título: meu tesouro
data de publicação: 04/02/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #tesouro
personagens: adriana e moça
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão e hoje vou contar para vocês a história da Adriana. Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]A Adriana ela estava num namoro muito bacana. — Com uma moça. — Com quatro anos ali de relacionamento, a moça resolveu ir morar fora do país, e não era um plano pra Adriana, né? Ela tinha o trabalho dela aqui, o estudo e tal e elas acabaram se separando. E aí foi aquela tristeza, ficaram mal, mas resolveram seguir aí como amigas a distância. E a Adriana seguiu a vida. Um dia, Adriana estava no shopping… — Porque ela trabalhava perto de um shopping, às vezes ela ia até o shopping almoçar. — Ela estava no shopping e, ali na praça de alimentação, ela viu uma mocinha. E mocinha olhou para ela, ela olhou para mocinha… — Mocinha estava esperando a comida dela. — Adriana também estava esperando a comida. Adriana sorriu para a mocinha… Mocinha a hora que pegou a comida já veio com a bandeja. — Até a mesa da Adriana. —.
Se apresentou, falou: “Oi, nã nã nã”, as duas começaram a conversar, um puta clima e Adriana já ficou felizinha. [risos] Bom, moça interessante, né? [efeito sonoro sexy] E aí elas conversaram bastante ali, trocaram contato, depois se falaram aí pelas redes sociais e um namoro surgiu. E, gente, um namoro intenso… Essa moça que Adriana conheceu, ela trabalhava num banco que era ali próximo ao Shopping também. — Então elas se viam com bastante frequência. — Só que tinha um detalhe, a Adriana é lésbica assumida essa moça não. — Essa moça por trabalhar no banco, por ter aí um cargo de gerência… —
Ela tinha receio do que poderia acontecer caso ela assumisse e também a família dela não sabia, enfim… — A gente já falou aqui que ninguém tem direito de tirar ninguém do armário, né? Então quando você se relaciona aí com uma pessoa que ainda não revelou para a sociedade as coisas que ela não quis revelar, você não pode exigir isso, né? O que você pode fazer é se retirar. “Olha, para mim não dá, preciso estar num relacionamento onde a pessoa me assuma e tal, que a gente possa sair de mão dada. Então é você que vai pesar ali o que é importante para você e fazer o que você tiver que fazer. Menos tirar outra pessoa do armário, isso ninguém, ninguém absolutamente ninguém, tem esse direito. —.
E aí Adriana pensando como eu falo, falou: “Bom, ela tem as razões dela, espero que um dia chegue o tempo dela e tal, por enquanto para mim tá ok”. — Porque a Adriana estava saindo de um relacionamento que foi bacana e que terminou por causa de uma mudança de país e tal. — E aí a coisa foi evoluindo, com três meses assim de namoro, elas já estavam falando de morar junto. — Gente, eu não consigo entender isso, como as pessoas moram junto tão rápido assim… Mas elas já estavam falando de morar juntas. — E a Adriana já morava sozinha. — Porque ela morava com a outra moça que foi embora, né? Foi viajar, foi morar em outro país, no caso, né? —
Com três meses desse namoro, pensando já em morar juntas, mas aí para essa moça seria como falar para todo mundo que ela tinha uma colega de apartamento, né? — E, sei lá, essa situação é complicada também, né? Tipo, é sua namorada, mas você não pode falar que é sua namorada. — E aí a Adriana — Ao longo aí de alguns anos… — tinha conseguido guardar 50 mil reais… [efeito sonoro de caixa registradora] — Uma grana… — E ela deixava esse dinheiro lá, não sabia investir, nada… Estava na poupança. E essa moça trabalhando num banco. E o assunto surgiu assim quando elas falaram de morar juntas… — Olha como o assunto surgiu. —
Essa moça falou que o sonho dela sempre foi ter uma geladeira de inox, e aí Adriana acabou falando que ela tinha um dinheiro na poupança e, se fosse o caso, elas comprariam a geladeira de inox. — Aí a Adriana já sendo ONG da moça. Tem que dar geladeira de inox para ninguém, não. — Ai esse assunto surgiu e a moça falou para ela: “Olha, você tem esse dinheiro parado na poupança? Sendo que você pode ganhar X em cima desses 50 mil, se você investir no Tesouro Direto.” — Gente, eu não sei nada de aplicação, de ação, de nada… Então vou falar aqui também porque a Adriana me contou, o que ela me autorizou a contar, mas assim… —
A questão é que essa moça falou pra ela que ela podia investir num negócio chamado Tesouro Direto, que não tinha muitos riscos, né? Tinha praticamente risco nenhum, porque você compra… — Gente, se eu estiver falando errado aqui, desculpa, mas é tipo isso… — Você compra títulos do governo, e aí depois de um tempo você pode resgatar seu dinheiro e tal, e aí você pode investir desde um a três anos, até dez anos, mais de dez anos, enfim… E aí a Adriana gostou da ideia, porque, sabe, um negócio seguro e tal que dava pra fazer pelo banco… — Era uma coisa boa, né? —
