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título: quentinhas
data de publicação: 23/03/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #quentinhas
personagens: celina e carmen

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje eu vou contar para vocês a história da Carmen e da Celina. Quem me escreve é Carmen. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

Celina e Carmen aí num relacionamento de vinte anos, um casamento, assim, muito bom, as duas muito unidas, assim, muito companheiras e fazendo mil coisas juntas e nã nã nã… Chegamos à pandemia. — E a gente sabe que, na pandemia, muita gente se separou, né? Porque é difícil mesmo conviver na mesma casa o tempo todo e, talvez, se eu tivesse um namorado morando comigo ou um marido, eu seria uma das pessoas que talvez estaria separado, porque eu não ia aguentar mesmo… 24 horas, assim, é difícil. — Então ali no meio do ano passado, Celina e Carmen já estavam, assim, dando uma estranha, né? Uma na outra… E Carmen falou: “Bom, eu preciso fazer alguma coisa”. — Que elas trabalhavam em home office, mas, assim, ainda sobrava tempo. —

Então falou: “Bom, preciso fazer alguma coisa para ocupar a minha cabeça”. E a Carmen começou a fazer várias comidinhas gostosas, assim, elas comiam… — Tipo, um prato cada uma. — E aí o que sobrava ali naquela travessa a Carmen dividia em mais dois, três pratos e congelada pra, no final de semana, a Celina levar lá para uma ONG que distribuía comida. Então, era show, assim… Chegava no final de semana, tinha, sei lá, 12, 15 marmitinhas assim de alumínio congeladas pra levar, né? E ela até comprou… — Tipo, comprou marmitinhas pra isso, e aí a Celina levava. — A Celina levava e assim foi indo, gente… Então isso foi do meio do ano até o final do ano. — Pensa assim: Um relacionamento de 20 anos, ou seja, você tem uma bagagem muito grande, você conhece ali, né? A pessoa que você ama, que está com você… —

E quando foi janeiro, que estava, assim, um pouco mais flexibilizado as coisas, um dia as duas saíram para ir no parque. [efeito sonoro de pessoas falando ao fundo] — Tipo, de máscara, tudo certinho e tal, né? E aí chegou lá no parque a Celina deu uma sumida. — No parque. — E aí a Carmen pensou: “Bom, a gente ficou tanto tempo em casa, né? Que a Celina, sei lá, deu uma pirada, tá correndo por aí igual um cachorro”. [risos] — Tipo, doida no parque, né? — E ela ficou ali um tempo sentada, elas foram para fazer um piquenique… — Gente, eu odeio piquenique… [gato miando ao fundo] Até o Nenê aqui deu um gritinho. Botar a toalha no chão… Eu sou alérgica a formiga, também tem isso, né? E botar comida no chão, na toalha ali… E aí vem formiga, vem inseto, vem gente correndo, vem bola que bate no seu suco de laranja… Né? Bola que a criança está jogando, enfim… Não dá. —

Ela estava sentadinho ali na toalha com as coisinhas quando, de longe… — Sabe quando você vê de longe? Você reconhece a pessoa, poxa, que está com você há 20 anos. E ela viu, gente… — Ela viu a Celina… Pensa longe, assim, você está olhando lá no Parque, tem poucas pessoas, não tinha muita gente, então não dava para você focar e ela viu… — Ela viu. — A Celina dando um beijo em uma moça bem mais jovem que ela, assim… — Assim, sabe quando sua cabeça não processa? — Ela falou: “Bom, não… Minha cabeça não está processando isso…” e ela continuou sentadinho ali na toalha. — Eu já ia levantar e ia lá ver, né? — E ela ficou ali sentadinha na toalha e falou: “Não, gente… É a primeira vez que a gente está saindo, como que eu estou vendo a Celina beijar uma moça daqui?” Meio escondida, sabe lá? E achou que era coisa da cabeça dela. — Reparem… —

E aí passou mais uns 10 minutinhos, veio Celina e falou: “Ah, então, fui dar uma olhada geral no parque”… — Aham… — “Ai que bom que a gente tá aqui e nã nã nã e foram embora, voltaram para casa. Quatro dias depois da visita do parque, [efeito sonoro de tranca de porta abrindo] um dia a Carmen foi no mercado, quando ela voltou, cadê Celina? Tinha um bilhete dizendo que depois ela explicava, mas que ela já pedia desculpas e Celina foi embora. Celina foi morar com a moça do parque. E aí, assim, né? Vida de Carmen acabou… E aí era só choro, era ali metade de janeiro. — Desse ano agora, 2021. — E Carmen ficou mal e os amigos ajudam, mas assim, eles estavam cumprindo — todo mundo — meio que certinho a quarentena, então ficou mais aquela coisa do online. E, assim, Carmen ela queria saber o que tinha acontecido, né? Ela queria explicações e saber de tudo. — Aí ali os amigos… Porque, assim, os amigos sempre sabem um pouco mais, né? —

Então, o que se sabia até ali e que contaram para Carmen? Que Celina tinha conhecido essa moça na ONG. — Lá que ela levava os marmitex. — E que essa moça era uma moça que ia na ONG pegar marmitex… — Então, que de um tempo depois, assim, que ela deixava as marmitex na ONG, ela não levava mais as marmitex pra ONG, levava as marmitex direto para essa moça… E onde morava essa moça, gente? — Essa moça morava na rua… Essa moça tinha ali uma grande questão com drogas. E aí o que Celina fez? Celina alugou — Alugou… — uma pequena kitnet, — dessas que você já aluga mobiliada e botou a moça — e aí além de levar as quentinhas pra moça, toda oportunidade que ela tinha, ela ia lá ficar com a moça. — Então ela bancou a moça, né? — Só que tinha uma coisa: as duas trabalhando… Só que Carmem ganhando muito mais que Celina. — E as duas com aquela questão que eu já falei aqui, da conta conjunta… —

