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título: engenheira júnior
data de publicação: 10/07/2023
quadro: picolé de limão
hashtag: #engenheira
personagens: camila e um cara

TRANSCRIÇÃO

[vinheta] Picolé de Limão, o refresco ácido do seu dia. [vinheta]

Déia Freitas: Oi, gente… Cheguei. Cheguei pra mais um Picolé de Limão. — E hoje eu não tô sozinha, meu publiii. — [efeito sonoro de crianças contentes] Quem está aqui comigo hoje, gente, é a Vedacit. Olha, [risos] só quem tem paredes úmidas sabe o que é usar Vedacit… — Eu estou falando da minha casa. [risos] — Agora na reforma que eu fiz, eu passei — o pedreiro passou — Vedacit da nas paredes e, assim, foi ótimo. Então, assim, Vedacit está na minha vida aí há muitos anos. [risos] A empresa do ramo da construção da Vedacit existe há 87 anos, sério, e eu sou testemunha disso melhorando aí as condições de habitações e transformando a vida de milhões de pessoas. E hoje eu quero falar para vocês do Movimento Ela na Obra, que foi criado pela Vedacit para dar voz à mulher, aquela que enfrenta o mercado da construção civil e não é fácil, né? 

É um mercado predominantemente masculino e bem machista. A Vedacit quer dar aí notoriedade a essas mulheres que são as rainhas da obra. No Movimento Ela na Obra a Vedacit vai contar a história de quatro mulheres da construção civil e, euzinha, vou contar aí a primeira história. Você pode acompanhar aí as histórias de outras mulheres no Instagram da Vedacit, que é: @vedacit, e o Tik Tok também, que é: VedacitOficial. Eu vou deixar direitinho os arrobas aqui na descrição do episódio. E hoje eu vou contar para vocês a história da engenheira civil Camila. — Essa é uma história de firma, eu amo história de firma e eu estou aqui para lembrar vocês que tem história de sexta—feira lá no Amazon Music, é de graça, é exclusivo só lá, podcast “Histórias da Firma”, então me acompanhe aí de sexta-feira também e agora a gente vai ter um gostinho aí desse podcast. — Então vamos lá, vamos de história.

[trilha]

Em 2020, um pouquinho antes da pandemia, a Camila — uma engenheira civil recém—formada — conseguiu um emprego numa grande construtora. Foi bem assim uma semana antes do Lockdown, então a Camila trabalhava muito, porque muita gente tava de home office, mas ela, como engenheira, ela tinha que ir. Só que tinha uma questão: ela entrou como engenheira júnior e ela ganhava bem menos do que uma engenheira júnior. Ela não chegava nem a ganhar o piso salarial correto dela ali. A equipe que a Camila estava integrada era até que bem bacana, né? Esse primeiro chefe dela nessa empresa era um cara legal e tal, cumpria ali com o que tinha que cumprir, só que o ambiente era um pouco complicado… Porque a Camila era a única mulher trabalhando com mais de 30 homens e, mesmo ela ficando ali na parte mais administrativa, ela tinha que lidar direto com esses homens e ela separava as atividades deles e tal, dava as funções e tal e ela era sempre muito descredibilizada, desacreditada, sabe? Então, qualquer orientação que ela passava, por mais simples que fosse, se não fosse validada aí com reforço da palavra de um homem, ninguém cumpria. — Ninguém cumpria… E aqui eu abro um parênteses para dizer que isso não acontece só na construção civil, né? Eu posso dizer que até hoje, às vezes, eu tenho que ser mais grossa até e falar mais alto porque senão os homens me atropelam. Até hoje… —

