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título: biologico
data de publicação: 14/08/2022
quadro: picolé de limão – especial dia dos pais
hashtag: #biologico
personagens: rúbia e família

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje vou contar para vocês a história da Rúbia. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Rúbia ela tem um irmão, — mais velho — a mãe dela faleceu há alguns anos… E o pai dela, há um tempo atrás, estava precisando fazer uma cirurgia…  De fígado, vai… — Não é de fígado, mas digamos que seja. — E pra isso o hospital pediu ali a doação de sangue de todo mundo, da família. E aí, beleza… Todo mundo foi lá doar sangue e nã nã nã e foi a primeira vez que a Rúbia teve acesso ao seu tipo sanguíneo. E ela aprendendo ali algumas coisas da época da escola, ela acabou percebendo que ela não poderia ser filha do pai dela. [efeito sonoro de suspense] Então, assim, a mãe da Rúbia era sangue tipo A e o pai da Rúbia sangue tipo O. Então a Rúbia só poderia ser A ou O e a Rúbia era AB. [efeito sonoro de tensão] 

E aí ela ficou cabreira, porque assim, o irmão dela era tipo O. E aí ela ficou “Ué? Como que eu sou AB se meus pais são O e A?”. E nisso o pai dela internado pra fazer cirurgia e nã nã nã, né? Ela falou: [efeito de voz fina] “Bom, não é hora de eu questionar nada”. E aí mais um tempo se passou, o pai dela foi se recuperando, e a Rúbia resolveu ter uma conversa, assim, por cima com o pai, né? — Porque a Rúbia, gente, como filha mais nova e a mãe nunca teve um outro marido, como é que isso aconteceu, né? — E aí ela perguntou, o pai dela não entendendo nada de nada, né? E aí ela perguntou para o pai como tinha sido o nascimento dela, como que ela tinha ficado no hospital e nã nã nã… Por que qual foi a questão da Rúbia? “Será que eu fui trocada na maternidade? Apesar da minha mãe ser sangue tipo A, sei lá, de repente eu fui trocada na maternidade”.

E aí o pai dela explicou e nã nã nã que ele ficou o tempo todo junto e nã nã nã e passou… Ela não teve coragem de falar mais nada. Como a mãe da Rúbia já tinha falecido, ela resolveu procurar uma tia — irmã da mãe — pra conversar. E aí falou: “Olha, tia, eu fui doar sangue e pela primeira vez descobri que meu sangue é a AB, mas eu sempre soube que minha mãe era A e a gente agora sabe que o meu pai é O e eu não posso ser filha dos dois sendo AB”. E aí a tia assustou muito, falou: “Menina, não fala besteira e nã nã nã”, ela falou: “Tia, estou te falando… Não sei o que lá”. E aí a tia resolveu falar assim: “Olha, o que a sua mãe fez no passado não interessa…”. Como se ela soubesse alguma coisa, né? E ela falou: “Tia, então, pelo menos você vai fazer um teste de DNA comigo, pra eu saber pelo menos se eu sou filha da minha mãe… Porque de repente e se eu fui trocada na maternidade?” e a tia falou: “É, pode ser”.

Aí foram lá, fizeram o exame e ela realmente é filha da mãe dela. Então a mãe dela teve um relacionamento, — extraconjugal — engravidou e teve a Rúbia. E a tia ficou apavorada… — Porque, por mais que a tia soubesse rumores que talvez a mãe da Rúbia tivesse sido infiel. — Ela não sabia de nada, não sabia quem poderia ser o pai da Rúbia. E aí a Rúbia, acessando assim memórias antigas de quando ela era criança, ela lembra da mãe, tipo, ela num parquinho com a mãe e um outro rapaz… Mas o rapaz não estava abraçado, beijando a mãe, nada… Mas o rapaz estava ali olhando ela, brincou um pouco com ela… E agora, a Rúbia acha que este rapaz que a mãe encontrava às vezes com ela no parquinho, pode ser o pai dela. — Ou também pode ser qualquer outro cara que estava no parque com a criança, né, Rubia? —

E aí agora, gente, a Rúbia ela não quer contar para o pai dela, o pai dela já tem uma saúde frágil e tal, então ela não quer causar esse sofrimento, de agora, de repente, o pai descobrir que que a mãe dela foi infiel e tal, né? Mas ela queria descobrir quem era o pai dela e ela também queria descobrir se o irmão dela é realmente filho do pai dela. — Desse pai que a criou, que é pai dela. — E aí a Rúbia tá na dúvida se ela chama o irmão pra conversar e contar tudo e pedir pra ele fazer também o teste de DNA, porque ela quer saber mais, enfim, né? Quer saber mais da vida dela e agora do irmão, mas ela acha que o irmão vai acabar contando pro pai, porque o irmão é meio boca aberta, sabe? Então ela tem esse medo também de, de repente, revelar para o irmão e ele contar pro pai. A mãe dela, já falecida, — que a gente pode, sei lá, chamar de dona Mirtes — dona Mirtes não tem como falar nada, não tem como se defender, enfim, já morreu… Mas o fato é que Rúbia não é filha biológica do pai dela e o pai dela acha que é, enfim, todo mundo… — A família inteira. — Agora só ela e a tia sabem que ela não pode ser filha do pai, né? Por essa questão até aí sanguínea e tal.

