anos, a Rosemary resolveu abrir pra ele essas histórias do pai, porque uma hora ele ia ficar sabendo, alguém tipo, Seu Zé da Quitanda ia comentar, sabe? E aí contou tudo pra ele, ele chorou muito, de achar que o pai dele pensava isso dele. E nessa época, esse cretino já tinha ido morar em outro lugar, já tinha ido morar sei lá onde, então ele não viu o bebê crescer. — Né? Virar um menininho e virar um adolescente. — Um adolescente muito estudioso, tirava só notas assim, excelentes, e depois dessa conversa ele nunca mais falou do pai e tal, e quando ele tinha 18 anos, quem aparece lá na porta da casa? Como quem não quer nada? — Pra ver o filho, porque agora estava arrependido —
Estava em outra igreja… — Esse cara. — E aí aquele conflito interno do filho, né? Que “Poxa, agora o meu pai quer me dar amor”, e a gente sabe da importância que é ter o amor do pai, mas por outro lado “olha tudo que ele me fez, né? Olha tudo que ele falou de mim”, então foi um conflito enorme que durou ali um ano e tal, mas aí depois a resistência foi vencida e esse pai e esse filho se aproximaram. Nesse ponto a Rosemary resolveu não interferir, agora com 19 anos já podia tomar as próprias decisões, né? E ela ficava ali do lado dele, acompanhando de longe, não deixava esse cara entrar na casa. — O que ela está corretíssima, concordo, porque ele é o pai do filho dela, mas não é nada dela, nunca foi nada dela, então não tem que deixar entrar em casa, não. Concordo. — E aí uma relação foi surgindo ali, né? Entre pai e filho. — Foi indo bem até. — Quando o bebê… — Eu gosto de chamar ele de bebê porque a gente riu muito, falei: “Ai, não vou te dar um nome também, mas é porque eu quero te chamar de bebê, de bebezinho a história toda”.
Quando o bebezinho completou 22 anos, esse pai falou: “Olha, filho, agora você já é um homão”, ele ainda não tinha… Eles não tinham condição do bebezinho entrar numa faculdade, mas bebezinho já trabalhava. Ele falou: “Olha, filho, agora você já é homão, você já tem um nome e tal, por que que a gente não compra um carro?” — O que tem a ver, né? — O quê que tinha ver era que o… — Este cretino — fez o nosso bebê, que é um cara muito bacana, um cara muito decente tirar um carro no nome dele pra ele usar, porque o nosso bebê não tinha nem carteira de motorista. E aí esse pai, tudo que ele podia tirar de crédito do filho… — Crédito que eu digo nome limpo, porque o nosso bebê não tinha dinheiro, mas ele tinha um nome, né? Ele tinha um crédito na praça. — Mesmo trabalhando há pouco tempo, não sei, o pai dele fez um rolo lá e conseguiu tirar um carro. — Não era um carro zero, nada, era um carro usado, um carro de pobre, mas tudo bem, gente. Sabe? —
Era uma coisa que tinha que ser paga, né? Só que esse pai não pagou, ele conseguiu esse carro, ele conseguiu mais uma televisão e um fogão. — Tudo no nome do nosso bebê. — E aí a Rosemary ficou doida, né? Aí a única coisa que a Rosemary conseguiu foi buscar a TV e o fogão. — Buscou. — Entrou na casa lá junto com o bebê e carregaram, botaram o fogão na calçada, chamaram a Kombi e levaram, e levaram a TV também. E a TV não era grande e tal, dava pra levar. — Carregaram o fogão os dois. — E aí não tinha como resolver o negócio do carro, ele começou a não pagar, aí o bebê teve que arcar com as prestações do carro, pagou o carro por muitos anos e esses anos todos ele nunca viu o carro, né? Que aí eles acabaram rompendo também, né? Só que aí alguém ensinou o bebê que ele podia pedir busca e apreensão desse carro, porque esse carro tá no nome dele. — Alguma coisa assim, ele podia tirar o carro do pai, porque o carro estava no nome dele. — Aí o bebê já tinha uma namorada, uma namorada mais esperta e tal. — Que hoje é esposa do nosso bebê. —
