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título: maldade
data de publicação: 14/12/2022
quadro: luz acesa
hashtag: #maldade
personagens: ayumi

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. E hoje eu cheguei pra um Luz Acesa. — Meio punk… — Bom, hoje eu vou contar para vocês a história da Ayumi. Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]


A Ayumi ela passou aí numa universidade — federal — que ela teria que mudar de estado. E aí ela começou a procurar uma vaga num apartamento pra poder dividir, porque, né? — Alugar um lugar sozinha ela não teria grana. — E aí começou a procurar esse apartamento na cidade e chegou até um lugar com um apartamento, —  veja bem — um apartamento de três quartos que só tinha uma moça morando e os outros dois quartos estavam para alugar. Então, era a proprietária do imóvel que alugava o quarto, mais a área comum, enfim… Você só alugava a vaga mesmo, mas era um quarto só seu, né? O banheiro era no corredor, teria que dividir o banheiro, tudo bem e a cozinha, né? E essa mulher tinha transformado a sala também em um quarto. Então tinha ficado três quartos e, como área comum, somente o banheiro e a cozinha. — Então, você tinha que fazer suas coisinhas no seu quarto. —


Só tinha uma moça morando lá, que também era estudante, né? E a Ayumi foi lá dar uma olhada nesse lugar, nesse quarto. E aí era tudo bem arejado, limpo, as paredes pintadas, tudo certinho assim, né? A Ayumi foi bater um papinho com a moça, pra ver se a moça não era chata também… Mas também não ia ter muita coisa, né? Porque só dividir a cozinha ali. Ainda a proprietária, no dia que mostrou o apartamento, falou: “Ó, se você quiser, você pode colocar um frigobarzinho no seu quarto, enfim, pra ficar mas aí individual pra você”. E aí a Ayumi foi conversar com a moça que estava morando lá, e aí a moça falou assim pra ela, falou: “Bom, você já alugou? Já combinou com a…”, vamo botar um nome aí pra mulher… “Com a dona Julieta?”. E aí a Ayumi falou: “Não, ainda não… Vim aqui ver antes”. Então ela falou: “Bom, então eu vou já te dar o papo, vou te mandar a real do que acontece aqui pra você saber se você quer ou não”.


Ela falou: “Você viu que é muito barato, né? Pra você alugar um quarto como esse aqui, seria três vezes o valor, mas a Dona Julieta está fazendo esse valor muito barato”. E aí a Ayumi falou: “É, então, eu fiquei meio sem entender… Quando eu até marquei pra vir aqui, eu achei que eu ia encontrar um lugar horrível pelo preço, mas é muito, muito, muito bom e muito, muito, muito barato”. E aí a moça falou pra ela assim: “Bom, o que acontece aqui é que a dona Julieta morava aqui com o marido e o marido dela morreu… Só que ele ainda está aqui”. [risos] A Ayumi falou: “O que?”, ela falou: “É, ele tá aqui”. E aí a Ayumi achou que a menina estava fazendo graça, né? Que a menina tava enfim… Aí a menina falou pra ela: “Olha, eu fiquei aqui… Esse é meu quarto mês, mas eu consegui agora um outro lugar e vou sair, então você vai acabar ficando sozinha e eu te aconselho a pagar só um mês pra você ver se você vai aguentar. Eu aguentei quatro meses porque eu paguei adiantado a dona Julieta e eu não tinha como sair, mas agora que já venceu aí meus quatro meses, eu estou indo pra outro lugar, mas eu tive que ficar aqui”…


E a Ayumi em vez de perguntar: “Então tá, o que o marido morto de dona Julieta faz?”, não, ela achou que era muita bobagem tudo e não levou a conversa pra frente, sabe? Desconversou, assim, foi embora e alugou o quarto. — Gente… — Quando a Ayumi entrou de novo nesse apartamento, a moça já não estava, estava tudo limpo, tudo organizado… Ela escolheu o quarto que ela quis pra ficar, os quartos já eram mobiliados e a Ayumi escolheu o quarto que tinha cama de casal. [efeito sonoro de tensão] — Talvez o primeiro erro… — E aí, na primeira noite, nada aconteceu. ela acha que ela escutou um barulho na cozinha, mas assim pegou no sono, dormiu… Na segunda noite, porque ela passava o dia fora estudando… Na segunda noite, a Ayumi dormindo com a porta aberta, porque só estava ela no apartamento, a porta do quarto aberta… A porta do quarto fechou. [efeito sonoro de porta batendo] A porta do quarto fechou…


