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título: anjinho
data de publicação: 17/06/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #anjinho
personagens: gabriela e anjinho

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje eu vou contar pra vocês a história da Gabriela. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha] 

A Gabriela tava numa festa aí… A gente está falando de algo pré—pandemia, né? E ela viu que aí a galera dela, os amigos, estavam todos muito empolgados com um cara que tinha chegado na festa. — Quem era esse cara? — Esse cara, há sei lá, uns seis, sete anos antes, tinha estudado com essa galera, era tipo o queridinho da turma, e aí ele foi fazer intercâmbio fora do Brasil, enfim, X, lugar X e tinha voltado agora… Ficou por muito tempo, estudou, trabalhou, nã nã nã e voltou… E era um cara que todo mundo gostava demais, assim, que até algumas pessoas chamavam esse cara de “anjinho”. “Ah, porque o Anjinho, porque o Anjinho…”, e a Gabriela ficou olhando aquele cara e ele era bonitão, assim, olhando o Anjinho, mas ficou na dela.

E ainda nesta festa, o cara foi apresentado pra Gabriela, porque ela era da turma, né? E passou… Ai depois de, sei lá, uns cinco, seis dias, eles marcaram ali uma coisinha na casa de alguém, tipo, uma comidinha e algumas bebidas e a Gabriela foi. Ela foi, levou uns packzinhos de cerveja… — Porque cada um tinha que levar umas coisinhas, né? — E quando ela chegou esse cara já tava lá e ele correu ajudar a Gabriela. — Pra pegar a cerveja da mão dela. — E logo colocar na geladeira. E aí aquela noite esse cara passou, assim, meio que paparicando a Gabriela, né? E aí a Gabriela falou “Hum, cara bacana… Todo mundo gosta dele, vou dar trela”. E acabou que nessa noite eles ficaram… E a Gabriela gostou muito de ficar com ele. — Eles, até então, não tinham trocado telefone e nada. — E aí eles trocaram telefone e depois ela viu que ela já tinha o telefone dele, porque alguém já tinha acrescentado ele no grupo, né? — Ali de zap. —

E aí eles começaram a conversar, marcaram um outro encontro… Esse segundo encontro também foi com a galera. Foi legal também… E aí já estava todo mundo assim: “Ai, casalzinho… A Gabriela como Anjinho e nã nã nã”. E, poxa, podia ser alguma coisa legal dali, né? Mais alguns encontros, — sempre com a galera… — esse cara pediu a Gabriela em namoro… [música romântica. Ali, na frente de todo mundo, sem conversar com ela antes, né? E deu um ursinho pra ela. — Já odeio. [risos] — E aí ela ficou super, assim, sem jeito, né? Porque eles não tinham conversado sobre isso e foi uma surpresinha, né? Mas ela gostou porque, poxa, é o Anjinho… Só que tinha um detalhe, gente… Por mais que eles estivessem juntos ali em todas as vezes que a turma se encontrava e tal, eles tinham pouquíssima intimidade. O cara conversava muito pouco com a Gabriela, né? E eles não faziam nada além de sair com a turma, tipo, às vezes a Gabriela falava: “Ah, queria ir no cinema” sei lá, fazer alguma coisa só os dois e ele sempre dava alguma desculpa.

Só que agora que eles estavam namorando, eles faziam algumas coisas sozinhos, mas era assim, sempre tudo muito rápido antes de encontrar a turma. E esse cara aproveitava para tirar muita foto com a Gabriela, ele gostava muito de postar foto com ela. — E, tem um detalhe que é importante pra essa história. — A Gabriela ficou mega feliz com esse cara, porque assim, a Gabriela é uma mulher gorda. Então, esse cara, assim, postava fotos como ela, fazia uns textos assim falando sobre gordofobia e falando várias coisas, enfim… — Eu acho que é até inadequado, sabe? Por mais que ele estivesse elogiando e tal, não sei, acho estranho. — Mas a Gabriela ficou muito feliz de ver que o cara estava assumindo ela nas redes sociais e, quem via ali o Instagram do cara falava: “Poxa, esse casal… Esse casal é maravilhoso”. Só que eles tinham pouquíssima intimidade, eles ficavam pouquíssimo juntos, assim, na real.

