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título: cortinas
data de publicação: 30/09/2022
quadro: luz acesa
hashtag: #cortinas
personagens: thalita e rogério

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E cheguei pra um Luz Acesa. E hoje eu vou contar pra vocês a história da Thalita. Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Thalita e o namorado dela, o Rogério, eles viajaram e pegaram aí uma casa num site. —Que a gente pode chamar de PôneiB. [risos] — E aí eles pegaram essa casa por cinco dias e estava tudo certo, assim, a ideia era ir pra esse lugar, era um lugar muito longe, tipo, uma casa de campo, assim, sabe? E descansar… Eles têm uns projetos, umas coisas que eles queriam conversar de fazer junto. E aí Thalita e Rogério alugaram essa casa aí na PôneiB. — Sabe essas casas que as pessoas constroem pra isso mesmo? Pra alugar na PôneiB? Então são casas, assim, diferentes e tal, que tem chiques e tem não tão chiques, essa não era tão chique, mas, assim, muito fofinha a casa. — Não vou nem falar o lugar aqui, né? Então fica aí uma casa pelo mundo. —

No primeiro dia, assim que eles chegaram na casa, então você tem ali as regras que o proprietário disponibiliza pra você ali na PôneiB e tinha um quarto lá que estava trancado e que os hóspedes não teriam acesso. — É incomum isso acontecer? Não, não é incomum, pode acontecer. Então, às vezes você aluga só um quarto, às vezes a casa, às vezes parte da casa, enfim… Isso é muito legal, te dá aí várias possibilidades, né? — Era uma casa que ela foi construída pra você poder apreciar o pôr do sol e nã nã nã, então ela era uma casa que, em volta, ela tinha muito vidro, assim… — Muito vidro mesmo… — E muita cortina. — Bastante cortina no aí no lugar. — Aí Thalita e Rogério ali, no primeiro dia foi tudo muito bacana, assim, né? Eles chegaram cedinho no lugar, passaram o dia, relaxaram e nã nã nã. 

Do lado da casa, assim, tem tipo uma pequena piscina, quase um tanque, mas muito bonito, muito gostoso de ficar, tem umas escadas dentro da água que você consegue sentar ali, enfim… E aí chegou a noite, eles estavam cansados… — Aquela coisa, né? Quando você vai viajar e você passeio um pouco, te dá um ânimo e tal e eles deitaram. — A Thalita fechou todas as cortinas. — Porque não tem cortina blackout, são cortinas assim num tecido mais levinho. — Então ela fechou todas aquelas cortinas brancas e tal, ficou um ambiente bonito dentro e eles foram deitar. Isso era, tipo, sei lá, dez horas da noite, coisa assim, cedo, né? Mas você tá ali meio que na montanha, no meio do mato, enfim, né? Quando eles deitaram… — E aquela coisa, o brasileiro, pelo menos a maioria que eu conheço, tranca a porta. Eu, se eu tô em qualquer lugar, eu tranco a porta… Eu acompanho a rotina de algumas coreanas na internet e elas têm uns dispositivos que elas colocam na porta, tipo pra travar porta de hotel e eu acho aquilo o máximo, assim… Nunca achei pra comprar e também não vou ara hotel nenhum, né, gente? Mas é um tipo de segurança que eu aprecio demais. Então, assim, eu já teria um negócio desse pra pôr na porta. Aliás, preciso até ver se tem na PôneiPee. [risos] —

E aí eles trancaram a porta e fecharam as janelas também, mas pensando em pernilongo, essas coisas e fecharam as cortinas. Eles deitaram dez horas… Quando foi mais ou menos onze e pouco, a Thalita olhou assim… — Você está na cama meio de lado, meio abraçadinha ali com seu amor — Ela olhou meio que pra um lado de uma das cortinas e ela viu alguém atrás da cortina. — [efeito sonoro de tensão] — Gente, é meu pior pavor assistindo Discovery ID é aqueles caras que entram nas casas, basicamente, tudo nos Estados Unidos e ficam ali dentro da sua casa, esperando você dormir pra te atacar, te matar. — E foi nisso que a Thalita pensou… “Meu Deus do céu, tem alguém aqui dentro”. E Thalita foi mais longe… “Alguém que estava naquele quarto trancado. A pessoa esperou a gente dormir, a pessoa abriu a porta, agora a pessoa está atrás da cortina”. — Gente, olha… Essa história me deu um pavor, um pavor de pensar que tinha um homem ali atrás daquela cortina… Porque a Thalita falou que era… —

