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título: webnamoro
data de publicação: 26/01/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #webnamoro
personagens: bianca e edinho

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje eu vou contar para vocês a história da Bianca. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

A Bianca ela mora numa cidade do interior, e ela disse que a única coisa, assim, mais interessante que tem para fazer na cidade dela é ficar ali nos aplicativos de namoro. E como a gente está em pandemia, o hobby da Bianca é ficar ali trocando conversas com os caras nesses aplicativos e não sair com ninguém. E aí a vida foi correndo, né? Pandemia, pandemia, pandemia… E agora, em março, ela estava ali num desses aplicativos de namoro e ela deu match com um cara que ela achou, assim, maravilhoso. — O nome do cara: Édinho. — E aí ela começou a conversar com Édinho, eles trocaram telefone… — Mas tinham um detalhe… — Não foi bem que eles trocaram telefone, o Édinho pediu o telefone dela e telefonou. [efeito sonoro de celular tocando] — Porque a Bianca estava esperando uma mensagem, né? Ali no Whatsapp ou no Telegram, mas o Édinho telefonou. —

E ele telefonou de um número privado, mas, né? A Bianca estava só ali para ficar de papo mesmo. E ela começou a conversar com Édinho e eles conversando ali todo dia. Todo dia o Édinho uma hora ali do dia ele ligava pra Bianca e eles ficavam conversando. Isso foi em março… Passou abril… — Chegou maio. — Chegou maio, o Édinho falou para Bianca que gostaria de encontrar com ela, aí ele falou: “Ah, tudo bem, a gente não tira a máscara, mas eu queria te ver pessoalmente e nã nã nã”. — E a Bianca, gente, assim… Ela falou: “Puts, Andréia, eu não resisti e falei: “tá bom”. — “Então vamos marcar, mas vamos marcar num shopping, porque, né? A gente só conversa por telefone… Você não tem redes sociais…” — Gente… [risos] Mas enfim, tudo bem, tem gente aí que não tem mesmo. —

E a conversa era muito boa, né? — A Bianca falou que a conversa era muito boa. — E aí eles marcaram no shopping, a Bianca chegou um pouco mais cedo ali na praça de alimentação e ficou esperando por ele, pelo Édinho, por duas horas… E o Édinho não apareceu e nem telefonou do número restrito dele. Então, pensa: Ali em dois meses ela só conversava com ele por telefone, não tinha o número dele, conversava ali no privado. Eles marcaram um encontro e o Édinho não foi… E aí a Bianca ficou muito chateada, não tinha nem como bloquear o Édinho no telefone, mas ela acabou bloqueando ele nos aplicativos de namoro, porque tanto ele quanto ela continuavam ali no aplicativo, né? 

Uma semana depois ela recebeu uma ligação. O telefone tocou, era número restrito e ela falou: “Puts, é ele, né? Atendo ou não atendo?”. — E ela estava com raiva, ela queria falar, queria conversar com ele e falar: “Poxa, você me largou lá, a gente conversou tanto e nã nã nã, foi tão legal”. — E aí ela atendeu e realmente era o Édinho… E o Édinho pediu desculpas, falou que não tinha conseguido ir e que ele estava muito chateado, que ele queria muito conhecer a Bianca… E a Bianca falou: “Olha, não vai colar, porque você podia ter me avisado, você podia ter me ligado… Eu fiquei plantada lá duas horas. Tudo bem então que você queria me conhecer, mas agora não vai ter mais oportunidade”. 

E quando ela ia desligar, o Édinho falou uma coisa pra ela, falou: “Olha, eu evitei chegar nessa conversa com você, mas agora a gente vai ter que conversar sério”. [efeito sonoro de tensão] E aí a Bianca falou: “Nossa, né?”. — Pensou… — “O que esse cara quer ainda comigo?”, e aí o Édinho, gente, explicou para Bianca porque ele não tinha conseguido ir no encontro. O Édinho ele está preso… — Como ele tem o celular? Não sei… — E ele tinha a saidinha do Dia das Mães, mas não deu certo dele sair, e aí ele não pôde comparecer aí ao encontro. A Bianca, gente, [risos] ela quase caiu de costas. Ela ficou totalmente em choque esperando ele terminar de falar, e aí quando ele terminou, a única coisa que ela perguntou é: “Você tá preso por quê? O que você fez?”. — Ele respondeu assim para ela… — “Eu não gostaria de te falar os artigos”. — Artigos no plural? Tipo, é mais de um crime? —

