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título: vingancinha
data de publicação: 19/10/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #vingancinha
personagens: sandra e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publi… [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje é o podcast de Finitude, apresentado pelos jornalistas Juliana Dantas e Renan Sukevicius. O podcast Finitude acaba de chegar a sua sétima temporada e, agora, pela primeira vez, também em vídeo. Essa temporada comemora quatro anos do podcast Finitude no ar. No podcast, Juliana e Renan abordam as temáticas do envelhecimento, da saúde mental, dos cuidados paliativos, da morte e do luto, sempre aí com boas histórias de vida, além de trazer também os melhores especialistas de cada área. 

A sétima temporada do Finitude vem inteiramente dedicada à saúde mental. São seis episódios: burnout, depressão, transtorno de ansiedade, transtorno de bipolaridade, transtornos alimentares, além de Alzheimer e outras demências. Eu vou deixar aqui na descrição do episódio o link lá para o podcast Finitude. E hoje eu vou contar para vocês a história da Sandra. — Ê, Sandra… — [risos] É uma história de firma. — Eu amo história de firma. — Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

A Sandra começou a trabalhar aí numa empresa e o chefe dela era muito, muito, muito insuportável. Pensa em um cara, assim, que te suga todas as energias e te faz trabalhar depois do horário, enfim… — Um cara péssimo. — E aí a Sandra foi trabalhando nesse lugar, ela não podia sair, ela tinha as contas pra pagar. — Então não tem essa de “ai, sai do emprego”, né? Tem muita coisa em jogo aí. — O tempo foi passando, a Sandra foi ficando aí nesse trabalho e, quando ela estava nesse trabalho há um ano, ela era assistente desse chefe insuportável, ela começou a pescar algumas coisinhas. — O que ela começou a pescar? — Ela descobriu que o chefe tinha uma amante. — No começo ficou, assim, surpresa. — E depois, investigando um pouco mais nos próprios horários ali, nas coisas que ela marcava para o chefe, ela descobriu que ele tinha várias amantes. — Então, além dele ser um cara insuportável no trabalho, ele também era um canalha com a esposa. Assim pensava Sandra… —

Mais um tempo se passou ali, com quase dois anos de firma, — a vida dela infernizada por esse chefe — Sandra descobriu que ele dava uns desfalques na firma. Ele era um dos gerentes, tinha um cara acima dele e, depois, acima desse cara, só o dono. — Que a Sandra nunca tinha tido contato. Tinha visto poucas vezes em algum evento ali da empresa. — Então ela tinha vários podres desse cara na mão. E Sandra com muito ódio do chefe, — que era um chefe maldito — resolveu se vingar e aprontar alguma com esse chefe. A primeira coisa que ela queria fazer, era contar para a esposa do chefe… [gato miando ao fundo] — Né, Nenê? — Que ele tinha várias amantes. Só que ela não queria se comprometer, não queria perder o trampo. Então ela queria dar um jeito de contar anonimamente para a esposa aí do chefe.

Sandra sabia as redes sociais do chefe, não seguia o chefe em nada, mas stalkeava. E ela resolveu fazer um fake pra mandar mensagens no Instagram do chefe, né? Da mulher do chefe. — Só que a gente sabe que o Instagram tem um limbo de mensagens ali quando você não segue a pessoa e a pessoa não te segue, as mensagens vão para um lugar lá que você acessa assim, sabe Deus como. [risos] — E a Sandra começou a desconfiar que as mensagens dela estavam indo para essa caixa aí, porque assim, ela não tinha resposta alguma… Nem aquele de visualizado das mensagens que ela mandava para a esposa do chefe no Instagram. Então, meio que contar das traições não deu certo. E tinha uma moça, uma das moças que esse chefe saía, ela ligava sempre lá pra falar com esse chefe pelo ramal… — Não se sabe por que não ligava no celular. —

