Skip to main content

título: suspeita
data de publicação: 29/05/2023
quadro: picolé de limão
hashtag: #suspeita
personagens: bernadete e seu marido

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. E hoje uma história mais tensa… Eu quero já adiantar para vocês que tudo será contado aqui é baseado na suspeita da Bernadete. – Então ela não tem provas de nada, é tudo no campo aí do que ela suspeita que aconteceu. – Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

A Bernadete  é uma engenheira com um cargo executivo – um cargo alto – e esse cargo dela, esse trabalho que ele exerce dentro da engenharia tem uma certa insalubridade. Então, de tempos em tempos, um seguro de vida da empresa é renovado e, por vezes, acontece um aporte no valor do prêmio. Então, digamos que ela tinha um seguro – vai, eu não vou falar que os valores exatos, mas só para a gente imaginar… – de 250 mil caso ela morresse e, de tempos em tempos, depois de dois anos, esse seguro passa pra 400 mil, por exemplo, caso ela morra. E é um seguro feito pela empresa, enfim, políticas ali da empresa. A Bernadete  ela está casada há 11 anos e o casamento dela de uns seis anos para cá é morno. 

Ela trabalha, tem um cargo alto, ele também tem um cargo bom, assim, não tão alto quanto o dela, mas um cargo bom. E ambos resolveram investir na carreira por dez anos pra depois começar aí uma família. Então, digamos que ano que vem seria o ano que eles pensariam em ter um filho… – Porque o tempo também está passando e a Bernadete estava ali numa janela limite para ter filho. – Então, estava combinado que ano que vem, 2023 eles começariam a tentar… Só que é aquela coisa, o casamento já não estava legal… – E eu não consigo entender muito por que as pessoas insistem. – No caso da Bernadete, quando eu perguntei isso para ela, a questão dela foi: “Andréia, eu já estou com ele há mais de dez anos, então eu já conheço ele, já conheço as coisas boas e ruins dele e eu estou numa fase que eu estou no limite pra ter filho. Então, se eu começar um relacionamento agora, talvez eu perca essa janela de ter filho”. – E aí também eu não entendo por que as pessoas só pensam em ter filhos biológicos, né? Você pode depois adotar se você realmente quer exercer a maternidade, que pra mim é ser mãe é isso, né? É exercer a maternidade, a criança não precisa nascer de você, não precisa sair do seu corpo aí para que você seja mãe, para que você seja mãe de alguém. Enfim, mas essa é uma questão minha… –

Então, Bernadete tinha essa questão e, diante disso, ela ia levando o casamento. Nunca pegou nenhuma traição do marido, nada, mas um casamento morno, onde cada um já fazia suas coisas meio que separado, enfim… – O que eu vou contar aqui pra vocês é tudo que aconteceu em uma noite e que fez com que a Bernadete  tomasse uma decisão. – [música de suspense] A empresa da Bernadete  é uma grande empresa que trabalha junto a uma empresa de petróleo, que a gente pode chamar de Pônei Oil. Chegou ali no momento de renovar o seguro de vida da Bernadete, e sempre o beneficiário do seguro de vida da Bernadete foi o marido dela. Então, automaticamente ela recebeu o e-mail com a renovação e tudo anotado ali e perguntando se continuaria o mesmo beneficiário. Ela disse que sim, uma coisa automática, então, o seguro dela passou a ser maior do que já era. e ela Ela tem uma pasta de documentos de família, então, assim, que ela e o marido compartilham as coisas… – Coisas que você tem que fazer, contrato de convênio, essas coisas… – E ela encaminhou para a pasta esse e-mail. Então, o marido dela teve conhecimento ali de que o seguro dela tinha sido renovado num valor mais alto. 

Paralelo a isso, temos Bernadete com uma única questão grave de saúde. A Bernadete  é altamente alérgica a camarão. Ela usa uma pulseira de aviso de alergia. Então, é uma coisa muito grave… Não é assim que ela come camarão e tem coceira, fica vermelha. – Eu, por exemplo, eu sou alérgica a formiga, quando uma formiga me pica, se é uma só, já faz uma bola enorme… Mas se são, por exemplo, cinco formigas, o meu rosto já fica deformado, mas eu ainda consigo respirar. Se for um pouco mais de formiga, a minha respiração já fica meio zoada e eu tenho que realmente correr para o hospital. Na hora do rosto deformado eu já coro, é assim que acontece. No caso dela, não é assim… – Se a Bernadete comer um camarão ou alguma coisa com camarão, ela corre o risco de ter uma parada. Ela já teve esse choque anafilático por causa do camarão e ela quase morreu real. Então, ela não pode, ela avisa quando… Ela é até restrita pra comer nos lugares, porque ela tem esse medo, enfim… Mas ela avisa, pergunta 1000 vezes e nã nã nã… 

