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título: vingança
data de publicação: 10/10/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #vingança
personagens: marília e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publi… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje é o podcast Dá Um Reload. Dá Um Reload é um podcast Amazon Original, feito pela equipe do Canal Reload. Você não acompanha as notícias porque acha chato e com uma linguagem que não faz sentido pra você? Acha que jornalismo é coisa pra gente velha? — Tipo eu, assim. [risos] — Então você errou. O podcast Dá Um Reload traz, a cada semana, um assunto importante que tá rolando por aí de uma maneira super descomplicada. 

Assuntos como masculinidade tóxica, racismo policial, ativismo e resistência indígena, guerra às drogas e muito mais já foram temas abordados aí no podcast Dá Um Reload. — Você, jovem, se liga aí. [risos] — Você tem que se informar. Eu vou deixar o link aqui na descrição do episódio.  E hoje eu vou contar pra vocês a história da Marília. — Ê, Marília… [risos] — Bom, então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

A Marília, passeando aí pelos sites de relacionamento no ano passado, conheceu um cara. [efeito sonoro de notificação no celular] E era um cara muito inteligente, assim, muito bacana e ela começou a trocar mensagens com esse cara. Migraram do aplicativo para o WhatsApp, continuaram conversando e, um dia, esse cara chamou a Marília pra sair. Marília aceitou, o encontro foi ótimo, eles tiveram mais alguns encontros e, para Marília, estabeleceu—se um relacionamento. — Porque, assim, o cara praticamente buscava a Marília no trabalho, jantava com ela, ficava com ela um tempo e ia embora para casa dele. — E tinha uma particularidade desse cara, esse cara ele dizia que ele estava hospedado num flat, num apart hotel, porque ele trabalhava em várias cidades. Então ele tinha aí um trabalho meio que itinerante, né? A empresa colocava ele em várias capitais, então ele estava sempre em flats, assim, sempre com malas e tal. Então essa era a vida do cara.

E um dia ela perguntou pra ele, falou: [efeito de voz fina] “Então, o que a gente tem? A gente tá namorando?”, ele deu uma risadinha e falou: [efeito de voz grossa] “Você quer namorar comigo?”, e aí ela falou que sim e nã nã nã. Então eles estavam namorando, né? Eles eram namorados. Esse cara, nas redes sociais, ele estava sempre presente, assim, ele tinha muitas fotos, fotos com amigos, fotos em baladas, fotos em vários lugares do Brasil. — E fora do Brasil. — Então realmente ele era um cara que viajava bastante e que tinha muitos amigos, assim, a vida aí de uma pessoa solteira. Esse cara, ele não tinha tantos amigos assim no Instagram, por exemplo. — Tinha, sei lá, umas 400 pessoas. — E aí, Marília, um dia, sem fazer nada, resolveu olha pessoa por pessoa [risos] — Ê, Marília… — que esse cara seguia no Instagram.

E aí ela foi olhando e tal e tinha uma moça que aparecia em muitas fotos dele, né? Era uma mulher que ele seguia e estava sempre ali perto dele nas fotos e tal. E aí a Marília resolveu investigar essa moça melhor. Achou o Instagram da moça, um Instagram trancado. — Mas sabe quando você só tem o Instagram por ter, assim? Só pra preservar o nome, né? Aquele arroba ali, porque não tinha fotos. Ela conseguia ver que tinha zero ali, que não tinha fotos, que era um Instagram parado. — E ai, o que Marília pensou? [efeito de voz fina] “Bom, se essa pessoa, se essa moça não tem Instagram, é porque ela é mais ativa no Facebook”. Dito e feito… O relacionamento de Marília com esse cara já passava dos seis meses. — Então eles eram namorados, namorados mesmo assim, uma coisa bem namorados. —

E olhando ali o Facebook, ela achou a moça… — E muita gente que tem Facebook e é ativa no Facebook, tem o Facebook meio que abertão assim. — Então você conseguia ver os amigos dessa moça, você conseguia ver as fotos, alguns posts, outros não, né? — Talvez os compartilhados de alguém que não abre o Facebook pra todo mundo, enfim… — Navegando por esse perfil dessa moça, de cara, ela conseguiu descobrir [risos] que o namorado dela era casado com essa moça. — Sim, tinha foto de tudo, tinha post recente, foto recente… — E assim Marília descobriu que o namorado dela, de seis meses, que jurava amor e nã nã nã, eterno e nã nã nã, era um cara casado. Na hora, Marília começou a tremer, mandou pra umas amigas… — Pra ter certeza, né? Sabe aquela coisa? “Amiga, vê aqui, vê se eu não estou, sabe? Vendo coisas onde não tem e nã nã nã”. —