A Camila — que é lésbica — ela nunca tinha falado da vida pessoal ali no trabalho e ainda assim ela ouvia piadinhas do tipo: “Você precisa de um namorado”, sabe? Esse tipo de piada que fazem com a gente. E aí em 2021, finalmente, a Camila foi promovida. Ela tinha trabalhado muito ali pra se destacar, sabendo que estava num ambiente só de homens, ela teve que ralar ainda mais pra se mostrar competente e tal… E o chefe da Camila, que era um gestor ali que fazia o mínimo, né? Ele dava visibilidade para o trabalho dela e deu a oportunidade aí pra ela crescer um pouco com essa promoção. A Camila foi direto pra equipe desse primeiro chefe, né? Só que, assim, ela recebeu uma promoção, mas ela continuou num cargo de engenheira de projetos júnior. Já tinha um ano que ela estava nessa empresa, então ela saiu de férias e, quando ela voltou, tinha um cara que ele era só consultor… — Ele era muito amigo do gerente, que estava acima do chefe da Camila. — E, quando a Camila voltou, o gerente grandão lá tinha promovido esse cara para coordenador de projetos e esse cara ia montar a própria equipe. 

E aí foi imposto para o chefe da Camila que ele tinha que liberar a Camila pra equipe desse novo coordenador aí, que era amigo do gerentão. O chefe conversou com a Camila e falou: “Camila, eu não tenho como te segurar aqui porque esse coordenador ele insistiu muito pra que você fosse pra equipe dele. Até estranho, assim, mas eu não tenho como te segurar aqui porque é uma ordem que vem da gerência, que vem lá de cima, então é isso, você vai ter que ir pra equipe desse cara”. E esse coordenador aí novo ele tinha um jeito bem passivo agressivo, assim, sabe? De liderar as pessoas… E ele sempre deixava claro quantas vezes ele pudesse que ele e o gerentão lá da empresa eram amigos de longa data, de mais de 30 anos. — E ele sempre falava dessa influência que ele tinha lá dentro e tal. — Era um jeito de intimidar os funcionários e dizer que era ele que mandava e que ele tinha as costas quentes, tinha todo o respaldo desse gerente. 

A Camila aí na equipe desse cara, ela foi muito bem, ela acompanhou vários projetos e a Camila criou e aplicou uma meta metodologia ali no setor dela, que quando ela mostrou para esse cara, ele ficou encantado, esse coordenador… E ele disse pra ela que ele tinha gostado tanto da ideia da Camila, de como ela implementou essa metodologia, que ele queria mostrar para o gerente e desenvolver essa mesma ideia ali em todas as filiais da empresa. Mas o que esse cara fez? Em vez dele apresentar a ideia como sendo da Camila, ele se apropriou do trabalho da Camila e apresentou como se fosse dele. Primeiro para o gerente, e aí o gerente amou, porque era realmente uma coisa muito boa e o gerente marcou uma apresentação pra diretoria e depois uma apresentação para as filiais de outros países… E ele sempre aí — esse coordenador — dizendo que o trabalho era dele… [efeito sonoro de tensão] E que ia ser replicado agora essa metodologia da Camila em toda a empresa, em todas as filiais. 

E toda reunião — antes desse coordenador entrar — ele chamava a Camila pra ali lembrar ele das coisas para treinar ele, porque ele não sabia absolutamente nada, assim… Ele apresentava os slides, os slides da Camila, o trabalho da Camila e depois ainda tinha que tirar dúvida e ele não sabia responder as dúvidas… Então, as dúvidas mais bobas, a Camila que tinha que responder e tinha que responder pra ele, porque ele não deixava nem a Camila chegar perto para se apresentar. Ela até chegou a falar para ele: “Você não quer que eu acompanhe você nas apresentações? Esse tipo de dúvida é muito simples, eu posso tirar na hora” e ele disse que não, que ele que ia fazer tudo e também fez a Camila fazer todos os slides… — Em inglês e espanhol, tá? Pra ele poder replicar e em outras línguas o projeto que era da Camila, inteiro, e ele apresentou como se fosse projeto dele. — Ele nunca deixou a Camila participar desse projeto que era dela, que ela fez tudo, que ela implementou, que ela criou essa metodologia e ainda quando tinha feedback da empresa, ele falava e ele escrevia lá que a Camila precisava buscar mais protagonismo no trabalho dela… — Gente? — Ela até chegou a falar pra ele que: “Poxa, você não vai nem incluir meu nome no trabalho que eu mesma fiz?”, mas nada aconteceu… — O trabalho ficou como sendo dele, os méritos, os louros e tudo pra ele. —