E a Gabriela foi levando, porque até então também era o primeiro namorado dela. Então, ela falou: “Bom, acho que a gente vai se acertando, né?”. Até que um dia eles iam a uma festa e essa festa era uma festa da família do cara. Ela não ia estar sozinha com ele, mas ela ia ser apresentada para família, então ela estava muito, assim… — Nervosa, né? — Aí ela pôs um vestido muito bonito, assim, estampado, florido… Tipo os vestidos da Pônei [inaudível]. — [risos] Não sei se vocês vão pegar, captar a marca aí… No barrado do vestido tinha umas flores muito lindas, assim, e era um vestido meio rodado, bonito mesmo… Eu vi o vestido. Maravilhoso. — E quando ele veio buscar a Gabriela ali na casa dela, que ele viu o vestido, ele falou com muito carinho, muito jeitinho: [efeito de voz grossa] “Ah, Gabi, você vai com esse vestido? Ah, você fica muito redonda com esse vestido… Fica muito grande, assim. Põe alguma coisa mais discreta”. — Gente? —

Ela toda produzida, maravilhosa, com um vestido incrível e o cara falou isso para ela… E aí ela foi lá e trocou de roupa… E aí trocou de roupa, colocou uma calça jeans e, enfim, uma blusa preta, sapatilha e foi… E aí ela, assim, ela ficou chateada, mas falou: “Ah, sei lá, de repente a família dela é mais simples… Eu estava muito arrumada, não sei”. Mas ela chegou lá nessa festa e estava todo mundo mais arrumado que ela. Se ela tivesse ido com vestido ia ser sucesso, sabe? E aí ela ficou chateada, mas passou… Só que esse cara sempre dava dessas, sabe? Ele se declarava pra ela assim: “Você sabe né? Que você não vai achar nenhum cara que te ame mais do que eu, né?”. — Sabe esse tipo de cara? — E aí a Gabriela foi percebendo que, assim, quando estava em turma ele era muito carinhoso com ela, quando estava só os dois ele era mais seco, assim… — Ele não chegava a ser grosseiro, nada, mas ele era uma pessoa diferente quando estava só com ela. —

Eu não vou ficar aqui detalhando as coisas que o cara falava pra Gabriela, mas era assim: Quando estava em turma ou com a família dele, em público, ele era o cara mais maravilhoso do mundo com a Gabriela. Quando estava só os dois, ele era meio frio, meio, assim, impaciente, meio “ai, o que você tá falando comigo?”, sabe assim? Como que eu vou explicar… O que aparentemente entre as pessoas ele fazia pra que a Gabriela fosse exaltada como uma mulher maravilhosa, empoderada, “ah, porque uma mulher linda, gorda e nã nã nã”, entre os dois, era totalmente ao contrário. Uma vez eles foram tomar sorvete — E, gente, sorvete de casquinha, sabe? Tipo no McPônei? — e ele implicou com a casquinha, uma casquinha… Tipo, a Gabriela tomou ali a casquinha e foi… — Gente, eu como a casquinha também… A casquinha não é para comer? É pra comer a casquinha, né? — E ele ficou horrorizado e falou: “Tá vendo? É por isso, né? Também, você come casquinha, come tudo… É por isso, né?”. “É por isso, né?” o que? 

Então ele era esse tipo de cara. Ele não chegava a completar os pensamentos do que ele queria falar pra Gabriela, mesmo quando eles estavam entre os dois só, mas a Gabriela sacava tudo que ele estava falando pra ela, meio que xingando veladamente, sabe? Botando ela pra baixo, de uma maneira quase fofinha. E a Gabriela ficou nesse relacionamento por dez meses, até que ela começou a falar pra algumas amigas como era e as amigas meio que ficaram prestando atenção, né? E aí todo mundo começou a falar pra ela, tipo… — Algumas amigas, né? Algumas meninas da turma… — “Mano, termina… Termina… Mete o pé, sabe?”. E aí com uma força dessas amigas — porque sozinha ela não conseguia — ela conseguiu terminar com esse cara. Teve gente na turma que ficou “Nossa, imagina, o Anjinho… Ele é um cara incrível e nã nã nã”. Esse cara depois do término ficou fazendo que estava sofrendo ali por três semaninhas e aí depois veio com o discurso da amizade… 

