título: aquaponei
data de publicação: 08/04/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #aquaponei
personagens: fernando e armandinho aquaman
TRANSCRIÇÃO
[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei mais pra um Picolé de Limão, e hoje eu vou contar para vocês a história do Fernando. — Ê, Fernando… [risos] — Então vamos lá, vamos de história.
[trilha]Bom, o Fernando pegou a turma dele um dia aí… — Essa história tem mais de dez anos, tá? — E foi para a praia. E estava ele lá sentado na praia, passou o filtro solar, pegou um livro — pra ler — embaixo ali do guarda sol, quando de longe ele avista um rapaz, assim, muito interessante olhando pra ele. Ele falou: “Bom, vou olhar de volta, né? Vamos ver o que que dá”. E aí o rapaz ficou olhando, assim, meio que sorrindo… Uma hora o Fernando distraiu ali lendo um livro quando ele viu o rapaz estava vindo já com o guarda sol, tic, tic tic, fincou ali o guarda—sol do lado do guarda—sol do Fernando. E aí eles começaram a conversar e o cara se apresentou — para o Fernando — com o nome de “Armandinho Aquaman”. [risos] — Olha, o Armandinho eu mudei, mas o Aquaman ele se apresentou realmente como Aquaman. [risos] A gente já vê que não é coisa boa, né, Fernando? Armandinho Aquaman? –
E aí o Fernando ficou ali conversando com o Armandinho Aquaman… [risos] E era uma época que o Fernando não se sentia à vontade, assim, para beijar um cara na frente ali da galera, de geral da praia, ele tinha um pouco de medo, enfim… — Bem justificável, né? — E eles trocaram telefone e ficaram de marcar alguma coisa. E o Armandinho Aquaman morava no fundo do oceano… [efeito sonoro de risada do Bob Esponja] [risos] — Não, mentira… — Morava no litoral e o Fernando na capital. Aí acabou o dia, Fernando subiu a serra e, uns dias depois, Armandinho Aquaman realmente ligou [efeito sonoro de celular tocando] convidando o Fernando para passar o final de semana com ele na praia.
Porque, segundo Armandinho Aquaman, ele tinha uma lancha e ele tinha carteira de dirigir lancha. — Eu nem sabia que isso existia, mas existe. — Carteira de dirigir lancha, de dirigir moto aquática, enfim, né? Tem que ter uma habilitação. — Tá certo, mas eu nem nunca tinha pensado nisso, sabe? Só não sabia que precisava, mas é importante ter. — E aí o Fernando ficou todo feliz de passar o final de semana com o Armandinho e ele foi pra lá e, realmente, o Armandinho tinha uma lancha muito bonita e eles ficaram num apartamento muito bonito, que era o apartamento do Armandinho Aquaman.
E aí ali Fernando engatou um romance… Foi um final de semana muito bacana, chegou no domingo ali, no final da tarde, Fernando tinha que subir a serra, voltar para casa e eles combinaram de, no final de semana seguinte, o Fernando descer de novo. E assim foi feito… Passou ali a semana, na sexta-feira Fernando pegou a malinha dele e desceu… Foi aí um final de semana que não teve lancha, mas eles foram para a praia, eles curtiram a piscina ali do apartamento do Armandinho Aquaman, que era um apartamento de luxo. E aí o Fernando ficou com isso na cabeça, né? “Nossa, eu estou namorando um cara riquíssimo, né? — O Aquaman [risos] realmente, né?” —