Um vulto, assim, alto, como se fosse um homem grande atrás da cortina. — Ai, gente, tô toda arrepiada… — E aí a Thalita começou ali na cama a tentar acordar o Rogério sem que aquele homem, que estava atrás da cortina, percebesse. Então, ela estava, assim, abraçada nas costas dele. — Na conchinha ela era a conchinha. — E aí ela começou a cutucar e o Rogério não acordava… Ela dá um beliscão nele e ele acordou de susto, mas ele não falou nada também. E aí ele olhou meio que pra trás assim e viu que a Thalita estava sem cor, assim, totalmente passada e olhando pra onde estava o cara. E ele olhou e também viu o cara. E aí, na hora ele assustou e, assim, ali no quarto não tinha nada pra acertar o cara. — O que que o Rogério fez? — Pensa assim: No escuro, uma luz da lua e a luz ali do relógio, tipo radio relógio que tinha no quarto, então estava dando uma clareada… Eles conseguiam ver a pessoa atrás da cortina e a pessoa se mexia muito pouco, mas se mexia. 

E aí o Rogério, muito lentamente, foi tirando… Do lado dele tinha uma mesinha redonda, de ferro, assim, quatro pezinhos e um tampo só, que ele tinha colocado ali o relógio dele, o celular e ele foi tirando as coisas e colocando as coisas ali no travesseiro e ele falou: “Bom, o rádio relógio, a hora que eu puxar essa mesa aqui vai cair no chão e depois a gente compra outro, mas eu vou dar uma mesada nesse cara”. No que o Rogério pegou essa mesa… — Porque ele falou tem que ser de uma vez… Isso tudo ele pensando, tá? — Os dois em silêncio, Thalita paralisada de medo… Que ele levantou já, assim, pegando pelo pé da mesa e correu e deu… [efeito sonoro de ferro batendo em algo] O Rogério acertou a parede. — A parede. — E era uma forma humana mesmo. E aí a hora que ele viu que não tinha nada, ele foi do outro lado onde tava a Thalita, acendeu a luz e aí ela acabou amassando essa mesinha e acabou fazendo um pequeno estrago na parede. — Assim, uma descascada. —

Porque quando ele viu o que passou pela cortina… Ainda bem que não pegou a janela… — Já pensou quebrar o vidro e tal? — E aí eles ficaram sem entender, sem saber… E aí o Rogério resolveu ir até aquela porta, ele estava puto… — O Rogério ele é uma pessoa assim… Quando ele fica assustado, ele fica muito assustado e, na sequência, ele já fica muito bravo por ter ficado assustado. Mas ele se assusta bastante, ele disse. [risos] 

Então ele estava muito bravo… — Então aí ele foi até aquele quarto que estava fechado e ele deu com o pé na porta do quarto, gente… — Ele arrombou a porta do quarto. — E aí o que tinha dentro do quarto? Tinha uma cama de solteiro… Pensa assim: A casa estava toda feita ali pra receber pessoas que alugam aí por vários aplicativos e tal. Então, era uma casa que você entrava e você falava: “Bom, é uma casa atual” e, este quarto trancado era como se fosse assim, uma cama muito antiga, com lençóis assim muito antigos, uma colcha de crochê muito antiga, assim, muito velha… E aquela coisa amarelada… — Que era branca e que foi amarelando do tempo, assim… — Então, tinha essa cama, tinha um pequeno armário e tinha uma mesinha do lado da cama. — Essa cama de solteiro. —

Ele arrombou a porta, encostado na janela, tinha essa cama, do lado tinha a mesinha e, na mesma parede, no outro canto, tinha esse pequeno armário. E aí ele já estava muito bravo… Ele foi, olhou embaixo da cama, levantou essa colcha toda amarelada, não tinha nada… E ele abriu o guarda roupa e tinha muitas, muitas, muitas roupas assim, femininas… — Não masculinas. — O que eles viram na cortina ali era uma figura masculina, mas ali eram roupas femininas, muitos vestidos e tudo muito antigo. Na parede de frente, de frente para a cama, tinha uma escrivaninha. E aí não tinha nenhum papel, não tinha nada, tinha só a mesinha lá. Mas era como se você estivesse em duas casas diferentes, uma casa atual e este quarto, totalmente, até o piso ele falou que era diferente, assim. E um detalhe: a cortina desse quarto era um pano preto… [efeito sonoro de tensão] — Um pano preto, assim como se não fosse pra entrar luz. — 

