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título: forma humana
data de publicação: 25/06/2022
quadro: luz acesa
hashtag: #formahumana
personagens: marina

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei e cheguei para um Luz Acesa. Hoje eu vou contar para vocês a história da Marina. — Essa história tem mais de 20 anos, Marina ainda cursava o segundo grau à noite e é isso… Vamos contar a história dela. — Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Marina estudando… — Ela trabalhava o dia todo, estudava à noite. — E ela ficava muito cansada, cansada, real, assim… Ela tinha uma vida muito corrida, ajudava em casa com as despesas, — então não era uma opção não trabalhar e ela também queria terminar o ensino médio. — Então, pra não ficar tão cansativo, ela trabalhava num mercado e estudava perto do mercado, porque assim, ela pegava o ônibus e ia para o mercado, trabalhava o dia todo, ia pra a escola, — uma escola estadual do lado do mercado. — E aí, quando era mais ou menos umas 11 horas, passava o ônibus dela ali do lado do mercado. [efeito sonoro de ônibus parando] de volta para casa. — Então, pelo menos ela não tinha que gastar com mais condução pra ir até a escola, enfim… —

E ela conhecia o cobrador dessa volta, né? Das 23 horas. Era sempre o mesmo cobrador e ela entrava, ela estava sempre muito cansada, conversava um pouco ali com o cobrador e dormia. E quando chegava no ponto dela, o cobrador e o motorista já sabiam, paravam até um pouco fora do ponto, mais perto da casa dela e ficavam esperando ela entrar em casa. Todo dia era assim, todo dia… Um dia a Marina entrou no ônibus e sentada lá atrás, ela viu uma amiga dela do mercado. E ela passou… A amiga estava sentada na janela no ônibus e ela passou falou “oi” para o cobrador e foi, sentou do lado dessa amiga e começou a conversar. E essa amiga dizia que estava com um pouco de tontura e tal, estava com medo de chegar sozinha em casa.

Queria saber se a Marina podia dormir na casa dela com ela, mas ela morava, tipo, na metade do caminho. No mesmo ônibus da Marina, mas na metade do caminho. E uma coisa que a Marina não entendeu é que, assim, as duas saíram juntas do trabalho e essa amiga foi pra casa, então ela voltou pra trabalhar no mercado à noite? E aí a Marina perguntou isso, essa moça desconversou, né? Não falou nada. E aí ela convenceu a Marina a descer na metade do caminho com ela. Então, assim, ainda tinha um trajeto de ônibus até chegar nessa metade do caminho, mas a ideia era: A Marina descer na metade do caminho com essa moça e ir dormir na casa dessa moça. E aí quando chegasse na casa dessa moça, ela telefonava pra a casa da mãe, né? — Porque nessa época não se tinha celular ainda. — Então ela telefonava e avisava que ia dormir na casa da amiga, porque a amiga estava com tontura e nã nã nã.

Então, estava tudo ok e elas continuavam conversando… Às vezes a Marina olhava para o cobrador e ele estava com uma cara muito estranha. E foi chegando, essa amiga levantou, — aí a Marina teve que levantar também, porque a moça estava sentada na janela, né? — e aí ela levantou e falou para Marina dar o sinal que elas iam descer. Quando a Marina foi descer do ônibus, e conversando com a moça, né? O cobrador segurou o braço dela… E falou: “Onde você vai?”, aí a Marina, assim, na hora assustou… Porque, gente, ela não tinha essa intimidade com o cobrador, né? Ela falou: “Eu vou descer aqui com a minha amiga”. O cobrador olhou bem sério para ela e falou: “Que amiga? Você tá conversando sozinha desde a hora que você entrou… Você vai descer aqui no meio desse mato pra que?”. Gente… Não tinha… — Ó, eu fico até arrepiada… — 

Não tinha uma pessoa no ônibus conversando com a Marina, ela estava conversando sozinha… E essa suposta amiga não existia, não tinha ninguém ali sentado. — A Marina disse, que era amiga dela… Pelo menos tinha ali a forma física da amiga dela, algumas coisas essa amiga não respondia, tipo, coisas normais assim, que com certeza a amiga saberia, mas a amiga ficava quieta. — E seja lá o que for isso, queria que a Marina descesse ali num lugar que era totalmente ermo, um matagal… Era um ponto que o cobrador falou que eles nem gostavam de parar, porque ali já tinha desova de corpo, já tinha algumas mulheres tinham sido abusadas, enfim… E aí o cobrador segurou no braço dela e quando ela olhou pra frente que seria para a amiga que estava na porta para descer, ela viu, tipo, como se fosse uma fumaça, assim… Não era uma fumaça, foi uma mancha, sei lá, uma coisa se dissipando… [efeito sonoro de pessoa gritando]

E aí ela assustou, começou a gritar… Tinha meia dúzia de gato pingado no ônibus, a maioria dormindo… E aí o motorista parou e o motorista também falou pra ela falou: “Não tinha ninguém, daqui do espelho do ônibus eu via você falando sozinha, dei um toque para o cobrador e ele também já tinha visto… E a gente te segurou, por que como você ia descer nesse mato?” E aí, assim, a Marina foi embora em choque… Quando ela chegou na casa dela, — o motorista e cobrador ficaram como sempre olhando ela entrar em casa. Dessa vez até um pouco mais assim, ela entrou e ainda viu do muro que eles estavam lá parados. — E que sorte, né? Ter um motorista e um cobrador assim, atenciosos, porque já pensou se ela desce ali naquele meio do mato? E quando ela chegou em casa, a primeira coisa que ela fez foi telefonar para essa amiga… E essa amiga estava no quinto sono já, estava dormindo, não conseguia nem entender o que a Marina estava falando.