Mais um ano se passou, mais umas férias da Camila estava chegando e, novidade, Camila agora ela ia se casar, ela estava com uma moça ótima e tal e ela teve que apresentar ali no RH os documentos da noiva que precisaria entrar no plano de saúde da Camila e tal, né? E ela tinha que solicitar uma licença de casamento, enfim… E aí, assim que esse cara descobriu que a Camila era lésbica, porque foi só aí que que ele descobriu, o que era péssimo, piorou muito… Ele fez uma cara de surpreso e aí já começou a falar: “Nossa, não sabia que você tinha uma opção sexual diferente do normal”. A Camila já interrompeu ele, já disse que não era opção, que era orientação e que não era uma escolha diferente do normal, enfim, já deu ali aquela lição básica no babaca e ele ainda disse para Camila que ele não poderia fazer segredo disso e que isso acabaria vazando para toda a empresa, como se fosse uma coisa horrível. E Camila falou: “Ué, não tem problema nenhum, eu vou me casar com a mulher que eu amo… Não tem nenhum problema que isso vaze na empresa. E, além do mais, essa empresa tem um compliance, um departamento para resolver esse tipo de coisa, né? E eu posso fazer uma denúncia lá se alguém me assediar moralmente ou sexualmente, ou for homofóbico comigo, porque homofobia é crime e tal”. 

E aí o cara deu uma recuada, mas a partir do momento que ele soube que a Camila era lésbica, as coisas pioraram bastante lá… Do nada, esse coordenador contratou um cara para que a Camila treinasse esse cara. E aí, depois do cara treinado, ele falou: “Olha, agora você vai se reportar ao cara que você treinou”, aí a Camila ficou inconformada, chamou aquele primeiro chefe dela, explicou a situação, disse que esse coordenador ele era péssimo, homofóbico, então ela gostaria de voltar pra equipe do cara… Mas esse chefe dela não tinha como fazer nada, porque esse coordenador realmente era amigo do gerente e estava blindado. E esse cara fazia piadinhas homofóbicas, ele insistiu pra Camila fazer fotos pra expor no mês de orgulho LGBTQIAP+ e ele queria expor a Camila como lésbica, mas de um jeito assim, sabe? E aí a Camila teve que ir mesmo ali no setor da empresa, só que aí lá eles pediram provas e ela não tinha prova… E era a palavra dela contra a palavra dele. Seis meses depois que aquele cara que ela treinou tava lá na empresa, que ela que treinou, o coordenador promoveu esse cara… — A engenheiro pleno. —

A Camila, nesse tempo todo, ela não deixou de ser engenheira júnior… E esse cara passou para um cargo maior, engenheiro pleno, com um salário maior do que a Camila que já estava lá e já era o terceiro ano dela lá. — E era realmente uma desigualdade salarial aí baseada em gênero, né? — O cara era engenheiro pleno, a Camila era engenheira júnior, só que ela tinha que inspecionar e validar todos os projetos do engenheiro plano. — Sério… Tipo, ele ganhava, ele tinha o cargo, só que ela fazia o trampo… E tudo isso porque o coordenador que queria e o cara, óbvio, o que foi promovido, se aproveitava disso também, né? — Camila finalmente se inscreveu aí, aplicou pra outras vagas em outras empresas e conseguiu um emprego numa empresa maior do que ela tava, com benefícios muito melhores e num cargo de engenheira de projetos plena. Finalmente ela ia deixar de ser engenheira júnior. A hora que o coordenador ficou sabendo que a Camila ia sair, o chão dele se abriu, né? Por que como é que ela ia fazer agora? — Porque era a Camila que fazia tudo, né? —

