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título: jejum
data de publicação: 05/09/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #jejum
personagens: milton e a dona amélia

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta] 

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publi… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo de novo é o podcast Projeto Querino, apresentado pelo queridíssimo Tiago Rogero e produzido pela Rádio Novelo. — Rádio Novelo que tudo que toca vira ouro, né, gente? — A independência do Brasil conquistou 200 anos agora em setembro e, se você realmente quer entender o que aconteceu em 1822, se você quer conhecer aí uma versão mais completa dessa história, a minha dica novamente pra vocês é o podcast do Projeto Querino. — Vou dar um exemplo aqui pra vocês… — Vocês sabiam que quem decretou a Independência não foi Dom Pedro I? Mas a esposa dele, Maria Leopoldina. E vocês sabiam que o braço direito do Dom Pedro nesse processo, o José Bonifácio, tinha um projeto pra acabar aí com a escravidão já logo aí, depois da Independência? — Vocês sabiam? Eu não sabia. [risos] Fiquei sabendo no Projeto Querino. —

Essa e outras histórias você encontra lá no podcast do Projeto Querino, e são história não só sobre a Independência, mas também sobre outros momentos aí super importantes da história do Brasil. Eu vou deixar o link aqui na descrição do episódio, mas você encontra o Projeto Querino em todos os agregadores aí de podcast, gratuitamente. E hoje eu vou contar para vocês a história do seu Milton e da dona Amélia. [risos] — Ê, Dona Amélia… [risos] — Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

O seu Milton e a dona Amélia estão casados aí há mais de 40 anos e eles professam da mesma fé, — frequentam a igreja e nã nã nã — e a dona Amélia foi criada numa família muito religiosa e numa família que tem o hábito de fazer o jejum com propósito. — Então, assim, se você, sei lá, almeja alguma coisa, ou você, enfim, você quer alguma coisa, você vai lá e faz o seu jejum religioso, suas orações com firme propósito naquilo. — E ela foi criada assim, acostumada a fazer o jejum. E aí ela casou com o seu Milton, o seu Milton é religioso também, mas não veio dessa, dessa vibe do jejum e tal, ele sempre foi uma versão mais light. [risos] E, assim, que ele casou com a dona Amélia, dona Amélia botou ele ali pra fazer esse jejum — com propósito — junto com ela. Então, sei lá, alguém ficou doente na família? “Ah, vamos orar e jejuar ali em prol da saúde daquele familiar”, ou: “Ah, Fulano, está buscando uma vaga de emprego e nã nã nã, vamos orar e jejuar e nã nã nã”.

E assim foi, gente… Anos… Anos… E a dona Amélia sempre comentando, né? “Não, porque o Milton ele é um homem de muita fé, sempre a gente junto ali em oração e nã nã nã… E o jejum, que isso, que aquilo”, passou… Anos aí… Depois, eles já com três filhos, a mãe de dona Amélia [riso] ficou adoentada, enferma… — Não era nada assim, grave, mas ela precisava fazer uma pequena cirurgia e tal. — E aí lógico que era hora do jejum, né? Jejum e oração. E aí Miltinho se preparou ali pra fazer o jejum junto com a esposa e o dia passou… — Tinha vezes que eles faziam jejum, tipo, de um dia e meio. É bastante coisa, né? 36 horas de jejum e oração, enfim, né? Aquela vibe mais introspectiva e tal pensando, ali no seu propósito e nã nã nã. — E, nesse dia, Miltinho tinha umas coisas para fazer na rua, né? E foi fazer, era um sábado. E aí dona Amélia falou: “Poxa, esqueci, vai fechar lá o lugar que vende lã e eu quero comprar umas lãs pra fazer um tricô pra minha mãe e nã nã nã” e foi… 