E aí a Adriana pegou esses 50 mil reais… — E aqui que a gente tá no ponto da história que tudo podia ser diferente. Por quê? Quando você vai investir o dinheiro num banco, sei lá… Assim, o máximo que o banco já me ofereceu para investir foi em título de capitalização, que eu acho uma furada. Pelo menos para mim foi. Eu comprei lá um título de capitalização do banco, isso, sei lá, há 20 anos atrás… Comprei esse título e, ah, sei lá, rendeu nada. Sei lá, perdi dinheiro com esse título de capitalização, mas quando eu comprei e a gerente me ofereceu, o que eu fiz? Eu comprei esse título do banco, eu não peguei esse dinheiro e dei na mão do gerente, depositei na conta da gerente. Eu fiz tudo assim, por mais que ela estivesse ali, no banco, né? E era uma gerente que era minha amiga, inclusive, mas em nenhum momento o dinheiro foi para a conta dela. E, nesse caso da Adriana… —
Ela depositou os 50 mil reais na conta dessa moça. — Eu não entendo nada de ações, de Tesouro Direto, de nada, mas eu não sou otária. Eu não depositaria na conta da moça, eu ia falar: “Olha, você me fala como eu compro direto esse negócio aí. Cadê o link? — E aí a Adriana depositou, a moça deu uma papelada para ela lá e falou: “Olha, seu dinheiro está aqui, eu botei de um a três anos aqui, você vai receber X depois de tanto tempo, Y se você esperar um pouco mais e nã nã nã”. E a Adriana ficou feliz. — E isso elas tinham três meses de relacionamento. — Com seis meses de relacionamento e a Adriana já assim… — Porque a moça tinha falado que ia morar lá com ela, né? E não tinha ido. Enrolou daqui, enrolou dali e não foi. —
E, de repente, essa mocinha que trabalhava no Banco, sumiu, gente, sumiu… E aí a Adriana não conseguia mais contato com a moça ali nas redes sociais, porque ela tinha excluído as redes sociais, ela não tinha mais contato com a moça por telefone, porque, tipo, o chip estava mudo, sei lá… E aí Adriana resolveu ir até o banco… — Porque às vezes ela deixava a mocinha na porta do banco. — E aí ela foi no banco, entrou lá, perguntou pela mocinha e aí um cara lá do banco falou: “Mocinha? Não tem ninguém com esse nome aqui, não.” Cabeça da Adriana começou a girar… Quer dizer, a moça não trabalhava lá no banco. — Ela não trabalhava… —
E aí Adriana, gente, aquele desespero… Caiu num golpe. — Porque aí parece que quando… Depois que você cai no golpe, tudo que estava… As pontas soltas, elas se unem. E aí o que é desenhado ali com essas pontinhas é o próprio golpe. Então, tudo separado e no meio da história de amor, parece mesmo que você vai sendo levado. — E aí a Adriana tinha caído num golpe. Se a moça não trabalhava no banco e a moça sumiu, e os 50 mil reais que ela tinha depositado na conta da moça? Ela perdeu esses 50 mil reais, né? E aí aquele desespero… — Porque assim, não era um dinheiro que a Adriana estava precisando, mas era um dinheiro dela, né? Que ela juntou com muitos anos de trabalho. —
E aí ela foi para casa… E aí a hora que passa um pouco o desespero, você vai ficando mais triste e tal, chorando, ela foi tentando pensar em alguma pista, em alguma coisa, como ela ia fazer para achar essa moça, né? Porque tudo o que ela sabia… Ela nunca tinha ido na casa da moça, por exemplo, porque os pais da moça não sabiam que ela era lésbica, enfim, né? E aí ela lembrou… A Adriana lembrou que um dia elas estavam no shopping, andando, — Uma do lado da outra assim… — E quando elas passaram por uma loja, uma moça lá de dentro da loja e gritou para moça, chamou a moça pelo nome e aí elas foram até a porta da loja, mas assim a moça meio que deu uma disfarçada para Adriana meio que não ficar perto, sabe? E a Adriana ficou com ciúme na ocasião.
Então a Adriana gravou muito o rosto dessa moça, né? E a Adriana resolveu ir na loja procurar a moça. [música de tensão] A Adriana achou a moça e Adriana não comentou nada com a moça, mas perguntou: “Ah, será que você sabe da Fulana e tal?” e ela falou: “A fulana trabalha aqui. Eu trabalho nesse turno e a Fulana trabalha no turno X”. — Gente… — A moça trabalhava no Shopping na loja, não trabalhava no banco. E aí Adriana falou: “Ah, obrigada” e, na hora do turno da moça, Adriana entrou na loja e a moça parece que tinha visto um espírito. — E aí o detalhe: quando você é um golpista profissional, você sairia dessa fácil. Acredito eu. O estelionatário, 171, sai dessa fácil. Só que essa moça ela tava, sei lá, começando nos golpes… Ou tinha visto uma oportunidade de ser desonesta e aproveitou a oportunidade. —
Quando ela viu a Adriana, na hora ela falou pra Adriana: “Pelo amor de Deus, não faz escândalo aqui que eu não posso perder meu emprego”. E aí a Adriana falou: “Bom, você não quer perder seu emprego, mas você quer ser presa então, porque eu vou chamar a polícia”. — Repetindo: quando você não é um estelionatário profissional, você meio que teme a polícia, porque o estelionatário ele não teme a polícia, ele fica pouquíssimo tempo preso e depois tá aí na rua de novo. Só que essa moça tava começando no golpe e ela ficou apavorada. — E aí ela falou pra Adriana que… — Isso era, tipo, umas três horas da tarde. — Que ela ia devolver o dinheiro, e a Adriana falou: “Então você vai pedir uma saída agora e você vai comigo no banco agora devolver, porque senão eu vou chamar a polícia agora”.
