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título: furtos
data de publicação: 22/04/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #furtos
personagens: tainá e ronaldo

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje eu vou contar para vocês a história da Tainá. Bom, então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Tainá conheceu o Ronaldo na pandemia, bem ali no meio do ano passado. — Ê, Tainá… —E aí, assim, era muito complicado pra se encontrar, pra namorar em plena pandemia, né? — A gente ainda está em pandemia, mas sei lá, metade do ano passado foi o auge, assim, não tinha vacina, não tinha nada. — Só que Tainá e Ronaldo ali deram um jeito e começaram a namorar. Para esta história é importante dizer que Tainá é uma mulher negra da classe C, — da classe trabalhadora, né? — e o Ronaldo é um homem branco, empresário, rico. Entre os dois isso não faz diferença, assim, eles estão muito bem e felizes. Mas acontece que o Ronaldo tem uma questão. — E é isso que me preocupa… Então, voltando ao começo aí do relacionamento deles. —

O Ronaldo morando sozinho aí num belo apartamento, então Tainá começou a frequentar esse apartamento. Então, assim, ano passado tudo fechado, né? Agora que muita gente já foi vacinada, tem pessoas que já conseguem ir a um restaurante, enfim… — Eu não vou, né? Mas Muita gente já tem coragem pra ir, tirar a máscara, comer, enfim… — Então esse primeiro… — Digamos, ano. — Pouco menos de um ano de relacionamento de Tainá e Ronaldo, foi uma coisa mais na casa de Ronaldo, né? Sem uma vida aí social, né? — Só os dois ali e tal, a coisa funcionava super bem. — Até que em março desse ano, — final de março — o Ronaldo convidou a Tainá para um passeio, ah, porque eles iam fazer umas compras e tal, ele estava precisando de umas coisas e nã nã nã e eles acabaram indo aí num lugar chique, que tem um empório muito chique e o Ronaldo começou a pegar as coisas ali que ele queria pegar, né? E colocar as coisas ali numa espécie de cesta pra levar até o caixa.

E, conforme ele foi pegando as coisas e conversando com a Tainá, muita coisa ali a Tainá nunca nem tinha visto, né? — Coisas de comer, de beber, enfim, coisas de rico, né? — Quando ele pegou uma coisa pequena, mas que custava muito caro de comer, — muito caro mesmo, assim, tipo 500 reais — uma latinha… E botou no bolso. Tainá ficou meio sem acreditar, porque assim, ele não precisava fazer aquilo, ele tem bastante dinheiro, mas ela viu que ele colocou essa latinha no bolso… E aí a Tainá já começou a ficar suada, assim, né? “Será que ele está brincando? Será que a hora que ele chegar lá no caixa ele tira do bolso e paga isso, né?”. E ele comprou as coisas, passou pelo caixa, não tirou a latinha do bolso e levou a latinha com ele. Não foi parado. — Sei lá, na porta da loja, né?  Porque Tainá com certeza vem de uma realidade onde se o segurança desconfia de você, ele vai te parar na porta da loja. — 

Este cara, Ronaldo, branco e rico, não foi parado na porta da loja. E passou direto… E a hora que eles chegaram no carro ela comentou com ele, ela estava meio em choque, né? E aí a Tainá falou pro Ronaldo, falou: “Meu, você pegou esse negócio”… — Porque ele tirou do bolso, né? — “E você não pagou”. E aí o Ronaldo começou a rir e falar: “Isso é bobagem”. [efeito sonoro de pessoa rindo] E colocou ali a latinha junto com as coisas que ele tinha comprado e não falou mais nada a respeito. Tainá ficou meio em choque. Depois, um tempo depois, eles foram passear no shopping e, de novo, o Ronaldo acabou roubando uns óculos que, assim… — Ele nem usaria, assim… — Nem era o tipo de óculos que ele usaria, né? E a Tainá, de novo, junto com ele e só observando… E assustada.  E aí de novo ela falou com ele, ela falou: “Olha, eu não tenho condição de sair com você… Você roubando as coisas, furtando as coisas em lojas”. — Não é roubo, é furto, né? — 

E ele de novo minimizou, falou: “Isso é bobagem e tal”, e aí a Tainá foi mais dura ali na hora e falou: “Não, isso não é bobagem, eu quero que você vá lá e devolva esses óculos”, e ele falou: “Não, não vou… [efeito de voz grossa] Não vou, imagina… Não vou. Isso é bobagem”. E ficou nisso, ele não foi e não devolveu. E aí a questão está aí… A Tainá ama muito esse cara e esse cara, Ronaldo, também ama muito a Tainá… Só que ele é um cara rico que furta, né? — E eu perguntei pra Tainá: “Ele foi diagnosticado? Ele faz terapia? Ele já passou num psicólogo, um psiquiatra?”, porque realmente ele pode ter um transtorno, ele pode ser realmente um cara que é cleptomaníaco e tem esse impulso incontrolável de furtar coisas… Mas como ele não é um cara que foi diagnosticado e que tem um acompanhamento, não tem como a gente falar isso, né? A gente pode até supor que seja isso, mas não dá pra gente falar. — Então, o que preocupa a Tainá é: Ela sempre foi uma mulher muito honesta e, ela presenciar ele furtando coisas está deixando ela muito mal, meio que sem saber como lidar com isso. 

