Skip to main content

título: neblina
data de publicação: 27/03/2023
quadro: luz acesa
hashtag: #neblina
personagens: natália

TRANSCRIÇÃO

Este episódio possui conteúdo sensível e deve ser ouvido com cautela.


[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra um Luz Acesa. – E eu já adianto que essa história tem gatilhos de violência sexual, então fiquem atentos. – Hoje eu vou contar para vocês a história da Natália. Então vamos lá, vamos de história.


[trilha]


A Natália, uma universitária, que tem que andar um bom trecho aí para chegar até em casa quando volta à noite… E ela vai e volta a pé, por motivos financeiros mesmo e por ser um trecho que é ok ir e voltar a pé. – Geralmente tem gente na rua quando ela sai quase onze horas da noite. – Muitos alunos saem também, então ela vai ali pelo fluxo e tudo certo… – Mas a gente sabe que os perigos estão por aí. – Um dia, a Natália acordou estranha… Ela não sabe dizer por que, mas sabe quando você passa o dia, assim, esquisita? – Eu vou aqui fazer um parêntese pra contar uma passagem minha para vocês. Eu não sei se todo mundo sabe, acho que a maioria não… Em 2002 eu fui atropelada por um ônibus. Sim, um ônibus daqueles com sanfona no meio, biarticulado… Eu fui atropelada por um ônibus desse. E, desde a hora que eu acordei, eu estava com uma sensação muito, mas muito estranha… Mesmo. Só que era uma coisa que ao mesmo tempo algo em mim dizia pra eu não sair, tinha algo que me fazia sair… Eu não sei. Eu não sei explicar essa sensação, era como se eu soubesse que uma coisa ruim ia acontecer comigo e que ela era inevitável. Bem isso mesmo… Tipo, eu sabia que eu estava caminhando pra algo ruim que eu não podia evitar. Então era assim… 


Aquele dia eu saí para ir até São Paulo com uma amiga minha, que ela ia ver coisas de enxoval. Era uma coisa que a gente podia ter desmarcado e feito outro dia, por mais que eu não quisesse ir, eu lembro de chegar no portão, colocar a chave pra sair e pensar: “Puta, não é para eu ir”, mas alguma coisa me falava: “Mas você tem que ir”. Eu não sei explicar… E eu sabia que era algo ruim e não sabia o que. Eu fiquei com aquele mal estar, com aquela coisa… E a gente foi, ela fez as compras lá na 25 de Março, a gente voltou de trem, a hora que chegou na estação de trem de Santo André, que eu ia pegar o ônibus para minha casa, ela falou: “Vamos até o centro aqui”, e aí de novo aquela sensação: “Pega o ônibus, vai para casa”, mas ao mesmo tempo algo me impedia… E foi aí, uma hora da tarde, no dia 2 de maio de 2002, eu foi atropelada e, enfim, fiquei lá… Fui ressuscitada pelo Corpo de Bombeiros. Eles fizeram os primeiros atendimentos e me vi no chão, me vi morta, enfim, outro dia eu conto essa história… Mas é só para dizer que eu entendo essa sensação da Natália, que é você saber que algo vai acontecer com você e você também saber que é inevitável. É uma coisa muito louca. –


E era esse sentimento que a Natália tinha ali a hora que ela acordou, que algo ia acontecer, que ela não sabia o que, algo que estava deixando ela muito mal… Mas ela, por exemplo, era um dia que ela não precisava até ir na faculdade, ela podia ter voltado pra casa, do trabalho ela ir para casa. Só que ela foi… Mesmo com esse sentimento, essa sensação. – E eu entendo a Natália, porque eu já passei por isso, igualzinho… Nessa questão de não saber por que a gente tem que ir, mesmo sabendo que algo ruim vai acontecer, enfim. – E aí a Natália foi, estudou, e ela estava se sentindo mal, assim, estranha… Na hora do intervalo ela pensou em ir embora, mas ela pensou nessa questão da segurança, né? Porque na hora do intervalo poucas pessoas vão embora e na hora que todo mundo sai, quando termina a aula, vai mais gente. Então ela esperou e, quando ela saiu ali da faculdade, ela fez exatamente o mesmo caminho que ela fazia todo dia e sempre tinha gente na rua… Só que nesse dia, conforme ela foi andando, não sei, as pessoas foram, sei lá, virando uma esquina, virando outra e faltando três quarteirões pra chegar em casa, Natália se viu sozinha na rua, andando, e ela só escutava o eco dos próprios passos dela.