E aí a Bianca ficou em choque, em choque… Falou: “Olha, você tinha que ter me falado isso antes, não quero nada com você, não quero ter que ir te visitar no presídio e você não foi honesto comigo e nã nã nã”. — Falou o que ela achava que ela tinha que falar. — E o Édinho ficou chateado, falou: “Ah, tudo bem, né? Desculpa e tal”. — Gente, eu fiquei com dó do Édinho. — Mas a Bianca estava irredutível, não queria saber. A Bianca estava desempregada, isso era já final de maio e ela foi chamada numa firma. — E, gente, né? Tem nem o que dizer, aleluia que Bianca foi chamada na firma. — 

Só que era uma firma muito longe, e você tinha que levar marmita e tal, não tinha muita coisa em volta. — Eu não tenho como falar aqui da cidade que é, mas enfim… — Era, tipo, ela mora numa cidade e a firma fica numa outra. — Mas pertinho, tipo, como aqui Santo André e Centro de São Paulo. Mas é um rolezinho pra você pegar o ônibus, ir e tal. — E aí a Bianca resolveu que lá perto, onde ela descia no ponto de ônibus, tinha um mercadinho e que ela ia comprar umas coisas para deixar lá na gaveta dela da firma, pra ela não tem que ficar saindo e tal pra comprar ou ficar carregando na mochila e nã nã nã. — E ela já tinha esquecido totalmente o Édinho. — E, detalhe: eles conversaram por telefone e às vezes eles faziam FaceTime, então ela conhecia ele. — De rosto. —. 

Ele estava sempre na mesma parede, numa parede cinza que tinha uma listrinha vermelha e tal. E isso também ela brincava às vezes: “Ah, já está na parede cinza e tal”, e ele falava que ali era onde pegava melhor o celular, e agora ela pensava que aquela parede cinza era a parede do presídio, né? — Mas como que ele estava no celular na parede fazendo FaceTime? É muito audácia também, né? Será? Não sei… — E aí, gente, ela foi lá no mercadinho comprar as coisas para deixar na firma nova, que ela entra no mercadinho, quem que tá no caixa do mercadinho? — Édinho. — Na hora o coração da Bianca disparou, porque ela pensou: “O Édinho está assaltando o mercado [risos] e eu tô aqui. Ai meu Deus…” — “O Édinho tá assaltando o mercado”, porque foi a única coisa que passou na cabeça dela… Que ele estava ali assaltando e agora ele ia ver que ela estava ali e ele ia parar o assalto e falar: “oi,”, será? — Enfim, mil coisas em segundos. —

E ela fez menção de voltar, né? — De tentar sair do mercado. — Mas nessa mesma hora ela viu que o Édinho tipo falou: “Ô, fulano, pega lá atrás para mim não sei o que lá, o engradado de coca”. — Sabe uma coisa assim? — E aí ela entendeu que o Édinho trabalhava no mercado. E aí ela se sentiu mal, falou: “Tá vendo? O cara saiu da cadeia, já está trabalhando aqui no mercadinho e eu fiquei julgando o cara e tal, né?”. E aí ela entrou no mercado já no propósito de pegar as coisas e ir no caixa. Tinha, só dois negocinhos de caixa, um estava vazio e o outro tinha o Édinho, então ela ia ter que passar as coisas, as comprinhas dela com o Édinho. E aí ela já ia aproveitar para falar: “Pô, Édinho, aquele mal entendido e tal, enfim…”. 