E quando a Sandra atendia, ela tentava puxar papo com essa moça e, enfim, para ver se pescava mais alguma coisa, porque a Sandra queria de qualquer forma se vingar desse chefe. Então o Instagram não estava dando certo, ela estava buscando uma outra solução aí. Por outro lado, ela tinha descoberto ali várias falcatruas que o chefe dela fazia de desviar dinheiro… [efeito sonoro de tensão] E ela pensou seriamente em conversar com o cara que estava em cima dele, né? O coordenador. E contar… Só que ela não sabia como ia ser a reação do cara, né? E tudo isso a Sandra fazia sozinha, na cabeça dela. — Porque ela pensava que, se ela compartilhasse isso com alguém, alguém poderia dedurar. Então, enquanto você faz só você, tudo bem, né? — Então, ela bolou um plano… Ela resolveu mais uma vez criar um e-mail fake pra mandar sobre as falcatruas. Só que aí ela lembrou que o e-mail é rastreável por IP. — E ela não sabia fazer nada dessas coisas de internet e nã nã nã. — E ela resolveu imprimir na casa dela uma folha denunciando e botar lá na mesa do cara. 

Não tinha câmera no setor dela então, assim, se ela colocasse sem ninguém ver um envelope lá na mesa do cara, o cara ia ler e pelo menos ia acender aí alguma coisa, né? Tipo assim, sei lá, o cara ia investigar. E pensa assim, gente: A empresa ali no setor dela — eram vários setores — era meio que uma repartição, então tinham as mesas, tinha a mesa dela — colada na sala do chefe e tal — e tudo repartição, assim, baia. — Acho que é baia o nome, né? Tipo, quando você consegue enxergar ali o final da sala e tal. — E ela deu um jeito de chegar mais cedo e botar o envelope lá na mesa daquele que não é o chefe dela. — É o chefe do chefe. — E aí ela botou lá e ficou esperando pra ver se o cara ia pegar, ia a ver… E passou um tempo, o cara chegou, tipo umas onze horas da manhã só. — Ela já estava muito ansiosa. — E o cara mexendo nas coisas ali, abriu o envelope, leu, amassou a folha e jogou no lixo. Sem fazer absolutamente nada, assim… — Nem olhar ao redor, sabe? —

Quando foi mais ou menos umas duas da tarde, esse chefão chamou o chefe da Sandra, eles conversaram lá, o cara saiu meio preocupado, assim, foi pra sala dele, mas nada falou e ficou por isso mesmo, gente. [risos] — Pra gente ver como as coisas não são como filme. [risos] — Sandra não conseguiu nada denunciando o chefe pro outro chefe e também não conseguiu tirar nenhuma informação daquela moça que ligava e que ela sabia que saía com o chefe dela. Bom, mais uns meses aí se passaram e festa de fim de ano… Chegou festa de fim de ano, a Sandra tinha amizade com algumas pessoas, então uma galera bebeu um pouco mais e estava ali conversando e tal. E, no meio de uma das conversas entre a galera, — a peãozada mesmo, né? — alguém viu o chefe dela passando com a esposa e falou: “Alá, tá vendo aqueles dois? Dois canalhas. O casamento deles é só de fachada e nã nã nã, porque ela tem uma namorada que não sei o quê…” Assim, falando horrores da vida dos dois e dizendo que o casamento deles era uma fachada.

E a Sandra prestando atenção e pensando em todo o esforço que ela gastou pra contar das amantes do cara e, de repente, a própria esposa sabia. [risos] — Ê, Sandra… [risos] — E aí, como eles estavam falando mal desse cara, começaram a falar mal, acabaram falando que rolava um boato ali na firma — porque a Sandra era relativamente nova, tinha gente que estava lá há 10, 12 anos, né? — de que o chefe da Sandra e aquele chefe que ela mandou o bilhete, os dois roubavam a firma juntos. [risos] Então, também a denúncia que a Sandra tentou fazer para se vingar do chefe com o cara, talvez deu só um alerta para os dois fazerem melhor, mais escondido as coisas. [risos] A Sandra continua no trampo que esse chefe aí é um maldito com ela, mas ela diz que paga bem e ela tem um monte de prestação que ela não tem como sair agora.