Depois daquele dia da renovação do seguro, o marido dela começou a falar pra Bernadete  que ia fazer um jantar pra eles… Ao mesmo tempo que ele estava animado, ele estava estranho… – Ele tava estranho. – Num dos dias em que ela chegou em casa e ele já estava, ela sentiu o cheiro de camarão e é uma coisa que já faz ela passar mal. E ela comentou com ele: “Entrou camarão nessa casa?”, ele falou: “Não, imagina, deve ser o vizinho que está fazendo… Não, aqui não”. Então ela já ficou cismada, mas gente, assim, cismada… Como é que eu vou dizer? Sabe quando você está cismada com qualquer coisa, mas não é uma coisa específica? Ela não pensou que o marido dela pudesse fazer uma comida e colocar camarão na comida… Não, ela não pensou nisso. Do mesmo jeito que ele estava estranho, ela começou a se sentir estranha e ter uma sensação ruim. Mais alguns dias se passaram, até que um dia na parte ali na hora do almoço, o marido dela começou a mandar mensagens [efeito sonoro de mensagem no Whatsapp] dizendo que ele ia fazer uma comida muito gostosa pra eles e tal, ia fazer um risoto com muitas especiarias e nã nã nã e a Bernadete ficou empolgada, porque era também uma oportunidade de, de repente, reacender o fogo daquele casamento, né? Um jantarzinho… Depois, sei lá, né? O que pode rolar… 

Só que durante o dia inteiro aquela sensação ruim que ela estava sentindo aumentou. E ela tinha várias reuniões, uma executiva e tal fazendo ali várias coisas… E ela tem uma assistente chamada Anna. A assistente da Bernadete, a Anna – trabalham juntas há mais de dois anos -, mas a Bernadete nunca teve nenhuma conversa pessoal com a Anna. – Elas tinham muita proximidade profissional. – E, até então, ela não sabia nada da Anna. Já era ali umas quatro da tarde, fora da sala da Bernadete tinha ali a saletinha da Ana, a assistente da Bernadete, assistente direta, a Anna pediu licença e entrou e falou a seguinte coisa pra Bernadete: “Olha, você não vai entender, você me desculpa se eu estiver invadindo qualquer coisa da sua vida, mas eu tenho uma religião e eu tive uma revelação… Eu não sei o que isso significa, mas eu tenho que falar pra você… Se você acordar de madrugada, inventa uma desculpa e saia da sua casa”. A Bernadete  ficou sem entender nada, a Anna falando isso com uma voz de choro, de choro… Ela falou: “Me desculpa, dá licença, era só isso que eu tinha pra te falar” e voltou pra a mesa dela. 

A Bernadete ficou ali olhando pro nada, sem entender, “Como assim se eu acordar de madrugada é pra eu sair da minha casa?”, passou… Deu ali 18:30, a Bernadete  ainda tinha uma reunião, mas ela tinha combinado com o marido de chegar até oito horas. Então, ela foi pra essa reunião já apressando a galera, quando foi ali sete e meia ela saiu e foi pra casa. E como uma sensação muito ruim… Muito ruim. E aí ela chegou em casa, o marido dela falou pra ela que era para ela ir tomar um banho, relaxar, que ele estava terminando ali os preparativos do jantar e ela esqueceu completamente do que a assistente dela tinha falado. E aí ela tomou um banho [efeito sonoro de queda d’água] com aquela sensação… Ela falou: “Andréia, era um peso, uma sensação ruim que eu não sei explicar, mas, ao mesmo tempo, eu estava feliz que meu marido estava prestando atenção em mim de novo”.  E ela foi lá, botou uma roupa bonita… – Em vez de botar o pijama, que seria ali o que ela faria, botou uma roupa bonita. –

