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título: serenata
data de publicação: 17/12/2021
quadro: picolé de limão
hashtag: #serenata
personagens: elaine e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje a história de mãe cansada. — Eu vou contar para vocês a história da Elaine. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

A Elaine conheceu um cara aí em 2018, e eles começaram a sair, foi dando tudo certo… E aí o cara um dia fez uma serenata [risos] — Olha… — pra Elaine. E uma serenata surpresa no trabalho dela e pediu ela em namoro. — Já odeio. — E aí a Elaine ficou toda felizinha, aceitou e nã nã nã, começaram a namorar sério e com três meses que eles estavam namorando sério… — Isso já era finalzinho de 2018. — Ele convidou a Elaine para morar na casa dele. Então lá foi Elaine, [efeito sonoro de zíper de mala fechando] pegou as coisinhas dela e foi morar com esse cara. Quando ela estava lá já há quatro meses morando com essa criatura, ela engravidou. E aí ela resolveu fazer uma surpresa… — Porque o cara é o cara da surpresa, né? Ele fez uma serenata no trabalho dela. Então ela resolveu fazer uma surpresa para ele. — 

Então, o que ela fez? Ela comprou um macacãozinho e colocou o macacãozinho, tipo, dentro de uma panela. E a hora que ela foi servir o jantar, que ela colocou as coisas na mesa lá e tal, botou a panela, ele abriu e tinha um macacão. E aí ele ficou meio sem entender. [efeito sonoro de Windows travando] — Não sei como, né? Porque um macacãozinho de bebê numa panela… Ou significa que ela está grávida ou que ela cozinhou um bebê. [risos] Ai, desculpa, gente… Foi horrível isso, mas é só para dar uma aliviada no que vem por aí. — Então ele se fez de sonso. — Porque para mim isso é se fazer de sonso. — E falou: “Ah, mas eu não entendi o que significa isso”, — Já num tonzinho… — E aí já quebrou todo o clima, né? — Além de tudo ainda é burro. — 

E aí ela falou: “Estou grávida”, né? Aí ele falou: “Você está grávida?” — E ela: “Ai, tô grávida”. Totalmente sem clima, né? De tudo o que ela tinha planejado e tal. Aí ele falou: “Ah, legal”… — Legal. — E aí ele estava em pé, que ele abriu a panela ali, que ele estava com o prato na mão… Ele fechou a panela com o macacão, nem pegou o macacão de dentro da panela, ele pegou a comida dele, sentou e comeu em silêncio. — Então, né? A gente já vê aí que ele meio que não gostou. — E aí a Elaine ficou mal… Ficou muito mal, ficou chateada e tal. E aí esse cara ele passou a, tipo… — Como se ela não tivesse grávida assim… — Como se não fosse um acontecimento assim, ele não comentava, ele não perguntava. 

Ela passou muito mal assim de enjoo, aí ele só falava para ela assim, tipo assim: “Ah, o banheiro está com cheiro de azedo”. — Para ela, tipo, limpar o banheiro, sabe? — Então, a Elaine teve uma gravidez de muita solidão. — Porque tem um detalhe que… Eu até… Fico tão nervosa que eu acabei esquecendo de falar no começo. — Quando ele convidou a Helena para morar com ele, foi porque ele morava em outro estado, então ela foi morar com ele, deixou amigos, deixou a família… Então ela meio que passou a gravidez sozinha, porque ele realmente não ajudava em nada. E, tem um detalhe: a partir do momento que ela falou que estava grávida, ele não tocou mais nela. — Não encostava nela de jeito nenhum. — 

A partir dali dos sete meses, ela estava já assim com muito calor, sabe? Já estava com a barriga bem grande e tal, e aí… — Uma coisa que acontece, que é normal… — A barriga dela começou a dar umas estrias assim na parte de baixo. — E nos braços também. — Esta criatura do pântano, surtou. [efeito sonoro de voz grossa] “Nossa, o que é isso? Que coisa horrorosa. Meu Deus, parece um mapa, que isso, que aquilo…” Começou assim a falar das estrias como, nossa, se fosse, sei lá, alguém morrendo, sabe? E a Elaine falou que estava passando creme e tal… — Não tinha nem que falar nada, né? Tinha que dar uma cadeirada na cara dele, mas enfim… — Ela explicou que ela estava passando lá um produto natural, alguma coisa assim… — Que também não podia usar muita coisa por causa do bebê. — 

E toda vez ele reclamava das estrias… E aí um dia eles foram no mercado e estava muito calor… E ela foi com uma blusa que aparecia um pedaço da barriga. — Mas e daí, né? — Nossa, ele fez um escândalo, porque não ia sair com ela na rua mostrando aquele mapa na barriga, que isso, que aquilo… [suspiro] E aí ela teve que trocar de roupa para ir no mercado e mesmo assim lá no mercado ele sumiu. Ela fez a compra sozinha e ele só apareceu a hora que ela já estava no caixa, passando as compras. — E era assim a rotina. — E aí foi chegando a hora de nascer o bebezinho e ela já apreensiva, né? Que não tinha ninguém ali por perto, porque assim, ela dava aula de inglês online já, antes de pandemia e tudo ela já dava aula online, mas os alunos dela eram tudo de longe, né? E tinha uma aluna que morava na mesma cidade que ela, mas assim, em outro bairro mais distante. 