Que ela chega com as compras e o Édinho dá de cara com ela, Édinho ficou pálido, da cor de um papel… — E aí ela falou: “Poxa, aí tá vendo? No final quem assustou o Édinho fui eu, né? — E já assim meio animada, sorrindo… [risos] Quando Édinho tenta falar um “oi”, aparece lá de trás uma moça barriguda assim, grávida, né? “Ô, bem, não sei o que lá”… — Tipo, a esposa do Édinho. — A esposa do Édinho… E aí Bianca ficou assim olhando, passou as compras, pegou ali o comprovante e saiu do mercado… E ela tinha que andar uns três quarteirões até chegar na firma. E aí ela saiu sem entender muito, falou: “Poxa, será que ele já estava com ela e terminou? Sei lá… Por que ele estava falando comigo tanto tempo?” Sei lá, ficou mal ali, né? 

De repente, quando ela está na metade ali do primeiro quarteirão, quem estava correndo atrás dela? Édinho. E aí foi ela que assustou e eles começaram a conversar… Ela não tinha um clima de satisfação, porque ela já não estava mais com ele, né? Foi só um namoro virtual, um webnamoro. E aí o Édinho pediu desculpa para ela, falou que ficou com vergonha porque ele está no aplicativo, mas ele é casado e a esposa dele vai ter filho. — Quer dizer, Édinho é um canalha, né? — E, detalhe: quando ela saiu do mercadinho, ela viu que a listrinha cinza que ela via no muro que ele ficava encostado, era do mercadinho. — Ele não estava preso… —

E aí ela falou isso pra ele, falou: “Escuta, você fazia live comigo aí no muro do mercadinho da sua esposa aí e você falou pra mim que você estava preso?”, e aí ele confessou pra ela que ele nunca esteve preso, que ele falou isso porque foi a única coisa que veio na cabeça dele, que ele não foi encontrar com ela porque a esposa passou mal no dia… — Gente, se em algum momento eu tive dó de Édinho, acabou a dó de Édinho… — O cara para mentir e esconder a esposa grávida ele falou que ele estava preso, sabe? Eu acho que não tem um nível mais baixo que esse. — Do que de Édinho. — A Bianca acabou falando pra ele: “Olha, me esquece, entendeu? Segue a sua vida com a sua esposa”. 

E aí ela começou a pegar um outro ônibus para descer do outro lado da firma, que ela teria que andar um quarteirão a mais, mas era melhor do que ter que passar na frente do mercadinho todo dia, né? E aí o Édinho é dono do mercadinho… Ele nem estava preso. — Édinho nem estava preso, gente. — E aí depois disso a Bianca também desistiu dos aplicativos, ficou puta. [risos] — Com a história. — E ela queria compartilhar com a gente, porque ela falou: “é muito surreal o cara inventar uma saidinha que não deu certo da cadeia e, no final, era a esposa dele que estava grávida, passando mal e por isso que ele não foi no shopping”. — Olha, sei nem o que dizer… — Sei nem o que dizer de Édinho. 

[trilha]

Assinante 1: Olá, Não Inviabilizers, eu sou a Carla de Campinas, interior de São Paulo. E, Bianca, a gente até sente um pouquinho de dó do Édinho, mas ainda bem que você se livrou, hein? Um homem que inventa para outra mulher que ele está preso para poder ficar aí de lêlêlê em aplicativo de namoro… Olha, que livramento, hein? Que livramento. Mas aí também você foi juvenil… Nunca atenda ligação privada, sempre é problema, nunca é nada de bom vindo de uma ligação privada. Jamais. 

Assinante 2: Oi, Bianca, Oi Não Inviabilizers, aqui quem fala é Letícia, estou falando do Texas e, nossa, que história. Já escutei muita história de app de relacionamento, mas essa com certeza foi a com mais reviravoltas. Eu, junto com a Déia, também fiquei com dó do moço, achei absurdo ele estar falando da cadeia com ela, mas pensei: “Poxa, pelo menos ele não está dando nenhum golpe financeiro direto da cadeia, tá aí só tentando achar um amor… E a gente viveu na pele o que é estar privado da liberdade, do convívio, o tanto que a gente fica entediado e procurando ter o que fazer, mas enfim… Eu acho que o alerta que fica é: Cara, é muito difícil uma pessoa não ter nenhuma rede social, nenhuma, nenhuma… A pessoa não gosta de nada? Então vamos ficar alerta e sempre ficar de orelha em pé quando isso acontece. Beijo. 

Déia Freitas: Então é isso, gente, um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.