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título: coral
data de publicação: 21/12/2021
quadro: feliz natal pra quem?
hashtag: #coral
personagens: dona palmira, meire, jaílton

TRANSCRIÇÃO

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais uma história do nosso Especial de Natal. Ainda só eu e vocês… E minha gata rasgando um papelão. Esse é o jeito que eu conto as histórias lá no Apoia-se para os assinantes, então, se você ainda não é um assinante nosso, por favor, seja. [riso] Custa só 10 reais por mês e lá já tem umas 130 histórias te esperando. Todas histórias inéditas. Então corre lá, eu vou deixar o link aqui na descrição do episódio. Hoje eu vou contar pra vocês a história da dona Palmira. Ê, dona Palmira… Hoje ela tem 73 anos e essa história aconteceu há mais de 50 anos. 

Dona Palmira morava numa cidade do interior e ela fazia parte de um coral, e esse coral todo Natal saía pela cidade ali cantando na véspera mesmo de Natal. Então, sei lá, eles paravam na frente da casa de alguém, cantava, e aí a pessoa às vezes servia a alguma coisa, enfim… Era um jeito também de conseguir melhorar aí a sua ceia individual. [risos] Já que ali era uma cidade que tinha poucos recursos e tal, a maioria muito pobre, então era uma maneira aí também de dar uma passeada no Natal, na véspera de Natal. Era ali final dos anos 60, e dona Palmira ela estava namorando um rapaz… E como era o namoro ali na cidade dela, enfim, na família dela? 

O rapaz ia na casa dela, eles ficavam conversando ali, pegava na mão, davam um beijo e só, era uma coisa muito, assim, monitorada, né? Se não só pelos pais, pelos vizinhos também. E dona Palmira estava namorando aí esse rapaz há quase um ano… E com um ano, a ideia era noivar e casar, e era assim que acontecia. Então ela estava lá no coralzinho dela, na véspera de Natal, ela e sua amiga Meire e mais outros integrantes do Coral, e aí eles foram indo ali de casa em casa, e canta uma música aqui, outra música ali de Natal… E aí eles chegaram na frente de uma casa, que era uma casa bonita, de um lado da cidade que eles não tinham muito acesso, né? Que era um lado mais abastado. 

E é importante dizer que esse namorado de dona Palmira, morava nesse lado abastado e tinha uma lambreta. O que era, pra uma cidade pequena, era um acontecimento, ele tinha uma lambreta. E aí elas começaram a cantar ali junto com o coral na frente dessa casa, as pessoas da casa saíram, né? Porque estava todo mundo ali para a ceia e nã nã nã. Eis que ela vê o rapaz que ela namorava, que nós vamos chamá-lo aqui de Jaílton. E o Jaílton saiu abraçado com uma mulher que, supostamente, seria talvez a esposa dele e com um filhinho pequeno. Essa mulher com um bebê no colo… E o Jaílton simplesmente fingiu que não conhecia dona Palmira, a quem ele namorava há quase um ano. 

E aí Meire cutucando assim dona Palmira, tipo, “Palmira, não é o Jaílton ali? Não é Jaílton?” e elas lá [cantando] “E bate o sino pequenino…” [risos], e vendo o Jaílton ali com uma esposa. Bom, vida de dona Palmira acabou, né? Aquele Natal foi péssimo, ela via o rapaz… Ela só podia ver o rapaz de final de semana, né? De domingo. Era uma regra da mãe dela. Então estava longe ainda para chegar o domingo para ela ver esse rapaz e ela, assim, no primeiro dia ela ficou muito mal, arrasada, chorou muito. No segundo dia ela já estava menos chorosa, mas com ódio, né? A palavra é ódio. 

E esse rapaz, o Jaílton, o pai dele tinha uma mercearia, né? Então eles tinham uma condição ali econômica bem melhor que dona Palmira, e ela estava muito, muito, muito brava. E a lambreta de Jaílton ficava ali na porta dessa mercearia, mesmo à noite, então não tinha esse problema de alguém, sei lá, roubar a lambreta de Jaílton. E dona Palmira num acesso de ódio a noite, saiu escondida de casa com um martelo na mão e martelou inteira a lambreta de Jaílton. Gente, mas inteira… Inteira, inteira, inteira… Como a mercearia ficava numa rua que era uma rua meio que de comércio, ninguém escutou. E ela sozinha no meio da rua martelou, martelou, martelou, voltou para casa tranquila, se sentindo mais suave, porque agora tinha martelado a lambreta de Jaílton inteirinha. 