A Ayumi diz que ela escutou um barulho… Sabe quando você é… — Como é que eu vou explicar isso? — Era barulho de passos, mas era um passo, assim, muito rápido e curto, tipo “tec, tec, tec, tec, tec”, sabe assim? Então algo correu muito rápido, assim, com passos muito curtinhos, fazendo barulho até a cama. E aí a Ayumi estava virada para o lado da janela, de costas para a porta que bateu… Como a janela estava aberta, a Ayumi nem levantou, nem se mexeu… Ela falou: “Poxa, o vento, né? Preciso botar um calçozinho naquela porta quando quiser deixar aberta”. E continuou ali deitada… Conforme a Ayumi pega no sono, ela sente um tranco… E sem brincadeira nenhuma, alguma coisa que talvez seja o marido de Dona Julieta, puxou a Ayumi pelo lençol assim… Arrancou o lençol e a Ayumi da cama e a Ayumi caiu no chão. 


Na hora ela nem lembrou de fantasma, de nada e achou que podia ser alguém, né? Podia ser um cara tentando abusar dela. E ela já levantou, assim, meio que pra se defender e, quando ela virou, não tinha nada. — Mas foi algo muito brusco, sabe? — E aí ela toda tremendo, pegou o lençol, que era lençol de elástico… Então, pra você arrancar o lençol de elástico, hein? Ou não é um lençol de elástico muito bom ou a pessoa tinha força, né? Essa criatura tinha uma força. E aí ela voltou, botou o lençol na cama e tal, deitou, mas ficou acordada e nada mais aconteceu. No dia seguinte, ela ela foi conversar com a Dona Julieta, e aí ela falou: “Olha, a moça que estava aqui falou que tem o fantasma de seu marido e realmente está acontecendo… Algumas coisas estão acontecendo lá que são estranhas e tal”. Aí a dona Julieta falou assim pra ela: “Olha, eu costumo falar que é o fantasma do meu marido pra não ter que dar muita explicação… Mas eu sou divorciada, meu marido é vivo. A verdade é que eu não sei o que tem naquele apartamento. Eu saí de lá porque um dia eu cheguei em casa e algo veio comigo e eu não sei o que é… E eu saí de lá, eu já estava divorciada nessa época e essa coisa que está te atormentando agora deitava comigo na cama e me empurrava, me chutava, enfim… E eu saí de lá e aluguei. E, assim, tem época que eu pego estudantes que nada acontece e tem épocas que eu pego estudantes que não conseguem ficar lá”. 


E aí ela falou pra Ayumi: “Olha, você ficou lá dois dias, se você quiser, eu devolvo seu dinheiro e tal”, mas a Ayumi não tinha pra onde ir naquele minuto, né? E aí, no terceiro dia, a Ayumi já tinha avisado os pais, né? E, assim, já tava todo mundo procurando outro lugar pra ela… Ela tinha falado pra Dona Julieta dar mais dois dias pra ela sair, dona Julieta falou que ia devolver o dinheiro, beleza… E aí no terceiro dia, que seria o penúltimo, não aconteceu nada. Na quarta noite, que seria a última, na noite seguinte ela já ia sair de lá, já tinha arrumado um outro lugar que ia desocupar dali três dias, ela ia passar três dias num hostel, era o último dia dela lá e ela foi dormir já, assim, ressabiada… E quando ela estava deitada na cama, ela sentiu alguém deitar na cama com ela. E a Ayumi falou: “Gente, não é possível, não é possível… Eu não estou no filme, sabe?” E aí, com muita coragem, a Ayumi resolveu virar… [efeito sonoro de tensão] E quando ela virou, o que a Ayumi viu? Ela disse que era como se fosse uma sombra, mas não chegava a ser tão escura. Era… — Como é que eu vou explicar isso? — Meio leitosa. Escura, assim, uma cor meio… Vai, uma cor de catarro, assim, uma coisa gosmenta, estranha, mas que não tinha… Não era palpável, assim, você percebia que era meio transparente, sei lá. Uma coisa horrível assim.


