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título: dona neide
data de publicação: 20/09/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #neide
personagens: lucelia, carlos e dona neide

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E hoje eu não estou sozinha, para tudo e presta atenção aqui no meu publi. Eu ganhei da Editora Intrínseca um novo livro do John Green… Sim, o autor do best seller A Culpa é das Estrelas. E estou aqui para falar dele para vocês hoje. Eu fiquei bem animada com o livro, porque, primeiro, é um livro baseado no podcast do John Green. É, ele tem um podcast. Então isso já me interessou. Depois, é um livro com reflexões dele sobre assuntos que parecem aleatórios, mas que podem ser profundos, sabe? Eu fui lendo no modo aleatório assim, escolhendo os temas… E eu já li sobre ar condicionado, sobre uma infecção que o John Green teve no olho e eu fiquei chocada com a história da origem do ursinho de pelúcia. 

É legal também que ele dá notas para os assuntos assim, notas de 0 a 5. O nome do livro é “Antropoceno: Notas Sobre a Vida na Terra”. O John Green escreveu boa parte do livro durante a pandemia. Eu vou deixar o link do livro aqui na descrição do episódio. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

A Lucélia e o Carlos eles estão juntos, casados há seis anos. E, assim, eles moram num apartamento que já era do Carlos. — Então o apartamento é dele. — E eles moram em um quarteirão e a mãe do Carlos morava no outro quarteirão assim, muito perto. E essa proximidade já causava certo atrito entre Lucélia e dona Neide. — Que é a mãe do Carlos. — O Carlos é filho único e Dona Neide viúva, então antes do Carlos casar era somente Carlos e Dona Neide. Agora veio a pandemia e o Carlos decidiu, sem conversar com a Lucélia que seria melhor que a mãe dele viesse passar a quarentena com eles em casa. Porque aí evitaria do Carlos tem que fazer compra pra ela e, de repente, colocar ela mais em risco porque ele não teria acesso o tempo todo pra saber se ela saiu ou se ela não saiu. 

E aí um dia ele chegou em casa e ele tava lá com a dona Neide e malinha da dona Neide pra ficar no quarto de hóspedes. — A casa tem dois quartos, né? — O quarto do casal, que é uma suíte e o quarto de hóspedes. — A dona Neide chegou animada demais com a malinha dela e… — Assim, todo mundo achou que a quarentena fosse durar um mês, dois… — A gente não sabia que ia ser essa coisa infinita. Então, assim que ela chegou, a Lucélia tomou um susto, né? Porque o Carlos não falou com ela, ele chegou com a mãe e só comunicou, né? 

Mas ela falou: “bom, a gente está aí numa coisa que ninguém nunca viveu, né? A gente não sabe o que vai acontecer. Então tudo bem, vamos me instalar aqui a Dona Neide e [risos] ver no que dá”. A Dona Neide que estava na sala com a malinha falou: “bom, pra pelo jeito é por pouco tempo, o banheiro aqui de fora… ” Porque assim, tem o banheiro da suíte e tem o banheiro que é do outro quarto e da área comum, se você recebe uma visita… Não é lavabo, é um banheiro completo, tem chuveiro e tudo… Só que o box do banheiro da área comum é menor. E Dona Neide, com medo de cair… — Apesar de ser uma senhora muito ativa de 60 anos, e estar excelente de Saúde… — Sugeriu, como era por pouco tempo se ela não poderia dormir ela no quarto do casal e eles dormiriam no quarto de hóspedes que também tem uma cama de casal. — Então aí já deu uma complicada. —

Mas Lucélia ficou ali sem jeito de falar não, e falou: “tudo bem, vai ser um mês, né? — Assim, a Lucélia achou que dona Neide ocuparia ali o quarto do casal por pouco tempo, então ok. Mas assim que ela disse “ok” o Carlos falou: “bom, amor, a configuração dos quartos é a mesma”. — E realmente são… São do mesmo tamanho e os móveis são planejadas, então o armário é embutido, então o armário dos dois quartos é igual. — Então, na cabeça de Carlos estava tudo certo. Eles mudariam de quarto e ele sugeriu que, ao longo da semana, como a Lucélia ainda estava de férias, ela poderia o que? Levar toda a roupa dela, todas as coisas dela [risos] do quarto de casal para o quarto de hóspedes, assim desocupava o quarto por completo para dona Neide… Assim se ela quisesse pegar uma roupa, pegar uma coisa ela não precisava ficar entrando no quarto que seria ocupado por dona Neide. 