E aí quando foi no domingo, o Armandinho falou para ele, pro Fernando: “Olha, eu estou pensando da gente fazer uma viagem, porque eu não tenho”… — Detalhe… — “Eu não tenho jatinho, mas eu tenho um amigo que tem e eu queria te levar para um passeio surpresa”. — Gente, passeio surpresa para mim não dá. — E o Fernando ficou todo empolgado de andar de jato… [risos] — Fernando queria anda de jato, né, Fernando? — E aí o Armandinho continuou, né? “E, para isso, eu preciso que você me envie…” — Gente, presta atenção… — “Uma cópia do seu RG com CPF só para cadastrar lá e tal, porque pra voar precisa…” Eu não sabia que precisava, mas, né? — Não entendo nada… Fernando também não entendia nada. — e o Fernando mandou para ele uma cópia do RG dele com o CPF. — Ô, Fernando… —
Aí a semana passou, né? Chegou na sexta-feira à noite o Fernando desceu e Armandinho estava lá nesse apartamento de luxo e, no sábado de manhã, que era o dia de pegar o jato [risos] o Armandinho falou assim: “Olha, meu amigo acabou de ligar e falou que o céu não está bom pra gente voar hoje, assim, tá com instabilidade, mais tarde pode ter chuva”. Só que Fernando viu que estava um dia sem muito bonito, né? E aí ele falou assim pro Fernando, o Armandinho, falou: “Olha, eu tenho uma outra surpresa para você que eu acho que você vai gostar também”. E aí eles foram pra praia ali numa espécie de Marinas assim… — Ali onde eles tinham andado de lancha, né? Onde eles entraram na lancha… — E lá o Armandinho mostrou pro Fernando uma moto aquática, bonitona, assim, verdona… E falou: “Bom, hoje a gente vai andar de moto”. [risos]
E lá foi o Fernando na garupa do Armandinho… E foi um dia delicioso, assim, né? Ficaram de moto aquática pra lá e para cá passeando. Foram até meio longinho e deu tudo certo… Chegou domingo… O domingo o Armandinho estava muito, assim, grudento com o Fernando. — Mas o Fernando achava que parecia, assim, uma despedida, sabe? — E aí o dia passou… Fernando foi embora. Eles se falavam todos os dias… Então, todos os dias o Aquaman ligava pra ele. [risos] Chegou na segunda-feira, Aquaman não ligou. Aí Fernando falou: “Sei lá, ele deve estar ocupado, né?”, na terça-feira Aquaman não ligou. Na quarta-feira o Fernando resolveu ligar, né? E aí ligou e o telefone já não dava sinal, já não dava sinal… Na quinta ele não conseguiu falar, na sexta que seria o dia dele descer — para o litoral para encontrar o Aquaman — ele não foi, porque ele não conseguiu falar com Aquaman. E passou o final de semana ali angustiado, né? — E o Fernando falou para mim que, assim, que pensava em qualquer coisa menos em, sei lá, que ele estava dando perdido. Ele chegou a pensar até que… [risos] Ai, desculpa… Que o Aquaman tinha se afogado. O Aquaman não se afoga, ele vive no fundo do mar com os peixes, ele não vai se afogar, mas enfim… Pra você ver a cabeça da gente como é, né? –
O Fernando pensou em todas as coisas, menos que talvez ele tivesse sido abandonado pelo Aquaman. E aí ele falou: “Bom, esse final de semana ele não falou comigo a semana toda, qualquer coisa, final na semana que vem eu vou lá, né? Porque estou preocupado”. E, de novo, durante a semana não conseguiu falar com o Aquaman e ele conhecia uns amigos do Aquaman, mas, assim, sabia tipo onde ficava na praia? Era uma coisa meio, assim, solta… — E fazia pouco tempo também que eles estavam juntos. — E aí o Fernando desceu… Não desceu na sexta à noite, desceu no sábado de manhã para ver se ele achava o Aquaman por ali… E não achou, gente, o Aquaman pela praia.
