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título: barqueta
data de publicação: 08/08/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #barqueta
personagens: diana e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. —  E hoje eu não tô sozinha, meu publi. — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje é o podcast “Projeto Querino”, apresentado pelo maravilhoso — e que eu amo muito — Tiago Rogero e produzido pela Rádio Novelo. — Tudo o que a Rádio Novelo faz é impecável, né, gente? — O Projeto Querino é um podcast para quem quer entender como a história explica o Brasil de hoje. Em oito episódios, a série mostra uma história que talvez você ainda não conheça, não ouviu, não leu e nem viu. Conduzido por uma equipe majoritariamente negra, o podcast traz um olhar afrocentrado, que posiciona em seus devidos lugares os elementos da história para a formação do Brasil, mostrando tanto a contribuição afro brasileira quanto a ganância desenfreada dos escravizadores. — Que a gente sabe, né? — Brasil, o país que mais importou escravizados no mundo, também foi o último das Américas a abolir a escravidão.

O Projeto Querino tem idealização e coordenação do jornalista Tiago Rogero. — Um beijo, Tiago. — [efeito sonoro de estalo de beijo] Apoio do Instituto Ibirapitanga e Consultoria em História de Ynaê Lopes dos Santos. Lembrando aí que a Rádio Novelo é a mesma produtora também da Praia dos Ossos, então vocês já sabem, né? Trabalho aí impecável. Eu vou deixar todas as infos aqui na descrição do episódio. E hoje eu vou contar para vocês a história da Diana. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha] 

A Diana, um pouco antes até das vacinas — ê, Diana… — ela conheceu um cara e começou aí a namorar esse cara. — E um namoro, gente, um namoro sério… — Então eles saíam todo final de semana, um dormia na casa do outro e nã nã nã… — Namorando… — Praticamente um ano se passou, todo mundo tomou aí as três doses da vacina. — Por favor, tomem as doses da vacina, é importante. — E eles resolveram fazer uma viagem… “Ah, porque, nossa, vai ser a primeira viagem do casal e nã nã nã”, a Diana super animada, empolgada, o cara também… E eles resolveram que eles iam pra um lugar com praia. — E, assim, além da praia, muitos passeios, né? — Então alguns passeios estavam no pacote deles… — E outros não, que eles resolveram contratar ali meio que na hora, né? —

E num desses passeios, era um passeio… — Pensa assim, gente… — Um lugar paradisíaco que você podia fazer um passeio de barco, mas não era um barcão, era um barquinho. —Quase como aqueles barquinhos que tem em Veneza, que são pequenininhas e só tem um cara ali remando e tal? — E aí o cara que ia levá-los aí nesse passeio explicou, então falou: “Olha, aqui estão os salva vidas e tal, você pode colocar o coletinho agora, se você quiser ou não”. — Eu acho que o correto é já ir de coletinho… Eu que não sei nadar, primeiro que nem vou, mas se fosse, iria de coletinho. — E aí a Diana viu ali onde estavam os coletinhos e nã nã nã e eles começaram a fazer o passeio. E durante o passeio, eles iam até um determinado lugar, que seria uma ilha… Pequena, uma ilhota. E aí, nessa ilhota, eles fariam tipo um piquenique… — Já odeio. [risos] Andar de barco e depois fazer piquenique? Que isso? Um filme? —

E aí eles iam comer nesse lugar e o cara depois ia busca—los ali, depois de duas, três horas… — Eles iam ficar nessa ilhota e depois o cara ia buscar, né? — Só que no caminho, eles pegaram meio que umas ondas aí meio grandes assim, né? E, durante uma das ondas, o barquetinho ali, o barquinho, ele meio que deu uma virada. — Olha o perigo… — E aí o cara, que era o barqueiro ali que estava remando, ele falou: “Não, calma e tal, né?” e conforme a coisa toda tava acontecendo, o cara— namorado da Diana — empurrou a Diana de onde ela tava, porque ela estava do lado dos coletes, pegou um colete e vestiu… E praticamente jogou a Diana na água… — Pra se salvar. [risos] — Só que aí só deu aquela instabilidade e o barco voltou, e a Diana estava meio pendurada e o cara que estava remando, pegou a Diana, botou ela de novo no barco e deu o colete pra ela e falou: “Veste”, olhando feio pro cara. — Porque, gente, sabe aquela coisa, assim, de “salve—se primeiro”? Ele empurrou a Diana pra poder se salvar, tipo… Bem tipo foda—se mesmo… —

E aí ela ficou em choque… — Em choque. — Eles chegaram na ilha, o cara ainda perguntou pra ela, o cara que estava remando se ela queria ficar na ilha com o namorado dela… — Vai vendo… Pra vocês verem como foi tenso. Ela falou: “Não, tudo bem e tal”. — E aí o cara que tinha combinado de voltar em três horas, depois de uma hora estava lá já pra buscar eles de volta. Falou que a maré ia subir e que tinha que buscar. — Então, o cara, o cara do barco ficou na bronca com o namorado da Diana… — E a Diana tava em choque. Ela nem conseguia comer nada, comemorar, porque o cara jogou ela na água pra se salvar. — Pra pegar o colete em vez de, sabe, você tá ali, poxa, tudo bem, primeiro você põe o seu e tal, mas se a pessoa está ali do lado do colete, você não vai empurrar a pessoa, jogar na água, né? Ainda bem que tinha o barqueiro ali… Já pensou se está só os dois? Enfim… —