Assim que Natália virou a esquina, faltando dois quarteirões pra casa dela, Natália sentiu um puxão assim, um tranco… E do lado direito dela, ela estava na calçada, era um terreno abandonado, um terreno baldio… E ela sentiu esse puxão e ela foi agarrada por um homem pra esse terreno baldio. Conforme esse homem derrubou a Natália no chão, ela começou a se debater, a lutar pela própria vida, deixou cair mochila, as coisas todas e esse homem rasgou a blusa da Natália. E nisso, enquanto a Natália lutava ali, ela percebeu uma neblina… Tudo ficou, assim, com uma neblina muito densa em cima dela, a ponto de ela não conseguir mais ver o rosto desse homem. – Porque ela estava vendo antes o rosto, ele não estava com o rosto coberto, nada… – Ela só estava ali lutando e via as mãos dele. E, conforme essa neblina foi ficando mais espessa, de repente, ela ouviu um grito… [efeito sonoro de pessoa gritando] Quem estava gritando? Este homem. – Ele estava segurando ela pelo pescoço já. –


Ele largou a Natália e ele deu um grito de pavor, um grito assim, assustador… E olhou… Natália estava no chão, ele estava sobre Natália e ele debruçou, ficou, assim, mais em pé, não em pé, ajoelhado, ainda em cima da Natália, olhando para frente, algo que estava atrás da Natália… – E a Natália deitada, então ela não conseguia ver. – E aí ele gritou, [efeito sonoro de pessoa gritando] levantou e saiu correndo. Conforme ele saiu correndo, toda aquela neblina, aquela… Não era uma fumaça, era neblina mesmo, se dissipou e a Natália levantou ali com a blusa toda rasgada, meio machucada e tal, e que ela olhou para trás, a Natália viu também… [efeito sonoro de suspense] O que ela viu ali ela falou para mim que ela não tem como descrever, porque era uma criatura muito feia, muito, muito feia mesmo… Só que quando Natália olhou para essa criatura, ela não sentiu medo. – Talvez porque ela já estava apavorada com o cara e tal. –


Ela entendeu que, de alguma forma, aquela criatura apareceu ali, que não era boa, mas que não ia fazer nada para ela. E aí a Natália saiu correndo, largou tudo lá naquele terreno e correu esses dois quarteirões. Ninguém apareceu na rua… E aí ela entrou em casa e aí vieram os vizinhos e só assim ela conseguiu gritar e tal. E aí voltaram no terreno, pegaram as coisas da Natália… Natália foi fazer um boletim de ocorrência, né? Ela deu a descrição do homem e tal, mas acabou que não encontraram ali na hora, enfim, depois teve até investigação, mas não encontraram o cara. E aí uma coisa que aconteceu: A Natália ela não voltou no terreno, ela nunca mais fez aquele caminho. Ela passou a fazer um outro caminho e um vizinho dela ali, com a filha que estudava lá também eles fizeram um bem bolado, enfim, pra voltar junto… Só que quem foi buscar as coisas da Natália nesse terreno baldio…


Então, pensa assim: Era um terreno com um mato muito alto, um mato de mais ou menos, sei lá, uns 70 centímetros assim, de mato mesmo. E imagina: Uma pessoa te joga no chão, tem uma briga ali, um confronto físico, faz uma pequena clareira no mato, mas quando eles voltaram no mato, o mato estava uma grande parte amassada… – Bem amassada… – Coisa assim: como se tivesse acontecido naquele momento assim… Então, não fazia sentido estar daquele jeito o mato. E aí depois, porque Natália ficou muito traumatizada… Depois de um tempo, os vizinhos ali comentando, falaram dessa questão do mato pra Natália e ela disse que quando essa neblina chegou, parecia algo denso mesmo… Ela ouvia o mato abaixar… Ela falou que duas coisas que ela ouviu muito bem: quando essa neblina chegou, esse mato abaixando e a respiração dessa criatura depois que ela ficou olhando para essa criatura assustada ali, sem saber se ia ser atacada de novo e nada aconteceu e ela saiu correndo…