A moça saiu com ela, foi até o banco… No banco, tinha 39 mil e uns quebrado. — A moça já tinha usado quase 10 paus. — Ela transferiu de volta para a conta de Adriana esses 39 mil e os quebrado, a Adriana fez questão até dos quebrados. — E falou: “Olha, agora você está me devendo 11 mil, como é que a gente vai fazer?” — Aí a moça… Porque, assim, na hora do golpe é tudo lindo, mas depois… — Aí a moça começou a chorar e querer falar que amava a Adriana, “Pelo amor de Deus, não faz isso”, ela falou: Não, eu quero meus 11 mil. Eu vou te dar um prazo”. — Só que aparentemente a moça não tinha de onde tirar. —
A moça conseguiu 3 três mil. — Então soma aí 11 menos 3, faltavam 8 ainda. — E esses oito mil a Adriana demorou para receber dois anos, porque ela ia todo mês lá na loja pegar 500 pau, pegar mil reais… No final do ano, assim que a moça dobrava, trabalhava na loja lá, pegava 2.000… Só que mesmo picado, a Adriana conseguiu recuperar todo o dinheiro. — E na força do ódio, né? — Tinha mês que ia, a moça dava perdido e ela ameaçava fazer escândalo. E a sorte que ela pegou a golpista e — Sei lá, né? — sei lá se foi o primeiro golpe dela que não deu certo, né?
E aí nesse meio tempo a mocinha, lembra a mocinha que viajou? Que elas se amavam, só que a moça tinha que ir morar fora e nã nã nã. A moça voltou e, ai, gente, que lindo… Elas vão ficar juntas? Não. — Sabe por quê? — Porque a moça lá que viajou para trabalhar e morar fora, ela não tinha ido só por causa disso, ela tinha ido porque ela tinha conhecido uma moça… — Enquanto namorava a Adriana. — E a moça morava fora. E aí ela foi e se casou com a moça e voltou casada. — E a Adriana descobriu uma traição pós término de relacionamento. — Então não foi uma fase muito boa, mas a Adriana conseguiu recuperar aí a grana dela. Depois conheceu uma moça bacana chamada Camila e está junto com a Camila até hoje. Então, [risos] é um Picolé de Limão aí que, né? Teve seus danos, [risos] mas no final até que deu tudo certo, né?
[trilha]Assinante 1: Marta, Abreu e Lima em Pernambuco. Adriana do céu, pelo amor de Deus, que cagada que você teve… Sorte, mulher, de ter conseguido seu dinheiro de volta, né? Uma pena que no final as coisas não deram muito certo pra você com a sua ex, né? Sofreu esse golpe aí, mas no final deu tudo certo, você arrumou outra pessoa maravilhosa em sua vida. E a lição que fica é: não seja ONG de ninguém, né? Se a pessoa chegar pra você querendo uma geladeira, você não dá uma geladeira pra ela, principalmente com três meses de namoro. [risos] É um tempo muito pequeno, muito curto pra você criar esse vínculo aí, né? Bom, mulher, tudo de bom pra tu. Beijos.
Assinante 2: Oi, Adriana, oi, Déia, aqui é Havana, Sou de São Paulo, mas moro no Recife. E é muito complicado isso de você tirar um valor, ou qualquer que seja, tão alto de sua conta para transferir para uma pessoa e ela fazer esse investimento, seja esse investimento qual for. Todo o processo bancário tem que ser feito de você, pela sua conta corrente ou você se dirigir até uma agência e ainda que você vá investir em outros fundos de investimento, é sempre muito importante pesquisar a origem do fundo, há quanto tempo ele existe, se está registrado, de fato, no órgão competente. Então é sempre bom estar muito atento. Que bom que você conseguiu reaver seu dinheiro de volta, isso foi uma sorte rara. Boa sorte aí.
Déia Freitas: Mas, gente, pelo amor de Deus, você vai investir dinheiro em alguma coisa, você tem que fazer negócio direto com o banco, não vai depositar na conta da pessoa física. Não faça isso, pelo amor de Deus. Mesmo se for a empresa também, faz direto no banco. A gente é pobre, a gente tem que ir no banco, não tem outro lugar… Ainda mais que é só pra investir uns caraminguás, fiquem atentos. Um beijo.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]