Todas checaram, realmente o cara casado… — Cara casado aí. — Ela não achou crianças, então provavelmente não tinha filhos, mas um cara casado. E a Marília ficou mal, só que Marília… Marília é uma pessoa vingativa, muito vingativa. [efeito de tensão] E ela resolveu que ela contaria pra essa esposa do caso dela com esse cara. Elas estavam na mesma cidade… — Será que as viagens do cara de trabalho todas eram mentira ou só algumas? Enfim, não saberemos… — E que ela iria até essa mulher e contaria do namoro deles de seis meses. Ela ia imprimir algumas coisas, prints, enfim, ia fazer um dossiê pra entregar. E aí ela ficou matutando, porque ela estava numa das viagens, né? Então ela não sabia se ele estava viajando ou se ele estava com essa mulher. Aí agora ela precisaria descobrir o endereço dessa mulher. — Porque ela já tinha jogado o nome dele no Google, não tinha nada, enfim. —

Só que essa mulher, ela tinha um sobrenome diferente. — Então, sei lá, vamos por aí um sobrenome raro, assim, sei lá, Pôneiovisky. Então, digamos que o nome dela fosse Marcia Pôneiovisky. — É difícil você achar duas Márcias Pôneiovisky, né? Então, quando ela jogou Marcia Pôneiovisky no Google, ela achou uma loja. — E era uma loja virtual… — E aí, caçando mais, ela achou um endereço e pensou, né? No dia seguinte em ir até este endereço e viu que esse endereço era uma casa, não era uma loja. — E, gente, Marília, obcecada… Pra mim já tô achando obcecada, hein, Marília? Ê, Marília… — Conseguiu achar a mulher nessa casa, saindo dessa casa. E ela ficou com muito medo de encontrar o cara, porque até então ele ainda estava viajando, mas ela não queria confrontar ele desse jeito. E aí, mais uma vez ela chorou porque, enfim, aquilo tudo que estava só como conjecturas na cabeça dela, estava se materializando, né? Então, Márcia Pôneiovisky existia, Márcia Pôneiovisky tinha uma casa e, provavelmente, Márcia Pôneiovisky morava com esse cara.

E aí ela já podia entregar o dossiê, as coisas… Só que pra ela não estava bom ainda, pra Marília não estava bom apenas entregar um dossiê para Márcia Pôneiovisky. E aí ela resolveu, gente… [risos] Se vingar do cara. — Às vezes eles faziam, assim, pequenas loucurinhas aí de amor, né? E, entre elas, algumas brincadeirinhas. — E aí, Marília arquitetou uma brincadeira, já foi falando disso pra ele no WhatsApp. Que quando ele voltasse, ela ia querer fazer uma surpresa pra ele e vendar ele e nã nã nã… E aí eles foram para um motel, Marília vendou esse cara, mas não amarrou. [risos] Só vendou, falou pra ele: “Olha, fica aqui de costas, nu, que eu vou te fazer uma surpresa que você nunca vai esquecer”. Marília pegou uma mochila que ela tinha levado [efeito sonoro de zíper sendo aberto] e o cara tinha achado que, sei lá, tinha um monte de coisa que ela ia vestir e tal, pegou todas as roupas do cara, o sapato, a carteira, o celular… — E eles estavam no carro dela, né? — E saiu de fininho. O cara ali esperando, confiando super [risos] e ela saiu, gente, com o carro… Pagou o motel. E eu ainda perguntei pra ela: “Mas ninguém ligou no quarto, nada?”, ela falou: “Não, como eu saí e paguei, ninguém perguntou nada, interfonou… Só perguntou se a pernoite ia até o final”, e ela disse que sim e saiu. E o cara ficou no motel peladão, sem roupa, sem celular, sem nada.

