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título: botânico
data de publicação: 21/01/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #botanico
personagens: eva e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje história de trilha. [risos] — Meu Deus, eu odeio trilha. — Essa história tem várias coisas erradas, tem trilha… — Que eu acho errado. — Tem furada de quarentena, enfim… [risos] — Tem várias coisas. — Ai, tem tênis errado, tem tudo… E é a história da Eva. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

A Eva já começa a história pedindo perdão aí pela furada de quarentena, mas ela acabou, em dezembro, entrando em um aplicativo e conhecendo um cara, que é um cara botânico, louco por, né? Plantinhas. [risos] E flores, enfim… — Todo botânico ele. — E aí começaram a conversar, o papo fluiu, a Eva super curtiu o botânico, ele também super curtiu a Eva e eles resolveram que eles iam fazer 14 dias de quarentena para poder se encontrar. — Só que aquela coisa, né, gente? Você está conversando com um estranho de aplicativo, você sabe se o cara vai fazer os 14 dias? Não dá pra confiar nisso, gente, é uma furada, não tem… Não tem como. Mas a Eva na ilusão de que ele faria os 14 dias… — Ela fez o dela e eles resolveram se encontrar. 

E aí já tinha passado um tempo ali, já era metade de janeiro isso e eles foram se encontrar, marcaram numa padaria, mas a padaria também tinha restrições então não estava com o balcão aberto, nada… Mas a ideia de se encontrar era pra se ver, pra ver se eles iam se gostar e nã nã nã. E aí eles se gostaram e acabaram ali, pelas ruas mesmo do bairro que eles encontraram, dando um beijo… — Tirando as máscaras e se beijando. Enfim, né? Vamos fazer o bingo do erro aí. — E aí eles começaram a conversar mais e começaram a fazer planos… E quais eram os planos? Os lugares ainda nessa época de janeiro, lembra que estava, assim, vários lugares fechando e aí abria e fechava e abria? Então eles não estavam conseguindo achar um lugar para ficar, porque Eva morando ali com a mãe e ele morando sozinho, mas ele não convidou ela para ir para o apartamento dele. — E aí tinha esse impasse. — 

O que o cara resolveu fazer? Convidar a Eva pra um domingo fazer uma trilha. [risos] — Você deu apenas um beijo no cara, Eva, como você vai pra uma trilha com o rapaz do beijo? Você não conhece ele. Gente, vocês não assistem Discovery ID lá que tem os assassinatos em trilhas? E se o cara é um psicopata? E se aparece um psicopata na trilha? Gente, acabou de conhecer o rapaz… Dois meses conhecendo o rapaz. Um beijo no rapaz e trilha? Então não aceito. Não aceito trilha. — [efeito sonoro de voz grossa] “Ai, que a gente vai fazer uma trilha, eu quero te mostrar algumas plantas que são medicinais e nã nã nã”. — O cara conhece plantas, pode sei lá, né? Enfim, te dopar…. Não sei… Não fui com a cara do botânico. — 

A Eva tem condicionamento físico para fazer trilha? — Assim, Eva é como eu, né? Andou daqui a ali está caindo sem ar. — E lá foi Eva arrumar as coisinhas para fazer a trilha. E aí ela se empolgou, porque ele estava gostando de explicar para ela as coisas da trilha… Então, o que ela tinha que levar? Ele deu uma lista lá de coisas para levar: uma toalha, ela já gostou, porque falou “hum, vou ficar pelada”. [risos] — Ê, Eva… — Uma toalha, repelente, ah, tinha um monte de outras coisas lá… E aí ele falou mais ou menos o tipo de calçado que ela tinha que ir, a meia e ela tinha um tênis lá e falou: “Eu não vou comprar um tênis para fazer trilha, eu tenho um tênis, né?”. — Só que, gente, tem coisa que escorrega, né? Você tem que ter o tênis certo pra fazer trilha. — 

Mas a Eva estava empolgada e falou: “Não, eu tenho o tênis”, e aí ele tinha colocado alguns itens, né? — Essa toalha e tal… — E tinha colocado lá uma muda de roupa, só que a Eva esqueceu de botar a muda de roupa, que ele tinha falado que se, de repente, eles entrassem no Rio, sei lá… E ela não botou essa muda de roupa, esqueceu da muda de roupa. E lá foi a Eva pra trilha… Estava calor, sol, então ela botou ali um chapeuzinho também para não queimar muito o rosto, não era um boné, era tipo um chapéu desses quase de pescador, sabe? Que tem uma abinha? — Que, sei lá, Eva, [risos] não curti o look, mas tudo bem. [risos] — E aí lá foram fazer a trilha… 