Foi lá no apartamento, chamou o porteiro e o porteiro falou a seguinte coisa pro Fernando, falou: “Olha, o Armandinho não tá mais aqui, não, ele estava cuidando do apartamento de seu Miguel, mas o seu Miguel já voltou”. Aí o Fernando falou: “Cuidando?” e ele falou: “Ah, o Armandinho era caseiro aqui, né? Às vezes ele cuidava, limpava aí uma prataria, umas coisas das pessoas daqui, mas agora ele já não está mais aqui, não, não sei onde ele tá”. — Então, a primeira mentira era ali, porque o Armandinho falava que o apartamento de luxo ali era dele, inclusive eles usaram a piscina. Então meio que ali algum funcionário sabia mais, né? Podia dar mais informação, mas ninguém deu. —
Aí ele foi para a praia de novo procurar o Armandinho Aquaman e não achou, gente… Não achou, perguntava para um, perguntava para outro e ninguém sabia dele. E ele voltou para casa arrasado porque já estava gostando do Armandinho. — Gente… — Três meses depois chega uma carta de cobrança na casa do Fernando, vocês não vão acreditar… O Armandinho tinha comprado uma moto aquática financiado no nome do Fernando. —Como ele conseguiu só com uma cópia do RG? Não se sabe. RG e CPF, né? Mas ele conseguiu. — E um aviso de cobrança de que a segunda parcela ou terceira parcela estava em aberto. E chegou na casa do Fernando, então até o endereço ele botou certinho. E aí o Fernando ficou desesperado, porque ele foi descobrir que o preço de uma moto aquática começa em 30 mil… Na época, era 32 mil reais o valor da dívida que ele tinha.
E aí ele ficou desesperado, acionou alguns amigos e teve que entrar na Justiça. — Porque não foi ele que assinou nada, então não tinha assinatura dele de um financiamento, nada, né? — Ele conseguiu provar que tinha sido uma fraude e tal e que não tinha sido ele, que ele não tinha comprado nada… E depois de muito tempo ele conseguiu tirar isso do nome dele. — Então não foi fácil. — E nunca mais, gente, nunca mais ele soube do Armandinho Aquaman, que deve, provavelmente, ter ido para outra praia, sei lá, tá em outro estado… E ele não sabia muito do Armandinho Aquaman, né? E essa é a história do Fernando. [risos] Ainda bem que ele conseguiu reverter na Justiça, porque é pessoa que vendeu lá, o lugar, — é tipo uma concessionária de moto aquática — não tinha a documentação dele, nada assim, né? Não tinha a assinatura certa, nada… Então foi importante ele ter ido atrás disso para resolver… — Provavelmente esse cara aí que vendeu devia estar até, sei lá, meio que armado com Armandinho. Armado com o Armandinho ficou bom. [risos] –
E foi um perrengue que Fernando passou até resolver, mas ele realmente acreditou — na época — que o Armandinho era rico mesmo e que o amigo dele tinha jato. [risos] Ia andar de jato… E que eles realmente andaram de lancha… — Provavelmente era de alguém ali daquele prédio também, né? Que ele estava tomando conta de várias coisas ali das pessoas que só vão em temporada, né? Então, meio que o apartamento fica fechado, sei lá… — Mas não é louco isso? O cara, tipo, um golpista mesmo assim, daqueles mentirosos compulsivos.
[trilha]Assinante 1: Oi, pessoal, aqui é a Ana, moro em São Paulo e eu tô apavorada com essa história do Aquaman que saiu das profundezas do mar pra aplicar golpes [risos] em pessoas de bem. E, assim, eu fico chocada porque a gente é totalmente vulnerável, né? Nessas questões… Porque eu faria a mesma coisa, assim, o cara pede… Um cara que eu estou namorando me pede o RG, “ah, vamos fazer um passeio”, eu mando, porque, assim, o que há de mal, não é mesmo? Só que tem muita gente péssima no mundo, inclusive esse Aquaman dos infernos. Ainda bem que deu tudo certo, que você conseguiu provar que não tinha comprado. E, olha… [risos] É isso, um beijo.
Assinante 2: Olá, Déia, olá, Não Inviabilizers, aqui é a Hanna de Santo André, São Paulo. Bom, não julgo você, Fernando, eu também não sei sobre nada de moto aquática e nem nada disso, então provavelmente eu também iria mandar uma cópia do meu RG e meu CPF, se eu não mandasse a cópia do RG, eu iria mandar, provavelmente, o número… Então não te julgo, tenho bastante empática com você porque também faria a mesma coisa, tá bom? Mas cuidado aí, é muito sério a gente mandar documentos e todas essas coisas assim pra quem a gente conhece pouco, né? É isso, um.
Déia Freitas: Então, um beijo. Comentem lá a história do Fernando com Armandinho Aquaman [risos] no nosso grupo do Telegram. Um beijo.
[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]