E aí, o que Marília fez? Marília pegou esse pacotinho [risos] com as coisas do cara, inclusive carteira e celular, pegou o dossiê… Isso era umas oito e meia da noite, foi até a casa de Márcia Pôneiovisky, [efeito sonoro de campainha tocando] tocou a campainha e se apresentou. “Oi, meu nome é Marília, eu sou a namorada, ou melhor, ex—namorada do seu marido. Tá aqui as coisas dele. Eu deixei ele nu no motel tal”. Márcia Pôneiovisky ela mora numa casa de Vila, então, assim, pra você entrar tem o portão que, provavelmente até às dez da noite fique aberto e depois eles fechem. — Não sei. — O portão estava aberto dessa vila, só que não dava pra entrar de carro. Então ela deixou o carro do lado de fora da Vila, entrou, bateu na porta de Márcia Pôneiovisky… — Então, a porta, pensa assim: na frente tem um gramadinho e já é a porta da casa, né? Tipo, tocou a campainha da casa, não tem um portão, enfim… Não sei se dá pra imaginar bem como é a casa. É uma vilinha que as portas todas já são, assim, na ruazinha da vilinha. —

E aí Márcia Pôneiovisky, quando ela abriu a porta, a Marília percebeu que tinha um cachorro, então provavelmente ela saiu, sei lá, pro cachorro não escapar, pra não deixar a porta aberta. E ela falou: “O que? Como é que é?”, ela falou: “Olha, seu marido aí…”, aí Márcia Pôneiovisky respondeu: “O Roberto?” e realmente o nome do cara era Roberto. Ela falou: “O que é isso? As coisas do Roberto? O que está acontecendo?”, e aí de novo Marília falou: “Olha, eu sou a namorada do seu marido, ou melhor, eu sou a amante sem saber do seu marido. E aqui estão todas as coisas dele. Ele está no motel Pônei [Enlace], eu deixei ele lá nu, sem carteira, sem celular, sem nada…”. E aí, quando Márcia Pôneiovisky entendeu e Marília estava satisfeita com sua vingança e até pensou: “Agora Márcio Pôneiovisky vai começar a chorar e eu vou consolar Márcia Pôneiovisky e ficaremos amigas”. Márcia Pôneiovisky ficou muito brava… Ela falou: “Você deixou o Roberto nu no motel, sem carteira, sem celular… Você é louca?”, foram as palavras de Márcia Pôneiovisky… Ela falou: “Ué, sim, eu estou vindo aqui te avisar que seu marido é um traidor e isso e aquilo”. 

Márcia Pôneiovisky virou pra ela e falou: “Escuta, minha filha, o nosso relacionamento é aberto”… [risos] — Gente, eu acho assim… O Roberto devia ter contado pra Marília que ele tinha um casamento aberto. — E Márcia Pôneiovisky complementou: “Inclusive, o Roberto tem a própria casa dele aqui na Vila, tem épocas que a gente nem se vê”. Assim, ela explicou por cima e já procurando ali no celular alguma coisa, talvez o endereço do Pônei [Enlace]. E aí Marília viu que não tinha mais o que fazer ali, porque ela estava brava… — Márcia Pôneiovisky estava brava com Marília, não com Roberto, ela estava preocupada com Roberto. — A Marília saiu dali de fininho e falou: “Gente, será? Mas como?”. E aí ela ficou no carro, porque ela estava muito passada. E, de repente, ela vê um carro sair da Vila com tudo, viu que no volante estava Márcia Pôneiovisky. [risos] Resolveu seguir e, realmente, Márcio Pôneiovisky foi até o Pônei [Enlace] entrou com o carro e, daí para frente, ela não sabe o que aconteceu. Só sabe que ela ficou parada na frente do Pônei [Enlace] por duas horas e Márcia Pôneiovisky e nem Roberto tinham saído de lá. — Então será que eles aproveitaram a noite? Vai saber… — E aí Marília foi embora se sentindo mal. [risos] 

E ela já tinha bloqueado o Roberto em tudo, e aí ela ficou com medo, sei lá, do Roberto processar ela e tal, deixou tudo bloqueado e eles nunca mais se falaram. E às vezes ela entra no Facebook de Márcia Pôneiovisky — que não está escrito lá “relacionamento aberto”, mas também não acha que Márcia Pôneiovisky deva satisfação pra ninguém, né? De escrever no perfil se o relacionamento dela é aberto ou não, ela é casada com o Roberto e ponto. — Achei que o cara realmente errou em não contar pra Marília que ele era casado num relacionamento aberto, mas a Marília diz que tem a impressão que talvez este casamento estivesse num hiato, né? Talvez eles não estivessem juntos mesmo naquele momento, naquele período que ele estava namorando, por isso que ele não falou nada. — Vai saber… Jamais saberemos. — E aí essa vingança que ela achou que, sei lá, fosse ficar amiga de Márcia Pôneiovisky [risos] meio que saiu pela culatra, né? Porque eu acho que se Márcia Pôneiovisky ficou no Motel [Enlace] com o Roberto por pelo duas horas… — Mais de duas horas, porque com duas horas a Marília foi embora, né? — Provavelmente eles ficaram juntos lá.

