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título: tampão
data de publicação: 06/12/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #tampao
personagens: fernanda e mateus

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E Picolé de Limão de mãe cansada. — Hoje eu vou contar para vocês a história da Fernanda. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

A Fernanda ela está casada com o Mateus há dois anos e eles têm um bebezinho de seis meses. Até antes do bebezinho, vida normal, casamento felizinho e nã nã nã. Veio o bebezinho e o Matheus, do nada, que sempre foi um cara que teve sono leve, se descobriu um cara com sono muito pesado. Então ele não acordava, eles tinham um acordo de quem ia acordar quando o bebê chorarasse para dar uma revesada. Eles tiveram o bebê aí na pandemia, então ambos estavam em casa. — Então isso facilita, né? — Só que o Matheus não acordava de jeito nenhum, ele até roncava. — Bem, assim… —

E aí a Fernanda, óbvio, que ia lá, acordava e resolvia as coisinhas do bebê. Ela resolveu comprar a babá eletrônica, ela falou: “bom, eu ponho ali bem do lado da orelha dele e aí ele acorda e vai”. Só que nem com a babá eletrônica o Matheus não acordava… E estava muito esquisito, porque ele dormia a noite toda, muito bem, roncando. — Enquanto ela e o bebezinho, às vezes ela acendia a luz, enfim… — Há mais ou menos um mês ela descobriu que o Matheus está usando um protetor auricular… — Tipo um tampão nos ouvidos. — Que é bem pequeno, laranja… — E, assim, ela super cansada, não tinha reparado. — Ele dorme de tampão nos ouvidos para não ouvir nada… — E ele não houve nada. —

Ela falou que é tipo desses, sei lá, que você usa em obra. E aí ela deu um show, eles tiveram uma puta briga e ele falou: “Olha, eu preciso dormir”, [efeito sonoro de voz grossa] “Não dá pra mim, primeira semana foi um inferno. Um amigo meu me indicou o protetor e eu acho que não estou fazendo nada errado”. E aí, assim, isso teve um significado tão grande pra Fernanda, ela ficou tão mal, que ela teve que retomar a terapia online, porque, mano… Ele tava — Ele tava não, ele está, porque ele continua. — usando o tampão. Só que agora que ela sabe que ele não ouve, ela começa a chacoalhar ele. Ela começou a dar uns tapas nele na cama. — E aí eu acho que também vai dar problema isso, né? Essa coisa de começar a, sei lá, brigar de mão assim, sabe? — Porque ela quer que ele acorde e ele ajude. 

Durante o dia ela acaba fazendo tudo também, porque o trabalho dele é mais puxado que o dela ali na frente do computador, então ele não faz praticamente nada. — Pelo bebezinho. — E ela está em choque, porque assim, ele acha que ele está certo… Não é que ele, ah, escondeu o protetor, ele escondeu… — Porque, né? Senão ele contava. Quer dizer, ele sabe que isso não está legal. — Mas ele acha que ele não está errado, gente… Ele acha que ele não está errado. Foi um bebê planejado, foi um bebê que todo mundo queria, que ele também estava super empolgado… Mas a partir do momento que nasceu, que ele viu que ele tinha que fazer as coisas, ele não quer fazer. 

Se ela fala para ele esquentar a mamadeira, ele já vai reclamando. Tudo ele reclama. — Aí eu perguntei pra Fernanda, eu falei: “mas ele gosta do bebê, ele tem carinho? Porque, né? Do jeito que fala parece que não tem”, ela falou: “ele pega, ele dá beijo, ele brinca, mas é coisa de um minuto… Depois ele já põe no meu colo”. — E aí agora ela acha que o casamento todo dela está por um fio e, assim, só ela sabe isso, né? Porque não tem como a gente dizer tudo o que ela está passando. Ele chegou a falar para ela que… — Como é que é? — Que o instinto é materno… Que é ela que tem que cuidar, que ele está ali para prover… — Gente, eles são novos… Olha a conversa do cara. — Olha a conversa dele. 

E aí como ela está ressentida com ele, ela não quer transar, né? — Óbvio. — E aí agora ele já está cobrando ela, tipo, “ah, nossa, então quer dizer, você só tem disposição para levantar da cama pra ir cuidar de criança”. — Ele já está chamando o próprio filho de criança… Fala: “ah, para cuidar de criança você tem disposição, agora para ficar comigo você não tem”. — Então, além de tudo, de ele não fazer nada, ele quer disputar aí o afeto, o tempo que ela tem do bebezinho. — Gente, de onde está saindo esses caras? Tipo, em pleno 2021? Porque é demais pra minha cabeça isso, tipo, não dá para falar que o cara não sabe nada, que não vê internet, que não vê as coisas, né? É sonso? —