E aí o cara teve a coragem de falar pra ela pra ela ficar, prometeu um aumento de 10%… Ela não ia deixar de ser engenheira júnior, tá? Ele prometeu um aumento de 10% no salário, com a possibilidade de promover a Camila a pleno dali um ano ainda. — Um ano… — E a Camila falou: “Amigo, vai pro inferno”. — Não falou, mas aqui nós desejaríamos isso. — Bom, Camila saiu dessa empresa sem olhar para trás, fez uma queixa no compliance bem detalhada, de tudo o que esse coordenador fazia… — Pensando nas próximas mulheres que fossem trabalhar ali com ele. — Resultado da queixa da Camila? O cara continua na empresa até hoje, com uma equipe composta 100% por homens, do jeitinho que ele queria. — Cara, como é difícil para mulher ocupar os espaços aí nesses trabalhos que envolvem construção civil, né? Mas eu fico pensando, né? Fui acompanhando a trajetória da Camila e pensando na minha trajetória também, que não tinha nada a ver, que eu venho da área da moda… Como era difícil também conseguir espaço, conseguir ter voz e, nossa… Meu Deus do céu… Mas não tem outro jeito, né? A gente tem que tentar e a gente tem que ocupar os espaços que a gente conseguir. —

[trilha]

Assinante 1: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é Loyane, de Ribeirão Preto. Primeiro, eu sinto muito, Camila, pelo tempo que você gastou, pela energia e pela força que você teve que operar ali nessa empresa para conseguir o mínimo de espaço e ainda não conseguiu. Mas o que eu fico chateada é que dificilmente alguém vai conseguir, pelo tipo de pessoa que tem lá dentro, pela estrutura machista da nossa sociedade. A gente tem que lutar muito mesmo. Mas uma coisa que fica de lição é: Tenhamos prova de tudo o que a gente faz. Manas, temos que nos unir… Talvez se você tivesse tido prova quando você fez aquele projeto enviado por e-mail para o seu diretor… Teve uma época da minha vida que eu trabalhava num hospital e eu comecei a fazer tudo isso por e-mail, todas as minhas ideias, protocolos novos, enviava por e-mail, falava: “Conforme desenvolvido por mim e ta nã nã” e a gente foi fazendo isso pra a gente ter prova. Isso não é errado, isso é resguardo… Infelizmente, como mulheres na sociedade, a gente precisa disso. Um beijo.

Assinante 2: Oi, Déia, oi, Não Inviabilizers, aqui é Helena, de São Paulo. Camila, você é muito vitoriosa… Aguentou muito tempo até esse chefe doido. Por sorte, você conseguiu se livrar dele e, infelizmente, no Brasil a gente ainda tem muito disso, de uma pessoa ser super competente, super inteligente, super capaz, mas porque a pessoa é mulher, ela não é tratada com o devido respeito, com o devido valor e colocam outras pessoas só porque são homens para fazer o trabalho para receber os louros dela. Por sorte, agora você está numa empresa melhor, mais valorizada. Te desejo tudo de bom, um abração, Camila. 

[trilha] 

Déia Freitas: Piadinhas, desigualdade salarial, falta de credibilidade e até homofobia… A Camila enfrentou tudo isso, entrou em conflito com o chefe e, no fim, quando não viu outra alternativa, foi para uma empresa melhor, acreditando em dias melhores para as mulheres na construção civil. Foi graças aí ao movimento Ela na Obra da Vedacit que a gente conheceu hoje a história da Camila e a Vedacit te convida para conhecer outras histórias de mulheres inspiradoras no perfil da marca, eu vou deixar aqui o Instagram, que é @Vedacit e no perfil aí do Tik Tok: @VedacitOficial. Valeu, Vedacit, estou muito feliz mesmo que vocês estão por aqui, porque eu uso vocês demais. [risos] — Só quem já teve aí paredes úmidas sabe… — Um beijo e eu volto em breve. 

— Deixando aqui mais um recadinho para vocês: Aproveitem aí… Foi uma história de firma, toda sexta-feira no Amazon tem Histórias da Firma, você ouve gratuitamente… Baixa aí o aplicativo e vai ouvir histórias minhas também aí de sexta-feira. Um beijo, agora eu vou mesmo e eu volto em breve. —

[vinheta] Quer a sua história contada aqui? Escreva para naoinviabilize@gmail.com. Picolé de Limão é mais um quadro do canal Não Inviabilize. [vinheta]
Dourado

Dourado é pai, abandonou a teologia e a administração para seguir a carreira em TI e sua paixão por fotografia. Gosta de cinema, séries, música e odeia whatsapp, sempre usou Telegram.