E aí um dia ela contou, né? Que ela estava mal, chegou com o olho muito vermelho ali a hora que ligou a câmera e ela acabou contando para essa aluna. — E, gente, uma menina de 15 anos… E ela contou meio por cima, que ela estava sozinha, que o marido não ajudava… Que ela estava com medo, né? De passar mal na hora de ir para o hospital e nã nã nã. — E aí essa menina contou para a mãe, e a mãe ligou para Elaine e ofereceu ajuda, falou: “Olha, a gente mora em outro bairro, mas o meu marido tem carro… Assim que você começar a sentir as dores, você me liga que a gente vai te buscar”.. — Então foi um anjo que apareceu e tal pra ajudar. — E assim foi… Mas antes de ligar pra essa mãe de aluna, ela ligou para a criatura. — E sabe o que a criatura respondeu? Era, tipo, duas horas da tarde assim… — Que ele estava em reunião, que ele não podia sair da reunião. 

E aí ela ligou para essa mãe da aluna toda sem jeito, né? E a mulher largou as coisas lá. — Ela não sabe também se o marido da mulher trabalhava, se estava aposentado… — Mas os dois levaram ela no hospital. — E, ai, gente, eu fico tão… — [efeito sonoro de bebê chorando ao fundo] E a Elaine teve o bebezinho sozinha. — Porque eles tinham outras coisas para fazer, né? Só levaram também. — E Elaine teve o bebezinho sozinha e esse cara aí só apareceu no dia seguinte. Ela deixou mil mensagens, avisou, a família dela já estava toda preocupada também, mas não tinha como vir assim de última hora, né? — Pra vir assim em cima da hora é complicado, né? — E aí no dia seguinte, que ela já ia no final do dia ter alta, que ela estava ótima, né? — Teve parto normal, tudo certinho. — O bebezinho também estava ótimo, ele apareceu lá com uma cara péssima, levou eles para casa e aí vocês não vão acreditar. 

Quando ela chegou em casa, que ela ficou dois dias e meio no hospital, né? E esse cara só apareceu no dia dela sair, ele tinha arrumado as coisas dela e as coisas do bebê. — Ela não tinha berço ainda porque ele tinha falado que ia comprar o berço e não comprou. — E ele falou que era melhor ela voltar para a casa da mãe, que ele ia… — Pegou o papel lá que era para registrar, que ele ia registrar tudo certinho. — e que era melhor ela ir pra casa da mãe dela. Essa foi a recepção que a Elaine teve… E aí ela com o bebezinho que nem dava para viajar, pegar ônibus… Esse cara pegou o carro e queria levar ela de carro. 

Ela falou: “Não tenho condição de ir”, aí eles tiveram uma briga e ela falou: “Eu não vou sair daqui desse jeito”. E aí ela acabou ficando — Na casa desse cara. — até o bebezinho completar ali três meses. E os amigos se organizaram e tal para vim buscar ela de carro. — Levar ela e bebezinho, né? — E aí ela voltou para casa da mãe… Esse traste aí umas três vezes ele pediu a revisão de pensão, ele paga… — Eu não vou falar o valor correto, mas assim, menos de 400 reais agora para ela. — E aí é aquela briga, porque não é esse valor combinado, enfim… Ele depois dos três meses que ela ficou lá, ele nunca mais viu o próprio filho, não pergunta, não quer saber… 

E ela ficou sabendo que, quando ela estava no hospital — Tendo o bebezinho. — ele fez uma serenata para outra mulher lá que ele estava começando a sair. E ele postou no Facebook. Todo mundo viu e começou a perguntar dela, e ela estava lá, em trabalho de parto no hospital, sozinha, enquanto ele estava fazendo serenata por aí. Eu espero que… — Olha, eu não posso falar o que eu gostaria, mas vocês podem imaginar, né? — Eu espero que ele tenha tudo o que ele merece. Só. 

[trilha] 

Assinante 1: Oi, Elaine, meu nome é Jéssica, eu falo de Fortaleza. Primeiro, eu quero vir te dizer que eu sinto muito que você tenha passado por isso. Você não merece, não é justo e esse cara é só mais um entre tantos pais, entre muitas aspas, que abortam seus filhos e está tudo bem. Esse aborto é legalizado no país, né? Onde o pai simplesmente some, não dá nenhuma assistência, pagam uma pensão irrisória e acha que está tudo bem. Eu acredito que todo mundo conhece pelo menos um cara que já fez isso na vida, e o nosso papel é cobrar desse cara postura de paternidade real, sabe? Que não é só botar um filho no mundo e pagar uma pensão, tem que ser presente. Espero que ele receba tudo que ele merece, eu espero também que você seja muito feliz porque você merece, você é uma mãe incrível e todo o amor do mundo para você, tá? Fica bem. 

Assinante 2: Oi, gente, eu sou a Paula, sou do Paraná. Elaine, olha, a raiva que eu senti escutando sua história, só por Deus… Sinto muitíssimo que isso tenha acontecido com você e eu também queria pensar um pouquinho mais no que você pode fazer, apesar de você não ter pedido conselho. Pensei em sim, você ir atrás da família dele, ir atrás de um doador de pensão digno e até pensar que, se vocês moraram juntos por tanto tempo, vocês podem ser considerados como uma união estável o relacionamento de vocês, então você também pode entrar na justiça antes disso. Então, assim, espero que você e seu bebê fiquem muito bem, tenham uma vida muito feliz e que esse cara tenha o que merece. Até mais. 

Déia Freitas: Então essa é a história de Elaine, agora ela está, na medida do possível, bem, né? O bebezinho está ótimo e é isso. Esse cara aí… Essa criatura. Então, não vou nem falar mais nada, gente, um beijo e até a próxima. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.