Ela deu fim no protetor auricular dele, só que ele tem vários. Tipo, tem na bolsa, na gaveta… Sei lá, ele comprou um pacote, sabe? E ele não deixa de usar, ele falou: “Eu não vou tirar o protetor, eu vou dormir de protetor porque eu não aguento”. Então ele acha que ele está certo real assim. E aí a mãe da Fernanda vendo todo o estresse, sugeriu… — Olha a sugestão. — “Vocês não querem deixar o bebezinho aqui uma semana comigo para vocês ficarem tranquilos?” A Fernanda falou: “Não, eu não vou deixar meu filho… Para ficar tranquila com ele e meu filho aí? Porque ele não quer fazer o mínimo? Ele não quer esquentar a mamadeira… Ele não quer embalar o próprio filho, chacoalhar pra cá e pra lá pra criança dormir, ele não quer”… 

Então a Fernanda está assim, — Além de toda decepção, né? — muitos conflitos, porque, na real, ela até não queria encerrar o casamento, mas assim… — Eu vou falar o que ela me falou… Que ela só não encerra o casamento também porque ela acha que vai ser um alívio maior para ele, e ela não quer dar esse alívio pra ele. — Porque tudo, tudo indica que ele também não quer mais… E tudo por causa do bebê. Porque, ah, sei lá, ele achou que o instinto paterno viria com o tempo e meio que ainda não veio… — Sabe? — De onde sai esses caras que eram legais antes do filho e ficam… Vira isso aí depois do filho? 

Aí a Fernanda falou: “Será que sou eu?”. Eu não acho que é a Fernanda não, acho que ela tem zero culpa nisso, zero. E agora ela falou que, além de dormir com o protetor, quando eles estão, ai, vendo série, ele fica de fone. — Ele fica de fone vendo série… — Que ele tem esses fones que são sem fios, para não escutar o bebê nem durante a série… Não é que o bebê está chorando, o bebê está, sei lá, fazendo barulhinho de bebê… — Não sei como chama barulhinho de bebê. — Bebezinho fazendo barulhinho de bebezinho. E nem isso ele quer escutar…” Ah, mas é o jeito do cara”, ô, gente… — Não posso nem dizer aqui o que eu queria dizer. —

O cara nem ver série com a esposa e o bebê ele quer ver seu fone, que tudo atrapalha. — O bonito, o reizinho. — E tudo começou com essa questão do protetor auricular. — Que, detalhe: foi uma dica de um outro cara que tem filho. — Então, quer dizer, tem outro cara por aí que dorme com um protetor auricular, com tampão nas orelhas, para não ouvir o próprio filho chorar. — Isso pra mim assim é surreal. — E aí o povo fica assim pra Fernanda: “Ah, mas você tem que ter um pouco de paciência”. — Ô, gente… Paciência? — Será que só eu e a Fernanda, só a gente que tá achando tão absurdo assim? — Ela tem que ter paciência com ele? “Ah, com o tempo ele vai pegar a manha”. Ô, gente… Meio ano de bebê e não pegou a manhã? — “Ah, mas ele dá tudo para o bebê”, isso aí ele pode dar na pensão. Eu não sei, eu não posso falar muito porque eu não tenho filho e, pra mim, já não ia dar, entendeu? Esse cara não dá. Então, por favor, sejam gentis com a Fernanda e deem uma força para ela, porque eu não sei o que dizer. Não sei o que dizer real, assim. 

[trilha]

Assinante 1: Oi, eu sou Isabella do Rio de Janeiro. Fernanda, eu tenho um bebê de 7 meses, então eu sei como é muito difícil e muito trabalhoso ter um bebê pequeno, eu acho que, infelizmente, você já está separada, você já está criando seu filho sozinha, você já não tem mais uma relação com o seu marido… Então, acho que você precisa tomar coragem para efetivar essa separação. Vai ser muito difícil, longe de mim dizer que vai ser mais fácil, né? Você concretizando essa separação, vai ser muito difícil, mas você deve a você a sua possibilidade de felicidade. Você merece ser feliz, o seu filho merece que você seja feliz e que você esteja longe dessa relação. Eu tenho certeza que ele vai entender no futuro porque você se separou do pai dele. Então, coragem, força… Te desejo tudo de melhor, mas é a hora de largar a alça desse caixão. 

Assinante 2: Oi, oi, aqui é a Mariana de Maceió e minha filha, bonitinha, Maya de seis meses. A gente veio comentar aqui a história do tampão porque é o seguinte: o pai da minha filha, assim que ela nasceu também ele passou a dormir no outro quarto. Então, eu entendo perfeitamente a situação, né, filha? Em que nossa colega está. Eu também entendo a questão de você achar que vai ser um alívio para ele se você separar e você não quer dar esse alivio para ele. Mas você pode ter certeza, vou te garantir, que o alivio maior é teu, colega. Então, larga um traste desse que não vale a pena, não. Juro para você, eu e minha duplinhas estamos felicíssimas só nós duas, viu? Um cheiro. Melhoras. 

Déia Freitas: Então um beijo e até breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.