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título: conta médica
data de publicação: 28/11/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #conta
personagens: cassandra, john e melissa

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… [latidos de cachorros ao fundo] Chega… Olha, vê se eu mereço. Acabei de falar: “Oi, gente”, depois o Léo corta… Oi, gente…. Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publi… — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje é a Rádio Novelo com seu novo podcast original o “Rádio Novelo apresenta”, o podcast Rádio Novelo Apresenta é semanal e é apresentado pela Branca Vianna. — Maravilhosa. — Se você não ouviu Praia dos Ossos, que eu recomendo muito ou o Podcast Crime e Castigo, corre ouvir… São outros dois podcast aí que foram apresentados pela Branca e que são, assim, sensacionais. 

Esse novo podcast é bem diferente desses que eu citei aí — Praia dos Ossos e Crime e Castigo — em vez de uma série de capítulos sobre um único tema ou contando uma única história, o podcast Rádio Novelo Apresenta vai ser um podcast de episódios avulsos. Então, toda semana a Branca e a equipe vão contar histórias diferentes sobre os temas mais variados. No episódio dessa semana, por exemplo, você escuta a história por trás de um dos memes mais icônicos da internet brasileira, aquele do Caetano Veloso, [risos] que ele está todo cabeludo chamando um cara de burro. [áudio do Caetano Veloso] “Você é burro, cara, que loucura… Que coisa absurda. Isso aí que você disse é tudo burrice”. [risos]

Aliás, você sabe com quem é que o Caetano estava falando naquele momento? — Quem era o burro da história ali? [risos] — Eu não vou dar spoiler aqui. O Rádio Novelo Apresenta está disponível em todas as plataformas de podcast e também no site da Rádio Novelo. Eu vou deixar o link aqui na descrição do episódio. — Eu amo a Rádio Novelo, sério. — E hoje eu vou contar pra vocês a história da Cassandra. Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

Tem uns oito anos que a Cassandra foi para os Estados Unidos ser AuPair. — Eu já contei aqui uma história de uma outra AuPair, né? — E ela foi pra lá pra cuidar de umas crianças e tal numa família, deu tudo certo, ela ficou um ano em um lugar e, depois, no segundo ano — ela podia estender o programa de AuPair, né? — ela foi pra outro lugar. — Pra uma outra família. — E aí nessa segunda família, ela morava perto ali de um lugar que tinha uma oficina mecânica e, nessa oficina mecânica, ela conheceu o John. Ela conheceu o John, eles começaram a conversar e a coisa evoluiu pra um namoro… E, quando acabou o programa de AuPair, ela trocou o visto de turista, depois trocou o visto de novo pra trabalho, conseguiu um trabalho lá e acabou casando com o John. E aí, assim, ela teve uma vida boa com o John? — Boa, boa não, porque, assim, a Cassandra estava me explicando que, nos Estados Unidos, se você é pobre, é muito gritante a diferença e é muito difícil você sair da pobreza também nos Estados Unidos. Então, por exemplo, uma coisa que a gente admira aqui… A gente não, eu não admiro, mas muita gente admira que é “ah, você vai para os Estados Unidos e com um dólar você compra lá um pacote de salgadinho gigante”. Então, você compra esse pacote de salgadinho gigante, mas se você quiser, por exemplo, comprar frutas, tipo, dependendo de onde você tá é muito caro e tal. Então, a alimentação deles era muito ruim, assim, era muito fast food… Porque, por exemplo, às vezes você não tinha dinheiro pra fazer uma refeição, mas você, sei lá, tinha um dólar e meio pra comer no Pônei Donalds, sabe? —


Então ela não teve uma vida financeira boa, assim, nos Estados Unidos, mas ela estava casada com o John, ela amava John, ele também a amava e ela conseguiu o green card pra ficar lá legalmente e nã nã nã… E a vida foi passando, ela engravidou, teve uma filhinha que a gente vai chamar aqui de Melissa e chegamos a pandemia. Nessa época que a Cassandra teve a Melissa, ela não estava trabalhando. E o John ele trabalhava na oficina mecânica dele ali, mas era tipo como se fosse pequenos bicos, ele não tinha um emprego que proporcionava lá um seguro saúde. Inclusive, quando a Cassandra foi ter a Melissa, ela fez… Tinha uma ONG lá, se você fizesse desde o começo pré natal, tudo certinho, você fazia pela ONG e não ficava com a dívida de um parto, enfim, de uma conta de hospital. E aí ela fez por essa ONG e tal, mas era uma ONG específica pra que a mulher fizesse o pré natal direitinho, o acompanhamento e nã nã nã e no final lá, se o seu parto não complicasse, você não pagava nada.


Agora se, vai, complicou o parto, você vai internada aí lascou…  — Mas no caso dela, deu tudo certo, Melissa nasceu, bebezinha linda, tudo certo… — E aí, na pandemia, o John deu uma sorte, entre aspas, mas uma sorte que ele consertava as viaturas, as ambulâncias ali de onde eles moravam, né? Então isso deu uma segurada, eles não ficaram sem dinheiro totalmente. Só que agora, o ano passado, no começo mais ou menos do ano passado, o John adoeceu. O John pegou Covid e ele tava até que bem, e aí foi progredindo, né? — A gente sabe como é, a gente já viu vários casos e ele teve que ser internado. — O John ficou internado por seis semanas e, infelizmente ele faleceu, devido aí a complicação da Covid—19. A Cassandra ficou muito mal, o custo do funeral ela teve que fazer ali, dividir entre os amigos e tal, que ela não tinha também… Conseguiram enterrar o John ali com dignidade e tal.