Ele tinha arrumado a mesa, ele pegou um vinho, abriu o vinho ali na frente dela e botou vinho para os dois, os dois tomaram vinho… – E aí, gente… – Ele serviu o risoto… E alguma coisa na cabeça da Bernadete  disse: “Não coma”. Só que ele estava ali conversando com ela, servindo, enfim… E dessa hora, quando ela sentiu algo dentro dela falando: “não coma”, que ela suspeitou que o marido talvez pudesse ter colocado o camarão naquele risoto, que era um risoto que tinha muitas especiarias e tal… Talvez ela não sentisse, mas se ela comesse, ela ia passar muito mal. E ela tomando vinho, conversando com ele… E pra sorte – pra sorte… Bernadete  atribui isso realmente a Deus – o telefone dele tocou e ele também, um executivo, ele teve que sair da mesa pra atender e era uma bucha do trampo. – O que a Bernadete  fez? – A Bernadete pegou… Assim, eles são ricos, né, gente? Finos… Ela pegou o guardanapo de pano, passou no prato e pegou a maioria do risoto, pôs aquele guardanapo de pano e escondeu atrás dela, que tem um desses bifê que tem louça bonita e tal e botou lá naquela gaveta e ficou sentada ali, como se ela tivesse comido e o prato dele ali… 

E aí ele voltou, viu que ela tinha comido e ficou olhando pra ela, de uma maneira muito estranha… E aí ela falou assim pra ele, – ela já estava muito desconfiada, todas as fichas caíram ali naquela hora na cabeça da Bernadete… – ela falou: “Ai, amor, eu estou meio zonza… Acho que foi o vinho. Acho que eu vou me deitar”. E, se fosse uma outra oportunidade, ele ia reclamar, tipo:” Pô, você vai me deixar aqui comendo sozinho e nã nã nã?”, ele falou: “Não, tudo bem… Vai deitar sim… Vai deitar”. E aí ela trocou de roupa e deitou e ficou ressabiada. E aí ela deitou e pegou no sono… Quando foi mais ou menos ali pra uma hora da manhã, ela acordou e, gente, sem brincadeira, o marido dela estava… Sabe quando você deita na cama e você fica de joelhos na cama e você está olhando pra outra pessoa? Ele estava muito perto, assim, olhando pra ela… E ela acordou, mas ela sentiu ali a respiração dele em cima dela, estranho e só abriu um pouquinho o olho, assim e fechou de novo… E aí veio na cabeça dela o que a assistente dela tinha falado: [efeito de voz distante] “Olha, você não vai entender, você me desculpa se eu estiver invadindo qualquer coisa da sua vida, mas eu tenho uma religião e eu tive uma revelação… Eu não sei o que isso significa, mas eu tenho que falar pra você… Se você acordar de madrugada, inventa uma desculpa e saia da sua casa”

Mas era uma hora da manhã, o que ela inventar? Não tinha o que ela inventar… E ela ficou ali na cama pensando 1.000 coisas horríveis. E, pela primeira vez, ela pensou que talvez ele pudesse pegar um travesseiro e asfixiar ela… – Gente, você está falando de seu marido, sabe? – Mas ela não tinha o que fazer. Ela não teve coragem de se mexer, mas ela não dormiu mais. Quando deu cinco horas da manhã, ele estava acordado, sentado na cama… Ela levantou, assim, rápido e falou: “Gente, acho que eu já estou atrasada, eu tenho uma reunião seis e meia” e ele olhando pra ela com uma cara muito estranha, meio que de decepção… E aí ela começou a se arrumar e foi pegar a bolsa dela e o celular e onde estava a bolsa dela e o celular? Ela não achava. E aí perguntou pra ele, ele falou: “Ah, eu não vi… Você não sabe onde você pôs?”, porque ela sempre botava na cadeira do quarto. E aí ela começou a procurar e achou a bolsa dela e o celular dentro do guarda-roupa, tipo, atrás das blusas, assim… Por que ele esconderia a bolsa e o celular dela? 

A Bernadete  acha que é porque se ela tivesse um choque anafilático ali por causa da alergia e tal, e ela tentasse procurar o celular na bolsa que estava em cima da cadeira para pedir socorro, ela não ia achar e ela ia morrer sozinha ali dentro do quarto. – Isso tudo é suspeita da Bernadete. – E aí ela se arrumou… E antes das cinco e meia da manhã ela saiu de casa alegando que ia pra essa reunião e ele estava com uma cara muito estranha, muito estranha… E ela foi para a empresa chegou na empresa seis e pouquinho da manhã, chocada lá, ela ficou sentada… E, nesse dia, ela resolveu que não dava mais. A primeira coisa que ela fez foi mudar o beneficiário do seguro de vida dela para a mãe dela. – Então, tirou o nome do marido da apólice, botou a mãe… – E encaminhou o documento para pasta deles. – Então ele viu. – E, quando ela chegou em casa, ela pediu o divórcio. Pediu o divórcio, ele reclamou um pouco, mas meio que aceitou também. Ele estava muito estranho e parecia decepcionado, assim. 

