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título: trampo
data de publicação: 13/10/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #trampo
personagens: hélio e uma moça

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publi… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje é o serviço de streaming Lionsgate Plus. A Lionsgate Plus traz um novo olhar pra quem procura histórias poderosas e escolhidas a dedo pra você, que tem uma variedade imensa de programas exclusivos e filmes premiados. A Lionsgate Plus tem uma minissérie exclusiva chamada “Gaslit”, com a Julia Roberts e o Sean Penn. O nome da série é Gaslit porque faz referência ao termo “gaslighting”. — Que a gente já sabe que é quando a gente está falando alguma coisa e alguém te desacredita ou alguém fala que você é louca… Isso acontece muito com a gente, né? Muito com as mulheres. —

Então, a minissérie ela conta a história do caso Watergate e traz a Julia Roberts no papel de Martha Mitchell, que é a esposa do procurador geral da República, John Mitchell. — E aí o que acontece? — O caso Watergate é contado do ponto de vista da Martha, que na época ela queria escancarar as coisas que estavam acontecendo e o marido dela — que era o procurador geral da República — queria esconder. E aí ela é tratada como louca, ela é medicada e internada à força… Enfim, a Julia Roberts está dando um show aí e vale muito a pena assistir. Eu vou deixar o link pra assinatura aqui na descrição do episódio e o link do trailer também, gente… Tá demais essa minissérie. E hoje eu vou contar para vocês a história do Hélio. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

O Hélio ele é um cara negro, que batalhou muito, muito, muito, muito pra chegar onde chegou. Hoje ele trabalha em uma grande, grande, grande empresa de eletrônicos no setor de logística. — Então, assim eu não vou detalhar muito bem o cargo do Hélio, mas ele faz aí a conferência de um monte de coisa… — O Hélio é casado, tem dois filhos… Os filhos estão numa escola boa, enfim, né? — Ele está aí colhendo os frutos do trabalho dele. — Acontece que nesse trabalho que o Hélio está agora, ele conseguiu ali pelas planilhas, apurações e coisinhas lá que ele faz, descobrir uma mulher — que trabalha lá — que está desviando eletrônicos da empresa. [efeito sonoro de tensão] — E aí, assim, quando ele me mandou um e—mail, não tinha muito detalhe de como isso era feito. Por que o que eu pensei? Se for uma coisa grande, né? Tipo uma quadrilha, é melhor até você pedir demissão e nem denunciar nada, sair fora. Porque, sei lá, alguém pode te matar… Agora, se fosse ela desviando só coisa, só ela, sei lá, é outro jeito de lidar com as coisas, né? E aí eu escrevi para o Hélio e ele me respondeu. —

E, pela apuração que ele fez, ela desvia coisas pra ela. Então uma TV aqui, um multiprocessador ali… — E, assim, eu não vou explicar aqui como ela faz, mas ele pegou o esquema todo, assim, né? De como ela está desviando esses produtos. — Acontece que essa mulher sempre foi muito gente boa com o Hélio, sempre foi uma boa trabalhadora e ele ficou na dúvida entre denunciar ou conversar com ela e tentar resolver a questão. E ele tá nessa, foi por isso que ele escreveu para a gente, porque denunciar vai implicar, sim, numa queixa policial na empresa. — Ele já viu como a empresa lida com esses casos, né? — E, enfim, ele está totalmente balançado entre fazer isso ou conversar com ela e tal. Aí ele me escreveu e a gente começou a conversar… Eu acho que o Hélio tem que contar na empresa sim, porque é um crime. E se ele não conta e depois sobra para ele? E ele vai ser implicado como cúmplice, né? 

Tem a questão que pega sim dela ser branca e ele ser negro. De repente, ela dá um nó lá na frente lá e ele sai como culpado disso aí. — Então, gente, tem certas coisas que não tem pra onde correr, né? — Ela sabia que ela estava desviando produtos, que estava furtando a empresa… E aí ela foi descoberta. Eu acho que ele não tem que confrontar ela, conversar com ela, nada… Eu acho que ele tem todas as provas pra poder chegar no superior dele e passar tudo. E se documentar ali que ele está passando, entendeu? Que ele verificou, que ele encontrou ali onde está a brecha do que está acontecendo, que é ela e deixar que a empresa resolva, entendeu? A parte dele é apurar, fazer as verificações e reportar. Então, eu acho que ele tem sim que reportagem, gente… — Porque senão pode sobrar para ele como cúmplice ou até sei lá, né? A gente sabe muito bem aí como acontecem as coisas, né? —