Ela aproveitou que Roberto estava pelado… — Aqui agora já é coisa da minha cabeça, porque não sabemos… — [vinheta do quadro Pimenta no dos Outros] Ela entrou no motel, viu que Roberto estava pelado, eles riram e transaram, ficaram lá. Eu estou apostando nessa versão, né? E depois acompanhando o Facebook da Márcia Pôneiovisky, Marília viu que eles estavam de boa, que eles estavam bem. Então deve ser mais ou menos isso que aconteceu, né? Ela deve ter ido lá, eles devem ter dado risada no final e, enfim… Então essa vingança de Marília não deu muito certo, mas eu achei que o cara errou sim em não contar pra ela esse acordo, esse acerto que ele tinha com a esposa. E pra ver se Marília gostaria de entrar nessa, né? De ter um relacionamento com alguém que já tem um casamento, mesmo que seja aberto e tudo esclarecido e tal… Marília podia não querer, né? Então, eu acho que esse cara, esse Roberto, ele tirou essa oportunidade de Marília decidir se ela queria ou não entrar nessa. Então, por aí tudo bem a vingancinha, mas deixar o cara pelado eu achei um pouco demais, hein, Marilia? [risos] 

Foi bem arquitetada, achei bem arquitetada a vingança, mas não faria. E achei que foi over, assim… Foi um pouco demais. E aí essa é a história de Marília. Marília, agora, qualquer relacionamento que ela vai começar ela pergunta antes: “Você tem um relacionamento aberto? Você é casado com alguém? Você tem algo a me dizer?” [risos] Que é já pra não ter mais esse mal entendido… — Que não foi só um mal—entendido. — A gente não sabe as razões por que o cara omitiu, porque eu acho que você ser casado é um fato importante pra você comentar, mesmo que o seu relacionamento seja aberto. Ou não? O que vocês acham?


[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, Oi, Não Inviabilizers, aqui é a Gabriela, eu falo de São Paulo e eu estava ouvindo a história Vingança o tempo todo me perguntando se o nome Marília era por causa de Marília Mendonça… Porque essa moça, essa história podia ser uma música de feminejo. [risos] Mas eu concordo com a Déia, eu acho que o cara errou aí de não ter falado para ela que ele tinha um relacionamento aberto, porque era um acordo dele com a esposa dele, mas que também Marília estava envolvida no relacionamento não monogâmico sem saber, né? Então, realmente, pra mim o maior problema foi esse. Fiquei passada com a vingança, nunca teria coragem de fazer algo assim, mas, enfim, da próxima vez aí Marília cabe checar melhor os fatos antes de fazer uma coisa dessa. [risos] É isso, um beijo. 

Assinante 2: Oi, oi, gente, aqui é a Isabella de São Paulo e, como pessoa que viveu um relacionamento aberto maravilhoso: Marília, é muito importante que a gente desnaturalize a monogamia. Quando a gente toma esse sistema relacional como natural, a gente pressupõe que todo mundo se relaciona dessa forma e não é bem assim. E, assim como não existe uma grande revelação para as pessoas dizerem para as outras que são monogâmicas, por que então tem que existir sempre uma grande revelação pras pessoas dizerem que têm relacionamentos abertos, que são monogâmicas ou que se relacionam de uma maneira alternativa à forma monogâmica? Às vezes o Roberto só não estava se relacionando com a companheira dele, a esposa dele naquele período, e não achou relevante compartilhar isso com você. Mas isso se resolveria se as pessoas começassem a achar normal perguntar para o parceiro, pra parceira, como que ele se relaciona, como ele gosta de se relacionar com as pessoas, qual é o modelo relacional que ele segue. É isso. 

[trilha]

Déia Freitas: O canal Reload descomplica a notícia. É um canal feito de jovens para jovens. É informação de qualidade na sua timeline sem nenhuma enrolação. Acessa gratuitamente o podcast aí na Amazon Music. Toda quarta—feira, bem cedo, tem um episódio novo. Eu vou deixar os links aqui na descrição do episódio. Um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.