E isso era, sei lá, tipo, quinta feira, ainda tinha uns dias para Jaílton ir até a casa dela. E, assim, o que ela sabia dessa família? Essa família, assim que se mudou para lá abriu essa mercearia, então ela namorava o Jaílton, ela podia ficar com o Jaílton duas horinhas ali no domingo com supervisão da mãe dela, então eles falavam de amenidades assim, ele às vezes lia alguma poesia para ela. Então, assim, não tinha… Eles não tinham muitos assuntos profundos assim, né? E, enfim, eles eram muito jovens e tal. E aí chegou no domingo… [risos] Jaílton apareceu na casa de dona Palmira, né? Jovenzinha Palmira. Jovenzinha Palmira, a intenção era não contar que foi ela que martelou a lambreta e ele já chegou falando… 

Porque o assunto era esse, né? Da Lambreta que, nossa, o que fizeram com a minha lambreta e nã nã nã… Olhando para ele, esperando, qual a explicação porque ele fingiu que não conhecia ela no Coral… E aí depois que ele falou da lambreta, que ele desconfiava que tinha sido uns rapazes ali do bairro e tal, [risos] que eles tinham uma rixa e nã nã nã… E assim, gente, parecia que ele não estava sabendo de nada assim, muito sonso, sabe? E quanto mais ele falava, mais a jovem Palmira ficava no ódio, né? E ela falou: “Eu quero ver até onde isso vai”. Isso já era quase um Ano Novo, né? Já ia no dia seguinte era dia 31 e ela perguntou, né? “Como vai ser seu Ano Novo, como é que vai acontecer? Onde você vai passar”. 

Ele falou: “Ah, a gente vai passar em casa, inclusive, eu queria pedir para sua mãe para ver se você podia almoçar com a gente, né? Eu te Pego aqui, te trago em uma hora”, assim… Porque sabia que a mãe era rígida. E a mãe de jovem Palmira deixou… E Palmira falou: “Agora eu quero ver, ele vai me apresentar para a esposa e para o filhinho então?”. E lá se foi Palmira nervosa, já pensando como é que ia ser esse encontro com a família ou se, de repente, ele tinha levado essa esposa que ele tinha para outro lugar, enfim… Ela queria ver. E, assim, ela tinha muita curiosidade também de entrar na casa dele, porque até então a mãe dela não deixava, enfim… Ela nunca tinha visto uma casa de gente um pouco mais rica por dentro. [risos] 

E ela queria ter essa experiência. Chegou o momento… O Jaílton foi buscar a jovem Palmira em casa, ela muito, muito, muito nervosa… Ele até estranhou, né? E aí ela falou que estava nervosa porque, enfim, ia conhecer os pais dele e nã nã nã, né? E ela pensando como é que ia ser isso, né? Como que os pais aceitavam essa situação, né? Ou se ele ia apresentar ela como amiga, enfim… Ela ia pagar para ver, e muito mais porque ela queria entrar numa casa de rico. [risos] E ele ainda teve que buscar a Palmira a pé, porque praticamente deu PT na lambreta de tanta martelada. [risos] [som de cão latindo ao fundo] Ó, minha Mioja latindo… 

Chegando na casa de Jaílton, ela foi bem recebida pelos pais ali na porta, né? E quando ela entrou, ela tomou o maior susto da vida dela. Sentado no sofá da sala estava o rapaz idêntico a Jaílton. Era quem? Jailson… [risos] Irmão de Jaílton que tinha apenas um ano de diferença aí dos dois e eles eram uma casa do outro. A dona Palmira me falou que não dava para distinguir quem era quem. E aí ela entendeu… Aquele cara que ela viu na porta ali da casa naquele dia do Coral, era o irmão do Jaílton, não era o Jaílton. Era o irmão… E aí ela ficou mal, porque ela tinha martelado inteira a lambreta do namorado achando que ele tinha uma esposa, enfim, né? 

E aí ela ficou quieta, almoçou lá, voltou para casa… Esse namoro seguiu, eles casaram, [risos] tiveram três filhos, netos… Já tem uns dez anos que, infelizmente, seu Jaílton faleceu e ela nunca contou pra ele a história da lambreta. Só veio contar ali pros filhos e netos depois que ele faleceu. [risos] Ela escondeu, tipo, foi um segredo dela, porque ela destruiu a lambreta, destruiu… E aí era o cara… E era uma casa que as casas ali, as casas mais bonitas eram todas parecidas assim, ela nem sabia se ela tinha ido na casa do namorado, porque ela nunca tinha entrado, não passava naquele bairro, ela era de um bairro pobre… E eles só iam lá para cantar e ganhar uma comida melhor. Então, assim, ela meio que, sabe, nem pensou que poderia ser um irmão dele, um parente, enfim… 

Ela falou: “Olha, Andréia, eu até acho que sabia que ele tinha um irmão, mas sabe? Na hora… Que era igual. Os dois eram iguais… Tanto que os dois assim mais velhos… O Jailson ainda vive, eles são iguais… Envelheceram, assim, igualzinho”. Então, dona Palmira falou que esse foi o segredo que ela guardou aí e que não contou para ele, enfim, né? Porque ele ficou muito mal com o negócio da lambreta [risos] e foi ela. Foi muito errado, né, dona Palmira? Ê, Dona Palmira… E essa é a história de Natal, onde um Coral onde dona Palmira fazia parte revelou uma traição, uma suposta traição do namorado dela e, que no final, não era o namorado dela, era o irmão do namorado dela. Então muita calma aí nas vinganças. [risos] Principalmente nas vinganças de Natal, né? [risos] E essa é a história de nossa querida dona Palmira. 

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Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.