Só que, assim, Dona Neide tava só como uma malinha. — Não havia necessidade disso se a gente não soubesse depois de mais um detalhe, que mais para frente eu vou contar pra vocês. — A Lucélia ficou meio sem entender e falou pra ele: “não, Carlos, não precisa tanto, né? A gente pode só desocupar ali uma parte do armário pra Dona Neide. Uma coisa provisória”. E também tinha os cremes no banheiro… — Toda a vida da Lucélia estava naquele quarto. — Mas ela foi pega ali de surpresa e ela concordou. Então já começou nesse pé, né? 

Na primeira noite que dona Neide foi dormir lá, a Lucélia estava dormindo num colchão que ela detesta no quarto de hóspedes. Na manhã seguinte, a Lucélia ainda estava de férias e o Carlos trabalhando, o Carlos é gerente em um banco, então ele não parou de trabalhar em nenhum momento aí da quarentena, e agora muito menos, agora ele voltou num ritmo ainda mais insano. E pra ajudar [risos], a Lucélia estava de férias e, na semana seguinte, ela voltaria a trabalhar só que em home office. — Então ela iria passar o tempo todo, durante toda a semana com a dona Neide. –

E assim que ela acordou no dia seguinte, dona Neide já tinha levantado… — E por que ela acordou assim, despertou tão rápido? — Porque Dona Neide estava com o radinho dela já, que ela gosta de ouvir um radinho. [risos] E já estava ouvindo o radinho logo cedo, então Lucélia foi acordada pelo radinho ai de dona Neide antes mesmo do despertador do celular tocar. [risos] E ela levantou, Dona Neide tinha levantado todas as cadeiras, tava fazendo uma faxina… Tipo, seis horas da manhã. E aí não é aquela coisa: “olha, eu estou fazendo faxina e você pode passar, sei lá, vai fazer um café”, não… 

Ela já acordou falando pra Lucélia assim: “Bom, aproveita que você tá de férias, essa casa tá muito suja… Em duas a gente limpa rapidinho”. [risos] O pesadelo de Lucélia estava só começando. — Ela falou: “Bom, eu podia ter falado ali: “eu não vou limpar nada, acabei de acordar, não falei pra senhora mexer nas minhas coisas”, porque ela tirou coisa do lugar… Enfim. — Ela estava tão em choque que ela simplesmente pegou ali uma vassoura e começou a varrer. Sem nem escovar dentes, tomar café, despenteada mesmo pra ajudar ali… A Lucélia não estava acreditando no que estava acontecendo assim. Seis horas da manhã e ela faxinando a casa com a dona Neide. A faxina foi até meio dia, ela ficou seis horas fazendo tudo. 

No meio ali da faxina ela fez um café, tomou um café, nem conseguiu comer nada, só tomou um café puro… E quando deu meio dia que ela falou: “bom, agora, né? Pô, minhas férias, eu quero, sei lá, entrar na internet”. — Entrar no Twitter. [risos] — Dona Neide já tava escalando a Lucélia pra fazer o almoço, que em duas, né? O almoço seria feito mais rápido. [riso] E assim foi o dia, gente. O primeiro dia da dona Neide na casa foi um inferno e os outros não foram mais fáceis. Então, em uma semana, antes dela voltar… Antes da Lucélia voltar a trabalhar, ela já não tinha mais quarto, dona Neide já tinha ajudado a Lucélia a passar todas as coisas dela para o quarto de hóspedes… — Então o quarto do casal, virou o quarto da Dona Neide. — Inclusive um móvel que estava lá, tipo uma penteadeira que não tinha no quarto de hóspedes, elas duas arrastaram um móvel… — Quer dizer, vê, ela não é uma idozinha assim frágil, tá arrastando móvel. — 

Dona Neide é pau pra toda obra. E aí a Lucélia [risos] falou: “Bom, Déia, pelo menos o quarto ficou igual. Eu troquei o colchão porque eu tenho um probleminha do ciático e tal. Então eu troquei o colchão, Dona Neide não se importou”. Então ela ficou praticamente com o quarto dela só que no quarto de hóspedes e sem um banheiro privativo. — Usando o banheiro do corredor, que era muito chato. — Na semana seguinte, a Lucélia já estava emocionalmente assim, exausta, né? E tinha que voltar a trabalhar. E aí ela montou ali, colocou o laptop e as coisas na mesa de jantar, que era o melhor lugar para ela poder trabalhar. Com o correr dos dias, ela percebeu que ela precisaria de uma cadeira de escritório, e o escritório lá onde ela trabalha disponibilizou equipamentos, essas coisas e ela foi buscar… 