E aí começa a fazer a trilha, ele realmente mostrando as plantas… Era um lugar que não tinha mais gente fazendo a trilha… — O que eu acho super perigoso. — [efeito sonoro de pessoas caminhando] Mas no caso, isso possibilitou que eles pudessem fazer a trilha sem máscara. Então aí foram respirando ali só o ar um do outro, né? — E um eventual Covid um do outro. — Mas ao ar livre, né? E aí ele foi mostrando plantinha e nã nã nã, coisa linda e nã nã nã, passeando, beijando, e ele muito empolgado, muito feliz de estar fazendo a trilha com ela… E eles chegaram numa espécie de riacho, e aí veio a questão do tênis… [efeito sonoro de água corrente] Eles tinham que atravessar — Esse riacho. — para poder seguir e o cara tinha lá… — Estava todo de apetrecho e ele conseguia atravessar sem depois ficar úmido e tal, né? E a Eva, com o tênizinho dela — De ir na padaria. — não ia rolar. 

Então, o que Eva fez? Ela tirou o tênis e a meia e falou: “Eu vou atravessar descalça, você vai me dando a mão, e aí do outro lado eu seco, pego a toalha e boto o tênis”. Só que a Eva, nisso de segurar a mão… — Aquela coisa, né? Você não está acostumada a pisar em pedrinha para atravessar trilha, atravessar riacho, né? — Ela deu uma escorregada… Ela tinha colocado a meia dentro do tênis e deixou cair o tênis dela no riacho… E o tênis dela foi embora. — O tênis da Eva com a meia foi embora. — [música triste] E aí aquela coisa, né? Eles olhando o tênis indo embora… Porque não tinha como, não tinha como correr e ir pro mais fundo para pegar o tênis, porque mais lá na frente, desembocava numa cachoeira, então era perigoso… Tinha até horário para atravessar o riacho, se não a água sobe. — Deus me livre, gente, olha… Contar comigo para isso aí… Tem a menor chance. — 

E aí eles ali no meio do riacho e o cara já em vez de ir atravessar, voltou… — Porque agora Eva estava descalça. — E aí ele ficou em choque. Porque, primeiro, ele tinha feito um roteiro… Porque aquela trilha para ele, além de ser uma trilha de lazer, era uma trilha exploratória. — De algumas plantas, de uma pesquisa que ele estava fazendo. — Então, mais para frente ali, tinha coisa que ele queria ver, que ele meio que precisava ver e não queria perder a oportunidade. Só que a Eva estava descalça… — E aí o cara vira para ele e fala assim: “meu Deus, e agora?”. — Se ele que é o cara da trilha não sabe, o que a Eva sabe? — E aí a Eva falou: “não sei”. — “Não sei o que fazer”. — Aí o cara que, provavelmente, tinha uma muda de roupa na mochila. — Poxa, ele podia ter oferecido, sei lá, uma camiseta para ela rasgar e amarrar no pé, qualquer coisa ele… — 

Ele falou: “Cadê a sua muda de roupa? Vamos cortar essa roupa e fazer um sapato aqui, né?” — Aí que ela lembrou que ela tinha esquecido a muda de roupa… E ele não se ofereceu para dar nada, ela só tinha a toalha dentro da mochila, só que era uma toalha grossa e uma toalha de rosto. — Eva, por que você levou uma toalha de rosto? Se você falou que você ia ficar pelada, você ia se enxugar? Era uma toalha de banho… — Eva diz que na hora ali pegou as toalhas e ela jurava que era de banho, mas foi de rosto. — Ele tinha tesoura, canivete… Essas coisas ele tinha. Só que não dava para cortar a toalha de rosto, porque não tinha com o que amarrar no pé, enfim… [risos] Gente… — Esse cara começou a ficar emburrado porque ele ia perder as plantas que ele ia ver. 

Ele falou: “Bom, então a gente vai voltar e vamos voltar devagar”. Só que o Sol, a Eva pisando no chão, não conseguia andar direito… E, gente, virou um inferno a vida da Eva… Porque ela não tinha o que colocar no pé. No caminho, ela tentou pegar umas folhas. [risos] — Ô, Eva… — Porque o cara resolveu que ele não ia fazer nada, tipo, a Eva estragou o passeio dele. — “Foda—se, não vou te ajudar”. — Então o cara foi um cretino, né? — Nossa, fiquei morrendo de ódio. — E aí a sorte da Eva é que, assim, o caminho que eles estavam fazendo dava pra ela olhar se não tinha formiga no chão… — Porque, eu, por exemplo, eu sou alérgico a formiga, se a formiga me pica, a minha cara fique imensa, eu quase paro de respirar… É foda. Já pensou se ela tem uma alergia dessa? E aí a formiga pica o pé da Eva ali no meio do nada? — 