E detalhe, né? Que ela falou que ela sabia que essa criatura não era boa, né? O que será isso, gente? Pelo amor… E por que essa criatura não sendo boa – essa sensação que a Natália teve de sentir o mal ali – não atacou a Natália e assustou o cara? Será que era algo do cara? Mas ficou ali, não foi embora com ele. 

[trilha]

Assinante 1: Oi, gente… Aqui é o Guilherme do Rio Grande do Sul. Então, eu acho que tem duas possibilidades: Ou essa coisa se entidade, esse espírito, esse ser que se apresentou assim de forma tão horrível é alguém, uma vítima desse cara que ficou deformado no plano espiritual, de tanto ódio, raiva, enfim e voltou por causa da atração energética para defender ela e, ao mesmo tempo, causar algum mal nele ou também pode ter sido o anjo da guarda dela, enfim, os espíritos de luz em torno dela que usaram algum espírito maligno que estava por ali, alguma coisa do mal a favor do bem. Isso também pode acontecer… Então pode ter sido uma influência superior, usando de espíritos do mal para fazer algum bem, pra evitar o pior. Pode acontecer também… Eu acho que são essas as possibilidades, que bom que ela conseguiu escapar, ainda bem… 

Assinante 2: Olá, Não Inviabilizers, Jaque Epifânio aqui de BH. Eu acho que essa entidade aí nesse espírito pode ter sido alguma outra vítima desse abusador, né? Que ficou rondando ali pelo local ou estava rondando o próprio abusador e viu na hora ali da Natália uma oportunidade de usá-la como instrumento de vingança para executar uma vingança contra ele… O que acabou ajudando ela de uma certa forma, por ter conseguido escapar. Pode ser que a outra vítima não tenha tido a mesma sorte e está rondando esse cara para tentar, de alguma forma, executar ali a vingança. Então, por isso que esse espírito tendo sido contaminado com o espírito e sentimento de vingança, automaticamente não vai nutrir bons… Não vai ser uma coisa boa. Ela também vai se tornar uma criatura cercada de sentimentos ruins, mas que acabou ajudando a Natália de toda forma. 

[trilha] 

Déia Freitas: Então, comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis com a Natália. O que será isso que rolou? – Eu hein… – Aqui pra mim foi tudo assustador, tanto o ataque físico que a gente está muito exposta a sofrer, a passar por isso, quanto toda essa situação, assim, de uma coisa ruim aparecer e, de repente, salvar a Natália. Nem que não tenha sido essa a intenção dessa criatura, mas acabou salvando a Natália. Então é isso, gente, um beijo e eu volto em breve.

[vinheta] Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]

E pra quem ficou aqui depois da vinheta, uma coisa que a Natália me falou: Enquanto ela estava ali lutando pela vida dela e ela acabou arranhando esse cara também e, enfim, a Natália sentiu algo… Além do medo que ela estava sentindo, que era uma raiva, uma coisa diferente, assim… Que se ela tivesse uma pequena oportunidade de matar aquele cara ali, a Natália mataria. E, durante muito tempo depois, ela ficou pensando se aquela criatura estava ali para isso, para Natália matar aquele cara, dando essa força, sei lá, maligna, pra ela fazer isso… Porque ela falou que mataria. Eu acho que eu também mataria, gente, desculpa… Não sei, né? Eu sou meio mole, mas na hora, né? Então ela ficou por muito tempo questionando se essa criatura, que ela sabia que era do mal, não estava ali não pelo cara, mas pra que ela matasse o cara. Não sei nem se isso faz sentido, mas isso passou por muito tempo pela cabeça aí da Natália. Então é isso, gente, um beijo…

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.