Mas, nesse ponto, a Gabriela já tinha acordado para as coisas que ele fazia e o quão violento eram essas coisas, né? Porque parecia um cuidado, parecia um carinho, né? Mas era abuso. E aí a Gabriela já puta com ele… Então, assim, aí já também avacalhou e, até numa festa que eles foram e estava todo mundo, ela fez um barraco lá, xingou ele de tudo quanto é nome. [risos] — Amo. — E passou… Ela não bloqueou ele, mas assim, meio que ela continuou na turma. — Porque é uma turma já antiga, né? Todo mundo se conhece… Ele também continuou na turma, mas eles meio que não se falavam. — Até que chegamos a pandemia, começo de pandemia ali, ano passado. E esse cara, mais uma vez, fingindo preocupação e, assim, né? Fingindo aí um cuidado, mandou um artigo pra Gabriela dizendo que era pra ela tomar mais cuidado que todo mundo, porque as pessoas gordas morriam mais de coronavírus. — Sério? Sério? — Só aí a Gabriela bloqueou esse cara em tudo. 

E o jeito que ele estava falando na mensagem, assim, era muito… Como é que vou explicar… Irônico não é a palavra, mas, tipo, você não sabia se ele estava dizendo: “Olha, você vai morrer, hein? De coronavírus”, ou se ele estava realmente preocupado… Mas tinha mais cara de: “Olha aí, você vai morrer”, sabe? E aí Gabriela printou e postou no Instagram dela e depois bloqueou ele em tudo. E aí muita gente veio falar com ela, que já tinha saído com esse cara e que ele era assim, que ele fez coisas desse tipo e tal… Na frente dos outros parece que ele te ama e que ele te elogia, aí quando tá só vocês dois ele é uma péssima pessoa, sabe? E aí meio que, assim, esse cara ficou exposto mais… — E aquela coisa, né? O carinha branco com cara de anjinho… — Logo depois já estava todo mundo perdoando, né? Então esse cara tá por aí, tá circulando… Infelizmente ainda participa de alguma coisa ou outra da turma da Gabriela, — porque nem todo mundo rompeu com ele. — 

E essa é a vida real, né, gente? Nem todo mundo te apoia, nem todo mundo acredita nas coisas que você fala, principalmente quando os caras fazem esse jeitinho aí, amigão, fofinho, né? Em público… E quando você tá só vocês dois só você sabe, né? — O que você passa. —

[trilha]

Assinante 1: Oi, Não Inviabilizers, aqui é a Vanessa falando de Toronto. Gabriela, parabéns por ter se livrado desse embuste, viu? É muito clássica essa estratégia de homem abusivo, na frente dos outros ele ser a melhor pessoa do mundo, mas aí na vida íntima com a pessoa, com a mulher, aí sim é que ele mostra a verdadeira face dele. Isso é uma estratégia muito, muito comum e, principalmente, né? Coloca a mulher num papel de doida, porque quando vai falar pras outras pessoas: “Não, mas imagina… Você que tá entendendo errado. Não, você que tá louca”, e a gente começa a duvidar da gente mesma se a gente não tiver muito atenta. Então, parabéns pra você, por ter se livrado desse embuste atraso de vida. Que bom que as suas amigas começaram reparar e ficaram do seu lado, isso é muito bom. E agora é bola frente que, sinceramente, um atraso de vida desses, ninguém precisa. Peso morto a gente tem que jogar fora. Um beijo.

Assinante 2: Oi, gente, oi, Déia, aqui quem fala é Nayara de São Paulo. E, assim, Anjinho chega a ser irônico, né? Porque de anjinho não tem nada. Um cara super tóxico, abusivo… Um verdadeiro embuste, né? Gabriela, fico muito feliz que você tenha se livrado desse cara, eu já me envolvi com um cara exatamente assim, que na frente de todo mundo ele era maravilhosa e comigo ele era um traste. É difícil a gente se livrar disso, porque a gente cria uma imagem da pessoa, a gente cria uma esperança, né? E, na verdade, não é nada daquilo. Então, fico muito feliz que assim como eu você também se livrou e, meu, segue sua vida, se cuida, você é linda, maravilhosa, se ame e é isso que importa, tá bom? Um beijo.

[trilha] 

Déia Freitas: Então, eu espero que, com essa história, se você tá aí na mesma situação que a Gabriela: mete o pé. Sai dessa, sai fora, sabe? Não importa que todo mundo gosta dele, que ele é legalzão, que ele é incrível… Ele não é. Você sabe que ele não é. Então mete o pé, procura suas amigas, sabe? Procura alguém, sai dessa. Então é isso, gente, um beijo.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.