E pra ela ir lá comprar lã, que era um lugar bem mais longe, ela ia a pé, né? Ela tinha que passar em frente um bar, que era o bar do seu Querino. E aí ela estava lá indo comprar lãzinha dela, né? — Compenetrada ali, pensando na mãe também. — Quando ela passa de relance e olha ali no bar de seu Querino… — Assim, do nada… Você tá andando na rua e olha assim pro lado… E aí ela viu…  [risos] — O seu Milton batendo um prato feito. Arroz, feijão, bife, batata, copão de suco… [risos] Comendo desesperado, desesperado… E seu Querino vendo que ela estava passando, ele foi pra porta do bar pra tentar disfarçar, sei lá, que ela não visse o marido. Então, quer dizer, o seu Querino estava ali junto [risos] no propósito de enganar dona Amélia. Só que não teve jeito… Ela viu o marido lá dentro do bar comendo, entrou e falou: “Meu Deus, o que você tá fazendo? Que pratão de comida é esse? A gente tá em jejum pela mamãe, que isso, que aquilo”. — Mas ela falando ali num tom meio baixo e seu Milton olhando pra ela, mas meio que comendo, continuando comendo, ele estava com muita fome. [risos] —

E aí ela ficou aborrecida, voltou pra casa, o seu Milton foi, tipo, uma meia hora depois… Então ele terminou de comer [risos] e tomar o copão de suco. [risos] Delícia… E foi pra casa. E aí, assim, na cabeça de dona Amélia, ele estava comendo porque ele queria que a mãe dela sofresse alguma coisa, morresse, sei lá, né? — Já que ele não estava fazendo o jejum, que era o propósito deles pela saúde da mãe de dona Amélia. — Então ela ficou muito magoada, achando que ele fez de propósito porque era a sogra, né? E aí seu Milton pra tentar amenizar um pouco as coisas, resolveu contar toda a verdade, já que abriu a porteira, [risos] conta tudo. Aí ele falou: “Amor, olha, eu te amo demais… No começo eu tentava fazer o jejum, mas eu não consigo, eu tenho fome e, pra não te magoar, eu ia lá no Querino e comia escondido. [risos] Então não é que eu não fiz o jejum pela sua mãe, que eu quero que algo aconteça com ela, eu não fiz o jejum por ninguém. [risos] Eu tenho fome… E aí eu fico umas horinhas sem comer, tentando ali do seu lado, mas depois eu passo lá no Querino e tem uma comidinha feita… E o Querino já sabe, já deixa meu prato quando eu falo que tô em jejum”. [risos] —  Ê, Quirino… [risos] — 

E aí a dona Amélia ficou chocada, em choque… [risos] Tipo, uma vida toda achando que estava fazendo jejum com o marido e ele tava lá no bar comendo. [risos] E ela já implicava um pouco com ele, dele ir no bar, né? Mas aquele bar, o seu Querino estudou com seu Milton, então eles eram muito amigos. Então, seu Milton não bebia, realmente não bebia nada… — Absolutamente nada de bebida alcoólica. — Mas ele gostava de ir lá comer uma comidinha, tomar um suco, conversava um pouquinho com Querino e ia embora, sempre durante o dia. Então, dona Amélia acostumou com isso, só que ela não achava que ele fazia isso durante o jejum, né? Que ia lá comer [risos] e que, às vezes, não dava pra ele passar na hora do almoço, mas ele dava um toque que ele estava em jejum, seu Querino já guardava o prato dele. [risos] Porque geralmente bar tem o horário que serve a comida e tal, os prato feito ali. Em determinado horário, tipo, quatro da tarde você vai lá e não tem mais, né? E aí, por causa disso, o seu Quirino já separava ali o pratinho do amigo. [risos]

E aí a dona Amélia ficou tão chocada que ela foi falar com o pastor, e aí o pastor falou pra ela, falou: “Olha, o jejum é uma coisa que tem que vir da pessoa, né? Tem que vir da pessoa, tem que vir do coração da pessoa de querer fazer. Então, você tem uma parcela de responsabilidade de ter imposto o jejum ao seu marido e, por outro lado, você não está percebendo que ele, mesmo com fome, ele tentou e ele tentou te ver feliz, então assim, existem vários caminhos para se chegar a Deus e nã nã nã… E, de repente, o caminho de seu marido não é o jejum”. — Achei que o pastor foi bem ok, né? — E aí [risos] dona Amélia voltou, assim, mais disposta a perdoar o marido. E daí pra frente pra ele foi ótimo, porque quando eles estavam em jejum, ela não fazia comida e ele acha que tudo bem, né? Porque senão ela vai ficar ali fazendo comida sem poder comer também, poxa, né? Já que ele não cozinha…