E aí a Diana voltou dessa viagem muito decepcionada, né? Porque ela viu que o cara ali na hora do vamos ver mesmo era ele por nele, né? E não era, assim, ele por ele e não fazendo nada por ela, pelo contrário, era jogando ela na água, tipo, “morrer, morreu”, né? Ela continua nesse relacionamento com esse cara e eles conversaram sobre, né? Ela resolveu falar… Ele falou que não fez nada demais, que na hora ele só vestiu o colete e que… — Olha o que ele falou pra ela… — [efeito de voz grossa] “O cara deu as instruções pra mim e pra você, na hora que aconteceu, o seu dever era ter pegado o colete ali e vestido”. Então, assim, ele achou que ela que deu mole e ele só fez a parte dele. E a parte dele, segundo ele, era se salvar, salvar a própria pele, assim. Então, ele não acha que ele errou… — De, tipo, ter empurrado ela e ela ter ficado praticamente pendurada, pendurada no barquinho ali. —

E ele acha que ele fez o que ele tinha que fazer assim pra se salvar e que ela tinha as instruções e que ela tinha que ter feito também. Ficou nisso, mas ela não consegue mais enxergar esse cara do mesmo jeito. — Eu teria terminado no barquinho, ia falar pro rapaz do barquinho: “Pode dar meia volta que nós vamos voltar”. Se o cara do barquinho ficou incomodado, o cara do barquinho perguntou se ela queria ficar na ilha com ele, com o namorado, com o próprio namorado e voltou muito rápido depois pra buscar os dois, assim… Tipo, não queria deixar ela sozinha na ilha com o próprio namorado, sabe? Então, poxa… Ó a percepção do cara aí… Eu, por mim, vocês já sabem, né? Eu já tinha terminado na barqueta ali, falado: “nada de ilhota, podemos voltar daqui já”. Ideia de piquenique, gente? —

E ai de Diana, tentando relevar essa questão, — que aconteceu — fez uma brincadeira com ele, falando assim: [efeito de voz fina] “E se a gente sofre um acidente de carro, eu fico presa no cinto, o que você faz?”, ele falou: [efeito de voz grossa] “Primeiro eu vou sair do carro pra depois ver como é que eu posso te ajudar, né? Porque se eu não tiver inteiro, como eu vou te ajudar”. Então ele nem ia tentar ali dentro do carro tentar soltar o cinto, ele ia primeiro sair pra depois ver o que ele poderia fazer. Eu achei meio bizarro, não é? Se você está ali do lado da pessoa, a pessoa está presa no cinto, você vai tentar soltar o cinto pra sair junto… Você vai sair primeiro? Não sei, achei estranho, mas sei lá… Não sei se esse é o procedimento de segurança, enfim. Mas a Diana agora está com um… Não é ranço, mas ela tá magoada… Porque ele jogou ela na água, empurrou ela pra pegar o colete, né? Foi horrível, né? Foi bem horrível. 

Então eu não sei… Eu não ficaria com esse cara. Eu sei que eles têm um namoro aí de mais de ano e tal… Eu acho que ele pensa só nele, assim, né? Eu acho que se você continuar com ele, pelo menos para com isso de turismo de aventura, né? Porque vai que você está pendurada num rapel nele, em alguma coisa e ele acha que está pesando que ele vai cair, ele corta a sua corda… Eu acho que ele é esse tipo aí, eu não arriscaria. Então, né? Menos aí turismo radical, fica só aí no café da manhã completo, [risos] Mas olha, me desculpa, eu teria largado lá mesmo, dentro da barqueta lá.

[trilha]


Assinante 1: Oie, nação Não Inviabilize, aqui é a Carol, falo de São José dos Campos. E Diana, se tem uma coisa que eu aprendi com os Picolés de Limão e na vida é: Confia nos seus instintos. A gente tem aquela vozinha que fala “hum, esse troço aqui não tá legal, tem alguma coisa estranha”, mas somos socialmente construídas pra ignorar e achar que é coisa da nossa cabeça, que a gente está exagerando… Mas, amiga, siga os seus instintos, seu instinto é de sobrevivência, então, para um pouquinho escuta e, se está te incomodando, se você realmente acha que tem alguma coisa estranha aí nessa relação, leva em consideração. Confia em você. E se precisar escolher entre você e esse cara, escolhe você. Te desejo muita luz, que você seja muito feliz. Um beijo. 

Assinante 2: Oi, Diana, meu nome é Gisele, eu sou do Rio de Janeiro. Diana, eu acho que um cara que já começa mostrando isso, que a vida dele vale muito mais que a sua, porque a gente pensa muito no seguinte, né? “Ah, amor próprio, pensar em si”, mas sem que pra isso tenha que passar por cima do outro, que foi o que ele fez. Ele reafirma isso quando você coloca uma outra situação, né? “Ah, se você tiver presa no carro, eu saio e depois eu penso no que eu vou fazer”. Eu fiquei pensando naquelas cenas de filmes, né? Em que a pessoa sai e o carro vai explodir… Então, se precisar exploda, né? Então, assim, foi acho que um alerta para você ficar mais atenta. De repente, depois disso, você começa, inclusive, a perceber alguns outros movimentos nele, né? E repensa essa relação, se vale mesmo a pena seguir com uma pessoa assim, que não te prioriza, tá bom? E mais que não te priorizar, né? Que não pensa no seu bem estar. Beijo e tudo de bom pra você. 

[trilha]

Déia Freitas: O lançamento do podcast o Projeto Querino foi agora, no dia 6 de agosto e já está disponível gratuitamente em todas as plataformas de áudio e também em matérias na revista Piauí. Para conteúdos adicionais, acesse: projetoquerino.com.br. Tá tudo aqui na descrição, gente. Tô muito feliz… Sorte aí nesse projeto novo, Tiago. Um beijo, gente, e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.