E quando ela voltou, que ela tinha ido buscar a cadeira, a dona Neide tinha conseguido arrumam cafofo [risos] fora da sala de jantar, ali no corredor… Entre os quartos ali tinham um espaço, um recuo… Até que a Lucélia falou que não ficou ruim, ficou meio que uma mesinha mais isolada que ela conseguia trabalhar ali, pôs a cadeira e tal. — Mas não foi uma coisa que ela que fez, né? Foi dona Neide que providenciou, que achou que fosse melhor. — E passou o primeiro mês, chegou o segundo mês… — E a gente vendo, né? Que provavelmente a gente vai ficar em quarentena um ano, sei lá quando… Até sair vacina. — Um belo dia, ela já com umas brigas com o Carlos e, detalhe, as brigas assim sussurrando, por que como você vai brigar com a dona Neide ali? 24 horas? Apartamento desses mais novos, as paredes mais finas davam para ouvir tudo. E, pra ajudar, como a parede também é muito fina e quarto é um do lado do outro, sexo acabou, né? 

Então a quarentena da Lucélia e do Carlos. — A gente espera que do Carlos, né? Porque não dá pra saber 100% porque sai para trabalhar. — Ela tá na seca também, igual a gente. [risos] Eu sei que a maioria que tá ouvindo aqui também tá aí sozinho. — E não tem como transar com a dona Neide na casa, não tem… Parece que a Dona Neide vai surgir assim. [risos] — Ai, coitada da Lucélia. — Agora que vem o baque… Chegou no segundo mês, o Carlos um dia trouxe uma comida maravilhosa, um vinho… Dona Neide foi dormir mais cedo… Ela falou: “ih, agora vai, né? — Agora vai. —

Aí Carlos deu a notícia pra ela, que a dona Neide tinha resolvido vender a casa dela pra ajudar o Carlos a quitar umas coisas… — Que o Carlos já já teve uma startup e deu certo, então… — Ele ficou com umas dívidas aí, como ele é de banco, ele fez as dívidas no nome de um tio… E aí precisava arcar, pagar essas contas e ele estava pagando, tinha parcelado as coisas todas no nome do tio… Mas com a venda da casa da dona Neide, além dela ficar sossegada de dinheiro, ela ia poder ajudar o Carlos a quitar. Só que aí a Dona Neide vendendo a casa, adivinha? [efeito sono de piano] — Dona Neide morando definitivo com Lucélia. —

A Lucélia surtou, passou até mal, gente… Mal assim fisicamente mesmo. Deu um teto preto nela. “Vou cair aqui”. Só que assim, o Carlos não estava perguntando pra ela o que ela achava, o Carlos comunicou… Comunicou que seria isso e que, assim… A Lucélia e o Carlos eles nunca pensaram em ter filhos. Eles combinaram isso, né? — Por isso que ela acha que deu tão certo, porque eles não queriam filhos. — E eles tinham uma vida de muita liberdade… E agora com a dona Neide ali, primeiro que muda tudo, né? É uma pandemia eterna. — Foi o que eu falei pra ela… [risos] — Dona Neide morando com você é a pandemia eterna, vai ser isso sempre. E é um apartamento de dois quartos, uma sala, uma salinha de jantar e uma cozinha, não tem para onde correr… — Não tem para onde correr. —

Não estava podendo ficar nas áreas comuns do edifício, senão a Lucélia falou que ia trabalhar lá no saguão, achar uma tomada, sentar e ficar lá. [risos] Então isso é pra sempre… E aí ela ficou brava com o Carlos, porque o Carlos não comunicou, não falou nada pra ela… E, poxa vida, eles são casados. Eles são um casal… Mas em relação a mãe o Carlos sempre foi assim, ele sempre fez as coisas do jeito dele. Só que essa é uma decisão que vai impactar… Já tá impactando. Em três meses ela já está cogitando o divórcio. Ela ama o Carlos — muito —, mas não tem como. A família dela mora em outro estado, então não dá também pra ela furar a quarentena e ir lá para casa da mãe dela e arriscar, ficar um tempo… Não tem para onde ir, tem que ficar lá. 