E aí a Eva foi voltando… Eles tinham caminhado, gente, umas duas horas para chegar até o riacho. — Duas horas… Então ela tinha duas horas de volta. — Só que ela não conseguia andar no ritmo dele, então ela também falou: “Ah, vai se foder, né?”. E aí falou pro cara falou: Você quer me largar aqui no meio? Você não tá vendo que eu estou descalça? A gente vai ter que ir devagar. — E aí eles demoraram quatro horas para voltar… Essas quatro horas esse cara emburrado, sem olhar na cara dela. A Eva olhando para o chão para ver se não ia cortar o pé… — E tinha subida, descida… — O pé dela foi começando a ficar meio inchado, foi um caos. Quando chegou lá embaixo, eles tinham ido no carro do cara e o cara com aquela cara péssima, ela com o pé muito ruim, e aí ela pediu para ele deixar ela numa farmácia que era, tipo, na rua da casa dela. — Porque ela falou: “Eu vou da farmácia e vou descalça para casa mesmo, foda—se… Mas eu preciso falar com o farmacêutico, sei lá, passar alguma coisa no pé, né?” — 

E aí ele deixou ela na farmácia, ela pegou lá umas coisas que um cara indicou para ela botar o pé e o cara falou: “Se não melhorar você vai ter que ir no médico, né?” — Pra saber se não fez nenhum micro corte, infeccionou, enfim… “Aí você vai ter que no médico”. — Mas era só mesmo o inchaço e o desgaste de andar quatro horas descalça no meio do nada, pisando em pedregulhinho, pisando em terra, pisando em grama… Um inferno. E aí o cara bloqueou ela em tudo. — O botânico. — Porque ela perdeu o tênis no riacho e é isso, ele ficou com ódio dela. — Esse cretino, que ele podia muito bem dar uma camiseta dele ali, rasgar… Dava pra fazer, amarrar a camiseta no pé dela, mas ele nem abriu a mochila. — 

E aí que lições que a gente tira [risos] dessa história, né, Eva? Primeiro, por que trilha, gente? Não… É não. — Trilha é não. — E depois furou quarentena e nã nã nã, enfim, né? Beijou o cara lá, nem sabe se o cara tinha Covid. Ainda bem que não pegou nada. E fica aí a história da Eva pra gente… E ficou com trauma. [risos] E ainda perdeu o tênis, né? Porque era o único tênis que ela tinha, porque não é uma pessoa do tênis. E aí teve que depois comprar outro tênis. Então, Eva, [risos] um beijo pra você. 

[trilha] 

Assinante 1: Oi, gente, aqui é o Guilherme, do Rio Grande do Sul. Meu Deus… Porque eu já fiz trilha e já convidei pessoas pra trilha, né? Não nessa situação aí, mas amigos, enfim… E a gente sempre fez questão de contar tudo como era… Todos os detalhes, todas as dificuldades que tem que enfrentar, né? Pra pessoa estar preparada e sempre enfatizar: “Levou tudo? Pegou tudo o que tem que levar? Porque tem que realmente levar”. Então, eu entendo um pouco o ranço do cara aí, né? Mas ele está totalmente errado na atitude que ele teve de não se importar, né? Mas eu acho também que quem nos escreve a história deveria ter levado a sério a trilha, ter se preocupado com a trilha mais do que com coisas que poderiam aconteceram na trilha. Então, fica a dica: vai fazer trilha? Se prepara de verdade. É isso, abraços. 

Assinante 2: Oi, gente… Aqui é a Yna da Alemanha. Sabe o que eu acho? Essa história podia ter sido um ótimo Mico Meu se a reação do biólogo tivesse sido outra. E eu não digo reação logo depois do acidente, né? Com ele se despedindo e tal, porque também ficou emburrada assim hora quando as coisas não saem do jeito que eu planejei, mas assim, não oferecer nenhuma ajuda no sentido de andar mais devagar, dar uma atenção, esperar na farmácia, isso mesmo estando chateado é uma coisa que o cara podia ter feito. E depois que passa, com a cabeça mais tranquila, os dois ainda podiam rir bastante dessa história, mas… Eu também vou falar que a Eva não foi fada sensata, não, hein, dona Eva? Eu acho que, assim, vacilou legal em não ter levado uma muda de roupa, levou uma toalha de rosto, enfim… Deu um pouco de sorte pro azar ali também. Então, da próxima vez, ou recusa a trilha ou dá uma atenção maior aí na mochila de emergência. É isso, um beijo. 

Déia Freitas: Comentem a história da Eva lá no nosso grupo do Telegram. [risos] Do botânico do aplicativo. [risos] Ódio… Um beijo. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.