E aí ele falou: “Bom, agora já arrombei a porta, é só um quarto”. Ele estava com a luz do celular, tentando não tremer tanto porque ele estava tremendo… E não tinha ninguém no quarto, ele saiu do quarto e encostou a porta, mas ele danificou a fechadura, né? E ele voltou para o quarto, a Thalita estava do mesmo jeito que ela estava, paralisada… Agora ainda mais sem cor, porque ela disse que enquanto ele estava no outro quarto, as cortinas balançaram muito. E, atrás dessa cortina específica… — Tinham várias janelas, várias portas de correr, enfim, tudo de vidro pra você poder apreciar a vista, desde cedo até, enfim… — E essa cortina, onde estava esse cara, ela ficava numa porta de correr de vidro que você podia deixar aberta se você quisesse, mas né? O brasileiro tem esse medo, né? E eles tinham trancado. E era uma cortina que era de fora a fora, então pegava essa porta de vidro e pegava a parede também. — Pra ficar bonito o ambiente. — E ela falou que essa cortina mexia muito e não tinha vento ali… E mexia de um jeito que não era vento, que parecia que tinha alguém muito agitado atrás dessa cortina. 

Então, gente, pra vocês terem uma ideia de como foi isso, a Thalita fez xixi na cama… — Então praticamente o casal destruiu a casa. [risos] Desculpa aí, [risos] mas destruiu a casa do PôneiB, né? — Ela fez xixi no colchão. E aí isso era ainda, vai… Não era nem meia noite. Se fosse, sei lá, um pouquinho depois, mas nem meia noite era ainda e eles tinham a noite toda pela frente. Então, eles resolveram acender as luzes ali, [efeito sonoro de interruptor sendo apertado] porque, detalhe: naquele quarto lá que ele deu com o pé, não tinha luz… E eles ficaram na sala até o quanto eles aguentaram, acabaram pegando no sono ali no sofá, aí no dia seguinte, logo cedo, eles saíram da casa. Ele comunicou que tinha acontecido uns incidentes e que tinha alguns estragos e que eles iam pagar pelos estragos e que eles não iam querer as diárias e tal a mais. E meio que ficou por isso mesmo, eles só tiveram que pagar uma taxa lá. — E, gente, nunca mais, né? Nunca mais voltaram. — Até com medo de fazer avaliação no negócio… Eles não fizeram.

Eles foram pra um hostel e até hoje eles são meio que assombrados pelos pensamentos, sabe? Que eles tiveram aquela noite e tal… Primeiro a Thalita por achar que era sei lá, um maníaco, um bandido… — Que eu também pensaria, gente… Na hora… Eu tenho muito pânico disso, muito pânico… Quando eu comecei a ler, não tinha título de Luz Acesa, eu falei: “Pronto, né? Agora era alguém que estava lá no quarto e tal”, mas aí não era ninguém… Pelo menos ninguém vivo, né? — E por que esse quarto era tão diferente da casa? Era uma casa atual, com um quarto muito antigo, com coisas muito antigas e, na janela, diferente de todas as outras janelas, tinha esse pano preto. — Uma pergunta que eu fiz pra eles, né? Porque, geralmente, quando eu recebo as cartas, eu vou anotando as coisas que eu queria saber. Uma curiosidade que eu fiquei: E por fora dessa janela, como que era? E aí os dois, na hora, eles ficaram lá só um dia, mas entraram na piscina, é uma casa que você consegue rodear numa montanha e nã nã nã… Montanha, assim, né, gente? Sei lá, um monte… Não é uma montanha, né? Um lugar alto, sem nada em volta, só paisagem bonita. E eles não conseguem lembrar de ter visto essa janela por fora. E aí, como o Rogério não quis levantar aquele pano, pode ser que, sei lá, era uma parede? Será que essa janela estava chumbada? Mas ainda assim não tinha nenhum resquício por fora dessa janela? Porque eles não lembram… Tipo, a casa toda, você dava a volta na casa, você podia ver tudo e só tinha uma parede lá que não tinha janela nenhuma e eles acham que tipo não tinha janela pra fora. Então, essa janela foi emparedada? —

