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título: murinho
data de publicação: 07/12/2022
quadro: picolé de limão
hashtag: #murinho
personagens: janice, filho de janice e vizinha

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão, e hoje eu vou contar para vocês a história da Janice.  A Janice tem a minha idade, – 46 anos aí, tá nessa faixa – o marido dela, o Carlos, tem a mesma idade e o filho dela – que a gente vai chamar aqui de Felipe – completou agora 18 anos. – Agora no final do ano passado, né? Agora em dezembro. – E aí a história que eu tenho hoje pra contar pra vocês é sobre a relação da Janice com o filho e uma coisa que tá acontecendo que tá preocupando muito aí essa mãe. E, como ela me disse, ela escreve aqui primeiramente como mãe. Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]


A Janice, a família, os três, eles se mudaram na pandemia. Então, lá em junho, julho de 2020, eles mudaram de casa porque o aluguel onde eles estavam estava muito alto e aí eles foram para uma outra casa. É uma casa de esquina. Nessa casa de esquina, o lado que dá pra a rua e pra frente da casa, o muro é alto. O muro dos fundos também é alto, porque quem fez foi o outro vizinho. Só que o muro lateral que dá pra casa do lado… – Digamos assim, ela mora numa esquina, aqui à esquerda é um muro que dá pra rua, então é um muro alto, e aí ele vai até atrás, que dá pra a casa do vizinho de trás, é um muro alto. À direita o muro é baixinho, é um murinho, que dá pra outra casa do lado. – E por que esse murinho é baixinho? O cara que é o proprietário do imóvel ele é dono das duas casas, então ele fez esse murinho baixinho no meio – como uma separação, separa as garagens ali… – só que é um muro baixo, baixinho mesmo. – Tipo, menos de um metro. Murinho, muretinha. –


E aí assim que ela se mudou, a vizinha do lado que tem mais ou menos também a nossa idade, – seus 40 e poucos – ela logo foi chamar a Janice pra perguntar se Janice tinha cachorro, alguma coisa, porque ela não queria nenhum animal pulando o muro pra casa dela. – Então já viu, né? Já começou nesse clima. – Ela não foi mal educada, nada, mas isso não é a primeira coisa pra você falar quando você recebe um vizinho ali na sua rua. Aí a Janice falou: “Olha, pode ficar sossegada, eu não tenho cachorro… Eu tenho três gatos, mas eles ficam dentro de casa. Como você pode ver, a gente colocou grade em tudo, é um espaçamento de grade que não dá pro gato sair e eles não saem no quintal, eles ficam dentro da minha casa. Você pode ficar tranquila”. Então o clima já começou assim, com essa vizinha já avisando que não queria bicho na casa dela. – O que ela tem toda razão, porque quem tem cachorro ou gato tem que manter dentro da sua propriedade, mesmo gato. Eu já fiz um vídeo lá no Patada que tem um jeito de você colocar um pequeno alambrado, 50 centímetros em volta do seu muro pro seu gatinho não sair de seu quintal, então não há desculpa, tá? Quem tem bichinho tem que ter responsabilidade e os vizinhos não são obrigados a aguentar seus bichos. –


Então, a vizinha está errada? Não está. Ela precisava ter falado isso no primeiro dia? Também não precisava, mas tudo bem, falou, não não rolou estresse e assim foi… Aí o ano se passou, passou 2020, chegamos à 2021… Metade de 2021. Então já fazia um ano que Janice, o marido e o filho, Felipe, estavam ali naquela casa.

Nesse meio do ano agora o Felipe começou a ficar estranho… Ele ainda com 17 ano, o moleque ficou estranho. E aí Janice sempre de olho, mas assim, ela e o marido eles trabalham fora e, desde o começo de 2021, eles voltaram para o presencial. E o que sabemos da vizinha? A vizinha não trabalha e o marido dela trabalha e tava em casa, em home office e voltou em maio de 2021 a trabalhar fora. Como que Janice sabe disso? Porque o marido dessa vizinha ficou meio que parça do Carlos, do marido da Janice. Então eles conversam, tipo, ah, tá saindo, falam “oi”, conversam, falam de futebol e nã nã nã, essas coisas… Numa dessas, ele falou: “Olha, então estou voltando e tal, que saco e nã nã nã”, acabou conversa.


