Skip to main content

título: enfermeira
data de publicação: 27/09/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #enfermeira
personagens: betina

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão, e hoje uma história que eu diria sórdida, uma história difícil, uma história de mãe cansada. Bom, hoje eu vou contar para vocês a história da Betina e do marido dela. E essa história é pré pandemia, e ela tem o seu cenário começando em 2018. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

Betina casada há alguns anos já, engravidou em 2018 e teve um bebezinho. Só que assim, foi uma gravidez complicada, e aí ela teve que fazer uma cesárea, ela ficou… Ela teve problema nos pontos da cesárea, ela ficou debilitada, ela teve uma inflamação nos seios, né? — Nos bicos do peito. — E várias coisas foram somando e ela estava, realmente assim, não se estava aguentando, estava ali à beira mesmo da depressão pós parto. Betina numa condição financeira muito boa, tanto ela quanto o marido… E já quando ela estava no final da gravidez, ela teve que passar os últimos meses ali, os últimos três meses em repouso. 

E aí no hospital que ela fazia acompanhamento, ela conheceu uma enfermeira… E essa enfermeira ela estava acompanhando uma outra moça grávida e já estava terminando ali o tempo dela, a moça já tinha acabado de parir e ela era esse tipo de enfermeira, que acompanha gestantes e depois acompanha — Né? Se você quiser… — As primeiras fases ali do bebê. E ela é uma enfermeira mesmo. Então é um serviço caro, que a Betina não podia pagar e ela e o marido resolveram… Conversaram e resolveram contratar essa enfermeira. Então primeiro essa enfermeira ajudou ali no final da gravidez da Betina e depois que o bebezinho nasceu — E a Betina teve várias complicações — foi uma mão na roda ter essa enfermeira para ajudar em tudo. — Aqui eu vou precisar falar um pouco do apartamento da Betina. —

A Betina estava tomando várias medicações, além ali da complicação que teve na cesárea, ela precisava tomar os remédios em relação à depressão pós parto… E aí configurou-se a casa da seguinte forma. O marido da Betina continuou dormindo no quarto do casal, a Betina foi dormir no quarto do bebezinho, então, no quarto do bebezinho… — Ele foi feito da seguinte forma… — Com um berço lá, um quarto todo decorado e uma cama de solteiro. Um quarto grande, espaçoso, nã nã nã, suíte… Então, a Betina estava bem instalada no quarto do bebezinho como o bebezinho. E num dos quartos de hóspedes — Que na casa tinha dois — estava a enfermeira. Então essa enfermeira ela não dormia todas as noites lá, mas algumas noites precisava, porque a Betina não conseguia levantar e o bebezinho chorava e o marido — Praticamente um zero à esquerda, né? — não ajudava, quer dizer, não fazia a parte dele, mas pagava qualquer pessoa que fosse necessário para ajudar que tudo funcionasse bem. 

E aí o tempo foi passando, a Betina foi melhorando muito devagar… — Uma coisa que ela frisou muito para mim, assim, né? Que por mais que você tenha dinheiro, certas coisas não vão funcionar do mesmo jeito, né? Então… — Ela se sentia muito mal na condição física que ela estava, não conseguia andar, ela precisava de ajuda para tomar banho. — Ela estava muito vulnerável, né? — E, além disso, ela não tinha mais a atenção do marido dela que, assim, ficava meio constrangido — Acho que é a palavra. — perto dela doente. E aí o bebezinho chorava muito porque a Betina não teve leite, ela teve essa inflamação nos seios, tentou e rachou muito, ela quase perdeu um bico do seio… E aí o médico chegou uma hora e falou: “Olha, você não precisa passar por isso, o seu filho vai ser alimentado, existem outras maneiras dele ser alimentado, ele está passando fome, porque ele não consegue mamar”. 

E aí ela teve uma crise de choro, porque enfim, né? Ela sentiu ali que ela não estava conseguindo fazer o mínimo pelo filho dela. E aí teve que aceitar que realmente ele teria que tomar mamadeira, tomar fórmula… — E tudo bem, gente, sabe? Se é preciso, é preciso. Nem tudo a gente consegue fazer e a gente precisa fazer. — Então ela teve que aprender isso também, que você pode ter o dinheiro que for, tem certas coisas que não vão rolar. E aí baque atrás de que baque, frustração atrás de frustração e ela mal saía do quarto, porque ela realmente não tinha ânimo, então ela ficava ali com o bebezinho, ela tinha duas funcionárias em casa… — Então, a gente percebe que a pessoa que tem dinheiro, a pessoa que gosta de ter funcionário, enfim… Outro padrão aí. — 