E aí bebê fez isso, bebê tirou o carro do pai, a partir do momento que ele tirou o carro do pai, o pai voltou a chamar ele de demônio. Então veja, a trajetória dessa criatura, que só apareceu na vida da Rosemary pra estragar as coisas, depois apareceu na vida do bebê — Que já era um cara, né? De 18 anos. — pra estragar as coisas, e agora estava voltando a estragar as coisas de novo. Só que aí o nosso bebê casou e o nosso bebê teve um filho, e aí ele amoleceu e resolveu procurar o pai de novo. — Perdoar e tal, porque é pai dele, enfim… Né? Não cabe aqui a gente julgar também. — E aí perdoou, se aproximou novamente do pai, o pai visitava o neto, tudo. A mulher do bebê não gostava muito, mas enfim… — É pai do cara, você também não tem que, né? Falar muito. — Até que um dia, gente, este homem, este pai do bebê, que agora já era um avô ficou doente. Do quê? Coronavírus. E foi morar aonde? Na casa do bebê. — E aí chegamos a pandemia, né?
O nosso bebezão ele acolheu o pai. — Que tá correto também, não julgo, é pai dele, estava precisando de ajuda. — E esse pai com coronavírus lá no começo da pandemia, não acreditava no vírus, não acredita em nada, enfim… — É aquele tipo de gente que a gente já sabe, né? Olha, eu fico até… [suspiro] — E aí a esposa do bebê e o bebê cuidaram dele, ele se curou do corona, ficou bem, só que aí não saía mais de lá, né? E pra tirar? E ele tinha a casa dele, não ia ficar na rua, não. E aí esse cara não saía de lá, esse cara começou a atrapalhar o casamento, porque agora… — Qual era a dele? Porque assim, a esposa do bebê… — A esposa do bebê é uma pessoa tatuada, uma pessoa trabalhadora, que batalha e que não aguenta desaforo e esse cara começou a querer falar para o bebê — Nosso bebê — que agora a mulher dele que estava com demônio. E aí, obviamente, a mulher dele falou: “Olha, seu pai ficou doente e a gente cuidou dele, agora ele tá bom, ele tem que voltar pra casa dele, porque isso está interferindo no nosso casamento”, e bebê concordou, bebê falou: “Olha, pai, não dá mais”, realmente ele fez um inferno na vida da esposa do bebê. — Ainda falei para o bebê, falei: “Bebê, se fosse eu, já tinha largado”, bebê falou: “É, graças à Deus ela ficou de boa e tal”.
E aí ele voltou pra casa dele, essa criatura. E agora, ele está com coronavírus de novo e essa é a questão, por isso que a Rosemary e bebê escreveram. Ele tá com coronavírus de novo e ele ficou pior, precisou ficar um tempo entubado, se recuperou um pouco, só que agora ele precisa de cuidados, Rosemary já falou: “Eu… Quero que ele morra”. — E Rosemary não tá errada, não deve nada para o cara, foda-se ele. — Agora o bebê é filho, né? E aí o bebê tá naquelas, a esposa dele falou: “Olha, você quer cuidar do seu pai? Você tem todo direito de cuidar, mas aí você tem que cuidar do seu pai lá na casa do seu pai, não me importo. Mas botar ele aqui dentro de novo, depois de tudo que ele me falou, de tudo que ele me fez…” — E fez muitas, e eu não vou tocar nesse assunto aqui porque é história dela, não é história direta, né? Do bebê e da Rosemary. — Ela falou: “Aqui dentro eu não quero”, e ela tá corretíssima, e o bebê sabe que ela tá certa, né? Só que esse cara ele quer ir morar lá. E aí o bebê tá nessa agora, de como resolver esse conflito, eu falei: “Bebê, não tem conflito, seu pai é um cretino”.