E aí o moleque foi ficando estranho, ficando estranho… A Janice sem saber o que era, passou ali uns meses… Em novembro, ela pegou o moleque chorando, e aí falou: “Não, Felipe, agora você tem que me falar o que que está acontecendo… O que está acontecendo? Porque o seu curso não é presencial, você não sai de casa pra nada, você tá sempre aí jogando videogame, não trabalha… Eu quero saber o que está acontecendo”, e aí ele falou… – O que ele falou, gente? – Que no meio do ano ele começou a ficar com a vizinha. – E como é que é esse ficar? – A vizinha tem dois filhos que estudam à tarde, o marido dela trabalha o dia inteiro fora – desde maio – e aí no meio do ano ele começou a ir à tarde… – Porque ele fica em casa, né? Ele estuda home office… Home office, né? Não é office… Sei lá, estuda em casa. – E ele começou a ir pra lá.


E aí a Janice ficou em choque… – Ficou em choque. – E o que tá acontecendo? Ele tá indo pra lá pra transar com a vizinha e ele estava chorando porque a vizinha falou que o marido estava desconfiado e que ela queria dar um tempinho, que ela queria, assim… Quando fosse pra transar, ela chamava ele. E aí ele falou: “Mas você não vai largar dele? Agora que ele já está desconfiado, larga dele, fica comigo”. E aí a vizinha deu um se liga no filho de Janice, falou: “Olha, você tem idade pra ser meu filho, eu não vou largar o meu marido e minha casa pra ficar com você, né? Eu quero que a gente continue com o que a gente tem, tá muito legal, mas eu não quero mais que isso aí”. – E era por isso que ele estava chorando, porque, enfim, ele perdeu a virgindade com essa vizinha. – E o moleque tá meio enlouquecido, assim… Aí tanto a vizinha percebeu que ele tá meio apaixonado demais quanto a Janice, que a Janice teve que ir lá falar com a vizinha. 


Falar: “Escuta, vai dar problema… Meu filho tá apaixonado por você, daqui a pouco ele tá interpelando o seu marido aí e vai dar tragédia isso. Eu não quero perder meu filho”. Então aí a vizinha se afastou… O método deles conversarem era trocando bilhetes no murinho. – Tipo, é um murinho de blocos. – Eles enfiavam lá os bilhetes no bloquinho… – Eu acho isso romântico, mas, gente… Eu já falei pra vocês aqui que eu acho problemático uma mulher da minha idade namorando um rapaz de 17 anos. Me desculpa, é a minha opinião. Eu acho problemático… Eu acho que um rapaz, uma moça, que seja, de 17 anos, não tem a bagagem emocional que eu tenho, sabe? Então, eu acho… Parece que a pessoa mais nova ela fica em desvantagem emocionalmente, sabe? Eu tenho mais ferramentas pra lidar com as coisas agora aos meus 46 anos do que eu tinha com 18. Com 18 pelo amor de Deus, né? Então eu acho muito problemático isso. Tanto que o menino agora está ao ponto de tá doente. Ele não tem… Ele não tem as ferramentas pra acompanhar o que está acontecendo aí com essa pessoa da minha idade, né? Que podemos chamar de senhora. Eu sou uma senhora? Eu sou uma senhora, né? –


E aí Janice quis saber tudo do filho… Como que começou isso? Começou que o filho ele tem umas atribuições em casa, que ele não trabalha… Então, cuidar da caixa de areia dos gatos, limpar quintal, essas coisas é tudo o Felipe que tem que fazer. E aí um dia ele tava lá, ele lavou as caixas de areia dos gatos e tal, botou pra secar, colocou as outras caixas pra dentro e tal, certinho lá pros gatos e, quando ele voltou pra varrer o quintal, que ele tem a sequência de coisas que ele tem que fazer antes dos pais chegarem… – E eu acho certo. Tá em casa, tem que ajudar. – [efeito sonoro de algo sendo varrido] E aí quando ele estava lá varrendo, o muro lá de trás é alto atrás, mas é baixinho também pra casa da vizinha… Como é na frente ali onde ela reclamou. É o muro inteiro. E aí ela tava estendendo roupa, de shorts, sem camiseta, com o peito de fora. E aí ele ficou louco, né? Ficou louco. Ela viu que ele tava ali, ela não botou uma roupa, assim, não botou uma camiseta, ficou ali com os seios à mostra. Ele olhou, continuou varrendo e saiu, assim, tipo: “Meu Deus do céu, acho que ela não me viu aqui, né?”, mas aí, moleque, 17 anos, ele falou: “Ai meu Deus, falar será que ela tá ali ainda?”, aí voltou, ela estava ainda mais perto do murinho ali, né? E ela olhou pra ele, sorriu e falou “oi”… – Assim, balançou os peitos… [risos] Ê, vizinha… – 


