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título: dorme, dorme
data de publicação: 26/06/2023
quadro: luz acesa
hashtag: #dorme
personagens: seu eurípedes

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Shhhh… Luz Acesa, história de dar medo. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Luz Acesa e hoje eu vou contar para vocês a história do seu Eurípedes. — O seu Eurípedes, hoje um senhorzinho aí 70+. E, gente, eu amo contar histórias aí de pessoas mais velhas. Então, se você tem uma história e está com o seu avô aí do lado, sua vó, pega essa história e manda para mim, que depois eu converso com a sua vózinha, seu vôzinho, vou amar. — Então vamos lá, vamos de história. 

[trilha]

O seu Eurípedes, quando ele era jovem, tinha ali entre 16 e 17 anos, ele morava em Santos e trabalhava no Porto. — Carregando mesmo coisa, caixa, engradado de fruta, enfim, ele trabalhava no porto. — E às vezes surgia uns bicos pra você sair em barco de pesca, tanto barcos menores… Mas quando a gente fala menor, a gente está falando de um barco, sei lá, do tamanho aqui da minha casa… Minha casa tem dez por quatro… — Acho que é dez ou doze por quatro. — Então, assim, isso seria um barco menor, né? De pescaria, desses que atracam lá no porto e tal, e às vezes ele ia em barcos maiores. E ele gostava muito, o seu Eurípedes, de não só ficar no porto carregando caixa, de sair para fazer as coisas do barco. — Ele falou que era um trabalho pesado também, mas pelo menos ele estava ali em alto mar e ele gostava bastante, apesar de balançar muito, estava acostumado… Eu jamais iria. Mas seu Eurípedes gostava e ia muito. 

Dentro do barco mesmo, tinha um lugar sempre mais pobrinho, assim… — Tipo um alojamento onde dormia a galera mais pop, longe do capitão. — E como ele era mais novinho, as vezes não tinha lugar pra ele, nem nesse alojamento mais pop, ele tinha que ajeitar, tipo se ajeitar lá junto com as caixas, uma coisa assim, né? Mas precarizada mesmo. Mas seu Eurípedes ia porque ganhava um extra, então sei lá, se saía na sexta de madrugada, voltava no domingo dessas pescas. Então ele ganhava um extra e também ele podia estar em alto mar, que era uma coisa que ele gostava muito… E, numa das vezes que ele foi, era um capitão diferente, um capitão que não era brasileiro, ele era espanhol. E era uma língua nova, um idioma novo pro seu Eurípedes, ele achou engraçado, enfim, tentava entender as palavras. Então, ele ficou um pouco até mais tarde ali, conversando com o capitão, entendendo quase nada, o capitão também já tinha tomado umas cachaça e ele falou: “Bom, eu vou dormir”. 

E, nesse dia, ele tava tipo num compartimento separado, tipo o alojamento já estava cheio lá, com três, quatro caras, e ele ficou tipo na antessala do alojamento, assim. — Então, tinha um colchão ali e ele ficou nesse colchão. — Ele estava dormindo bem tranquilo… Quando foi mais ou menos, assim, lá pras onze da noite, porque em barco você dorme cedo, pra de madrugada, você já tá com aquelas coisas que você botou lá para pescar, para subir as redes, enfim, X… A logística das coisinhas do barco. E aí ele estava dormindo, quando ele sentiu uma mão no rosto dele. [efeito sonoro de tensão] E aí o que Erípedes pensou? “É os outros marinheiros que estão me zoando, sei lá, vão pregar uma peça em mim”. E ele abriu o olho rápido e sentou. Porque ele, sei lá, esperou que vinha um soco, alguma coisa assim de zoeira. Quando ele sentou, na frente dele, tinha uma mulher… [efeito sonoro de tensão] Essa mulher tinha mais ou menos, sei lá, minha idade, assim, uns 40 anos, 40 e poucos e ela era muito bonita, muito bonita. 

E aí ela passou a mão no rosto do seu Eurípedes, que era o jovenzinho Eurípedes, e falou: [voz grossa e assustadora] “dorme, dorme”. Ela tinha uma voz mais envelhecida, que você sabe que a gente envelhece e a voz também envelhece, né? Ela tinha uma voz bem envelhecida para o que ela estava aparentando. E aí ela passou a mão, assim, fechou os olhos do Eurípedes e ele foi ficando com sono. E aí ela falou de novo: [voz grossa e assustadora] “dorme, dorme”. Só que ele queria ver mais essa mulher, porque ela tinha uma beleza muito diferente. E, quando ele abriu o olho, ele disse: “Andréia, pelos meus netos, essa mulher estava toda enrugada e com a pele bem acinzentada”. E aí ele abriu o olho e assustou e ela apertou com a mão, começou a apertar com a mão o rosto dele, que eu acho que era para ele dormir, né? E, conforme ela apertava o rosto dele, ele sentia a energia dele saindo do corpo. — Saindo do corpo… —