Mas ela não saía do quarto… O mundo dela virou ali aquele quarto com o bebê e tentando melhorar. E aí as amigas iam visitar, mas aí ela tinha dia que ela não queria nem pentear o cabelo… E foi levando. Quando o bebê estava ali com uns seis meses mais ou menos, ela começou a melhorar, mas assim, bem devagar. Então às vezes ela sentia vontade de ir até um outro cômodo, ler uma revista ou ficar ali com o bebezinho no sol na varanda do apartamento. Pouca coisa assim, sabe? Mas já era um progresso. E numa dessas vezes… — Antes ela gostava muito de tomar um leite à noite, sabe? Quando você toma o leite antes de dormir? — E ela sentiu vontade de tomar esse leite… 

E fazia muito tempo que ela não fazia isso, porque assim, como ela não conseguia amamentar o filho dela, — Olha como é a cabeça da gente, né? — Ela se sentia culpada de tomar leite e ela parou de tomar leite, porque ela se sentia culpada… E ela sentiu uma vontade de tomar um copinho de leite morno antes de dormir e ela ficou feliz com isso assim, né? Que era um avanço. E aí o bebezinho estava dormindo, tranquilo, casa tranquila… Era tipo, sei lá, uma hora da manhã e ela saiu do quarto do bebê, que tinha passado a ser o quarto dela, andou pelo corredor, foi lá tomou o leite e, nossa, sentiu, sabe? Aquela delícia, desceu o leite do jeito que ela queria assim e tal. E voltando, o quarto do casal ficava mais ao fundo e ela resolveu ir até o quarto do casal olhar o marido dela. — Sabe quando te dá aquela ternura? Tipo, assim, você está até meio grata que as coisas estão voltando a se encaminhar seis meses depois de inferno? —

Quando ela abriu a porta do quarto, ela viu que o marido dela estava deitado na cama com a enfermeira. A enfermeira estava de camisola… Não é assim que eles estavam transando, eles estavam dormindo, como se fosse um casal… Como se eles fossem o casal da casa. — E a Betina estava saindo de um turbilhão de coisas horríveis. — Na hora ela achou que ela estava sonhando… — Sonhando. — Ela abriu a porta, ela viu, ela fechou a porta, ela voltou para o quarto e ela deitou. — Totalmente em negação. — E duvidando realmente da sanidade dela. Ela falou: “Não, eu estou enlouquecendo”, né? “Eu estou sonhando, é um pesadelo” e dormiu. 

No dia seguinte, quando ela acordou… Que a enfermeira fazia alguns turnos só, né? Na casa. Quando ela acordou, a enfermeira já tinha ido, porque quando ela ficava de noite, de manhã ela ia embora. E a Betina chamou uma das funcionárias — E nenhuma das duas dormia na casa, mas uma chegava às sete e a outra chegava às oito. — Ela chamou a que chegou às sete e falou: “Olha, eu não sei se eu estou louca, se eu não estou, eu preciso que você me fale o que você sabe, se isso foi um sonho para mim, se não foi… Eu entrei ontem no quarto e eu vi a fulana na cama com meu marido. Eu sonhei isso? Você sabe de alguma coisa?” 

E aí na hora a empregada já começou a tremer, mas falou: “olha, agora que você está voltando, está ficando melhor, aí está ficando bem… Eu não sei se é bom a gente ter essa conversa”, e a Betina falou: “Não, agora é a hora, eu estou lúcida, eu estou sem dor, eu estou tranquila, para saber…”, e aí a empregada, conforme estava contando, chegou a outro empregado que entrava às oito… E as duas começaram. Aí contaram que desde que Betina chegou, o primeiro dia com o bebê, a enfermeira já dormia no quarto com o marido da Betina, que não teve um dia que ela dormiu no quarto de hóspedes e que ela nem desfazia a cama para disfarçar, sabe? Do quarto de hóspedes. Ela dormiu todas as noites com o marido da Betina e, na casa, ela já dava ordem para as duas funcionárias, como se ela fosse a dona da casa. 