Isso é o que preocupa a Tainá e é por isso que ela escreveu. — O que me preocupa? Eu, Andréia… — O que me preocupa mais que isso… Primeiro que eu já falei pra Tainá, falei: “Você não pode ser ONG desse cara, e ONG inclui ser clínica de reabilitação de qualquer coisa”. Então, se ele precisa de um acompanhamento, de um tratamento, de ter aí alguns profissionais acompanhando ele pra ter um diagnóstico, ele tem que procurar uma ajuda especializada. Você não pode ser essa ONG de reabilitação que vai tentar, entre aspas, ajudar esse cara a sair dessa, entendeu?” Isso tem que ficar claro. Então, pra mim, essa é uma questão muito clara, que é a questão que a Tainá trouxe, né? “Ah, como ela pode ajudar ele?” Não pode, Tainá, você não pode ajudar ele. Ele tem que procurar uma ajuda especializada, entendeu? Você não pode fazer isso, você não pode pegar essa carga para você, você não é ONG de reabilitação, clínica de reabilitação de ninguém.

Então essa é a minha opinião para a Tainá com essa demanda que ela trouxe. — Porque era isso que ela queria saber, o que ela pode fazer para ajudar esse cara. Já disse que não pode. Agora, o que me preocupa? Eu, Andréia… — Tainá é uma mulher negra, da classe C, andando com um cara branco, rico que furta… Se a casa cair e um segurança parar o casal, a Tainá vai rodar junto com ele. Pra mim a maior questão é essa… Que, numa dessas, a Tainá pode ser presa. “Ah, vai ficar presa?” Não sei se fica presa, se não fica, porque Tainá nunca cometeu nenhum delito, mas que vai ter uma anotação ali na ficha dela, vai ter… Que aí você vai falar: “Ah, não, eu estou com ele só… Ele pega as coisas, mas ele é rico, sabe?”. Aí, sei lá, não sei o contexto, chega lá e ele tem um advogado bom, você não tem ou ele não paga o advogado pra você… Sei lá, entendeu?

Então, o que me preocupa mais é Tainá — preta —  andando com esse cara branco que fica roubando loja. Para mim é o que está pegando agora. Então, o meu conselho é: Tudo bem, você ama esse cara, Ronaldo também te ama, vocês se amam e nã nã nã… Fiquem no apartamentinho dele. Vai lá, fica com ele, assiste um netflixzinho, come um negocinho… Fica lá com ele de amorzinho e só… Porque sair com esse cara e ele furtar alguma coisa e, de repente, você nem vê, daqui a pouco tem dez seguranças te jogando no chão, sabe? Você não precisa passar por isso. Então, a questão da Tainá é: O que fazer para ajudar Ronaldo? E eu já disse: Você não tem muito o que fazer, você pode falar para ele que ele precisa de uma ajuda profissional e indicar o caminho. Só isso. Você não é clínica de reabilitação de ninguém.

Então essa é minha opinião, eu gostaria que vocês dessem aí uma luz, uns conselhos pra Tainá. Sejam gentis.

[trilha]

Assinante 1: Oi, Tainá, aqui é a Vanessa, falando de Toronto. Tainá, eu sinto muito que você esteja passando por esse tipo de situação, mas eu concordo em gênero, número e grau com o que a Déia falou. Como diz na minha terra: Pau que bate em Chico, não bate em Francisco, né? Infelizmente a gente sabe que ele, por se um cara branco, rico e você uma mulher preta, classe C, a gente sabe que se a corda tiver que estourar, vai estourar pro seu lado. E se ele é capaz de minimizar o furto, de fingir que nada aconteceu, pra ele dizer que a culpa é sua é beiço de pulga, ou seja, tipo, nada… Então, se cuida, fica bem, deixa esse cara pra lá e vai ser feliz, tá bom? Um beijo.

Assinante 2:  Oi, meu nome é Kelly e eu falo de Itabirito, Minas Gerais. Tainá, infelizmente a gente sabe que só o amor não é o suficiente pra um relacionamento dar certo. Tem outras questões que precisas ser avaliadas, né? Eu acho importante você pensar, pra você, o que são valores seus? O que são princípios seus que você não abre mão, que você se reconhece como pessoa e que você gostaria que o seu companheiro também tivesse… Porque se a honestidade for um desses fatores, porque como a Déia falou, parece que é sim, então você tem que se questionar: Você não estaria passando por cima de você pra estar com alguém que age dessa forma? Porque pode ser que seja uma doença tratável, pode, mas pode ser que seja uma questão de caráter também… Ele rouba e acha que isso não é nada demais. É do caráter dele? Estaria ok estar com alguém assim? Pensa direitinho… Eu te desejo muita sabedoria, muita força pra lidar com isso da melhor forma. Conta com a gente.

[trilha] 

Déia Freitas: Nós temos o grupo do Telegram… Então, se você ainda não está no nosso grupo Telegram, ele é muito bem organizado, a gente só comenta sobre as histórias com hashtags. Então, entra lá, é só jogar na busca do Telegram “Não Inviabilize” que o grupo aparece. E essa é a questão da Tainá, o que fazer para ajudar Ronaldo, visto que os dois se amam e vão continuar juntos. E eu acho bacana isso, né? Se se ama e está, junto, tá junto… Agora, pra mim a questão maior é a Tainá, mulher preta, saindo com um cara branco, rico que furta coisas… E se a casa cair, vai cair mais pra Tainá do que pra esse cara. Então, isso é o que me preocupa mais neste momento. Então é isso, um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.