Eu dei pra ele um exemplo de quando eu era coordenadora de uma rede de lojas de shoppings. — Shoppings e aeroportos. E, gente, não adianta… Loja de shopping, aeroporto, essas coisas, você tem que ter câmera em tudo. Primeiro porque tem muito furto em loja, né? As pessoas entram e furtam mesmo. — Tinha câmera em tudo e, numa das unidades, começou a dar muita quebra de caixa. Então, assim, o caixa desfalcado todo dia, tipo 300, 400 pau. — Gente, não tem como, né? — E uma coisa que as lojas fazem: Elas repassam realmente ali para quem está na loja na hora, o que é errado, mas repassa. E aí, assim, já avisa: Se acontecer de novo, duas ou três vezes, vai ter que mandar todo mundo embora, porque, né? Se não consegue achar quem está tirando esse valor do caixa… Só que as meninas já sabiam quem era, e era uma moça que tinha acabado de ter bebê, estava lá com a gente, super incrível, tal, mas ela estava tirando dinheiro do caixa. E aí a responsável era eu… 

E aí as meninas me passaram isso, eu puxei nas câmeras e realmente ela estava. Ela fazia de um jeito que a nossa câmera não pegava. Onde a loja tinha colocado a câmera, né? Mas a câmera do shopping pegava. E aí não tinha pra onde correr, né? O shopping me passou as imagens e tal… E aí eu conversei com o dono da rede de lojas, porque o procedimento era esse mesmo, gente, era fazer o boletim de ocorrência para você resguardar a empresa ali e demitir por justa causa. Aí fui lá, conversei com o dono da empresa… Falei: “Olha, ela pegou realmente e nã nã nã”, eu não gostaria que virasse uma queixa criminal, se você deixar na minha mão, eu resolvo com ela e nã nã nã”, ele falou: “Bom, então eu vou deixar isso pra você resolver. Tipo, pra não pegar para a empresa”. Eu falei: “Bom, puxei a responsabilidade para mim…”. Fui lá, conversei com ela, falei… Falei: “Olha, vamos tentar fazer de um jeito… Vamos chamar o sindicato, vamos tentar fazer de um jeito pra não te mandar por justa causa, mas que também você devolva esse dinheiro todo que você pegou, né? Aí você tem a sua indenização e nã nã nã”. 

Fizemos tudo direitinho com o sindicato e tal, pra também não ter nenhuma anotação na ficha dela, enfim, fiz tudo certo, gente, pra que ela não tivesse uma anotação de justa causa na carteira e muito menos uma queixa criminal. — Beleza, fiz minha parte, né? Bola pra frente… — Eu chego um dia no quiosque e tem um cara lá muito nervoso, muito mesmo… Uma senhora e ela. O cara era o marido dela. E ela tinha falado pro marido uma outra história… Tinha falado que eu inventei coisas sobre ela e que por isso ela tinha sido demitida e o marido dela estava lá para tirar satisfação comigo. — Muito bravo. — E aí eu tive que mostrar pra ele as imagens dela roubando e o papel que a gente tinha lá do acordo. E aí esse homem chorou, enfim… Mas vocês percebem a merda que eu fiz? Tipo, eu tirei das costas dela, botei na minha e o cara foi lá… E se o cara vai armado e me dá um tiro lá? Eu não ia nem saber por que eu estava morrendo. Então isso nunca mais eu faço, entendeu? Eu acho que as pessoas têm que assumir aí seus B.O.s.

Porque se eu tivesse feito do jeito certo, ele ia saber dessa queixa porque não ia ter como ela evitar de contar e ela não ia inventar uma mentira. E o que ela fez? Ela inventou a mentira pensando que ele não fosse lá me confrontar, mas ele foi. E aí eu falei isso pra ele também, falei: “Ó, você está aqui praticamente me ameaçando, né? E eu não vou fazer nada de novo… Deveria, mas não vou aí consideração a sua família. Agora você vai e você conversa com sua mulher…”. — A mãe dela estava junto também, aí choraram… E aí também não é problema meu, né, gente? — Então, por isso que eu falei para o Hélio, falei: “Hélio, faz o seu trampo… O seu trampo é: Você encontrou onde está o erro aí, encontrou quem é a mina que está desviando as coisas… Está um clima estranho no departamento porque sobra pra todo mundo enquanto você não descobre onde está o problema, né?”