Ah, ele precisa de fisioterapia agora porque ele ficou… — E ele continua, detalhe… Ele continua não acreditando no vírus, hein? — Ele fala que “Ah, demônios”, tudo demônios. — Demônio é ele, né? — Essa é a questão, a chave dessa história é que o demônio é ele, e aí eu falei: “Meu, tudo bem, eu vou contar sua história, eu vou jogar lá no grupo, mas assim não acho que você tem que aceitar seu pai, não” e, detalhe, ele não mora sozinho na casa, ele não é assim um… Primeiro que ele tem, ele é um avô novo, né? Eles têm todos ali, mais ou menos a minha idade, aquilo que eu falei, que ela teve a criança muito novinha. E ele mora com os irmãos na casa, morava com a mãe também, mas infelizmente a mãe desse cretino faleceu, por conta do coronavírus. Tem gente lá na casa que pode cuidar dele assim, tudo bem, o bebê quer participar disso? Ótimo, é pai dele, vai lá e participa… Agora botar dentro da casa de novo? Pra infernizar sua mulher, bebê? Não dá, eu sou contra. — Minha resposta é não —
E pela Rosemary lógico que não, Rosemary quer mais é que ele faleça, e ela tem toda razão, que ela sofreu muito. E esse cara, você vê, gente… A gente conta uma história aqui de um cara que foi um péssimo pai, um péssimo ser humano, um péssimo namorado, um péssimo sogro e o cara tá aí infernizando ainda todo mundo, de boaça, sabe? Olha, é foda. Então eu acho que você não deve colocar ele dentro da sua casa de novo. E, se você botar, você vai perder sua esposa, porque eu, por muito menos, minha malinha tá pronta. Sua esposa é uma santa, é uma mulher maravilhosa. Bom, é isso, gente, estou aborrecida, eu odiei essa história. — Apesar de ter pessoas ótimas envolvidas, tem esse cretino, aí já estraga o meu dia, sabe? — Então é isso, gente, sejam gentis, com o nosso bebê.
[trilha]Assinante 1: Aqui é Álvaro de Belford Roxo e, olha só, bebê, é maluquice desse velho aí, cara. Já tô odiando ele de graça, por duas coisas. Uma: eu sou funcionário da saúde, tô ralando igual um cachorro pra ver uns babacas desse aí dizer que Covid não tá pegando em nada, ele deu cagada… Deixa ele viver a segunda vida dele. Ele não tem parentes que façam isso, agora tu vai se expor, tu vai expor tua família e tu pode perder a mulher, você que decide cara… Eu deixaria… A chance dele foi dada e ele queimou. Pau que nasce torto não tem jeito, não. Ele já é torto desde antes de você nascer, então, bicho, você que vai escolher o teu destino. E cuidado com que a gente escolhe… Por conta de quê? Você pode deixar esse velho idiota aí pra lá, se cuidar, que depois ele vai te procurar de qualquer jeito, ele é cara de pau mesmo.
Assinante 2: Oi, bebê. Oi, Déia. Oi, todo mundo do Não Inviabilize. Eu me chamo Douglas Ferreira e sou de Santa Cruz de Capibaribe, interior de Pernambuco. E queria dizer para o bebê que, o pai dele já deixou muito claro qual é o interesse que ele tem na reaproximação. Eu entendo que, pode ser que o bebê queira manter essa relação, né? Com pai, com família, com todo mundo junto e que depois não quer ter peso na consciência, mas entre ter relação como esse, é preciso que a gente também tenha amor próprio e saiba se colocar também. Então é isso, abraço pra vocês.
Déia Freitas: Rosemary maravilhosa, um beijo pra você. Um beijo para a esposa de bebê também, mulher maravilhosa. E para o bebezinho, né? Que agora tem um outro bebezinho na história, que é o bebezinho, filho do bebê! [risos] Então é isso, gente. Um beijo.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]