Então, quando ela falava que estava em jejum, ele já ia para o bar do seu Querino, já, tipo, fazia todas as refeições lá, tomava café da manhã, almoçava e quando era cinco da tarde já batia outro prato [risos] só pra ir forrado pra casa, né? Achei bom o arranjo, né? Ela continua fazendo o jejum dela, que é uma coisa que ela curte, acredita e vê um propósito e ele continua fazendo as orações dele, continua frequentando a igreja do jeito que ele acredita e sem precisar fazer o jejum, que era uma coisa que não era para ele. Eu achei muito engraçado isso dele ter [risos] a rede de apoio dele da comida, sabe? Não só o seu Querino… O seu Milton disse que os caras no bar, assim, né? O pessoal sabia que ele tava em jejum, já guardava ali pra ele um salgado. [risos] — O pessoal do bairro, sabe? Todo mundo meio que sabia que ele comia e não fazia o jejum. [risos] —

Então, sei lá, ele podia ter falado também no começo, né? Mas ele não quis, sei lá, não quis magoar [risos] a dona Amélia. Não vou julgar, mas foi importante ele ter contado tudo pra ela, porque ela estava achando que ele fez de propósito pra, sei lá, matar a mãe dela. [risos] Ai Meu Deus… 

[trilha]

Assinante 1: Oi, gente, é a Tainá de Campinas. Eu simplesmente amei essa história. Vim de uma família religiosa que a galera fazia também jejum, 40 dias só de líquido… Jejum de Daniel que é sem comer proteína e nada e que deriva de animais… Todo tipo de jejum. Tinha gente que fazia aí, eu fazia o jejum de novelas, que era tirar o que você mais gosta de fazer. Eu amava novela, então, quando eu fazia jejum, eu não assistia minhas novelas. Mas era muito difícil… Às vezes eu não assistia, mas ouvia a novela. [risos] Um beijo pra dona Amélia e que bom que vocês conseguiram entrar num consenso aí sobre o jejum. E agora todo mundo chega a Deus, mas cada um do seu jeito e sem precisar mentir, né? [riso] Que bom que a senhora perdoou seu marido aí. 

Assinante 2: Oi, gente, meu nome é Glenda, eu sou do Rio de Janeiro e eu acabei de me identificar muito com seu Milton, porque eu também sou de uma família cristã, minha mãe e minha irmã adoram fazer jejum. E eu lembro que quando eu era criança, elas faziam um jejuns, assim, meio doidos, com propósito e tal… E aí teve uma bela vez que um professor decidiu que as crianças também deveriam fazer jejum. E a criança aqui não aguentou… Eu comi escondida porque criança com fome faz o que? Come, sabe? Então, isso me identificou muito com seu Milton, eu te entendo, compartilho da sua fome, sabe? [risos] Eu lembro do senhor falar: “eu tenho fome”, porque eu também tive, já fiz isso também. Até hoje, gente… Não me manda fazer jejum não, que não vai prestar. 

[trilha] 

Déia Freitas: Ouçam o Projeto Querino, o Projeto é maravilhoso… Todos os oito episódios já estão disponíveis, basta você procurar aí onde você já escuta podcast. E também dá para ouvir tudo pelo site: projetoquerino.com.br. Se você já ouviu, eu sei aí que tem muita gente que agora está ouvindo de novo pra prestar atenção nos detalhes… — Eu sou uma delas. — A apresentação do podcast é do Tiago Rogero, a consultoria em História, da Ynaê Lopes dos Santos, a produção é da Rádio Novelo e o apoio do Instituto Ibirapitanga. Então é isso, gente, estou muito felizinha, mais uma vez o Tiago aqui. — Amo… — Vão lá, vão ouvir esse podcast maravilhoso… Um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.