E aí ele comentou sobre o documento, falou: “Eu vi o documento na pasta, né? Você já está me tirando da sua vida”. E aí ela falou: “Sim, eu já estou te tirando da minha vida enquanto eu tô viva”. E aí ele ficou pálido, assim e deixou quieto. Detalhe: Quando ela foi pegar o guardanapo… – Por que qual era a ideia? Porque o guardanapo ficou na gaveta, né? Com a comida… – Ela falou: “Eu vou mandar analisar isso aqui, gente, porque se tiver camarão, eu tenho uma prova que ele tentou me matar”. Cadê o guardanapo? Só ela e ele na casa. Ele tinha já, sei lá, se livrado, jogado fora o guardanapo. E ele nunca lavava louça e ele tinha lavado tudo… Não tinha sinal daquele risoto mais… E ele tinha feito uma panela de risoto. Tudo isso é suspeita da Bernadete , ela não tem nenhuma prova, mas a Bernadete  acha… Na cabeça dela. Ninguém tira isso na cabeça dela, que o marido dela tentou ali se livrar dela por causa do seguro. E, enfim, ele ia ficar com tudo, né? – Não é louco isso, gente? –

Eu acho uma teoria muito louca assim, da Bernadete . Eu não consigo pensar nisso assim de uma maneira real, assim, parece um filme, né? Mas a Bernadete  diz que todos os acontecimentos assim, tudo o que aconteceu nesse dia, ela tinha a sensação que alguma coisa ruim ia acontecer com ela. E foi o instinto dela que fez ela sobreviver. E também o aviso da assistente, né? Que depois que ela acordou uma hora da manhã e percebeu que ele estava em cima dela, meio que tentando olhar, tentando ver ela bem de perto assim, ali ela ficou com medo realmente que ele fosse fazer algo pra ela. – Nossa, fiquei arrepiada… – Então, essa é a história da Bernadete… – Repetindo: tudo no campo da suspeita, sem nenhuma prova. Tudo o que ela sentiu e o instinto dela que talvez tenha livrado a Bernadete do pior. – Então, é bacana a gente confiar nos nossos instintos, né? 

[trilha]

Assinante 1: Oi, Bernadete , oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, meu nome é Priscilla, sou do Recife e estou, assim, chocada com essa história da Suspeita. Dentro de mim, tenho convicção de que a Bernadete  está certa. Todas as vezes que eu não ouvi a minha intuição, eu me dei mal. E quando você tem uma intuição forte desse jeito, é muito, muito difícil você estar enganada. Sobre a questão de ela querer ter filho, eu tenho 36 anos e aos 35 eu congelei os meus óvulos. Então, essa é uma possibilidade para quem quer ter também filhos biológicos, né? Então, Bernadete , procura uma clínica de fertilização e, graças a Deus que você está aqui entre a gente para contar essa história, que ficou tudo bem, que você teve inteligência emocional para conseguir se livrar dessa situação e desse traste. Um beijo bem grande. 

Assinante 2: Oi, Déia, Oi, Não Inviabilizers, aqui quem fala é Malessa de São Luís do Maranhão. Eu estou completamente abismada com a história Suspeita. Eu acredito que é pior do que qualquer Luz Acesa. Imagina você conviver 11 anos com uma pessoa e no fatídico dia, que você foi avisada de várias formas, inclusive pelo seu extinto, você acorda com essa pessoa te olhando a noite, sendo que você já dormiu com essa pessoa tanto tempo… Nossa, eu não gosto nem de pensar… Que bom que você realmente recebeu esses avisos, Bernadete, você pode se considerar uma pessoa protegida, com muita iluminação mesmo, porque foi um livramento. Acredite sempre nisso. É isso, um beijo. 

[trilha]

Déia Freitas: Então, comentem lá no nosso grupo do Telegram, sejam gentis com a Bernadete . E também a gente não tem como acusar o marido dela de nada, porque tudo o que foi falado aqui é baseado na percepção da Bernadete apenas, sem nenhuma prova. Então é isso, gente, um beijo e eu volto em breve. 

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]

E pra quem ficou aqui depois da vinheta, assim que a Bernadete  encontrou a assistente dela naquele dia seguinte, a assistente dela falou: “Olha, você teve um livramento de morte. Agradeça a Deus, você teve um livramento… E nunca mais tocaram no assunto. Nunca mais falaram dessas coisas, nunca mais nada, assim. Voltaram a ter só a relação profissional que elas têm até hoje, assim… Não é louco isso? Eu hein… Tô chocada. 

Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.