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título: terno
data de publicação: 25/07/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #terno
personagens: elaine, um cara e noiva do cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje eu vou contar pra vocês a história da Elaine. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Elaine conheceu um cara — muito, muito, muito bacana esse cara — e eles se conheceram num bar, estavam em duas turmas, as turmas se ajeitaram, foi tudo bem legal… E eles começaram a sair, passaram aí uns dois meses saindo, até que o cara pediu a Elaine em namoro. — Olha que fofinho, olha que legal… — E aí eles começaram a namorar. E era um namoro, assim, um pouco diferente, porque o cara morava… — Faz de conta que a Elaine morava aqui em Santo André e o cara morava, tipo, em algum lugar assim, uma distância boa… Em Guaianases. — Então, assim eram muitas conduções pra chegar e nã nã nã, então eles não conseguiam se ver tanto, mas eles se falavam várias vezes por dia e tal, se encontravam… — Pelo menos vez por semana. — 

E estava ótimo pra Elaine, porque ela também tinha uma vida corrida, trabalhava bastante e tal, então tava bom… E era um namoro sério, porque ele veio com esse discurso, né? [efeito de voz grossa] “De que só ficaria com ela se fosse sério, se fosse uma coisa pra ter futuro” e nã nã nã. E ele trabalhava… Morava e trabalhava em Guaianases. Até que um dia, ele foi demitido e este cara ficou mal. Mal, mal, mal… Arrasado. A Elaine ali, dando aquela força, falando pra ele que ele ia sair dessa e nã nã nã, que tudo ia dar certo, que ele teria ali uns meses de seguro desemprego, que isso, que aquilo… Mas o cara ele não queria ficar parado. — Certo ele, né? — Trabalhar pra ele não era uma questão, não era um problema, o que aparecesse ele falou que ia pegar e tal. 

E aí apareceu pra ele um bico pra ele fazer segurança em festas. — Poxa, é meio perigoso? Eu acho perigoso, porque de repente você está lá na festa, alguém bebe demais, começa uma briga, você toma uma garrafada… Ou coisa pior, né? Então, eu acho que o trabalho de segurança já é um trabalho de risco. — E ele ia começar como segurança… Só que pra começar como segurança, ele teria que ter um terno. — Porque como era um bico, a empresa não dava a roupa, então você tinha que, no mínimo, você ter um terno e tal pra você poder participar aí dos eventos. — E ele tinha saído da empresa, ele tinha… A empresa que ele tava ele tinha um ano e pouco, então ele pegou pouca rescisão. — Parece que ele só ia ter uma parcela de seguro desemprego, alguma coisa assim… Era muito pouco o que ele ia receber, né? Nessa rescisão que ele teve. — E aí ele começou a choramingar que ele não tinha dinheiro pro terno… — Que ele não tinha dinheiro pro terno e nã nã nã… O terno, e o terno, e o terno… — [efeito de voz grossa] “E eu vou perder essa oportunidade de fazer segurança nas festas e isso e aquilo”. 

E como ele estava muito mal e querendo muito esse terno, a Elaine pensou em oferecer… Só que ela entrou na internet pra ver os preços dos ternos e, tipo assim, uma camisa, um terno e tal que fosse de um material bom, pra durar, — porque ele não ia usar uma vez só, né? Ele ia usar várias vezes, em várias festas… — Mais o sapato, dava uns mil reais… Elaine da classe trabalhadora, classe C, não tinha mil reais pra comprar aí esse terno. E aí ela ficou quieta, falou: “Bom, eu gostaria muito de dar, mas eu não tenho como. Eu até tenho limite no cartão, mas eu não vou pegar mil reais e dar pra ele”. — Então, quer dizer, ela tinha consciência, né? — Só que o cara chegou num ponto que ele viu que falando todo dia ele não ia conseguir o terno da Elaine, ele pediu… — Pediu emprestado. — Ele pediu pra Elaine emprestado o dinheiro pra comprar o terno. Então, ela falou: “Olha, eu não tenho esse dinheiro”, ele falou: [efeito de voz grossa] “Não, tudo bem… Vai comigo numa loja e aí você me empresta o seu cartão e eu parcela, vou pagar direitinho e nã nã nã”. E aí a Elaine ficou pensativa, mas falou: “Bom, se for em até umas quatro vezes, tudo bem. Mais que isso, eu não faço nenhuma compra mais de quatro vezes no cartão. Então, se for pra fazer mais, para mim não dá e nã nã nã”. — E, assim, eu achei que ela foi até firme, né? — 

E aí ele falou: “Não, tudo bem, em quatro vezes, tá ótimo”. E aí ele escolheu a loja de ternos. — Que a gente vai chamar de Pônei NG. — Porque ele queria um modelo de terno mais slim e nã nã nã. E aí foi lá, escolheu um terno cinza claro… Elaine falou: “Ué, mas pra segurança não é terno preto?”. — Não é estranho essa escolha pra segurança? — Mas ele falou que o cara lá do negócio de eventos falou que ele podia escolher a cor que ele quisesse de terno e, em vez de escolher um terno preto… — Que eu acho que também sujaria menos, né? Pra você usar sempre pra trabalhar, enfim… — Mas ele escolheu um cinza claro. Escolheu camisa branca, escolheu um sapato preto bonito, cinto preto e uma gravata que parecia mais uma gravata de festa, assim… A Elaine falou: “Nossa, meu Deus, né?” e ainda falou pra ele: “Você vai ser o segurança mais bonito e bem arrumado do local, né?” e ele ficou todo orgulhoso e nã nã nã… 