E, pra ajudar, a empresa que a Lucélia trabalha já comunicou aos funcionários… Que ela tem uma função que dá para fazer em casa, e ela vai ficar de home office pra sempre. [risos] Então nem pra a empresa ela vai voltar mais… Porque ela queria voltar… Pelo menos o horário comercial ela ficaria longe da dona Neide. Então o casamento dela… — Foi que eu disse para ela… — O casamento dela agora é com a dona Neide, né? Porque o Carlos sai cedo, oito e pouco ele sai e volta de sete, às vezes nove da noite. — Porque banco tem essas coisas também, né? — Ele fica o dia inteiro fora e aí quando volta ele está sempre fazendo curso, pós graduação… — Quer dizer, ela que vai ficar o tempo todo com a dona Neide. —

Então ela gostaria que você ajudasse aí com conselhos como que ela faz pra manter o casamento dela. — Eu… Vocês me conhecem, né? — Eu não acho que o Carlos esteja errado de querer amparar a mãe dele, mas ele está fazendo tudo sem comunicar a Lucélia. Tudo bem, é a mãe dele, não vai jogar na rua, lógico, né? Mas poxa, eles são um casal, né? Não sei, de repente, alugar um apartamentinho, já que ela vendeu a casa dela. Não sei, né? Podia nem vender, aluga a casa dela… Foi que eu falei para Lucélia: “fala para dona Neide alugar casa dele e pegar um apartamentinho no mesmo prédio. — No mesmo prédio já ajuda. 

Ele está pertinho, ele pode ficar lá como a mãezinha dele até dormir lá… Dia ou outro… Não é? Tá ali… Se desse no mesmo andar… [risos] Mas estando no mesmo prédio… Ela falou que tem apartamento lá pra alugar. Então o conselho que eu dei pra ela foi esse, apesar de que eu no lugar dela eu já tinha vazado. Por muito menos eu vou embora. — Mas essa sou eu, né? — Então pra conciliar aí um casamento de seis anos, eu nunca me casei, então eu não sei o peso da papelada, da coisa toda… Papelada que eu digo é emocional, porque hoje a parte burocrática a gente resolve rapidinho. Então essa papelada emocional aí, né? É complicado. 

Então eu acho que ela tem que sugerir isso, falar “não vende a casa”, até mesmo porque nem vendeu ainda, dá tempo… “Ela aluga lá, aí sua mãe aluga aqui com o dinheiro do aluguel de lá, ela aluga aqui no prédio e a gente fica no mesmo prédio, mas não no mesmo apartamento”. Ela tem que ser direta com ele e falar que não está falando, que ela está falando assim, ela está dando indiretas, tá ficando emborrachada e aí fica ruim pra todo mundo, né? Ela falou que a Dona Neide se faz de sonsa. — Tá nem aí… — Nem aí… Questão do radinho que ela tinha falado que era uma coisa que incomodava, né? Dona Neide não parou também com o radinho. Então aí um dia ela foi lá e derrubou o radinho. [risos]. 

Então aí fica nesse lance, né? Ai, não sei, acho horrível, um clima péssimo. Então meu conselho é esse pra Lucélia, fala pro Carlos que não dá, que desse jeito vai rolar divórcio e que é melhor então alugar um apartamento, pôr a casa dela para alugar e ele que vá pagando a dívida dele com o tio dele do jeito que ele já tá pagando… Já está pagando, né? Quem mandou abrir startup? Só que ele faz as coisas do jeito dele, né? Não comunica Lucélia. Isso também é péssimo, né? Isso pra mim não é casamento. Enfim, o que vocês acham? 

[trilha] 

Assinante 1: Oi, aqui quem fala é Stefany direto de Amsterdã. Lucélia, eu acho que você tem que conversar com o Carlos e dizer pra ele que não rola e que não dá. Quem casa quer casa, a Dona Neide está se enfiando aí nesse meio, não sei se por ideia dela ou dele, mas não vai dar certo. Então eu acho que você tem que conversar com ele, dizer que não funciona… Mas eu acho que você tem que tentar propor uma nova solução para tentar resolver a situação de vocês… Algum aluguel ou até mesmo manter a casa dela e alugar um outro lugar. Enfim, te desejo boa sorte, espero que dê tudo certo e um beijo 

Assinante 2: Oi, gente, oi, Déia. Aqui quem fala é Milene, eu falo do Rio de Janeiro. Lucélia, eu vou te passam um ensinamento milenar chinês que diz: morar com sogra não dá certo, meu bem. Não dá certo. Corre, corre que é cilada, corre muito. Gente, como é que é isso de estar num casamento com uma pessoa que decide as coisas e não te comunica, não conversa, não negocia… Não pensa se vai ser bom para você, pro casal… Não está tendo sexo, não está tendo comunicação… O que tá tendo nesse casamento? Tá tendo sogra inconveniente, né? Pelo amor de Deus, essa história me deu um rebuliço aqui por dentro. Deus me livre morar com sogra, acho você tem que ser bem clara com ele, falar: “Carlos, nós vamos sentar agora e conversar sobre a sua mãe e o que fazer em relação a esse apartamento”. Seja firme mulher, bota esse pé aí nesse negócio aí, não deixa ela vir, não. 

Déia Freitas: Então um beijo e até daqui a pouco. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.