E aí a Betina estava tão anestesiada, que na hora ela falou: “ai, tá bom, gente, obrigada e tal” e voltou a dormir. Dormiu mais um pouco pra botar a cabeça no lugar… E aí ela falou: “eu não vou nem falar com ele, eu quero saber como é que eu faço para me separar”. E aí gente rica, sei lá, fazem as coisas diferentes da gente, né? Betina não fez nada, simplesmente marcou com o advogado uma hora que ela sabia que a enfermeira não ia estar lá e nem o marido, o cara veio, falou pra ela os termos, o que podia acontecer, o que não podia acontecer… Só que o advogado dela foi esperto, porque a Betina ela estava saindo de um período de muita instabilidade e o que o advogado falou para ela? Falou: “olha, se você meter agora uma de “quero o divórcio” é capaz do seu marido alegar que você não tem condição de cuidar do seu bebê, então a gente vai ter que ter alguma coisa para barganhar isso aí”, e aí foi que ela começou a juntar provas… 

Ela passou, gente, — O sangue frio da Betina. — mais três meses juntando prova, inclusive, instalou uma câmera no quarto do casal. E aí como o quarto era dela também, enfim… O advogado falou que eram provas que eles nem iam usar, mas ele queria ter para falar para o marido dela que eles tinham. E aí ela juntou um monte de coisa, tudo o que o advogado instruía ela a fazer, ela fez. E depois de três meses ela saiu de casa com o bebê, mandou entregar a documentação toda lá no escritório do marido, na empresa do marido e ela saiu da casa, mas não foi assim para ela sair fora, ela saiu da casa porque ela chamou umas pessoas lá, sei lá, contratou para tirar as coisas dele, tirou tudo e trocou a fechadura, proibiu ele de entrar no prédio e assim foi… — E dito e feito. — 

Quando eles foram fazer a primeira reunião ali, o advogado do marido já veio com esse papo de que ela não tinha condição de cuidar da criança, e aí o advogado da Betina já sacou o dossiê e falou: “Bom, a gente tem que ver por qual caminho a gente vai, né? Porque eu posso alegar aí que a enfermeira e ele estavam fazendo aí fazendo umas coisas para que a Betina ficasse desse jeito, então pra que caminho a gente vai?”, e aí o advogado recuou lá, conversou com agora que já era ex, né? Ex marido da Betina e eles ficaram com a guarda compartilhada normal assim, porque ele queria tirar o bebezinho dela, e esse advogado antecipou isso, né? Porque ela contou tudo o que tinha acontecido… 

Mas é isso, ela contratou essa enfermeira antes dela ter o bebê, então provavelmente eles devem ter começado o envolvimento nessa época… — Mas nessa época ela dormia ainda no quarto com o marido. Mesmo fazendo repouso ela ficava no quarto com o marido… — Mas aí provavelmente então ele ia no quarto de hóspedes, né? Vai saber. E depois que ela passou a ficar o tempo todo dentro do quarto do bebê, a casa virou como se fosse a casa da enfermeira. — Com o marido da Betina. — E tudo isso assim, gente, embaixo dos olhos dela e ela não percebia, porque, obviamente, ela estava doente e tinha outras questões para tratar. E essa é a história que a Betina trouxe para a gente e que eu fiquei de cabelo em pé. Eu omiti muitos detalhes, foi bem pior do que isso que eu contei para vocês, mas é nessa linha… Nessa linha aí. 

[trilha]

Assinante 1: Oi, aqui é a Helena, eu falo de Québec, esse áudio é só para parabenizar a Betina, do sangue frio que ela teve… Porque eu não sei se eu teria esse sangue frio todo não para reunir tudo isso… E, ó, que eu sou do escorpião. [risos] Mas ela já dá para trabalhar no FBI, né? Na ABIN numa próxima gestão, porque nessa, né? Não tem nada que preste, enfim… Só para parabenizar e para servir de exemplo para, né? Se por ventura algum de nós se encontrar numa situação semelhante fazer igual ela fez, que a bicha é dura na queda, viu? [risos] Um beijo. 

Assinante 2: Oi, Betina, Oi, Não Inviabilizers, aqui é o Ricardo de São Paulo, e eu queria te falar, Betina, que você foi maravilhosa. Você podia até ter usado o seu réu primário para matar os dois e usar a desculpa de que você já estava mal, tomando remédio, de insanidade temporária. Eu teria feito, porque, olha… É um negócio absurdo o que fizeram com você. Mas parabéns pela sua atitude, parabéns pela sua frieza e, por apesar de tudo, pensar no seu bebê e fazer o melhor para sua bebê. Então muita paz e que você encontra na sua vida um amor verdadeiro e não esse traste que você tinha de marido. Um super beijo. 

Déia Freitas: Então é isso, gente, um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.