E aí, ele tentava sair e não conseguia, e ele foi… — Palavras de seu Eurípedes. — Ele foi sentindo a energia sair do corpo até uma hora que ficou bom, ele achou que ele fosse morrer. E ele estava achando que morrer era bom, assim, estava gostoso… Ele não sabe explicar. E aí ela soltou e, quando ela soltou, ele muito fraco, Seu Eurípedes abriu o olho e ela tava bonita de novo… E aí ele foi fechando o olho sozinho, que ele estava muito fraco e ele não sabe nem como ela chegou, nem como ela foi embora. E ele deitou e dormiu… E, quando ele acordou, ele estava sendo sacudido pelos caras e o sol tava alto, bem alto. Então, quer dizer, já era tipo dez e meia, onze horas da manhã… Ele dormiu o período que ele tinha que trabalhar todo e os caras estavam achando que ele tava morto, estava em coma. E aí, quando ele acordou, todo mundo assustado, porque o seu Eurípedes, que é um senhorzinho bem branco, ele estava cheio de hematomas, de manchas roxas, mas ele não tinha dor. Não foi assim uma coisa de que: “ah, ele tomou pancada”, mas ele estava cheio de hematoma no corpo, assim, como se você tivesse colocado umas… Sabe ventosas, assim? Estava cheio de marcas pelo corpo.

Ele ficou fraco assim o dia todo, ainda ele falou: “Graças a Deus que aquele capitão espanhol ficou com dó de mim e me pagou o dia”, porque ele não conseguiu trabalhar. Não conseguiu trabalhar, não tinha força para levantar, precisavam dar água e comida para ele, que não conseguia levantar. E aí o pouco que ele entendeu, que os caras traduziram pra ele, que o capitão estava falando, ele não vai lembrar o nome, mas tipo, essa mulher tinha um nome, não era uma sereia, porque logo eu perguntei, né? “Era uma sereia?” Ele falou: “Olha, eu não sei, acho que não era uma sereia, porque o capitão falou outro nome e falou que depende muito da fome que ela tá, da energia que ela precisa, ela leva realmente embora. A pessoa morre no barco, tipo, dormindo, né?”. E, no caso dele então, que ele era jovem também, vai ver que ela sugou o quanto ela pôde para manter a pelezinha… [risos] — Olha, se eu fosse uma criatura que precisa sugar a energia masculina para viver, eu ia matar homem a rodo. Desculpa… [risos] Ia ficar ótima, pele íntegra, desculpa… Se era isso… Se para viver, esta criatura, esta mulher botava a mão na cara dos caras e tirava energia, se fosse eu, não ia nem dosar. Era tudo. [risos] Já pegava já para armazenar, já. Desculpa… [risos] Homens, perdão… [risos] —

Mas a lenda do barco que rolava era isso, que ela só sugava realmente a energia dos homens. Alguns ela levava com ela, o cara morria e outros ela sugava até realmente quase o cara morrer. Acho que o seu Eurípides ficou ainda um pouco antes, né? Ela teve pena. Agora, o que será essa criatura? Será que é uma sereia? Eu não acredito em sereia. Não acho também que a sereia faria isso. Será? Se fizer também não a culpo, né? Precisa viver, precisa viver, é aí a cadeia natural das sereias… Se for uma sereia, né? Não sabemos o que é. Mas o seu Eurípides ele falou que a voz dela era encantadora, mas ao mesmo tempo, bem envelhecida pra aparência dela, né? Então é isso, gente, essa é a história de seu Eurípedes. É um Luz Acesa náutico, né? E não sabemos o que é essa criatura. — Se você acha que é uma sereia, disque 1, [risos] se você acha que é uma criatura do fundo do mar, disque 2. — Não sei, só sei que não achei errada ela… Seu Eurípedes está bem, tá ótimo e tá aí firmão. Quem sabe, agora que ele sobreviveu, será que ela, tipo, dobrou a vida dele?


[trilha]

Assinante 1: Olá, Não Inviabilizers, aqui quem fala é a Tal de Ilhabela. Eu sou umbandista e, na Umbanda, nós temos a linha d’água, que é regida por Iemanjá, que tem os marinheiros, os pescadores, os ribeirinhos… Uma das explicações que pode se ter, espiritualmente falando, pela visão da Umbanda, é que esse ser que seu Eurípedes viu foi uma Ondina. Ondina não são seres nem bons e nem ruins, elas somente pegam dos pescadores aquilo que elas necessitam para poder trabalhar, para poder viver. E, provavelmente, o que essa Ondina precisava é de uma energia para ficar mais formosa, bela e viver mais, né? Por isso que quando nós vamos entrar em qualquer lugar, nós pedimos licença… Quem entra ao mar é quem precisa pedir licença para esses seres. Então, ao adentrar em qualquer lugar natural, a gente pede licença para esses seres e para quem vive nesses lugares, que são os seres vivos e animais. É isso, beijão. 

Assinante 2: Oi, gente, oi, Déia, aqui a Jéssica do Rio. Déia do rom pom pom rom pom pom, man down, [risos]. Deus me livre… Existem relatos e casos de pessoas que passam muito tempo no mar e podem ter alucinações. Não é o caso do seu Eurípedes, porque realmente ele viu alguém, viu uma entidade que levou a sua energia embora. Deus me livre… Mas se for só a energia de homem, tá tudo ok. Porque o homem é homem, né? Beijo, galera. 

[trilha]

Déia Freitas: Então é isso, gente, um beijo, Deus me livre… Mas ela também só pega energia de homens, então tô aí, tô com ela. [risos] E eu volto em breve. 

[vinheta] Quer sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Luz Acesa é um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.