Ela queria se manter nos Estados Unidos, aí ela começou a fazer uns bicos, a Melissa ficava com uma vizinha, enfim. — Meio precária a coisa, né? — Passado—se ali cinco meses do falecimento do John, a Cassandra recebeu uma carta em casa… E era uma conta médica do John e ela viu e falou: “Nossa, né? Mas ele morreu”. Então ela pensou: “A dívida morreu com ele”. — Só que não… — Um tempo depois, ela foi, tipo, meio que convocada aí por um advogado, que era tipo do convênio, sei lá como funciona isso e a dívida tinha sido estendida pra ela. E aí, quando ela ficou sabendo disso, ela procurou se informar, o que ela tinha que fazer… E o que ela tinha que fazer? Pagar. E, se ela não fosse pagar, ela tinha que declarar falência, mas na situação dela lá era complicado isso, ela não tinha como. Enfim, ela pegou a Melissa e veio para o Brasil.


E aí agora ela tá aqui com a Melissa e devolveu a casa lá que ela tinha alugado, enfim… Vieram embora de vez. Só que ela não sabe se, tipo, a dívida de lá caduca ou se a Melissa, que é americana e, sei lá, se um dia ela quiser morar nos Estados Unidos, ela vai chegar lá e vai ter a dívida do pai dela do hospital pra ela pagar? — É uma coisa que fica pra sempre ou é igual aqui no Brasil? Enfim… — E aí ela me escreveu porque ela não consegue achar essas orientações tipo procurando no Google, assim, né? Eu não tenho a menor ideia. Mas, por se tratar dos Estados Unidos, acredito que não deve caducar, sei lá, não sei, né? Mas aqui no Brasil também eu não sei se dívida de hospital assim caduca, ou se quando a pessoa morre, morre a dívida. Não sei também…


Então, se alguém tiver aí a informação, a gente coloca aqui no final do episódio. Tanto aqui no Brasil, acho que é uma informação importante, né? Se a pessoa é internada no hospital particular e, ah, não dá tempo de transferir para o SUS e tal, ficou uma dívida e ela morre, os familiares têm que pagar essa conta? Ou essa conta morre com a pessoa? — Aqui no Brasil. — E nos Estados Unidos, como que é isso? Que a conta foi transferida pra ela, foi, isso é fato. Agora, como ela veio embora, ela tem green card, mas ela é brasileira e tal, como é que fica essa conta? E isso respinga na filha dela que nasceu lá, é americana… Pode tirar cidadania aqui e tal, mas e aí como é que fica se a menina, por exemplo, quiser estudar lá? Vai chegar lá e vai ter a dívida? Não sei.

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, oi, Cassandra, sou Vanessa, falo de Uberlândia, Minas Gerais e trabalho com direito a sucessões. Sobre herança no Brasil, a gente tem uma frase clássica de que: “Não se herda dívida” e, de fato, elas não são passadas para os herdeiros. No caso hipotético que você disse, se alguém morreu e deixou uma dívida de hospital, por exemplo, e ele tinha outros bens, esses bens responderão pela dívida. No entanto, caso estes bens não sejam suficientes, nenhum herdeiro vai responder com algum bem pessoal. Resumindo, no inventário bens e dívidas são computados e se sobrar algo, aí tem herança. E sobre os Estados Unidos, aconteceu algo semelhante com minha irmã num passeio. Ela foi atendida, tomou um soro, ficou lá duas horas, chegou uma dívida gigantesca pra ela, nunca pagou e já voltou lá várias vezes para passear e teve zero problema. É isso aí… Beijão. 

Assinante 2: Oi, gente, aqui é a Hanna do Rio de Janeiro. Então, eu estou passando exatamente por essa situação. Minha mãe faleceu em maio do ano passado e a conta chegou pra gente lá em casa no nome dela, sendo que ela ficou acho que três horas e meia no hospital e a conta foi de mais de 12 mil reais. E aí eu não tinha, não tenho condições de pagar, a gente não tinha feito inventário, nada disso… E tal qual foi minha surpresa que no final do ano recebi uma mensagem no meu nome dizendo que o meu nome estava indo para o SPC por conta dessa dívida. Isso se deve porque quando ela entrou no hospital, eu assinei o instrumento de contrato particular em que eu me responsabilizava. Então, apesar da dívida ser da minha mãe, ela ficou pra mim porque fui eu que assinei esse documento e aí eu estou no SPC por conta disso. Beijo, gente. 

[trilha] 

Déia Freitas: Então não esquece: Novo podcast da Rádio Novelo, o podcast Rádio Novelo Apresenta com a incrível Branca Vianna. Corre ouvir, está disponível gratuitamente em todas as plataformas de podcast e também no site da Rádio Novelo. Um beijo, gente, e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.