E aí esse moleque ficou doido. Aí todo dia ela fazia isso, aí um dia ela pegou um bilhetinho, botou ali no murinho, ele respondeu e, quando viu, já estava lá dentro e já foi, né, gente? – Aí não vamos transformar isso aqui num conto erótico. – E agora o menino tá doido… A Janice tá apavorada porque acha que, se o marido descobrir ele pode realmente fazer alguma coisa violenta com a vizinha e com o filho dela. Ela contou para o marido Carlos e Carlos está meio perdidão, assim, sem saber o que fazer… Porque ele falou: “Poxa, o cara realmente ele pode te matar até”, mas ao mesmo tempo, ele está meio feliz que o filho perdeu a virgindade. Então, né? Já rola um machismo aí, então ele não quer ficar totalmente ali contra a situação. – Mas, gente, é uma situação que tem que ficar totalmente contra… Ela é casada. – E, detalhes: sabe por que eles trocam bilhete no murinho? Porque o marido monitora o celular dela. Então, veja, a gente não sabe… Eu não vou ficar aqui especulando sobre o relacionamento da vizinha com o marido, a gente não sabe de nada, mas o que ela falou pro Felipe é: “A gente só pode conversar por bilhete, porque o meu marido monitora o meu celular”. Então um cara que monitora o celular da esposa… E mesmo assim tá sendo corno, né? – Porque não adianta, gente, não adianta… A pessoa quando ela quer fazer, ela faz. Não adianta você monitorar… Pode monitorar o que for. Olha aí, tão trocando bilhete no murinho e ela tá lá estendendo roupa com os peitos de fora. Não adiantou nada o cara fazer essa aí, esse marido dela. –

Mas o caso é: Já levanta uma puta bandeira vermelha, né? O cara monitora o celular dela. Então ela lê os bilhetes lá do garoto e joga fora. – Esperta ela também, né? Pelo menos aí não tá deixando rastro, né? – Mas é uma situação toda problemática… O menino tá meio desesperado, assim, porque ele quer continuar com ela. Ele quer casar com ela… – Vocês entendem essa mentalidade dele? Dá pouca experiência? – Ela já tá casada, ela já tá com os filhos dela… Ela já falou que ela não quer nada sério, mas ele está apaixonado, ele tá gamado, vidrado. Então, a Janice não sabe mais o que fazer… Já conversou com a vizinha, já conversou com ele… A vizinha disse que ia se afastar. Ao mesmo tempo que ela fala isso, às vezes ela bota bilhetinhos quentes no murinho. – Janice já pegou uns dois, três bilhetinhos quentes que ela bota no murinho. – Então ela tá usando o murinho ainda… 


Gente, eu não sei o que dizer, assim, eu não sei como ajudar essa mãe, porque ela frisou muito que estava me escrevendo como mãe, assim, que ela está muito preocupada com o filho, com o estado mental do filho e também com a segurança do filho, né? Desse cara aí que monitora o celular da mulher. 


[trilha]

Assinante 1: Oi, pessoal, eu sou Amanda aqui de Santo André. Janice, puts, eu sinto muito… Eu não consigo imaginar como deve estar um coração de mãe nessa situação. E história do seu filho me lembrou muito uma coisa que eu passei quando eu tinha 17 anos com uma pessoa que tinha o dobro da minha idade… E aí até reforçando um pouco do que a Déia falou, né? É muito errada porque realmente a pessoa tem uma bagagem emocional ali muito diferente da pessoa de 17 anos. Então, o meu apelo pra você é: Procura uma ajuda psicológica pra ele, porque se eu pudesse ter tido essa ajuda psicológica quando eu tinha meus 17 anos, muita coisa, muitos problemas que eu tive seriam evitadas, então faz isso por ele. E, claro, a situação provavelmente vai ter que ser resolvida de outra forma também ali com a vizinha, mas não deixe de procurar ajuda psicológica. 

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é a Marina, falo de São Paulo, interior de São Paulo. Caraca, Janice, que situação complicada, né? Poxa, essa vizinha aí também, cara… E o seu filho é jovem, né? Poxa, jovem sente tudo 100 vezes mais assim como a Déia falou, o jovem não tem recursos suficientes para lidar com rejeição, recursos emocionais, enfim, que é o que seu filho está passando, infelizmente… Eu acho que terapia pra ele seja a melhor opção, visto que, enfim, talvez se ele não puder sair daí, passar tempo em algum outro lugar, eu acho que terapia seria o ideal. E também se ele puder passar um tempo em algum outro lugar fazendo terapia também eu acho que seria interessante. É isso aí, sucesso, Janice. 

[trilha]

Déia Freitas: Por favor, deixem seus recados pra Janice lá no nosso grupo do Telegram. Sejam gentis. Se você ainda não está no nosso grupo, é só jogar lá na busca do Telegram “Não inviabilize” que o grupo aparece. E eu volto em breve com mais histórias. Um beijo.

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.