Passou o cartão lá… — Mil quinhentos e sessenta reais. — [efeito sonoro de caixa registradora] Parcelou em quatro vezes, deu tudo certo… — Eles se viam pouco, né? Como eu falei pra vocês… E agora, com ele trabalhando de segurança, eles se viam menos ainda. — Mas a Elaine ficou em cima ali e ele pagou, gente… — As quatro parcelas, pagou… — E aí depois dessa última parcela, porque, assim, sempre fica aquela desconfiança, né? “Será que o cara tá querendo me dar um golpe?”, e viu que ele não deu o golpe, relaxou de vez, estava apaixonada… — E foi seguindo ali, já tinha passado do evento do terno uns cinco meses… Até que um dia, ela chega no trabalho dela — ela entrava às sete horas da manhã — e já tinha uma moça lá esperando por ela na recepção. A recepcionista falou: “Essa moça está esperando você”. E aí ela viu que era uma moça jovem como ela, assim, né? Falou: “Ué, que estranho, não conheço… Será que estudou comigo e tal?”. 

E aí a moça já deu o papo logo. Falou: “Escuta, eu descobri que você está tendo um caso com meu noivo. A gente está junto há sete anos e a gente vai casar mês que vem. E eu vim aqui pra dizer pra você se afastar dele”. A Elaine ficou em choque… — Em choque… E como que a moça descobriu a Elaine? — O terno veio com a nota fiscal. Essa nota fiscal saiu no CPF, no nome…  — A Pônei NG lá deu tipo um certificado do terninho lá, sei lá… Eu sei que tinha uma papeladinha, dessas de cupom fiscal, dessas coisas… A Elaine acha que era um papel que ela recebeu lá que, tipo, ela ia participar de um sorteio, alguma coisa assim… — E estava tudo no nome dela. E aí a moça que foi ver o terno que estava na caixa do jeito que foi comprado… — O terno continuou na caixa, esse cara mentiu que trabalhava de segurança. — Por quê? Ele comprou no cartão da Elaine o terno do casamento dele. — Tá bom pra vocês? A Elaine financiou, mas ainda bem que foi ressarcida, o terno do casamento do namorado dela com outra. Só que, no caso, ela era a outra… — 

A moça já estava com ele há vários anos e a moça estava ali pra avisar que ela não ia desistir, que ela ia casar, sim, mesmo sabendo que tinha sido a Elaine que tinha comprado o terno no cartão. E, pasmem, a moça até perguntou pra confirmar se o amor dela tinha realmente cumprido com o acordo e dado o dinheiro das parcelas, porque se ele não tivesse dado o dinheiro das parcelas, ela ia dar. — Ela ia pagar pelo terno, não ia deixar que a Elaine pagasse pelo terno. Gente? — A Elaine perdeu o chão, passou aquele dia chorando e, assim, se sentindo muito idiota de ter acreditado que o cara comprou um terno cinza claro pra ser segurança de evento, sendo que o cara usou a Elaine pra comprar o terno do próprio casamento. — Gente, eu não entendo… Ele não tinha um amigo com cartão? — Assim, a história é errada em vários níveis, mas poxa vida, é muito perversa isso, né? Você pegar uma pessoa que você está enganando e ainda ela comprar o seu terno de casamento… Ele falou durante dias e dias que [efeito de voz grossa] “ah, ia perder aquele trampo”, ia perder aquele trampo e não sei o que lá… E essa noiva? Que quer casar? — Quer dizer, já até casou… — A qualquer preço com esse cara. Que perdoa tudo, que queria pagar pelo terno. Gente… — Gente? —

Bom, essa é a história da Elaine, a história da moça que pagou pelo terno de casamento do seu namorado que ela não sabia que era noivo e ia se casar com outra. 

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Aline, eu sou de Maceió e, olha, o que esse cara fez só me lembra uma frase que um amigo meu fala muito… Ele diz assim: “É por isso que eu acredito em inferno, porque eu não posso ir pro mesmo lugar que essas pessoas”. Enfim, tomara que a vida dê o troco que ele merece. Elaine, receba o meu abraço, espero que você encontre alguém que te mereça. Um beijo, até a próxima.

Assinante 2: Olá, gente, eu sou Alice, falo da França, E, Elaine, depois dessa história, a única coisa que eu posso te dizer é: Vão se os anéis e ficam os dedos. Olha, que bom que essa história passou pela sua vida, não te deixou com prejuízo financeiro, tá tudo certo e next… É isso aí. E, assim, eu acho que esse cara não ficou com a Elaine só pelo terno, porque realmente não dá pra você manter com alguém por meses só por causa de um empréstimo do cartão… Ele queria ficar, ele queria ter outra e aproveitou do cartão e foi isso mesmo… Só tenho pena dessa moça que vai casar com ele, que aceita essa condição, mas enfim… Acordos são acordos, né? Vai saber… Beijo, gente.

[trilha]

Déia Freitas: Eu não posso dizer aqui o que eu gostaria, então eu vou deixar essa pra vocês. Comentem lá no nosso grupo do Telegram. Sejam gentis com a nossa amiga Elaine e eu volto em breve. Um beijo… — Ah, esqueci… A gente tem Youtube, viu? Pode ouvir lá. Ouça nossas histórias também no YouTube. E veja, porque lá tem LIBRAS, enfim… Entra lá que tá bem bonitinho. — Um beijo… Agora sim, um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.