O cara continua saindo com várias moças, porque enfim… — É a vida dele… O arranjo que ele tem com a esposa dele só ele sabe, não é da conta de ninguém, né? — E ele continua dando desfalques aí na firma, provavelmente junto com o outro chefe. — Isso a Sandra não tem como ter certeza, mas ela tem certeza do que ela vê ali. — E, detalhe, ninguém nunca desconfiou dela em nada, então, assim, todas as vinganças da Sandra [risos] foram em vão. [risos] — Ô, Sandra.. Ê, Sandra… [risos] — E ela escreveu pra contar isso, que tipo, né? Às vezes a gente acha que vai conseguir [risos] derrotar o vilão da história e ele segue aí. Ela fez tudo isso para nada, assim. [risos] Aí eu falei pra Sandra, falei: “Você já pensou em reclamar no RH, né? Sei lá, de repente, assédio moral”. E ela falou que o cara faz é: fazer ela ficar depois do horário e dar muito trabalho pra ela, ela tem muita coisa pra fazer.

Então, assim, ele mal fala com ela, mas ele é um cara que não está nem aí se ela tem alguma coisa pra fazer depois do horário e meio que o RH é conivente nisso, né? Mesmo pagando hora extra às vezes ela tem alguma coisa pra fazer, enfim… Então, [risos] essa é a história da Sandra e ela falou que nunca tinha ouvido uma história assim no podcast, onde a pessoa que tenta se vingar não consegue nada [risos] e ela queria contar a história dela. 

[trilha]

Assinante 1: Oi, gente… Aqui é Natália, eu falo de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul. E a minha opinião é que a Sandra ela deveria se preocupar um pouquinho mais com a saúde mental dela do que com esses outros problemas externos, que não tem muito a ver com ela. Aliás, não tem nada a ver com ela, né? Se o cara trai, se o cara rouba a empresa e tal, não tem muito o que ela possa fazer… Mesmo ela já tendo feito tudo isso e não deu certo, enfim, acho que ela deve superar, deixar isso de lado e cuidar da saúde mental dela, que é o mais importante. Eu, particularmente, não ia conseguir ficar um ambiente assim, tóxico, onde eu me sinto mal e onde eu odeio as pessoas… Eu não ia conseguir. E o karma ele volta, gente… O que o cara está fazendo é pra ele mesmo, e uma hora ele paga. A conta chega. 

Assinante 2: Oi, gente, eu sou Adriana do Rio de Janeiro. Sandra, a gente não sabe se ri ou se chora com você. [risos] Mas eu posso te dar algum conselho, entendo que nós da classe C não podemos nos dar ao luxo de ficar sem trabalho, mas começa a jogar seu currículo, começa a falar com os amigos, começa a buscar mesmo sair da sua zona de conforto, de estar mesmo que mal empregada e buscar, botar seu currículo, correr atrás de alguma coisa, porque não adianta a gente ganhar dinheiro e estar totalmente infeliz. Infelizmente essa é uma prática no mercado, esses chefes às vezes têm sim conivência com o RH e gestão superior e, com relação aos roubos, infelizmente você não tem o que fazer, né? [risos] Mas boa sorte pra você e que você consiga um novo emprego. Um beijo. 

[trilha] 

Déia Freitas: O podcast Finitude pode ser encontrado gratuitamente no seu tocador de podcast favorito e agora você também pode acompanhar em vídeo no canal novinho deles no YouTube. — Também o link aqui na descrição do episódio. — No YouTube é só você jogar lá na busca “Finitude” podcast. No Instagram é: @finitudepodcast e no Twitter é o contrário: @podcastfinitude. O Finitude é um dos podcast de fundação da Rádio Guarda Chuva, que é a primeira rede brasileira de podcast exclusivamente jornalísticos. @guardachuvapod nas redes sociais. Um beijo, gente, e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.