Falei pra ele: “Bicho, vai lá, documenta tudo, reporta. Você fez seu trampo, entendeu?”. “Ah, o que vai acontecer com ela?”. Infelizmente, gente, não dá pra gente resolver tudo e trazer pra as nossas costas, como eu fiz com essa menina aí que trabalhava na loja… E depois a pessoa botar no seu, né? Porque ela estava mentindo ali sobre mim. Eu fiz tudo, gente, tudo, tudo, tudo para que nada manchasse a ficha dela. Não sabia por que que ela estava pegando dinheiro, o marido dela, depois que viu os vídeos lá na hora, começou a chorar, falou que ela não precisava disso… Então, assim, não é problema meu, mas eu fiz tudo, sei lá, para que a vida dela não fosse alterada de maneira ruim tão drasticamente, né? Tipo, ela só perdeu o trampo… Era arranjar outro trampo, né? Ainda deixei claro lá que, se alguém ligasse pedindo a referência dela, não era pra falar nada, nem bem e nem mal… Eu não ia atender e pronto, né?

Mas até que ponto fiz certo? Podia ter tomado um tiro na cara, porque a gente sabe que tem doido por aí. Podia ter tomado um soco na cara. Eu fiquei muito assustada, muito assustada no dia. E aí também não levei isso para o dono lá da rede de loja… Então, segurei aí esse B.O. sozinha. As meninas da loja também ficaram muito assustadas, né? E a gente seguiu… Mas então, por isso que eu acho que o Hélio tem que contar sim, não importa que ela é legal, que ela tenha problemas financeiros, que ela tenha, sei lá, gente doente na família… Não é um problema seu, entendeu? O seu problema é fazer o seu trampo. Faz seu trampo e tira o seu da reta, porque senão o seu vai entrar na reta de uma forma ou de outra, como o meu entrou.

[trilha]

Assinante 1: Olá, Não Inviabilizers, aqui é o Léssio, do Rio de Janeiro. E, Hélio, o que eu tenho pra dizer pra você é o seguinte: denuncie essa moça. Assim como a Déia falou, eu concordo 100% que você precisa denunciar ela e você precisa também se preservar. Então, evita falar com ela que você sabe, não conta pra ninguém que você descobriu, a não ser o seu chefe ou quem for a pessoa que resolva isso. Porque o que eu sempre vejo e vi na vida, inclusive aqui em outras histórias do podcast, é que as pessoas quando estão fazendo uma falcatrua e são descobertas, elas fazem de tudo pra tentar se safar, inclusive jogar a culpa em gente inocente ou tentar prejudicar a pessoa que descobriu aquela falcatrua. Então, acho assim: conta pro seu chefe, não conta pra ela, não fala nada pra ela que você sabia e deixa rolar. É um B.O. que ela precisa assumir, tá bom? Boa sorte aí, tomara que dê tudo certo. 

Assinante 2: Oi, meu nome é Robson Saldanha e eu sou advogado trabalhista. O que eu posso dizer pro Hélio é que o melhor caminho é o que a Déia falou. O seu papel, enquanto funcionário, sobretudo que supervisiona esse tipo de situação, é passar para os seus superiores o que está acontecendo. E, infelizmente, nessa hora a gente não pode ter pena, porque se você tentar conversar, pode ser que isso volte contra você. E a empresa, a função dela, é que demita essa pessoa por justa causa e que ela cumpra com as obrigações que lhe cabem. Cabe à empresa denunciá-la para a polícia ou não, e isso é um critério da empresa. Mas a sua parte você deve fazer. Então essa é a maior dica, é uma dica importante para que a gente possa compreender melhor as relações de trabalho. 

[trilha] 

Déia Freitas: Lionsgate Plus, um jeito único de ultrapassar limites e desafiar as suas expectativas. O que você quiser assistir você encontra na Lionsgate Plus. Siga @lionsgateplusbr nas redes sociais. Um beijo, gente, e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.