Olha, eu fiquei um pouco cabreira com essa história, confesso. Gostaria muito de dizer em que lugar que é, em que país que é, mas é muito identificável. Mesmo porque se você entra, tem alguns relatos de gente falando que foi bizarra, experiência bizarra, sabe? Então eu não vou falar onde é… Não é no Brasil, mas eu não vou falar onde é. — E, assim, jamais irei, né? [risos] Jamais irei. — Então é isso, gente, essa é a história da Thalita e do Rogério. O Rogério disse pra mim que ele é um cara que não se assusta com essas coisas de assombração e tal, ele se assusta, assim, com vivos e tal, um assalto, uma briga… Mas na hora lá, depois que ele viu o que ele deu lá com a mesinha na parede e não tinha nada e ele foi lá e meteu o pé na porta, que ele não pensou assim… Que se ele tivesse pensado um segundo, ele não tinha feito. Porque ver aquele quarto… E detalhe, hein: A Thalita não viu o quarto, não entrou no quarto… Porque enquanto ele estava lá no quarto, ela estava vendo a cortina se mexer e, paralisada estava, paralisada ficou. Depois ele teve que ajudar a Thalita a tomar banho… — Olha o nível de coisa assustadora. — E ficar com ela ali na sala, ele também muito cabreiro…

E ele encostou aquela porta e toda hora ele ficava olhando pra porta, porque agora ele tinha destrancado com o pé, né? Meteu o pé na porta. E aí destruíram o PôneiB também. [risos] Pô, quebraram parede, quebraram a mesinha, derrubaram o rádio relógio, arrombaram a porta, xixi na cama, [risos] enfim… Caos, né? E só tiveram que pagar uma taxa. Então, não sei também até que ponto isso acontece às vezes… Enfim, né? Se faz parte da experiência… Mas não tinha nada nas informações da casa, tipo: “É uma casa assombrada”, alguma coisa assim, né? Essa é a história da Thalita e do Rogério, onde as cortinas tiveram um papel importante aí, tanto daquele quarto que a gente não sabe se tinha janela ou não, mas tinha um pano preto e uma janela aparentemente fechada, mas que do outro lado a gente não sabe o que tinha. E essa forma de homem, esse formato aí de um homem grande na cortina ali do quarto. 

[trilha]

Assinante 1: Oi, gente, eu sou a Mari de Curitiba. Abri e fechei esse áudio várias vezes porque fiquei muito mexida… Me deixou muito intrigada. Eu sou uma pessoa um pouco apavorada e fico imaginando o desespero daquele casal que teve um dia incrível, abriu os olhos no meio da noite e encontrar uma forma humana tapada por uma cortina na frente deles… Deve ter sido horripilante. Mas o que mais me intrigou foi o fato do quarto antigo estar daquele jeito ainda. E fico pensando: Será que os donos daquele chalé mantiveram aquele quarto daquele jeito, com uma forma de, entre aspas, controlar aquele espírito? “A gente não mexe no seu quarto, deixa trancado e você não incomoda nossos hóspedes”, sei lá, fica essa pergunta. Acho também que não está dando certo. 

Assinante 2: Oi, gente, me chamo Thalita e sou de Olinda, Pernambuco. E essa história me deixou muito tensa… Mas ao mesmo tempo fiquei aliviada, porque, sei lá, se fosse um maníaco, um serial killer, seria muito pior. Às vezes o perigo tá muito mais nas pessoas de carne e osso do que no extra físico, mas já me ligou um alerta… Não dá pra alugar casas com espaços que a gente não tem acesso, né? A gente não tem como saber o que está por trás das portas. Mas é isso, história maravilhosa. Sou uma grande fã do Luz Acesa e fiquei muito feliz com o nome da personagem [risos] ser o mesmo que o meu. 

[trilha] 

Déia Freitas: É isso, gente, um beijo e eu vou assistir um pouco de desenho para tirar essa imagem da minha cabeça, porque é uma história que eu achei punk, assim… Eu hein… Beijo, tchau. 

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.