Então, quando Carmen parou pra respirar e pra entender tudo, ela viu que a Celina tinha usado o dinheiro da conta conjunta. — Então, tipo assim… — Tinha usado o dinheiro dela para bancar a moça. Isso já era fevereiro desse ano que ela ficou sabendo de tudo, que ela conseguiu ficar mais lúcida, né? Assim, depois daquele baque do término pra saber das coisas… Ela ficou muito magoada com isso, que a Celina além de mentir e bancar outra, estava bancando com dinheiro, parte do dinheiro da Carmen também, né? — E aí é aquela coisa, gente… A Celina estava bancando porque ela tinha a Carmen. — Agora é outra coisa você bancar a kitnet lá da moça, se bancar e bancar as coisas… E aí começou a não dar certo ela com a moça. — Mesmo porque a moça continuava tendo umas questões com drogas ainda, né? —

E aí foi começando a dar ruim Celina e moça lá… E a Celina começou a voltar ali, querer voltar a falar com a Carmen. E a Carmem tinha bloqueado em tudo, tinha falado no grupo de amigos: “Olha, não quero mais saber dela. Não quero que ninguém fale dela para mim, não quero saber de nada”. E aí mais um tempo se passou. Abril, maio… — Gente, olha as loucuras da vida. — Em maio a galera ali descobriu que a Celina tinha saído do apartamento com a moça lá da kitnet e as duas, — as duas — estavam morando na rua… E a Celina estava usando droga também. — Gente, olha a volta que a vida deu e, assim, uma volta péssima no caso pra Celina. — E aí todo mundo ficou apavorado, né? Porque era muito começo ainda e os amigos se mobilizaram pra tirar a Celina dessa. E, realmente, foi uma coisa meio até que compulsória, eles foram e arrancaram mesmo a Celina daquele ambiente. — Da rua ali, das drogas. — E internada numa clínica. 

Então ela ficou ali maio, junho e julho… — Na clínica. — E agora, agosto, ela saiu e foi morar com uma amiga. — Desse grupo, né? — E aí só em julho resolveram contar pra Carmem e agora que ela está sóbria há um tempo e tal, ela quer conversar com a Carmen, quer, sei lá, tentar… A Carmem acha que não ama mais. — Mas assim, tem o afeto, né? — Tá com medo de conversar com a Celina e, de repente, ter uma recaída e voltar. E ela escreveu pra gente por isso… — Porque, assim, os amigos falam: “Ah, se você der essa chance para Celina, ela vai ficar melhor, não sei o que e nã nã nã”. Nesse ponto que tá a história. A minha opinião é: não volta. Principalmente agora… Porque agora a Celina está num ponto que ela precisa sair dessa com apoio profissional, com apoio dos amigos, mas sem você. 

Se você virar esse porto seguro agora dela, isso vai te complicar lá na frente. — Isso eu te falo. — Então, eu acho que agora… Vai, se um dia você quiser voltar com a Celina quando ela estiver 100% e realmente finalizar esse tratamento, que esse tratamento não está finalizado, é uma coisa… Agora não. Então, eu não daria essa abertura, não voltaria, nem agora… — Sendo bem sincera, como eu não perdoo, nem agora e nem nunca. Tipo, Celina que siga a vida dela, você já falou para seus amigos que você não quer saber. Eu gostei da sua postura e eu acho que é isso mesmo. — Então a Carmen escreveu para saber isso, se ela deve dar essa abertura pra Celina agora. 

Eu, Andréia, acho que não, acho que deixa a Celina lá… Ela tem o suporte dos amigos, ela tem o suporte da clínica e ela que termine o tratamento dela e siga a vida dela, sei lá… Depois se você quiser, que ela tiver melhor, aí você pode pensar nisso se você quiser voltar, sei lá… Eu não aconselho. Então é isso, gente. A Carmen quer saber aí o que ela deve fazer. 

[trilha] 

Assinante 1: E aí, galera, aqui é Jéssica do Rio. Carmem, ela não está sozinha, ela não está desamparada… Aí talvez você pudesse ter algum tipo de suporte para ela… O que a Celina fez com você, num primeiro momento, foi uma sujeira… Que ela pegou a comida que você fazia pra dar pra uma ONG, encontrou alguém, pegou o dinheiro de vocês e foi morar com a outra. Depois os caminhos que ela infelizmente acabou entrando, mas o que ela fez com você foi sujeira. Você não tem que se preocupar com ela mais… Ela está amparada, ela está com o suporte e você pode ficar tranquila. Viva a sua vida, vai ser feliz longe dela. Um beijão. 

Assinante 2: Olá, meu nome é Helena e eu estou falando aqui de Quebec. Carmen, eu já passei por uma situação parecida, já tive [inaudível], embora que não for de um racionamento de 20 anos. Eu, sendo você, não voltava, não. Essa questão de ter um companheiro que é dependente, é muito pesada e, principalmente, porque isso foi uma consequência de uma coisa que ela fez nas suas costas, né? Que foi uma traição. Então, eu admiro sua postura, acho que você foi muito forte. Não é fácil… Principalmente acabar namoro e um casamento, né? [risos] Que é muito mais sério. No meio da polêmica… Muita força pra você, muita luz e continue firme. Um beijo. 

Déia Freitas: A gente tem um grupo lá no Telegram, entra lá e deixa sua mensagem pra Carmen. Por favor, sejam gentis. E é isso, um beijo. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.