E a Ayumi falou que quando ela virou, ela sentiu essa coisa ruim e viu… E, conforme ela viu, essa coisa ruim entrou no corpo dela… [música de suspense] No corpo de Ayumi. E aí a Ayumi deitada na cama, semiconsciente… Ela falou: “Andréia, eu sabia que tinha alguma coisa em mim, mas eu não conseguia reagir”. E aí ela se levantou com essa coisa nela e, gente, essa coisa queria que a Ayumi fosse até a janela. — A Ayumi estava no décimo andar. — Meio sem entender, meio com aquela coisa dentro dela, a Ayumi conseguiu se jogar no chão. E aí se jogou no chão e ficou tentando se debater ali com aquela coisa nela, dentro dela, ela sentindo a maldade dessa coisa… E aí, passado um tempo que ela não sabe quanto tempo foi, essa coisa saiu do corpo dela e ela sentiu sair. — Deus é mais… — A Ayumi falou que quando essa coisa saiu dela, ela sentiu muito enjoo, muito enjoo mesmo assim, mas não vomitou… E ela sentiu muita dor no corpo, assim, como se ela tivesse tomado uma surra, mas essa criatura, essa coisa que entrou na Ayumi não fez ela se debater, nada, ela se jogou no chão porque ela estava percebendo que essa coisa estava arrastando ela para a janela. 


O que a Ayumi acha? Que essa coisa ia fazer a Ayumi pular. A Ayumi ficou ali no chão com dor e tal um tempo. E quando ela voltou, se recuperou um pouco mais, assim… Porque ela falou que ela estava meio grogue, meio com enjoo, meio com dor, ela foi ali meio que se rastejando até a porta da sala, saiu e dormiu no corredor porque ela estava exausta, exausta, exausta… E aí de manhã, algum outro vizinho ali correu achando que tinha uma moça morta no corredor e era a Ayumi. E aí a acordaram a Ayumi… Todo mundo saiu ali no corredor do prédio e tal e ela entrou, pediu pra alguém entrar com ela, pegou as coisas dela e foi embora. Pegou só um pouco das coisas… E aí ela foi para o hostel… Quando ela voltou junto com o pai, — porque aí o pai dela acabou indo para a cidade de lá pra pegar o restante das coisas — ela tinha contado para Dona Julieta o que tinha acontecido… Esse quarto que a Ayumi escolheu, que ela também não olhou os outros, estava com grade… Grade de ferro por dentro na janela, pelo lado de dentro, porque acho que do lado de fora não pode porque altera a fachada, né? Estava com grade de ferro pelo lado de dentro da janela. — Olha que loucura… — 


E aí a Ayumi foi para esse hostel, depois foi pra uma outra casa e nunca mais teve nenhum episódio desses. — Teve uns pesadelos, mas tudo no campo do sonho mesmo, né? Com tudo o que tinha acontecido, mas nunca mais teve nenhuma situação. — Então, era lá do apartamento mesmo, né? Alguma coisa que foi com a dona Julieta e lá ficou e lá está até hoje, né? — Deus é mais… –

[trilha]


Assinante 1: Olá, Não Inviabilizers, aqui é a Paula de São Paulo. Oi, Déia, oi, Ayumi, acabei de ouvir sua história, uma história bastante tensa… Eu fico aqui me perguntando o que será que dona Julieta trouxe da rua pra casa dela e que não saiu mais de lá e nem ela, a dona do apartamento, conseguiu ficar e nem os inquilinos depois também, né? Algumas pessoas veem, outras não, mas você foi avisada, né? Quando você chegou, pela inquilina anterior… Mas você não deu muita bola. [riso] Então, eu sinto muito por essa experiência traumática que você passou, de ver, de sentir e desse espirito aí trevoso incorporar em você, né? Mas ainda bem que não aconteceu nada de mais grave, você saiu aí desse apartamento e agora vida que segue. Um grande beijo, Ayumi.


Assinante 2: Oi, gente, oi, Déia, meu nome é Gabriela, falo do Rio. E teve uma coisa que me incomodou demais nesse relato da Ayumi, além da experiência horrível que ela teve, que é o fato da inquilina saber que essas coisas acontecem dentro da propriedade dela e mesmo assim ela continua alugando quarto pras pessoas. Ela coloca as pessoas em risco, mesmo dizendo que acontece com algumas pessoas e com outras não, mas ela mesma diz que já sofreu com essa coisa que tá dentro do apartamento e, se o pior tivesse acontecido com a Ayumi, será que ela teria a consciência tranquila? Isso me incomodou demais… Demais. Enfim, Ayumi, espero que você tenha se recuperado e que você busque na espiritualidade um jeito pra que você se bloqueie e pra que nunca mais nada possa invadir o seu corpo de novo. Beijo.   

[trilha]

Déia Freitas: Bom, comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis com a Ayumi. E que história, hein? Eu hein… — Meu Deus, em qualquer lugar… Agora você não pode estudar em paz. Que ódio… — Um beijo, gente.

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.