E aí no outro dia ela conversou com essa amiga, essa amiga falou: “Meu Deus, não era eu, de forma alguma… Eu estava em casa já, estava dormindo”. — E, gente, o que foi isso? A Marina falou: “Tinha forma humana, só deixou de ter forma humana quando o cobrador me segurou e eu olhei de novo e eu vi essa mancha, essa coisa, assim, tipo, se dissipando” e estava querendo que ela descesse no meio do mato, gente… — O que ia acontecer? Porque, assim, sei lá o que era isso…Quando ela descesse ia fazer o que? Teria alguém ali? Ela seria atacada? Assim, eu não consigo entender — porque a gente nunca vai saber, né? — qual a motivação disso, né? O que era isso, gente? Como que tinha a forma e as roupas e a textura de pele, tudo de um ser humano, da amiga dela… Chamou a Marina pelo nome… 

E aí nunca mais isso voltou a acontecer, a Marina já estava terminando ali o ensino médio e terminou… — Também não encontrou mais esse motorista e esse cobrador, que eles eram do turno da noite, né? E ela trabalhava no mercado, entrava cedo e tal, saía no final da tarde… — Mas cara, esses caras salvaram a vida da Marina… Eu acho pelo menos, porque seja lá o que for isso aí que estava no ônibus, não era uma coisa boa e queria que ela descesse no meio do nada, num matagal… E ela ia descer, porque ela achou que ela estava com a amiga dela e ia cuidar da amiga dela. — Gente o que que é isso? — Agora já vou ficar cismada com qualquer pessoa que eu encontrar. Socorro. O que é isso? Que explicação que se tem para uma coisa dessas… A Marina falou que isso nunca mais voltou a acontecer. Na casa dela não aconteceu nada, ela contou pra mãe dela, a mãe dela, tipo, fez até umas orações e tal, mas assim, nada mais aconteceu, foi só isso, nesse dia… — E era um dia comum de meio da semana, assim… — 

A Marina falou: “Andréia, eu até fui olhar se era lua cheia, alguma coisa, mas não era nada… Não tinha nada de especial, era um dia comum”. E meu Deus do céu, o que será que, sei lá, que ia acontecer se ela descesse no meio daquele matagal? Ainda bem que o cobrador segurou ela. E, assim, só ela via, né? O cobrador viu ela conversando sozinha e o motorista também viu ela conversando sozinha… Ela alucinou? Não sei dizer, mas fiquei com muito medo. Esse tipo de história me dá mais medo do que qualquer história de monstro, assim, porque é uma coisa que realmente eu acho que pode acontecer assim e, sei lá, a gente ser enganado, achar que é alguém que a gente conhece e ser uma criatura, sei lá… O que vocês acham? 

[trilha]

Assinante 1: Oi, gente, aqui é o Guilherme do Rio Grande do Sul. Bom, o que eu acho que pode ser essa criatura, essa coisa aí que apareceu, né? Eu acredito que tem algumas possibilidades… Pode ser aí uma criatura que aparece na mitologia, que seria… A tradução do alemão seria “uma cópia”, um ser que cópia os outros. Poderia ser também um espírito, que se materializou, mas coisa boa não é? Olha o local que ia parar… Então, eu acho bem bizarro, assim… Eu teria muito medo [riso] e ia tentar descobrir o que que é em algum lugar aí espiritual, enfim, visitar aí alguns templos. E também poderia ser alguma coisa, assim, interdimensional, sei lá, tem todo o rolê aí de outras dimensões, de outras coisas paralelas que poderiam ter acontecido também, mas bizarro demais, hein? Meu Deus.

Assinante 2: Olá, Não Inviabilizers, eu me chamo Letícia, falo do Rio de Janeiro. Eu concordo muitíssimo com as hipóteses que a Déia levantou, de que essa forma humana talvez estivesse mal intencionada, porém, outra coisa que eu pensei, outra hipótese que eu pensei é que se fosse alguém dentro desse mato que estivesse pedindo socorro e aí a única solução que encontrou foi se passar por alguém que a Marina conhece pra leva-la até lá pra então socorrer quem estivesse lá naquele matagal, né? Essa foi uma outra hipótese que eu levantei. Só que é isso, a gente vai ficar no lúdico, não teremos respostas, [risos] mas só teorias. Enfim, tô passada… 

[trilha]

Déia Freitas: Comentem lá no nosso grupo do Telegram. Se você ainda não está no grupo, é só jogar na busca “Não Inviabilize” que o grupo aparece. Então um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.