A Rúbia disse que despertou nela uma curiosidade de saber quem é o pai dela e saber como que aconteceu isso, como a mãe dela conheceu outra pessoa no meio do casamento e saiu com essa pessoa, engravidou, enfim… Queria ouvir isso do cara… — Que seria o pai biológico dela. — Só que ela não quer magoar o pai dela, que sempre foi muito presente, muito bacana, né? A família dela sempre foi muito unida e agora o pai dela está adoentado… Então, não sei… Acho que não agora não é o momento mesmo, né? De sentar com o pai dele e falar isso. Vocês acham que ela deve contar a verdade para o pai? Eu acho que não, gente… Eu acho que nesse caso agora, ainda mais com o pai doente, sabe? Trazer mais isso pra ele, assim? Ele, que sempre idolatrou a mãe, quando ela morreu foi um baque muito grande pra ele, ele começou a ficar doente depois disso… Nunca superou a perda da esposa, né?

E também a gente pode ser surpreendido… De repente ela vai conversar com ele e ele fala “Filha, eu já sabia… Eu resolvi seguir com a sua mãe mesmo assim, resolvi te registrar”. A gente não sabe também, né? Dos acordos aí dos casamentos, pode ser… Mas será que dá para arriscar e falar com o pai dela adoentada assim, trazer essa notícia? A Rúbia escreveu pra gente justamente pra saber aí o que fazer, sentar com esse pai e já contar tudo ou falar com o irmão e arriscar o irmão contar pro pai ou ficar na dela e, sei lá, numa outra oportunidade ir atrás disso, né? Eu não sei… Eu acho que eu não contaria. Acho que não contaria nunca, na real, assim… Ainda mais com o meu pai doente e sabendo que ele idolatrava minha mãe… E aí vou lá falar: “Olha, não sou sua filha, mamãe pulou a cerca…”. Eu não faria isso, gente, sério mesmo… 

“Ah, mas é uma mentira, você ia guardar a mentira?”. Sim, eu ia. Eu ia… Pra não magoar meu pai, que está ali já doente, idosinho… Eu ia… Fácil. 

[trilha]

Assinante 1: Oi, gente… Meu nome é Carlo, eu moro aqui em Barcelona, eu sou farmacêutica e queria alertar a Rúbia em relação a essa questão do exame de tipologia sanguíneo para constatar a paternidade. Embora ele seja sim um indicativo, ele não é o mais adequado porque existem casos de falso O, em que a pessoa ela é geneticamente um outro tipo sanguíneo, ela pode ser A, pode ser B, pode se até AB, mas ela não expressa esse gene. Então, muitas vezes ela é identificada ali como O, mas na verdade não é. Então, é muito importante para constatar mesmo a paternidade fazer o exame de DNA. Com certeza, pelo fato dele ter feito transfusão sanguínea, o hospital identificou caso ele seja esse tipo sanguíneo, então uma outra alternativa também seria você entrar em contato com o hospital para saber disso, mas, de qualquer forma, a melhor forma mesmo para você saber disso é através do exame de paternidade aí, que é o de DNA. Bom, é isso, te desejo sorte. Um beijo e até mais.

Assinante 2: Oi, Não Inviabilizers, aqui quem fala é a Izadora e eu vivo em Portugal. Olha, Rúbia, eu acredito que você tem seu direito de querer saber quem é seu pai biológico, mas de forma sigilosa, tentar conversar com a sua tia ou, de repente, procurar as amigas mais próximas da sua mãe naquela época, ver se alguma delas tem alguma informação útil, mas não contar para o seu pai, porque ele já está com a saúde frágil da cirurgia e também porque ele demorou muito para superar a morte da sua mãe. Então, eu acho que ele não merece passar por essa situação. E quanto ao seu irmão, eu diria que, sei lá, poderia fazer algum teste de DNA secreto entre os dois? Pegava um fio de cabelo, alguma amostra, não sei como é que é e ver se ele também é filho de outra pessoa ou é do mesmo pai, porque se de repente não for, de repente você pode contar isso para ele ou não, você se resolve como é que fica isso depois… Um beijo. 

[trilha]

Déia Freitas: Como sempre, mais uma história que a resposta pode não agradar a todos e pode não ser fácil também, né? Estamos ali naquela zona cinza novamente. Eu não contaria, então essa é a minha opinião. E a Rúbia gostaria de ouvir a opinião de vocês. Então, entra lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis com a Rúbia e deixem lá aí um conselho pra ela do que fazer. Um beijo, gente, e eu volto em breve.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.